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Saccidananda e suas concepções

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Capítulo III Nos passos do guru: as negociações do mestre

3.3 Advaita e Saccidananda: por um advaita cristão

3.3.1 Compreendendo o advaita

3.3.1.5 Saccidananda e suas concepções

“Vande Saccidananda – vande Vande Saccidananda – vande Bhogi Ianchita yogi vanchita chara-

mampadam

Vande vande vande Saccidananda” Nesse tópico discutiremos o significado e as características da palavra Saccida- nanda e o significado para Griffiths na sua concepção advaitica. Para Teasdale, o “advaita pode ser considerado o estado de unidade, enquanto Saccidananda pode ser considerado como o conteúdo. Se este é o caso, isso explicaria a universalidade da experiência advai- tica” (1986, p. 174)119. Teasdale explica que dizer que o advaita é o estado de unidade e Saccidananda é o conteúdo não implica em uma distinção entre a unidade e o conteúdo. A distinção é feita para melhor compreensão do insight místico da tradição védica (1986, p. 175). Para Teasdale, o advaita de não específica a natureza de seu conteúdo, mas apenas uma coisa é sabida, que é não-dual, algo além não é pura unidade nem dualismo, algo entre os dois extremos (1986, p. 175)120. Saccidananda ilustra a natureza da unidade, a não- dualidade, e em algum sentido, deve ser considerado o símbolo do Divino, que inclui os atributos principais da Divindade, Brahman. Compreender, não apenas com a razão, o

look more deeply, you see that all differences in this world and you and I and every human being are integrated in the unity of the one. It's not a blank unity. Like the void of Mahayana Buddhism, it's not just emptiness. It's an emptiness which is totally full. And always when you get to that point you come to the world of paradox, that it's both empty and it is full.... Nirvana and samsara, the way of the world, are one. It's a wonderful insight: You go to nirvana, you leave the world behind and you enter this emptiness. And then you rediscover the whole multiplicity of the world in nirvana. And that to me is the deepest insight. And that was my experience very much. When I had this break as it were, the mental faculties had rather collapsed; [...] unity was found; but everybody and everything was in the unity. And that's where I feel we have to move”

119 Texto original: “Advaita can be said to be the state of unity, while Saccidananda can be regarded as the

content. If this is the case, that would explain the universality of the advaitic experience.” (TEASDALE, 1986, p. 174)

120 Entretanto, como já foi visto, algumas linhas da filosofia do advaita acreditam na pura unidade, sem dis-

conceito de Saccidananda, torna-se tarefa essencial para entender o advaita cristão de Gri- ffiths.

Se faz necessário retornar o conceito de Brahman da advaita-vedanta, encontrado na Taittiriya Upanishad, que pensa Brahman como “Satyam JnaanamAnantam Brahma”, relacionando com a teologia apofática, pensa Brahman apenas na negação, significando i) Satyam: Absoluto não é irreal ; ii) Jnaanam : Absoluto não é inconsciente ; iii) Anantam: o Absoluto não é finito (GRIMES, 1994, p. 144). Foi a partir dessa sentença upanishadica que Shankara elabora a única definição catafática, positiva, de Brahman: Brahman é Sat, Cit e Ananda = Sac-cid-ananda (GULMINI, 2007, p. 104). Estas são três "qualificações" de Brahman, da experiência mística suprema, uma experiência na qual se descobre o fun- damento da identidade pessoal na suprema identidade da Divindade, simplesmente em es- tar ciente do ser.

i) Sat: ““ser, existência”, é o correlato da definição satya, “verdade”, dada pela Upanishad e pretende conferir a Brahman/atman o estatuto de princípio unitário

e ontológico do universo e dos seres: existente, absoluto, homogêneo, infinito, imutável, imortal, etc.” (GULMINI, 2007, p. 104).

ii) Cit: “um nome-raiz que designa tanto “consciência” como “ser ciente de”, foi o

termo escolhido pelos advaitin (adeptos do Advaita) em substituição ao termo inicial jñana, “conhecimento”. Ao identificar o sujeito absoluto com o puro co- nhecimento e com a pura consciência, o advaitin pretende indicar o caráter eter- namente auto-luminoso da consciência do si-mesmo – a consciência como fenô- meno sempre existente e sempre consciente de sua existência – e sua oposição ao caráter dual, e, portanto, de conhecimento limitado. (GULMINI, 2007, p. 104) iii) Ananda: “‘gozo, êxtase, transe, bem-aventurança, prazer sem fim’, foi preferido

pelos discípulos de Shankara em substituição ao anterior ananta, ‘infinito’, por traduzir de forma mais completa o caráter eternamente auto-satisfeito do si- mesmo que é consciência/inteligência eterna, infinita, absoluta” (GULMINI, 2007, p. 104)

Bede Griffiths aceita essa formulação da experiência do hinduísmo do mistério transcendente, a realidade última da Fonte. Ele tem grande respeito e confiança na autori- dade desta profunda experiência, e considera-a como uma genuína penetração da consci- ência humana na Consciência Divina (TEASDALE, 1986, p. 178). Em uma passagem do “Casamento do Oriente e do Ocidente”, ele resume sua compreensão da experiência ad- vaitica e sua culminação no símbolo e intuição saccidananda:

Quando a mente em meditação vai além das imagens e sonceitos, além da razão e da vontade, até o Solo último de sua consciência, ela se sente nessa unidade sem tempo e sem espaço de Ser, e essa experiência está expressa nas “grandes afirmações” dos Upanishads: “Eu sou Brahman”, “Tu és Aquilo”. O Último é experienciado nas profundezas da alma, na substância ou Centro da consciência da alma, como seu próprio Solo ou

Fonte, como seu próprio ser ou Si-mesmo (Atma). Essa experiência de Deus está sintetizada na palavra saccidananda. Deus, ou Realidade Úl- tima, é experienciado como ser absoluto (sat), conhecido em pura cons- ciência (cit), comunando bem-aventurança absoluta (ananda). Essa foi a experiência dos videntes dos Upanishads, assim como tem o sido de inú- meros homens santos da Índia desde então. É uma experiência de auto- transcendência que propicia uma percepção intuitiva da Realidade. É esse conhecimento que o homem ocidental precisa aprender a adquirir (GRI- FFITHS, 2000, p. 23).

Estes são os termos essenciais que Bede Griffiths relacionou de forma substantiva com a profundidade última da tradição cristã, e talvez da própria realidade, a intuição tri- nitária. Seguindo a visão dos seus antecessores que entendiam o Saccidadanda da seguinte maneira

SAT, quando sua contemplação de dirige ao Pai, “o Princípio sem Prin- cípio”, fonte e termo de expansão e de “recolhimento da vida divina; CIT, quando medita sobre o Logos, Imagem intelectual consubstancial ao Existente; ANANDA, quando se considera o Paráclito, unificando, na alegria do Amor Absoluto, o Pai e o Verbo” (MONCHANIN, LE SAUX, 1959, p. 201).

Teasdale considera o adavita e o Saccidananda como valores e experiências que são tesouros da experiência mística, que devem ser "reconhecidos, preservados e promo- vidos", porque surgiram das profundezas do gênio do hinduísmo.

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