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Cristoteca itinerante

No documento Luzia Maria de Oliveira Sena (páginas 167-170)

juventude, música, dança e experiência religiosa

3.3. Evangelizando através da música

3.3.3. Cristoteca itinerante

Dada a dificuldade de muitos jovens participarem da cristoteca, devido, muitas vezes, ao fato de residirem em bairros distantes ou em outras cidades, e também para atender ao número crescente de pessoas interessadas em levar a cristoteca para suas paróquias, os missionários da Aliança de Misericórdia, de São Paulo, organizaram as equipes de cristotecas itinerantes. Compostas basicamente de um DJ, um missionário da comunidade e dois dançarinos, essas equipes estão disponíveis para prestar esse serviço também em outros Estados. E, assim, levam a cristoteca para outras paróquias, com o consentimento dos párocos dessas igrejas locais.

Essas equipes itinerantes foram constituídas também em várias casas de missão da Aliança de Misericórdia, em outras regiões do Brasil, como Maringá (PR), Rio de Janeiro (RJ), Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte, no Ceará, informa Pedro, um dos líderes da comunidade e da organização da cristoteca, acrescentando:

O pessoal desses lugares vai fazendo a ponte conosco, da cristoteca-mãe, aqui de São Paulo. A gente vai dando auxílio de formação, de como estruturar, de como foi a nossa experiência, porque também nós não sabíamos como fazer, fomos aprendendo, inclusive com nossos erros, e adquirindo a experiência que vamos passando para esse povo (Entrevista, 19/3/2010).

Mais que tocar e dançar, a equipe da cristoteca tem como principal missão mostrar e fazer acontecer o “espírito da cristoteca”, ou seja, fazer desse evento um espaço de evangelização da juventude:

Antes de começar [a cristoteca] fazemos um momento de oração, falamos de Jesus, levamos um testemunho [de um jovem], porque isso é o mais importante. Não é somente a música, mas uma música que se torna evangelizadora, pelo testemunho, por um momento que a gente reza com jovens, convido-os para alguma dinâmica, como rezar de mãos dadas, ficar juntos pra eles poderem sentir que existe um motivo para eles estarem ali. Não é apenas o motivo de dançar à noite, mas de uma balada sadia, uma cristoteca: Cristo centro da balada, num contexto de evangelização (Entrevista, 19/3/2010).

Jamile conta como isso acontece:

Sempre vão um DJ, um missionário e dois dançarinos. E lá eles já deverão ter montado toda a estrutura para a cristoteca porque também o nosso site [da Aliança de Misericórdia] ensina tudo. E a gente vai chegar lá pra quê? Pra evangelizar. Fazer os jovens experimentarem Deus de alguma forma: dançando, evangelizando corpo a corpo, conversando com os jovens, pegando contato. Porque, na verdade, muitos jovens que vão à cristoteca nas paróquias não são dessas paróquias e então a gente procura se informar com os coordenadores [de grupos de jovens dessas paróquias] para poder informar e encaminhar os jovens [para os grupos da paróquia]. Porque muitos jovens dizem: eu nem sabia que tinha essas coisas aqui (Entrevista, 20/3/2010).

Nessa perspectiva, Jamile conta ainda uma experiência vivida em uma dessas missões da cristoteca itinerante no Paraná. Segundo ela, um jovem passando próximo do local onde acontecia a cristoteca, ouvindo o barulho da música, foi até lá. E ela relembra:

Ele chegou lá e então começou a conversar comigo e falou que achava que eu era uma pessoa muito diferente das meninas que ele estava vendo e tal… Então comecei a explicar o trabalho, a santidade, a importância da radicalidade, que tem o jovem radical na Igreja, no mundo, e a diferença que a gente pode fazer. Só que aquelas coisas pareciam que não estavam entrando no coração dele, ele ficava pelo lado racional: “não…, mas como…, na Igreja… e tal…” Aí ele viu o DJ tocando e esse jovem era também um DJ do mundo. A cristoteca inteira ele ficou assim olhando, meio cismado. Quando acabou a cristoteca, eu disse pra ele que Deus tinha um plano pra vida dele e indiquei o grupo de jovem lá da paróquia pra

ele ir participar. Aí, na outra semana, ele me mandou um e-mail com um testemunho, falando que ele viveu uma experiência muito forte naquele grupo de jovem e que agora ele não queria ser DJ do mundo, ele queria ser um DJ de Deus. Porque o amor que ele experimentou de Deus foi muito forte pra ele continuar tocando no mundo. Nossa!… a gente vive altas experiências!… (Entrevista, 20/3/2010).

Os jovens que iniciam uma caminhada de crescimento e formação espiritual, depois de uma experiência na cristoteca, recebem o incentivo e o apoio dos jovens da Aliança de Misericórdia, segundo afirma um destes jovens:

Tem jovem que nunca teve uma experiência com Deus, a primeira foi aqui na cristoteca. Então ele vai ter todo um caminho. A gente só orienta que cada um tenha um diretor espiritual, e que seja um missionário da comunidade. Esse diretor pode ser um jovem. A gente só pede que o jovem que orienta tenha uma formação, seja um jovem que tenha uma experiência profunda com Deus, uma vida de oração profunda, um caminho [espiritual]. Não seja qualquer jovem. Tem que ser uma pessoa que saiba o que está falando. Porque o jovem [que está sendo orientado] não é bobo. Você tem que ter realmente aquela formação, mostrar pra esse jovem que você também é jovem, mas você é de Deus, você tem um diferencial (Entrevista, 20/3/2010).

O termo “balada” remete à música eletrônica, geralmente tocada pelos DJs para animar as pistas de dança. A participação do DJ na noite, para esse tipo de música, é fundamental, imprescindível. A cristoteca, também chamada de balada católica, não se restringe unicamente a esse tipo de música eletrônica tocada pelo

DJ, embora a inclua. Para atender aos seus objetivos de evangelização e ao

gosto do seu público jovem que é diversificado, a cristoteca é eclética, segundo seus organizadores, quanto aos estilos das músicas que apresenta. Mescla diferentes estilos, incluindo, também a participação de bandas e artistas evangélicos. Portanto, são apresentadas música para todos os gostos. E o próprio ambiente da cristoteca permite essas opções:

No momento que toca música eletrônica, quem gosta fica lá, quem não gosta sai, vai lá pra fora [área interna], vai comer um lanche, bater um papo, vai à capela rezar. O pessoal que gosta do show ao vivo vem pro show ao vivo. O pessoal que não gosta, vai lá pra fora… Não existe uma tendência musical única, para você

falar isso aqui é a característica de uma cristoteca. Isso não existe. A cristoteca é bem eclética. Tem gente de todos os tipos e gostos.

A cristoteca, geralmente, obedece à seguinte programação: “santa missa, momento de oração, música eletrônica, atração musical, show ao vivo, mais uma rodada com os DJs residentes, desta vez o ritmo é variado, indo do pop ao axé, do reggae ao drum‘n'bass. A preocupação com os ritmos e com o fato de tocar

apenas músicas cristãs é fundamental”.25 Quanto a tocar determinados ritmos, os

organizadores da cristoteca admitem que existem, de fato, alguns problemas que preocupam e que exigem deles uma atenção especial, e exemplificam:

Começou uma influência muito forte de funk, daquele funk do Rio de Janeiro, em algumas cristotecas. A gente experimentou fazer. Aqui [em São Paulo] teve alguns problemas. Problemas por quê? Automaticamente as pessoas eram remetidas ao estilo daquela dança que, infelizmente, é uma dança vulgar. A gente começou a preservar. Em alguns lugares até disseram que deu certo. Se você toca e vê que o pessoal dança, está brincando, mas não de maneira vulgar, tudo bem. Mas o funk remete muito à sensualidade, a gestos obscenos, esse tipo de coisa. Até outros ritmos, por exemplo, se o DJ coloca só batida por muito tempo, sem nenhuma frase, sem nenhuma pausa, a gente orienta os DJs [a intercalar], a colocar uma música, uma mensagem que deve ser cantada. A batida agrada o jovem, mas a mensagem é que converte o jovem (Entrevista, 26/2/2010).

Nesse sentido, a coordenadora das equipes organizadoras da cristoteca confirma: “A gente se preocupa para que todas as músicas tocadas pelos DJs tenham letras para tocar o coração dos jovens. Por isso, a gente intercala: missa,

DJ, banda. O próprio DJ „puxa‟ um momento de reflexão e de oração”.

No documento Luzia Maria de Oliveira Sena (páginas 167-170)