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Música e dança nas culturas juvenis

No documento Luzia Maria de Oliveira Sena (páginas 53-56)

Experiência religiosa através da música e da dança

1.2. Música e dança em novos tempos

1.2.1. Música e dança nas culturas juvenis

A formação do que chamamos de culturas juvenis acontece a partir das condições criadas por alguns fatores como a expansão do consumo mediante a prosperidade econômica, o desenvolvimento do modelo de estado do bem-estar social, a expansão das indústrias culturais e dos meios de comunicação de massa, a maior oferta de bens de consumo e das atividades de lazer. Contudo, a consolidação da ideia de juventude ou de cultura jovem só ocorre a partir da década de 1950. Embora antes dessa data já se possa identificar algumas práticas de agrupamentos juvenis.10

Referindo-se especificamente à sociedade brasileira, e utilizando o conceito de condição juvenil, alguns autores nacionais apontam a década de 1960 como o período histórico em que

a juventude ganha inequívoca visibilidade social, aspecto que desde esse momento original corrobora o entrelaçamento da cultura e dos meios de comunicação massivos na construção de representações dominantes do que seria a condição juvenil em nosso país. Também a partir desse marco histórico começa a se engendrar a efetiva apropriação pelos jovens de discursos, produtos e espaços midiáticos, algo claramente associado à consolidação de uma sociedade de consumo (BORELLI;ROCHA;OLIVEIRA, 2009).

Nas últimas décadas, a música e a dança se constituíram em uma das mais expressivas manifestações das culturas juvenis, em diferentes países do mundo. Ao falarmos de culturas juvenis, assumimos aqui o conceito formulado por Raquel Pacheco:

No sentido lato, por cultura juvenil pode entender-se um sistema de valores socialmente atribuídos à juventude (tomada como conjunto referido a uma fase da vida), isto é, valores a que aderirão jovens de diferentes meios e condições sociais. Assim sendo, concluímos que não existe apenas uma cultura juvenil, mas sim várias culturas juvenis […]. Quando percebemos que existem diversas

10

Sobre isso, ver artigo de Ricardo Augusto de Sabóia Feitosa. Jovens em transe: grupos urbanos juvenis da contemporaneidade, conceitos e o „underground‟. Disponível em: <http://www.overmundo.com.br/banco/jovens-em-transe-culturas-juvenis-urbanas- conceitos-e-o-underground>. Acesso em: 15 de setembro de 2010.

culturas juvenis, acreditamos na diversidade da juventude, abrimos possibilidades para a pluralidade que é a juventude.11

As culturas juvenis expressam de múltiplas formas, através de comportamentos e atitudes, o jeito de ser e de viver das novas gerações, a sua maneira de entender e de se relacionar com o mundo. São expressões significativas as práticas de lazer e de sociabilidade, o vestuário e os adornos, a utilização das novas tecnologias e redes sociais de comunicação via internet, as expressões artísticas, como a música e a dança, dentre outra tantas formas.

A música e a dança têm sido amplamente utilizadas, inclusive pelas camadas menos favorecidas da sociedade, pelos moradores das periferias das grandes cidades, como expressões criativas das culturas juvenis. Basta lembrar os grupos e bandas de música que surgem dos subúrbios e que, de maneira criativa, produzem continuamente novos estilos e subgêneros musicais. E isso tem acontecido, há algumas décadas, especialmente nos Estados Unidos da América e em países da Europa, e, em pouco tempo, se espalhado pelos diferentes nações do mundo. Sobre isso, a cientista social Simone Pereira de Sá comenta que,

por volta de 1988, três gêneros consolidados na América o Techno de Detroit, o

deep house/garage, de Chicago e Nova York e o acid house atravessam o Atlântico. São esses estilos que, ao cruzarem as fronteiras em direção ao continente europeu, vão dar origem à cultura da música eletrônica propriamente dita, entendida como uma matriz de estilo de vida, comportamento ritualizado e crenças, que tem sua mais fiel tradição na cultura rave.12

11 Texto extraído da entrevista da autora sobre “A influência da mídia na formação da

identidade de jovens e da importância da educação para e com as mídias”, em 9 de junho de 2010. Disponível em:

<http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=6 719>. Acesso em: 6 de setembro de 2010. Raquel Pacheco é autora do livro Jovem,

media e estereótipos, publicado pela Livros Horizonte (Portugal), em 2009.

12

Disponível em: <http://textoslabcult.files.wordpress.com/2007/10/sa-simone-pereira- musica-eletronica-e-tecnologia-reconfigurando-a-discotecagem.PDF>. Acesso em: 4 de agosto de 2010.

As raves de que fala Simone Pereira de Sá são festas que reúnem milhares de jovens para dançar, durante toda a noite, animadas ao som de música eletrônica. Geralmente acontecem ao ar livre, em lugares abertos, como parques, sítios, longe dos centros urbanos. Tais festas se popularizaram no mundo todo como uma das expressões das culturais juvenis. Segundo esta autora, no contexto inglês, as raves ganharam a conotação de contracultura por reunir uma grande quantidade de jovens, em lugares abertos e ilegais, como velhos galpões ou estações de trens abandonadas nos arredores de Londres. E acrescenta:

A utilização da droga chamada ecstasy, o sentido comunitário advindo da sensação de estarem compartilhando uma experiência única, transgressora, que remetia à cultura hippie-lisérgica dos anos 60 e o abandono físico dos participantes à música descrita muitas vezes com expressões religiosas são ingredientes importantes nas raves.13

Para maior aprofundamento da relação dos jovens com a música especialmente a música eletrônicas e a dança, destacamos dois trabalhos acadêmicos: a pesquisa etnográfica14 do antropólogo Tiago Coutinho Cavalcante,

sobre os festivais de música eletrônica, as raves. Através da combinação de fatores como estímulos sensoriais e consumo de substâncias psicoativas, os participantes das raves experimentam fortes sensações e são induzidos a um estado particular de euforia e de êxtase comum. O antropólogo trabalha com o conceito de corpo, que se apresenta neste contexto como elemento central da estrutura dinâmica da festa. É através do uso do corpo que se atinge o estado esperado de êxtase. Sobre esse mesmo tema, porém abordado sob outro enfoque, temos o trabalho de Ivan Paolo de Paris Fontanari, A rave à margem do

13

Ibidem.

14 Dissertação de mestrado em antropologia, intitulada O êxtase urbano: símbolo e

performances dos festivais de música eletrônica, defendida em 2005 na Universidade

Guaíba: identidade jovem na cena eletrônica de Porto Alegre,15 um estudo dessas

festas na capital gaúcha.

Através das diferentes expressões culturais juvenis e aqui nos referimos de modo especial à música os jovens buscam descobrir um universo de sentido para suas vidas, construir suas identidades, demarcar seus espaços no mundo físico e social, optando por estilos de música e de pertencimento a determinados grupos que os distinguem e os individualizam. Isso se dá na relação entre os jovens e as práticas culturais globais e a música é uma delas , a partir das quais eles definem localmente as suas identidades sociais, o seu ser jovens, no contexto de possibilidades de experiência que a cultura contemporânea lhes oferece.

No documento Luzia Maria de Oliveira Sena (páginas 53-56)