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4) DISCUSSÃO: ampliando reflexões

4.3. Cuidar do sofrimento

Uma questão a ser abordada é a que abarca ‘dor aguda após a perda’, ‘presença na ausência’ e as ‘incompreensões quanto à normalidade’ ou não dos processos que envolvem a experiência do familiar cuidador junto ao seu ente querido acometido por doença potencialmente fatal.

É possível englobar a ‘dor aguda’ e a ‘presença na ausência’ na temática das incompreensões quanto à normalidade. Pois, são reações que têm sido mal interpretadas no cenário dos muitos avanços tecnocientíficos que têm alcançado a saúde; cenário de classificações, tecnicismos e, muitas vezes, medicação das crises naturais da vida.

A ‘dor aguda após a perda definitiva’ diz respeito ao pesar vivenciado por pessoas após a morte de um ente querido. Nos momentos que sucedem a perda da pessoa amada, o enlutado, além de lidar com a dor da separação, com a saudade, com as reestruturações da vida prática, precisa se haver também com desconstruções e reconstruções de sentidos da própria vida, da morte e do pós-morte. Por isso o pesar agudo pode surgir de modo bastante diferente do que habitualmente a pessoa está acostumada a vivenciar; podendo gerar reações, sentimentos, pensamentos caóticos, que podem levar à sensação de uma experiência de caos e loucura.

Porém, nos dias atuais, tem-se classificado esse pesar como ‘Transtorno Depressivo Maior’, a partir da segunda semana após o falecimento do ente querido, como descrito na 5ª- edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5 (American Psychiatric Association [APA], 2013). E a sugestão é de tratamento psiquiátrico, que envolve medicalização.

Nesta pesquisa, todos os participantes relataram terem vivenciado pesar, alguns chegaram a descrever dores físicas que podiam ser identificadas no corpo. P5 referiu: “Essa

dor, quando a gente perde alguém, parece que é física mesmo; nossa, é um aperto, é um vazio tão grande”.

P6 descreveu: “eu tenho uma dor contínua no peito... Foi uma dor muito grande que eu senti na hora, eu achei que ia morrer junto com ele. Eu perdi o fôlego, minha pressão foi pra 23. Minha vista escureceu, gritei e agarrei ele, não queria soltar ele. [...] e aí veio essa dor... que não passou mais... é uma dor contínua, às vezes aumenta, outras diminui, mas está lá”.

A maioria dos colaboradores relatou ter enfrentado dificuldades quanto a seu enlutamento. P3 conta que pessoas próximas, na tentativa de tirá-lo rapidamente de sua dor, insistiam para que ele viajasse, namorasse outra pessoa, mudasse de apartamento; o que o fazia sentir-se bastante incompreendido; então procurou um profissional de saúde, que lhe disse o contrário, permitindo que pudesse vivenciar sua dor sem culpa de estar sendo fraco.

P6 relatou ter decidido não conversar mais com o marido ou com pessoas próximas sobre sua dor pela perda do filho, pois o marido achava que ela estava enlouquecendo. Ele acreditava que a tristeza da esposa se configurava como anormal, visto que o falecimento já havia ocorrido há quatro anos. Então, por medo de ser vista como louca por vivenciar um pesar absurdo, preferiu não mais se abrir.

Outros estudos e autores também discorrem a respeito do pesar agudo sentido por aqueles que perdem entes queridos, que, muitas vezes, vem acompanhado da dificuldade da própria pessoa e da sociedade aceitarem essa forma de sofrimento: Kovács, 1992; Parkes, 1998; Franco, 2002; Kovács, 2003; Franco, 2008a; Franco, 2008b; Casellato et al., 2009; Kovács, 2009; Mazorra, 2009; Neimeyer, 2011; Parkes, 2011; Wakefield et al., 2011; Gauthier e Gagliese, 2012; Stroebe et al., 2012; Thieleman e Cacciatore, 2013; Wakefield, 2013; Worden, 2013.

Em relação à ‘presença na ausência’, essa diz respeito à forma como a pessoa que perdeu um ente querido irá relacionar-se com o falecido, qual o lugar que a presença da ausência ocupará em sua vida, o que é chamado de continuidade do vínculo. Em relação à continuidade nos vínculos, os colaboradores também enfrentaram incompreensões.

Neimeyer (2011) aponta que ainda há muitos autores que consideram patológica a manutenção do vínculo com o ente querido falecido, porém, afirma que diversos questionamentos a respeito das teorias tradicionais do luto têm se destacado, fortalecendo o conceito de continuidade do vínculo.

Nesse sentido, estudos (Rangel, 2008; Attig, 2010; Foster et al., 2011; Getty et al., 2011; Harpera et al., 2011; Neimeyer, 2011; Attig, 2012; Cacciatore & Flint, 2012; Stroebe et al., 2012; Bachrach & Landau, 2013; Furnes & Dysvik, 2013; O'Callaghan et al., 2013;) ressaltam a importância da sensação da presença simbólica da pessoa perdida, proporcionando conforto ao enlutado. Observam que o processo de luto não implica na busca pelo fim, pela quebra do relacionamento com o morto, e sim a reestruturação e redefinição dos modos pelos quais haverá uma interação com a pessoa falecida mesmo com sua ausência física, e a incorporação desta na estrutura de vida do enlutado. Há uma ressignificação da relação no sentido de promover uma transição do amor na presença para o amor na ausência.

Assim, a dor aguda se ameniza e até mesmo desaparece, mas não a relação, a lembrança e a saudade da pessoa perdida. Nesse sentido, P5 relatou em sua fala que sua percepção é de que “a pessoa morre, mas o amor não morre junto com ela, ele permanece”.

Segundo Rangel (2008), na infância a continuidade do vínculo com o genitor falecido é explicitada com mais espontaneidade, na fase adulta este aspecto é mais difícil de ser exposto. Este fenômeno ocorre porque manter-se vinculado à pessoa perdida não é facilmente aceitável socialmente e/ou é compreendido como algo anormal. A autora afirma que as formas mais facilmente identificáveis e aceitáveis de permanecer em contato são: fotos,

objetos especiais, lugares especiais, entre outros meios. E existem ainda aquelas conexões que são mais difíceis de serem identificadas, por serem menos aceitas socialmente e/ou vistas com menor frequência: ver o morto, falar com o morto, sentir sua presença, entre outras.

Exemplo desta não aceitação pode ser observado no relato de P6, que referiu que o marido não acha normal que passados quatro anos da perda, ela visite o túmulo do filho regularmente, goste de dormir abraçada às roupas dele e já chegou a sentir sua presença física. P3 não conta às pessoas que sente que a esposa se conecta com ele de alguma maneira para dar-lhe incentivos, forças para continuar vivendo. Sente que em alguns momentos ela fala com ele.

Atualmente, na sociedade ocidental contemporânea, a tecnociência tem se destacado, levando o homem a inúmeras conquistas nas áreas da comunicação, transportes, saúde, entre tantas outras. E a mentalidade que acompanha tais conquistas é a da objetivação, mensuração, controle, produtividade, eficiência. Nesse contexto, as noções de saúde e doença têm sido embasadas/cunhadas por essa mesma mentalidade e princípios. Nesse cenário, o sofrimento, a angústia, a ansiedade, o luto por alguém querido, facilmente pode se tornar anormal, doença, patologia.

A esse respeito, as ideias de Canguilhem (1943/1990) são relevantes. Ele publica a obra O normal e o patológico em 1943 que, apesar de ter sido escrita há mais de 70 anos, lança ideias e questionamentos que ainda dizem respeito à atualidade. O autor encontra na psiquiatria fenomenológica de Daniel Lagache e Minkowsky novas perspectivas para a renovação dos conceitos de normal e patológico empreendida no âmbito da nosologia somática. Essas perspectivas eram novas para a época por serem radicalmente distintas do referencial metodológico de Augusto Comte, importante influência do pensamento médico do século XIX.

Canguilhem utilizou as ideias relativas à nosologia psíquica para recriar os conceitos centrais da nosologia somática, pois acreditava ser muito importante uma diluição dos limites da separação entre o psíquico e o somático. Destacava a necessidade de uma abordagem integrativa das pesquisas derivadas dos diferentes campos para o esclarecimento dos problemas relativos às patologias no homem.

Para o filósofo, a noção de normal não pode derivar de uma média estatística, da norma, e, tampouco, de um tipo ideal, padrão. Defende que o critério de distinção entre saúde e doença é a normatividade vital, ou seja, a capacidade do organismo de criar normas novas. Para o autor, o organismo saudável é normativo, sendo capaz de ultrapassar a norma que define o normal presente, capaz de tolerar as variações do meio e capaz de instituir novas normas de vida. Por outro lado, o organismo doente é aquele que se encontra limitado a uma única norma de vida, completamente adaptado e restrito a um meio determinado de existência. Afirma (1943/1990):

A doença não é ausência de norma, mas uma norma inferior no sentido de não tolerar nenhum desvio das condições em que é válida, por ser incapaz de se transformar em outra norma. O vivo doente é normalizado em condições de existência definidas e ele perdeu a capacidade normativa, a capacidade de instituir outras normas em outras condições. (pp.119-120)

Levando em conta que a vida é possibilidade de afrontar riscos e triunfar ou não, então um organismo completamente fixo e adaptado a uma única norma é doente, por não possuir uma margem de tolerância às variações do seu meio. Para Canguilhem (1943/1990) “não existe fato que seja normal ou patológico em si” (p.91), pois afirma que o indivíduo portador de anomalias (ou seja, aquele que se desvia do tipo específico estatisticamente definido pela medicina tradicional) pode ser normativo, isto é, pode ser um centro produtor de normas e valores. Somente quando essas anomalias significarem decréscimo, impotência e negação da vida, é que aparecerão como doenças.

Mais tarde, Canguilhem (1952/1985) estende ao campo da nosologia psíquica as suas reflexões sobre a norma, a saúde e a doença. Para o autor, a saúde mental também caracteriza- se pela normatividade, compreendida, nesse caso, como o uso da liberdade individual enquanto poder de revisão e criação de novas normas. Em outras palavras, a saúde mental é certa capacidade de superar crises psíquicas para instaurar uma nova ordem mental. Como escreve:

Ora, como nos pareceu reconhecer na saúde um poder normativo de colocar em questão normas fisiológicas usuais pela procura do debate entre o vivente e o meio — debate que implica a aceitação normal do risco da doença —, do mesmo modo nos parece que a norma em matéria de psiquismo humano é a reivindicação e o uso da liberdade como poder de revisão e de instituição de normas, reivindicação que implica normalmente o risco da loucura. (p. 168)

Assim, o ‘doente mental’, o ‘anormal’, é o indivíduo que está limitado às normas estipuladas pelo meio social, não possuindo a capacidade de superá-las ou de inventar outras normas. Canguilhem (1952/1985) questiona: “Quem gostaria de sustentar, em matéria de psiquismo humano, que o anormal obedece demais às normas? Ele talvez seja anormal porque obedece demais” (p. 168).

O pensamento de Canguilhem traz embasamento para questionar a visão do indivíduo isolado. Aponta que não existe um tipo ideal a ser alcançado, e não há nada que seja normal ou patológico em si, mas apenas em situação, encarnado, mundano; o que nos leva à questão de que não estamos falando apenas de um indivíduo, mas, ao mesmo tempo, de uma pluralidade, da ação, relação, de homens entre si, e desses homens com o mundo.

A ideia de normatividade vital, ou seja, a capacidade do indivíduo de encontrar novas normas de vida, novos modos de existir no mundo, que conseguem fazer frente às normas vigentes, traz subsídios para o início da compreensão de pessoas que podem estar tendo dificuldades a partir da perda de um ente querido.

É importante notar que a normatividade tem relação com movimento, com arriscar-se, com tolerar as variações do meio, com revisar e criar novas normas diante das que já existem.

Assim, a normatividade nada tem a ver com sentir-se feliz e não enfrentar dores ou sofrimentos na vida, não se relaciona com o que pode ser entendido como uma maior adaptação ao meio, afinal o excesso de adaptação pode ser sinal de adoecimento.

Nesse sentido, um homem encarnado que tem uma vivência de luto diferente daquela padronizada estatisticamente pode estar em um processo normativo, que se movimenta e cria novas normas de vida. Assim, um quadro referencial como modelo para todos pode levar a nomear de doença o que propriamente pode não o ser, impelindo a tratar o que não precisa de tratamento, no sentido de que não precisa ser expurgado, mas precisa sim de cuidados de outra ordem.

Boff (2005) assinala que nos últimos séculos, especialmente a partir do processo industrialista do século XVIII, pouco a pouco homens e mulheres têm subjugado e têm sido subjugados por outros e pelas estruturas do trabalho produtivo, racionalizado, objetivado, despersonalizado; sendo submetidos à lógica da máquina e do uso utilitário das coisas e pessoas. Assim, não mais têm se ocupado e preocupado com o ser humano, mas com a economia, com o consumo, com o acúmulo de bens materiais.

Nesse cenário, segundo Boff (2005), não há mais tempo/espaço/atenção para o cuidado; não cuidamos mais de nós mesmos em meio a uma crise, e não cuidamos dos que estão ao redor. Não é possível parar a roda da vida para sentar à mesa com o amigo frustrado, colocar-lhe a mão no ombro, tomar com ele uma xícara de café e consolá-lo, falar de dor e também de esperança. É difícil encontrar espaço em nossas agendas para dedicarmo-nos às pessoas.

A esse respeito, Rollo May (1973) aponta:

Nossa situação é a seguinte: na atual confusão de episódios racionalistas e técnicos, perdemos de vista e nos despreocupamos do ser humano; precisamos agora voltar humildemente ao simples cuidado....; é o mito do cuidado – e creio, muitas vezes, somente ele – que nos permite resistir ao cinismo e à apatia, que são as doenças psicológicas do nosso tempo. (p.338)

Assim, por todas essas dificuldades com o cuidado nos tempos atuais, quando surge um momento de crise, como o que é despertado pela morte de um ente querido, muitas vezes, não somos cuidados, não sabemos cuidar de nós mesmos e os outros, muitos por sentirem medo do sofrimento, chegam até mesmo a se distanciar.

O enlutado geralmente precisa de especial atenção em relação à sua dor e, por um período, pode precisar de cuidados também na realização das simples tarefas cotidianas, que realizava anteriormente com facilidade. Especialmente nos períodos logo após a perda, a pessoa pode negligenciar-se em alimentar-se de modo razoável, pode atravessar a rua sem olhar para os lados, pode deixar o fogo aceso, pode esquecer-se de buscar o filho na escola, entre outras dificuldades.

O que tem acontecido em nossa sociedade é que muito rapidamente tem-se procurado a ajuda de um profissional de saúde quando essas dificuldades aparecem. E, na maior parte das vezes, em busca de uma solução rápida, instantânea, que mitigue o sofrimento que incapacita o retorno às atividades cotidianas. Em relação ao luto, o modelo diagnóstico e de cuidado geralmente tem sido a associação de um, ou mais remédios psiquiátricos, e às vezes com indicação de psicoterapia com foco no luto.

Certamente não sou contra o cuidado profissional, envolvendo psicoterapia e medicamentos, mas também compreendo que este pode trazer malefícios em certas situações, causando uma “iatrogenia nos cuidados com enlutados” (Casellato et al., 2009, p.90). Nesse sentido, um diagnóstico/rótulo psiquiátrico pode ser maléfico quando provoca estigmatização da pessoa, o que tem acontecido com frequência nos dias atuais em que se tem dividido rapidamente os normais dos que não são normais.

Um acompanhamento psicológico, nos moldes da busca por resultados de adaptação e eficácia rápidas, em vez de estimular a liberdade, autonomia, a vida a reagir por si só e a

encontrar o próprio caminho, pode tutelar a pessoa e estimular a dependência, a ideia de que se está vivenciando um luto ruim, anormal.

Assim, acredito no valor de uma psicoterapia em que a pessoa é facilitada a si mesma cada vez mais, ou seja, um acompanhamento em que não há tutela de suas escolhas, mas antes uma busca pela libertação para que ela mesmo escolha a sua existência e assuma a tutoria pela sua própria vida (Feijoo, 2010).

E, quanto às medicações psiquiátricas, é possível perceber um abuso de prescrições, tanto para adultos, quanto para crianças. É preciso muita cautela em sua utilização, pois muitas delas podem gerar inúmeros efeitos colaterais, além da possibilidade da dependência. As consequências do uso prolongado de drogas psicoativas, nas palavras de Hyman (2007), até recentemente reitor da Universidade de Harvard, são “alterações substanciais e de longa duração na função neural” (p.725).

A questão que sobrevém neste momento é porque será que se tem procurado tanto os profissionais de saúde e tomado cada vez mais remédios quando se vivenciam perdas e lutos? Será que é porque não se tem encontrado cuidado junto às pessoas próximas? Será que a sociedade tem tornado os homens cada vez mais adoecidos? Ou tem-se inventado cada vez mais patologias a partir de uma mentalidade da eficiência?

Angell (2011) é médica e tem estudado, investigado e denunciado o grande aumento de diagnósticos psiquiátricos e do uso de medicações psicoativas nos últimos anos. Aponta que o Prozac chegou ao mercado em 1987 e, então, nos dez anos seguintes, o número de pessoas depressivas tratadas triplicou e, hoje, cerca de 10% dos americanos com mais de 6 anos de idade tomam antidepressivos.

Outros dados estatísticos referidos pela médica dizem respeito à população norte- americana, mas dão ideia do que tem acontecido no cenário mundial: a quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda do seguro por

incapacidade aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007; de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76. No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso; um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas, sendo a doença mental hoje a principal causa de incapacitação de crianças. Os diagnósticos que aparecem como os primeiros da lista dos psiquiatras são ansiedade, depressão e transtorno bipolar para adultos, e déficit de atenção e hiperatividade para crianças.

Em suas investigações, Angell (2011) tem percebido que esse grande aumento de diagnósticos e de uso de medicação se ligam claramente a alguns fatores: à grande procura das pessoas por cuidados médicos quando estão descontentes com a vida, em busca de respostas rápidas e mágicas; a grande rapidez da medicina atual em diagnosticar e rotular quem chega ao consultório, logo prescrevendo um medicamento; e a influência das indústrias farmacêuticas que têm adquirido cada vez mais força em meio a esse cenário. Sendo possível perceber que cada uma das questões suscitadas tem sua parcela de responsabilidade no panorama atual.

Dessa maneira, no que diz respeito à forma e à qualidade dos cuidados que precisam ser prestados tanto aos cuidadores familiares, quanto aos cuidadores profissionais, é uma temática que certamente precisa ser melhor estudada e aprofundada. Porém, é possível enfatizar que os cuidados não-farmacológicos/não-tecnicizados têm tido pouco espaço no mundo contemporâneo dominado pela tecnociência.

Nesse sentido, Pessini (2009) aponta que os avanços tecnológicos nos meios de saúde têm representado um grande ganho à humanidade. Porém, é preciso sabedoria ética para usar tal poder, é preciso cuidado para não se render à ‘tecnolatria’; termo utilizado pelo autor para expressar a dominação da tecnociência, sem reflexão, sobre todas as esferas da vida humana.

Por isso, há que se recuperar espaços/maneiras de escuta e acolhimento, em um movimento de se desvincular da dependência do tecnicismo, abrindo espaço para as

subjetividades, em meio ao contexto do império da tecnociência e da exclusão dessas subjetividades.