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Currículo moldado: percepções dos atores da E.E.M São Sebastião

No documento joséleonardoferreiragomes (páginas 151-155)

3 AÇÕES EDUCACIONAIS E AVALIAÇÕES EXTERNAS: SUPORTE

3.4 ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO

3.4.3 Currículo moldado: percepções dos atores da E.E.M São Sebastião

6 Ressalta-se que o currículo da rede estadual ao qual os professores referem-se trata-se do Documento Curricular Referencial de 2009.

Em relação ao nível do currículo moldado, professores e coordenadoras relatam que os planos de ensino são elaborados de acordo com documentos norteadores como a BNCC. Além disso, os docentes explicam que os planos de aula diários são propostos em consonância com os planos de ensino, ou seja, eles também recebem influencias dos documentos do currículo prescrito, comprovando o argumento de Sacristán (2000) de que os níveis de currículo prescrito são o ponto de partida para o desenvolvimento dos outros níveis do currículo na escola.

As coordenadoras complementam que os professores costumam moldar seus planos de ensino em conjunto na semana pedagógica, e seus planos de aula no planejamento semanal por área. A coordenadora C2 relata que os docentes costumam utilizar vários materiais como suporte nesse momento de elaboração do currículo. Conforme Sacristán (2000), esses materiais que ajudam os professores a interpretarem as prescrições do currículo normativo são muito importante, pois, segundo o autor, as prescrições “costumam ser muito genéricas e, nessa mesma medida, não são suficientes para orientar a atividade educativa nas aulas” (SACRISTÁN, 2000, p.105).

Assim, a coordenadora C2 explica:

[...] eles utilizam o livro didático, os documentos que citei, a BNCC as matrizes do currículo. Esses documentos são utilizados desde o início, na semana pedagógica né. [...] Aí o plano de ensino é feito nessa semana, e as aulas são planejadas no cotidiano, sempre tendo formações para dar apoio para os professores (COORDENADORA C2).

As coordenadoras também apontam que a escola fornece como materiais de apoio para auxiliar os professores a elaborarem seus planos de ensino o PPP, a BNCC, as matrizes curriculares, folhetos, textos e o livro didático. Nesse aspecto, a BNCC e as matrizes curriculares representam o próprio currículo prescrito, porém materiais como o livro didático, folhetos e textos representam guias de suporte que conforme reflexões de Sacristán (2000) colaboram para a tradução do currículo prescrito pelos professores.

Portanto, de acordo com apontamentos dos entrevistados, a elaboração dos planos de ensino ocorre de forma satisfatória e organizada na escola. Isso também é subsidiado pelo fato de grande parte dos alunos da 3ª série (67,6%) apontarem que os professores de matemática costumam informar com antecedência os conteúdos que são abordados nas aulas, indicando assim uma certa organização dos professores em relação ao currículo moldado.

Ainda sobre o a elaboração dos planos de ensino, o professor M2 ressalta que costuma procurar atender às especificidades dos alunos e que, embora o conteúdo seja o mesmo em cada turma, ele realiza abordagens diferentes nas turmas. Esse depoimento do professor M2 corrobora a análise de seus registros de aula das turmas 3ªB e 3ªC, que mostram que mesmo em turmas da mesma série o professor apresentou registros de aula distintos e ministrou suas aulas em ritmos e sequências diferentes.

Complementando o relato do professor M2 a maioria dos alunos da 3ª série (72,5%) concorda que os professores de matemática não trabalham apenas os conteúdos prescritos no livro didático e grande parte dos discentes (95%) concorda que os professores de matemática trabalha outros conteúdos que não são previstos para a série. Ou seja, de acordo com esses resultados, o currículo moldado pelos professores de matemática não considera apenas o guia de conteúdo do currículo prescrito ou apresentado pelo livro didático, mas também as necessidades dos alunos já que estes professores não abordam apenas os conteúdos indicados para a 3ª série e consideram conteúdos previstos para outros níveis de ensino.

Nesse sentido, Sacristán (2000) já apontava que o currículo moldado pelos professores recebe influências de fatores externos e também de fatores internos na medida em que os docentes tentam adaptar as prescrições do currículo às realidades da escola. Assim, conforme o autor, o currículo moldado além de se basear nas prescrições dos currículos normativos também é influenciado pelas vivências dos professores.

Nessa perspectiva de que o currículo é moldado de forma particular por cada docente, o professor M1 relata que para ajudar a elaborar seus planos de ensino ele utiliza além dos documentos norteadores do currículo, as experiências de outras escolas e de outros professores, procurando sempre testar vivências positivas no cotidiano de sua prática. Já o professor M2 aponta que costuma utilizar o livro didático, pesquisas na internet e o banco de dados do professor on-line7 para construir o plano de ensino.

Todavia, em meio à citação de vários materiais e estratégias que são utilizados para a elaboração dos planos de ensino, nenhum entrevistado citou a utilização de materiais como a matriz de referência de avaliações externas, contrariando a análise documental que evidencia que esses documentos também são utilizados na construção dos planos de ensino, tendo em

7 Conforme a Seduc o professor on-line consiste em um portal voltado para o professor da rede e estadual de ensino do Ceará, que permite ao docente acessar notas, atividades, frequências, materiais, dados das turmas e dados dos alunos.

vista que nos planos constam atividades como simulados e atividades direcionadas para o SPAECE, o SAEB e o ENEM.

Essa observação é relevante, pois indica que as provas externas já começam a influenciar o currículo desde o seu nível de tradução e molde, e não apenas em seu nível de realização e prática.

Sobre o acompanhamento da elaboração dos planos de ensino as coordenadoras apontam que há um acompanhamento pedagógico desse processo por meio de ações de formação continuada, que segundo a coordenadora C1 inicia desde a semana pedagógica.

Conforme as coordenadoras, esse acompanhamento também é feito semanalmente por meio de orientações nos planejamentos de aula e por meio do sistema de acompanhamento do diário on-line em que verificam-se as aulas registradas, os planos de ensino e relatórios de frequência. Além disso, conforme as coordenadoras existe o apoio dos professores coordenadores de área - PCA que fazem uma comunicação entre docentes e gestão.

Nesse contexto, sustentando os relatos das coordenadoras, ambos os professores indicam que recebem acompanhamento pedagógico da escola para moldarem seus planos de ensino, na medida em que recebem orientações da coordenação e dos professores coordenadores de área, e por meio de formações. Porém, o professor M2 aponta que esse acompanhamento poderia ser mais específico e direcionado, indicando que o acompanhamento pedagógico ainda pode ser aprimorado na escola.

Ou seja, percebe-se que a escola oferta um suporte pedagógico para que os professores moldem seu currículo por meio de acompanhamento e formações, entretanto, essas ações ainda podem ser aprimoradas.

Portanto, de acordo com as percepções de professores de matemática, coordenadoras pedagógicas e alunos da 3ª série, pode-se concluir sobre o nível de currículo moldado na E.E.M. São Sebastião que:

I. Os planos de ensino anual e planos de aula diários são elaborados de acordo (não exclusivamente) com as orientações dos documentos do currículo prescrito;

II. Os planos de ensino anual são elaborados na semana pedagógica e os planos de aula diários são construídos semanalmente no planejamento por área. Os professores utilizam vários materiais para auxiliar esse processo de molde do currículo, tais como, BNCC, matrizes curriculares, livro didático e textos de apoio;

III. Nenhum entrevistado cita a utilização da matriz de referência do SPAECE para o processo de elaboração dos planos de ensino, embora, como observado na análise documental, existem muitas atividades direcionadas para as avaliações externas nos planos de ensino;

IV. Assim como observado na análise documental, nas entrevistas e nos questionários também percebeu-se que os docentes moldam seus planos considerando não só as orientações do currículo prescrito, mas também as necessidades de cada turma;

V. O professor é um agente ativo na elaboração do currículo. Além das orientações do currículo prescrito e de materiais de apoio fornecidos pela escola, os professores também utilizam outras estratégias e recursos particulares para elaborarem seus planos de ensino;

VI. Professores e coordenadoras apontam que há o acompanhamento pedagógico no processo de elaboração dos planos de ensino, porém, esse acompanhamento ainda pode melhorar tornando-se mais específico e direcionado.

Portanto, entende-se que na E.E.M. São Sebastião o currículo, assim como indica Sacristán (2000), é moldado de acordo com o currículo prescrito, e também, de acordo com fatores internos e externos à escola, como por exemplo, a realidade da instituição, às necessidades dos alunos, a comunidade a qual a escola está inserida, as pressões exercidas na escola e o repertório dos professores, que como atores responsáveis por traduzir e realizar o currículo, tornam-se agentes ativos nesse processo.

Nesse contexto, na seção seguinte realiza-se uma discussão acerca das percepções de alunos da 3° série, professores de matemática e coordenadoras em relação ao currículo realizado na E.E.M. São Sebastião.

No documento joséleonardoferreiragomes (páginas 151-155)