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Sala de aula, ações educacionais e aprimoramento da aprendizagem

No documento joséleonardoferreiragomes (páginas 68-73)

3 AÇÕES EDUCACIONAIS E AVALIAÇÕES EXTERNAS: SUPORTE

3.2.2 Sala de aula, ações educacionais e aprimoramento da aprendizagem

O processo de aprendizagem de uma escola está relacionado tanto com as atividades e aulas realizadas no interior da sala de aula, quanto com as ações e projetos ofertados pela instituição. Assim, para o alcance dos objetivos dessa pesquisa, é fundamental considerarmos um referencial que discuta o aprimoramento da aprendizagem dentro e fora da sala de aula.

No que se refere à aprendizagem desenvolvida nas aulas Câmara dos Santos (2002) aponta algumas concepções sobre o que significa ensinar e aprender especificamente na disciplina de matemática, elencando três tipos de concepção: “baldista, da escadinha e sócio- construtivista” (CÂMARA DOS SANTOS, 2002). Segundo o autor, a concepção baldista parte da ideia de que o aluno não tem nenhum conhecimento prévio acerca do novo conhecimento e atua “despejando” esse conhecimento no aluno por meio de definições. Ou seja, conforme o pesquisador o professor atua como emissor do conhecimento e o aluno como receptor do conhecimento. O autor ainda ilustra que é como se o aluno fosse um balde vazio e o professor atuasse enchendo esse balde.

Segundo Câmara dos Santos (2002), uma desvantagem desse tipo de aula seria o fato de não conseguir estimular os interesses dos alunos e não considerar o conhecimento prévio dos mesmos. O autor aponta como vantagens desse modelo a praticidade, a economicidade já que não exige muitos recursos e a principal ferramenta é a palavrado professor e o ganho de tempo pelo professor que consegue ensinar um grande número de alunos ao mesmo tempo.

Já a concepção da escadinha, conforme Câmara dos Santos (2002), consiste em um modelo em que o aluno sai de uma etapa de conhecimento inicial, passa por etapas intermediárias proporcionadas pelo professor e alcança uma etapa de conhecimento final. O autor ainda complementa que essa concepção tem uma ideia de que seria possível modificar o comportamento de um indivíduo a partir de situações de estímulos e reforço de respostas positivas.

Segundo Câmara dos Santos (2002), nesse modelo existem algumas desvantagens como a não permissão do erro ao aluno, pois, segundo o autor, o erro pode deixar marcas no processo de ensino-aprendizagem, e a diretividade do professor por trás das atividades propostas. Além disso, esse tipo de aula fragmenta a aprendizagem em etapas intermediárias impedindo que o aluno tenha uma visão geral do conhecimento.

A concepção sócio-construtivista, segundo Câmara dos Santos (2002) seria um modelo de ensino em que o professor propõe a resolução de uma situação problema aos alunos fazendo com que os mesmos mobilizem conhecimentos prévios para resolver a situação-problema, e construam novos conhecimentos para resolvê-la.

Conforme Câmara dos Santos (2002), a utilização de recursos como jogos e resolução de problemas do cotidiano nas aulas de matemática colaboram com uma concepção sócio construtivista do ensino-aprendizagem. O autor explica que nesse modelo de aula existem

muitas vantagens tais como a consideração dos conhecimentos prévios dos alunos, a valorização das interações sociais entre os alunos para resolver o problema e o fato do aluno ser ativo e construir seu próprio conhecimento. Acredita-se que todos esses fatores colaboram para uma aula atrativa ao aluno.

Assim, de acordo com os apontamentos de Câmara dos Santos (2002) pode-se entender que as concepções que norteiam os professores para elaborarem suas aulas, tem influência direta no movimento produzido na sala de aula e consequentemente no desenvolvimento da aprendizagem.

A respeito da aprendizagem desenvolvida por meio de ações educacionais ressalta-se que no presente trabalho entende-se como ações educacionais as atividades ofertadas pela escola que visam o desenvolvimento de conhecimentos por parte dos atores da escola.

Considerando que as ações pedagógicas fazem parte de um processo social, Souza (2005) se posiciona que, para entender as ações pedagógicas de uma escola é fundamental compreender o momento atual que a sociedade passa, já que segundo a autora, as características da sociedade influenciam a realidade educacional.

Assim, tendo em vista que nos dias de hoje tem-se uma sociedade com um contexto marcado por competição, novas tecnologias, capital humano e corrida pelo conhecimento e que nas repartições públicas houve a consolidação de políticas de monitoramento e prestação de contas (accountability), é fundamental entender que esses fatores influenciam no movimento interno das escolas, e que as ações educacionais são influenciadas pelo que “se espera” da escola.

Todavia, assumindo que a função original dessas ações, independentemente das influências, seja o aprimoramento da aprendizagem, é necessário entender o significado desse termo para refletir a relação entre os eixos aprendizagem e prática pedagógica. Giusta (1985) conceitua o termo aprendizagem como uma ação relacionada à experiência e à aquisição de conhecimentos. A autora explica que

[...] o conceito de aprendizagem emergiu das investigações empiristas em Psicologia, ou seja, de investigações levadas a termo com base no pressuposto de que todo conhecimento provém da experiência. Isso significa afirmar o primado absoluto do objeto e considerar o sujeito como uma tabula rasa, uma cera mole, cujas impressões do mundo, fornecidas pelos órgãos dos sentidos, são associadas umas às outras, dando lugar ao conhecimento. O conhecimento é, portanto, uma cadeia de ideias atomisticamente formada a

partir do registro dos fatos e se reduz a uma simples cópia do real. (GIUSTA, 1985, p.26).

A autora expõe uma definição epistemológica e positivista para o termo aprendizagem e complementa que a definição de aprendizagem de acordo com a corrente behaviorista refere-se a uma "mudança de comportamento resultante do treino ou da experiência". (GIUSTA,1985, p.26).

Giusta (1985) também relata que de acordo com a perspectiva piagetiana, a aprendizagem se dá de maneira construtivista e o saber se constrói por meio de interações sociais considerando os conhecimentos prévios dos alunos. Portanto, a partir dessas duas visões de aprendizagem apontadas pela autora é possível refletir que a aprendizagem se dá a partir de socializações e de experiências. Dessa maneira, as ações e projetos que compõem o currículo praticado pela escola são peça fundamental na rotina da instituição, já que as mesmas atuam fornecendo vivências e experiências sociais que possibilitam a construção do conhecimento.

Giusta (1985) ainda se posicionou que, na medida em que ações pedagógicas proporcionam experiências de socialização e coletividade, elas também geram a construção significativa do conhecimento, ou seja, a aprendizagem. Portanto, as ações e projetos de uma escola devem contemplar a coletividade e a socialização para que possibilitem o desenvolvimento da aprendizagem.

Nesse sentido, para que a escola consiga aprimorar a aprendizagem entre seus alunos é imprescindível realizar um diagnóstico da aprendizagem dos discentes, pois, a partir dessa análise a escola pode elaborar práticas que visam o fortalecimento de pontos fortes e a superação das dificuldades dos alunos. Assim, conforme Soligo (2010) e Zancanaro & Hungaro (2016), a avaliação externa deve entrar na escola como uma ferramenta para auxiliar na realização deste diagnóstico. Os pesquisadores defendem o uso dos resultados das avaliações externas pela escola como uma ferramenta de trabalho que pode contribuir na superação de deficiências de aprendizagem do conhecimento.

Em consonância com o exposto, Zancanaro e Hungaro (2016) apontam que a avaliação externa representa uma ferramenta para o aprimoramento da educação dentro da escola, mas que isso só ocorre somente quando este instrumento proporciona a reflexão e o redirecionamento das ações educacionais existentes na escola. Complementando o posicionamento dos pesquisadores, Soligo (2010) argumenta que as avaliações externas

contribuem para o melhoramento da qualidade da educação na medida em que ocorre o uso e a problematização dos seus dados pela escola.

A relação entre avaliação externa, ações educacionais e aprendizagem é representada abaixo na figura 3.

Figura 3 – Relação entre avaliação externa, ações educacionais e aprendizagem

Fonte: Elaborado pelo autor (2020).

A figura 3 expõe que avaliações externas, ações educacionais e aprendizagem se relacionam na medida em que as avaliações externas proporcionam subsídios para a elaboração e reestruturação das ações educacionais. Quando bem executadas, as ações aprimoram a aprendizagem da escola acarretando em bons resultados nas avaliações externas. Baseando-se em argumentos de Souza (2005) e Giusta (1985), a figura 3 também mostra que para serem efetivas, as ações educacionais devem contemplar experiências e socializações, assim como fortalecer pontos fortes e superar as dificuldades dos alunos.

Assim acredita-se que o currículo praticado nas escolas deva priorizar práticas de socialização e de estímulo à aprendizagem, pois, dessa forma, a escola pode cumprir sua missão social ao mesmo tempo em que consegue obter bons resultados nos testes.

No documento joséleonardoferreiragomes (páginas 68-73)