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3 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÃO DOS CURSOS DE

3.1 A CARACTERIZAÇÃO DOS CURSOS DE PEDAGOGIA

3.1.2 CURSO DE PEDAGOGIA B

O curso de Pedagogia B organiza o seu PPC2 com: apresentação e histórico da IES; fundamentação teórico-prática do curso; perfil do egresso; princípios básicos do curso com o objetivo geral e os específicos; dados gerais do curso: título, regime de matrícula, número de vagas, formação de turmas, turnos e oferecimento, carga horária; período e prazo de integralização; organização acadêmica; política de ensino de graduação; matriz curricular do curso de graduação em Pedagogia; periodização; relação das disciplinas; estágios supervisionados; proposta de avaliação do processo ensino-aprendizagem;

E ainda: atividades de formação; regulamentos das atividades: complementares, de tutoria20 do curso, do trabalho de conclusão de curso de graduação – TCC, do estágio curricular supervisionado, prática de ensino; política de pesquisa do núcleo de pesquisa em educação; política de extensão; proposta de acompanhamento e avaliação do Projeto Político Pedagógico; fórum permanente da Pedagogia, (análises quanti-qualitativa do curso); programa de mobilidade acadêmica; intercâmbio; política de capacitação docente; relação do corpo técnico e docente; plano de adaptação da grade curricular para alunos matriculados no ano letivo anterior.

Consta no seu histórico que o projeto inicial para o curso de Pedagogia foi elaborado no ano de 1980, sendo criado em 1981 e reconhecido pelo MEC em 1986. Nesse período, o curso ofertava duas habilitações: Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º Grau e Supervisão Escolar.

A justificava para criação do Curso de Pedagogia foi o atendimento da demanda por professores qualificados para as redes públicas de ensino apresentada pelas Secretarias Municipal e Estadual de Educação. Nessa perspectiva, durante os nove primeiros anos de funcionamento foram formados cerca de 250 (duzentos e cinquenta pedagogos/supervisores que foram devidamente integrados às redes pública e privada de ensino nos municípios da região Sudeste do Estado de Mato Grosso, tanto para assumir a docência nos cursos de Magistério de 2º. Grau, como para o trabalho de supervisão nas escolas). (PPC2, 2009)

Nessa perspectiva, durante os nove primeiros anos de funcionamento, foram formados cerca de 250 (duzentos e cinquenta) pedagogos/supervisores, que foram devidamente integrados às redes públicas e privadas de ensino nos municípios da região Sudeste do estado de Mato Grosso, tanto para assumir a docência nos cursos de Magistério de 2º. Grau como para o trabalho de supervisão nas escolas. (PPC2, 2009).

Esse curso foi ministrado até 1989, quando se decidiu pela extinção da Habilitação em Supervisão Escolar, em função de pesquisas que apontavam a saturação de vagas para esse profissional na região.

Em 1987, é apresentada uma nova proposta curricular, agora destinada à formação do docente para as séries iniciais do Ensino Fundamental. Por essa razão, houve o fortalecimento das cargas horária das metodologias de ensino para esse nível,

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Tutoria é a atividade docente de orientação individual ou coletiva do/s aluno/s, exercida exclusivamente por professor do curso de Pedagogia - Licenciatura, compreendendo uma relação de proximidade e compromisso entre as partes. (PPC2, 2009, p.80).

bem como das práticas de ensino correspondentes. Essa nova proposta foi regulamentada no ano de 1992.

A partir de 2003, observa-se o desafio de se rever e de elaborar uma proposta de formação de pedagogos que estivesse afinada com as necessidades mais atuais e que, ao mesmo tempo, levasse em conta, de modo crítico, a política do MEC para formação de pedagogos/professores, expressa nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia.

A partir daí a perspectiva passou a ser, a de formação de professores para os anos iniciais do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil. A opção por um curso de Pedagogia que prepare para docência na educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental decorreu das reflexões exaustivas realizadas pelo Colegiado de Curso, que, acompanhando as discussões nacionais sobre o curso de Pedagogia, inclusive a polêmica formação do generalista X formação do especialista, ocorridas nos últimos anos, chegando à conclusão de que em nossa realidade o professor necessário ainda é o pedagogo que assuma os anos iniciais e a educação infantil, tendo, concomitantemente, conhecimentos da docência dessas modalidades, a gestão em seus diferentes âmbitos, e da pesquisa. (PPC2, 2009, p. 19).

A partir de 2005, a proposta curricular do curso foi reestruturada, procurando conciliar com as exigências das Diretrizes para a formação de professores da Educação Básica e as recomendações da atual LDBEN21.

Segundo preconiza o PPC2 (2009) as condições objetivas de recursos humanos disponíveis para sua implementação, considerando as ansiedades e sugestões de alunos e egressos do curso de Pedagogia, bem como as novas tendências em educação que apontam para a necessidade de um profissional crítico-reflexivo, comprometido com o seu tempo e com os conflitos sociais.

Com a instituição das DCNP, a exigência passa a ser uma nova reestruturação do curso, aplicando-se, desta vez, a responsabilidade com a formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil, e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, em cursos de Educação Profissional de serviços de apoio escolar e em outras áreas nos quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

O presente projeto político pedagógico [...] tem como propósito fundamental estabelecer as diretrizes necessárias à formação do pedagogo para atuar na Educação Básica, especificamente na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, em conformidade com o que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Curso de Graduação em Pedagogia – Resolução CNE/CP N° 1, de 15 de maio de 2006. (PPC2, 2009, p.19).

Segundo consta no PPC2 o projeto apresentado considerou além das DCNP outros documentos legais sendo eles: LDBEN Nº 9394/96; Parecer CNE/CP Nº 28/200122; Resolução CNE/CP Nº 1/200223; Parece CNE/CES Nº 583/200124; Resolução CEB Nº 02/199825; Resolução CEB Nº 01/199926. Desse modo, essas legislações influenciaram a tradução das DCNP, sendo assim configuradas como contexto de influências para construção do PPC apresentado.

Segundo consta no PPC2, as dificuldades de mudanças no curso resultaram das dificuldades do corpo docente em construir um projeto em consonância com as determinações legais, conforme se confirma no trecho extraído seguinte:

As poucas mudanças imprimidas ao curso de Pedagogia ao longo desses vinte e seis anos, apesar de mais recentemente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9394/96 sugerir alterações substanciais aos projetos de formação de professores, refletem, de certo modo, as dificuldades encontradas pelo corpo docente no encaminhamento de uma reestruturação que pudesse atender às exigências legais, sociais, pedagógicas e administrativo-burocráticas. (PPC2, 2009, p.21, grifo meu) A partir do exposto, apreendo que as dificuldades impressas representam um campo de disputa que, em diferentes discursos, circulam no tocante à definição da identidade do curso. Em relação à organização curricular, consta no PPC2 que a proposta de matriz está organizada com base em três núcleos.

[...] está estruturada em torno de três dimensões, os quais visam promover um aprofundamento constante e gradual ao fenômeno educativo [...] Para contemplar o desenvolvimento das três dimensões da formação do pedagogo, a Matriz Curricular do curso está estruturada em três núcleos: I – Núcleo de estudos básicos [...] II - Núcleo de aprofundamento e diversificação de estudos e [...] III - Núcleo de estudos integradores. (PPC2, 2009, p.31, grifo meu).

Contudo, esse discurso condicionado à organização curricular por núcleos não encontrou subsídios para operacionalização do curso, na medida em que ele organiza-se em séries anuais27.

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Dá nova redação ao Parecer CNE/CP 21/2001, que estabelece a duração e a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

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Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.

24Orientação para as diretrizes curriculares dos cursos de graduação

25Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental

26Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil

Deste modo, ao analisar a matriz curricular, compreendo que as disciplinas do núcleo I seriam: Fundamentos Psicológicos na Educação (128h), Sociologia da Educação (128h), Filosofia da Educação (128h), Antropologia e Educação (128h), Teorias da Educação e da Pedagogia (128h), Currículo e Avaliação (128h), História da Educação Brasileira (128h), Didática (128h), Política Educacional e Organização da Educação Brasileira (128h) e Psicologia e Educação (64h). Conforme o documento em análise, o objetivo principal do curso é:

[...] garantir a formação de pedagogos, visando o desenvolvimento de competências profissionais relativas aos cuidados, educação, ensino, pesquisa e gestão formando, para tanto, o professor reflexivo, autônomo, criativo, flexível e consciente da necessidade de continuar a investir na sua formação. (PPC2, 2009, p.27, grifo meu)

Desse objetivo, apreendo que o curso forma o Pedagogo para o magistério na Educação infantil na medida em que se refere a “cuidados e educação”, e para os anos iniciais do Ensino Fundamental ao enfatizar o “ensino”. Além disso, elenca-se desse objetivo a formação para gestão, contudo, sem especificar se para o ambiente escolar e/ou não.

É no perfil profissional posto ao egresso que se se vislumbra que a formação para a gestão se dará tanto para ambiente escolar quanto não escolar, incluindo a elaboração, a implementação, a coordenação, o acompanhamento e a avaliação do Projeto Político Pedagógico (PPP), conforme se visualiza a seguir:

Trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo [...] Participar da gestão das instituições contribuindo para elaboração, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação do projeto político pedagógico; Participar da gestão das instituições planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares; [...] (PPC2, 2009, p.29, grifo meu)

Todavia, apesar da nomenclatura da disciplina relacionada à gestão “Organização e Gestão das Instituições Educacionais I e II” (128h) sugerir a formação para a gestão em ambiente escolar e não escolar, é possível afirmar que ela contempla especificamente a formação para a gestão em instituições escolares, pois a ementa abarca:

Discussão e análise do sentido social e educativo da educação da escola de Educação Infantil e de Ensino Fundamental, bem como a forma de organização administrativa e pedagógica destas instituições. Outro núcleo de análise concentra-se no estudo das políticas públicas emanadas dos órgãos centrais, a serem executadas pela escola e no estudo do projeto administrativo-pedagógico elaborado e operacionalizado a partir das diretrizes oficiais [...] (PPC2, p.58, grifo meu).

O documento ainda define:

Estudo, numa abordagem histórica, de cinco enfoques conceituais e analíticos (jurídico, tecnocrático, comportamental, desenvolvimentista e psicológico), que fundamenta o processo de construção e reconstrução do conhecimento no campo da gestão da educação, os desafios conceituais e analíticos no campo de gestão da educação no contexto da nova ordem econômica e política, tendo como foco central a discussão acerca da gestão democrática, seus elementos básicos e o papel dos diferentes segmentos que compõem a escola. A carga horária referente à prática como componente curricular será preenchida com trabalhos de pesquisa junto às escolas da rede pública e particular na área de gestão. (PPC2, 2009, p.67, grifo meu)

Por essa via, a formação para a gestão em ambiente não escolar foi um discurso não materializado no rol das ementas da disciplina. Por outro lado, o discurso com vistas à gestão escolar se materializa, ou seja, se hegemoniza pela definição da ementa das disciplinas: Organização e Gestão das Instituições Educacionais I (64h) e Organização e Gestão das Instituições Educacionais II (64h).

A formação para o magistério na Educação Infantil está contemplada em nove disciplinas específicas, totalizando 692h, a saber: Brincar e Educação (64h), Literatura Infantil (64h), Fundamentos e Metodologia da Educação Infantil (128h), Estágio Curricular Supervisionado28 I (60h), Organização e Gestão das Instituições Educacionais I (64h)29, Estágio Curricular Supervisionado II (120h), Matemática e suas Metodologias30 (128h), Ciências Naturais e suas Metodologias31 (64h), Educação, Saúde e Ambiente Educativo (64h).

Na formação para os anos iniciais do Ensino Fundamental, o curso oferta 11 disciplinas, totalizando 820h: História e suas Metodologias (64h), Geografia e suas Metodologias (64h), Ciências Naturais e suas Metodologias (64h), Educação, Fundamentos da Alfabetização I e II (64h), Arte e Educação (64h), Matemática e suas Metodologias (128h), Linguagem e suas Metodologias (128h), Organização e Gestão das Instituições Educacionais I (64h),Estágio Curricular Supervisionado I (60h), Estágio Curricular Supervisionado III (120h).

Desse modo, o curso destina maior carga horária para a formação nos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas contempla, também, elementos formativos para a Educação Infantil. Tal afirmação está, em parte, amparada no excerto extraído do PPCjá citado anteriormente.

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Segundo consta na ementa da disciplina, este estágio ocorre tanto na Educação Infantil quanto nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

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Essa disciplina contempla a Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.

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Essa disciplina contempla a Educação Infantil quanto aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

[...] A opção por um curso de Pedagogia que prepare para docência na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, decorreu das reflexões exaustivas realizadas pelo Colegiado de Curso, que, acompanhando as discussões nacionais sobre o curso de Pedagogia, inclusive a polêmica formação do generalista X formação do especialista, ocorridas nos últimos anos, chegando à conclusão de que em nossa realidade o professor necessário ainda é o pedagogo que assuma os anos iniciais e a Educação Infantil, tendo, concomitantemente conhecimentos da docência dessas modalidades, a gestão em seus diferentes âmbitos, e da pesquisa. (PPC2, 2009, p.19, grifo meu)

A partir do exposto, o curso busca construir seu discurso pautado na formação de professores para magistério na Educação Infantil e para os anos iniciais do Ensino Fundamental. Esse discurso encontrou maior articulação tendo em vista a tradição histórica da IES, as demandas discursivas do contexto da prática protagonizadas pelos professores e outros profissionais atuantes no curso.

De outro modo, o discurso em defesa da gestão em ambiente não escolar não estabeleceu pontos de articulação suficientes para que se configurasse na matriz curricular.

Além disso, esse mesmo trecho do PPC2 demonstra o contexto de influência presente na produção do PPC. Isso fica constatado na medida em que o curso opta pela formação do pedagogo para os anos iniciais do Ensino Fundamental e para a Educação Infantil:

[...] decorreu das reflexões exaustivas realizadas pelo Colegiado de Curso, que, acompanhando as discussões nacionais sobre o curso de Pedagogia, inclusive a polêmica formação do generalista X formação do especialista (PPC2, 2009, p.19).

Desse modo, o perfil do egresso compreende a preparação do pedagogo para atuar no magistério da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, sob a influência de movimentos de âmbito nacional, das DCN e da tradução do colegiado de curso. Tal processo configura o ciclo da política, considerando-se os três contextos básicos: o de influência, o do texto e o da prática.

Em relação à noção de currículo, o PPC destaca que o egresso deverá “Demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras” (PPC2, 2009, p. 24), bem como:

Identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras; • Demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais,

religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras; (PPC2, p.24, 2009, grifo meu)

As discussões relacionadas ao gênero, sexualidade e diversidade, dentre outras, foram contempladas na disciplina Psicologia e Educação (60h). Segundo a ementa da disciplina:

A Psicologia como área de conhecimento e de intervenção em diferentes contextos educativos. A Psicologia e os temas contemporâneos em educação: sucesso e fracasso escolar, indisciplina e violência, gênero e sexualidade, diversidade e diferenças na educação. (PPC2, 2009, p.51, grifo meu) A abordagem da diferença na disciplina de Psicologia representa um retrocesso, pois “trabalham as diferenças no horizonte de garantir a conquista dos mesmos resultados por todos os alunos e alunas. Neste sentido, as diferenças devem ser superadas e a homogeneização é o que se pretende alcançar.” (CANDAU, 2011, p. 224). Além disso, empregar a diferença nessa perspectiva demonstra uma concepção binária de diferença fundada sobre a construção de uma fronteira de exclusão, de uma oposição rígida entre o dentro e o fora (HALL, 2003). Para Silva (2011),

[...] o processo de significação que produz a “diferença” se dá em conexão com relações de poder. São as relações de poder que fazem com que a “diferença” adquira um sinal que o “diferente” seja avaliado negativamente relativamente ao “não diferente” (p.87)

A influência da psicologia no tratamento das diferenças desconsidera “o caráter multicultural da sociedade no âmbito do currículo.” (MOREIRA, 2001, p. 3). Para Moreira (2001), “a formação docente implica respeitar, valorizar, incorporar e desafiar as identidades plurais em políticas e práticas curriculares.” (p.3). Para Dias e Lopes (2009), a tentativa de homogeneização não consegue apagar as diferenças na medida em que:

[...] São mantidas suas particularidades que se associam a outros grupos em busca de um projeto mais amplo, em outras cadeias de equivalências, capazes de atender a demandas diversas. Tais demandas se aglutinam, constituindo uma prática articulatória e, portanto, um discurso comum, provisório e contingente, no qual há fixação parcial dos sentidos possíveis da significação. (DIAS; LOPES, 2009, p. 85).

Além disso, as discussões de diferenças relacionadas a faixas geracionais, a classes sociais e a religiões não encontraram pontos articulatórios que as constituam como discurso presente na matriz curricular.

Ao mesmo tempo, a disciplina Tópicos Especiais em Educação (64h) traz a possibilidade de que as temáticas: educação do campo, educação indígena, educação especial, educação a distância sejam desenvolvidas no curso, desde que sugeridas pelo

grupo de professores. Tal perspectiva confirma-se por meio da ementa da citada disciplina, conforme segue:

Aborda alguns temas referentes à educação, não contemplados na matriz curricular do Curso. Representa um momento de flexibilidade na composição do currículo do aluno. Será encaminhada da seguinte maneira: o Colegiado de Curso fará, a cada ano e com antecedência, uma consulta aos alunos sobre os tópicos a serem eleitos para estudo. Aliada a essa consulta, alguns professores também poderão sugerir temas, tais como: alfabetização de jovens e adultos, educação especial, educação do campo, educação indígena, educação a distância, escolarização por meio de ciclos de formação, informática, dentre outros. (PPC2, 2009, grifo meu)

Em relação à Educação Especial, o PPC2 (2009) indica que: [...] a formação específica de professores da Educação Infantil visa preparar o professor para: “[...] Trabalhar com crianças portadoras de necessidades especiais, na perspectiva da inclusão” (p. 25). Para atender a essa especificidade o curso oferta a disciplina Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS (64h).

Tais perspectivas expressam uma compreensão de diferença que se afasta de uma abordagem psicologizante, apontada anteriormente nesse mesmo PPC. Portanto, é possível confirmar a existência de tensões configuradas na construção do PPC no tocante à noção de currículo entre a concepção tradicional, na medida em que aborda a diferença na disciplina de psicologia, e a pós-crítica de currículo, ao abordar a diferença como produzida discursivamente.

Nesse sentido, compreendo que é na relação entre as diferenças que as identidades são produzidas. Para Backes e Pavan (2011), “[...] as identidades são construídas na relação com as diferenças, mas essa não é uma relação linear, unidimensional, vertical, e sim híbrida, contingencial, deslizante.” (p.465).

Portanto, a noção de currículo é híbrida por trazer resquícios de um currículo tradicional psicologizante mesclado com características do currículo pós-crítico, na qual as diferenças são produzidas discursivamente.

Em relação ao significado de Pedagogia, o PPC2 traz na definição do perfil profissional que o curso tem a sua identidade na docência atravessada pelas relações étnico-raciais e produtivas. Segundo consta no citado documento:

Este projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia – Licenciatura, materializa-se numa matriz curricular construída a partir da compreensão de que o Curso tem sua identidade na docência, entendendo-se por docência a “ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do

conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo” (RESOLUÇÃO CNE-CP Nº 01 de 15 de maio de 2006). (PPC2, 2009, p.30)

Esse trecho articula o significado da Pedagogia à docência. Para isso, defende que a noção de docência é ampla na medida em que a considera como “ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional” (PPC2, p. 30). Ainda destaca-se:

[...] centrando-se a atenção na formação do pedagogo docente, entendendo-o como um profissional da educação que pode atuar com competência em vários campos, principalmente na docência na Educação Infantil e nos

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