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2 ESCOLHAS METODOLÓGICAS E TEÓRICAS

2.2 Contexto da pesquisa

2.2.2 Cursos, coordenadores e professores formadores participantes da pesquisa

Esta pesquisa foi organizada a partir da interaçãocom coordenadores dos cursos de licenciatura em Matemática de universidades públicas e privadas do estado do Rio Grande do Sul e professores formadores que ministram as disciplinas de Estatística e Probabilidade no referido curso. Para a seleção dos coordenadores e professores participantes da pesquisa e o processo de aplicação dos questionários, segui o procedimento metodológico anteriormente apresentado (item 2.2.1) e baseei-me na disponibilidade e no interesse desses sujeitos em colaborar com a pesquisa. Mais especificamente, a escolha dos coordenadores foi aleatória, ou seja, foram distribuídos questionários aos coordenadores do curso de licenciatura em Matemática de 17 universidades públicas e privadas do Rio Grande do Sul. Em relação aos professores formadores, foi distribuído o questionário àqueles que ministravam as disciplinas de Estatística e Probabilidade nos cursos de licenciatura em Matemática, aos quais os coordenadores haviam concedido autorização para a pesquisa.

A seleção desses sujeitos ficou condicionada ao encaminhamento do TCLE assinado e ao retorno do questionário respondido ao e-mail disponibilizado. Os sujeitos que não retornaram, apesar da insistência pela devolução do questionário por parte da pesquisadora e a constante conscientização sobre a importância da pesquisa, foram desconsiderados.

Sendo assim, tornaram-se participantes desta pesquisa os cursos de licenciatura em Matemática de oito universidades gaúchas, sendo uma privada e sete públicas. Com isso, participaram da pesquisa nove coordenadores, sendo dois da mesma universidade, porém de

campus diferentes, e 11 professores formadores que ministram as disciplinas de Estatística e

Probabilidade no curso de licenciatura em Matemática das universidades pesquisadas.

Com o intuito de preservar a identidade dos coordenadores e das universidades, os coordenadores participantes foram designados por Coordenador de Curso A, Coordenador de Curso B, Coordenador de Curso C, e assim sucessivamente. Para as Universidades, utilizei o mesmo recurso: Universidade 1, Universidade 2, Universidade 3 etc. Assim, quando se utilizar a representação CAU1, saber-se-á que se trata do Coordenador de Curso A, da

Universidade 1.

A identidade dos professores participantes será preservada da mesma forma (Professor A, Professor B, Professor C...), assim como para as universidades (Universidade 1, Universidade 2, Universidade 3...). Desse modo, quando surgir a representação PAU1, saber-

se-á que se trata do Professor A, que ministra as disciplinas estocásticas na Universidade 1. Ao analisar as matrizes curriculares dos cursos de licenciatura em Matemática das universidades pesquisadas, observa-se que 100% dos cursos são noturnos e apresentam carga horária superior ao mínimo legal, ou seja, 2.800h33, variando de 2.810 a 3.005 horas. Pode-se dizer ainda que a carga horária média é de 2.873 horas, com uma variabilidade de 7,5% para mais e para menos da média. Vale ressaltar que essa carga horária total subdivide-se em horas para: conteúdos curriculares de natureza científico-cultural; práticas como componente curricular (as chamadas práticas de ensino); estágios curriculares supervisionados; e atividades acadêmico-científico-culturais. Além disso, percebe-se que o período mínimo para a integralização das horas dos cursos varia de sete a nove semestres, sendo que 66,7% dos cursos dessa amostra apresentam o período mínimo de oito semestres, conforme Tabela 1.

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Carga horária instituída pela Resolução n. 2, de 19 de fevereiro de 2002, a qual determina a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. As dimensões das componentes comuns são: 400 horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso; 400 horas de estágio curricular supervisionado a partir do início da segunda metade do curso; 1.800 horas para os conteúdos curriculares de natureza científico-cultural; e 200 horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais.

Tabela 1 – Estruturação dos cursos de licenciatura em Matemática das universidades pesquisadas (março/2012 a agosto/2012)

Universidade Período mínimo de duração do curso (em semestres)

Carga horária total (em horas) U1 8 2850 U2 8 2825 U3 8 2810 U4 7 2852 U5 8 2825 U6 8 2850 U7 8 2835 U8/Campus 1 9 3005 U8/Campus 2 9 3005 Média ± DP 2873 ± 76,13 Fonte: a autora (2013)

De posse dos questionários, identifica-se que os coordenadores que compõem o grupo participante da pesquisa são, na maioria, do sexo feminino, representando mais de dois terços do total. Além disso, apresentam um período de atuação no curso de licenciatura em Matemática bastante variado na função de coordenador, como mostra a Tabela 2. No entanto pode-se observar que, tanto na universidade pública como nas privadas, o tempo de atuação predominante é de dois anos a, aproximadamente, quatro anos. Mais especificamente, tem-se que 67% dos dados estão entre a média do tempo de atuação do grupo de coordenadores, 2,43 anos (dois anos e aproximadamente cinco meses), com desvio-padrão de 1,60 anos (um ano e aproximadamente sete meses) para baixo e para cima da média34.

34 Dados pertencentes ao intervalo de 0,83 a 4,03 anos, isto é, aproximadamente 10 meses e quatro anos.

Utilizou-se o desvio-padrão acompanhando da média, pois a média fornece um valor central e o desvio-padrão a dispersão em torno desse valor central. Assim, tem-se a variabilidade dos dados para mais e para menos do tempo médio de atuação dos coordenadores (média + 1 desvio-padrão e média – 1 desvio-padrão).

Tabela 2 – Distribuição dos coordenadores das universidades pesquisadas em relação ao gênero e tempo de atuação como coordenador do curso de licenciatura em Matemática (março/2012 a agosto/2012)

Pública Privada35 Total

Sexo N % N % N % Feminino - - 7 77,8 7 77,8 Masculino 1 11,1 1 11,1 2 22,2 Tempo de atuação (em anos) < 2 - - 3 33,3 3 33,3 2 |-- 4 1 11,2 3 33,3 4 44,5 ≥ 4 - - 2 22,2 2 22,2 Media ± DP36 2,29 ± 1,66 2,43 ± 1,60 Fonte: a autora (2013)

Nota: Os dados foram agrupados em intervalos de amplitude 2. O sinal |-- representa intervalo, onde o valor que está à esquerda pertence ao intervalo, mas o valor da direita não pertence ao intervalo. O valor da direita é considerado no próximo intervalo.

Referente à formação acadêmica desses coordenadores, é indicado, na Tabela 3, que todos são graduados em Matemática, sendo oito na licenciatura e/ou dois no bacharelado37. Apenas um terço dos coordenadores possui formação em programas de pós-graduação lato

sensu, sendo que, destes, dois apresentam especialização em Matemática. Em contrapartida,

todos os coordenadores possuem formação em programas de pós-graduação stricto sensu em nível de mestrado, com índice maior nas áreas de Matemática, Matemática Aplicada e Modelagem Matemática. Apenas dois coordenadores têm formação em nível de doutorado, um com formação na área da Matemática e outro em Educação Matemática e, um coordenador com formação em Matemática Aplicada em nível de pós-doutorado.

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Inclui universidades particulares e outras (comunitárias, confessionais e filantrópicas).

36 Os valores médios e o desvio-padrão correspondente foram calculados tomando os dados originais. 37 Um coordenador apresentou formação em licenciatura e bacharelado em Matemática.

Tabela 3 – Distribuição dos coordenadores de acordo com sua área de formação

Formação

Licenciatura Bacharelado Especialização Mestrado Doutorado Pós-doutorado

N N N N N N Matemática 8 2 2 2 1 - Matemática Aplicada - - - 2 - 1 Ensino de Ciências e Matemática - - 1 - - - Educação - - - 1 - - Educação Matemática - - - 1 1 - Modelagem Matemática - - - 2 - - Energia Ambiente e Materiais - - - 1 - - Total 8 2 3 9 2 1 Fonte: a autora (2013)

Na Tabela 4 são apresentadas informações acerca dos professores formadores que ministram as disciplinas Estatística e Probabilidade nos cursos de licenciatura em Matemática das universidades pesquisadas. Percebe-se que as respectivas disciplinas, em sua maioria, estão sendo ministradas por professores do sexo feminino (72,7%). Pode-se observar também que uma quantidade expressiva de professores, na amostra, obteve sua formação inicial há mais de 17 anos, considerando que o tempo total de docência após essa formação, apresentado por aproximadamente dois terços dos professores, é de 17 a 27 anos. Cabe ainda ressaltar que atualmente as disciplinas de Estatística e Probabilidade nos cursos de licenciatura em Matemática estão sendo ministradas por professores experientes, pois atuam há um bom tempo em sala de aula e 54,6% deles ministram as referidas disciplinas há 15 anos ou mais.

Tabela 4 – Distribuição dos professores das universidades pesquisadas em relação ao gênero e características docentes (março/2012 a agosto/2012)

Pública Privada Total

N % N % N %

Sexo Feminino 2 18,2 6 54,5 8 72,7

Masculino - - 3 27,3 3 27,3

Tempo total de docência após formação inicial (em anos) < 17 - - 1 9,1 1 9,1 17 |-- 27 2 18,2 6 54,5 8 72,7 > 27 - - 2 18,2 2 18,2 Média ± DP 22,5 ± 2,12 24 ± 7,68 23,73 ± 6,93 Tempo de docência em disciplinas de Estatística e Probabilidade no curso de licenciatura em Matemática (em anos)

< 15 1 9,1 4 36,4 5 45,5

≥ 15 1 9,1 5 45,5 6 54,6

Média ± DP 13,5 ± 4,95 14,39 ± 8,85 14,23 ± 8,08

Fonte: a autora (2013)

Em relação à formação acadêmica dos professores participantes, na Tabela 5 identificou-se que três professores, entre os 11 participantes da pesquisa, tiveram sua formação em Estatística (bacharelado). Outros oito professores formaram-se em Matemática, sendo seis na licenciatura e/ou dois no bacharelado38.

Referente à formação desses professores em programas de pós-graduação lato sensu, de acordo com a Tabela 5, constata-se que nem todos fizeram uma especialização, partindo diretamente para programas de Pós-Graduação stricto sensu. Do grupo de professores (seis) que possuem especialização, metade fez em Matemática (50,0%) e a outra parcela de professores nas três áreas que seguem: Matemática Aplicada, Estatística Aplicada e Pesquisa. Quanto à pós-graduação stricto sensu, observou-se o mestrado em Probabilidade e Estatística (9,1%) e a ausência de doutorado na respectiva área, sendo apresentada com maior incidência a formação dos professores nas engenharias, tanto no mestrado (36,4%) como no doutorado (80%). Vale lembrar que, ao realizar uma análise envolvendo graduação e pós-graduação desse grupo de professores, identificaram-se: 27,3% graduados em Estatística com mestrado e doutorado em outras áreas; 9,1% graduados em Matemática com especialização em Estatística Aplicada e mestrado e doutorado em outras áreas; 9,1% graduados em Matemática com mestrado em Probabilidade e Estatística e doutorado em outra área; e nenhum professor com graduação, especialização, mestrado e doutorado em Estatística.

Tabela 5 – Distribuição dos professores de acordo com sua área de formação

Formação Licenciatura Bacharelado Especialização Mestrado Doutorado

N % N % N % N % N % Matemática 6 85,7 2 33,3 3 50,0 1 9,1 1 20,0 Matemática Aplicada - - - - 1 16,7 1 9,1 - - Física 1 14,3 - - - - Ensino de Ciências Exatas - - - 1 9,1 - - Estatística - - 3 50,0 - - - - Estatística Aplicada - - - - 1 16,7 - - - - Probabilidade e Estatística - - - 1 9,1 - - Educação - - - 1 9,1 - - Modelagem Matemática - - - 1 9,1 - - Engenharia de Produção - - - 3 27,3 3 60,0 Engenharia Mecânica - - - 1 9,1 - - Eng. de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental - - - 1 20,0 Administração - - 1 16,7 - - - - Marketing - - - - 1 9,1 - - Pesquisa - - - - 1 16,7 - - - - Total 7 100,0 6 100,0 6 100,0 11 100,0 5 100,0 Fonte: a autora (2013)

Esses dados convergem para os resultados apontados por Oliveira Jr. (2011) em estudo realizado sobre o perfil demográfico-acadêmico de 334 professores brasileiros, das regiões centro-oeste, norte, nordeste, sul e sudeste, que ministraram, no ano de 2008, disciplinas de Estatística nas diversas áreas do conhecimento (exatas, saúde e humanas), em instituições públicas e privadas. O autor também não identificou professores com graduação, mestrado e doutorado em Estatística, apontando para a existência de carências na preparação adequada dos professores que têm a seu cargo o ensino da Estatística, devido à sua formação em outras áreas. Essa constatação de Oliveira Jr. (2011) corrobora as informações percebidas na Tabela 5, pois se evidencia que nenhum dos professores que ministram as disciplinas de Estatística e

Probabilidade, nos cursos de licenciatura em Matemática, é licenciado em Estatística, sendo 75% dos responsáveis por essas disciplinas licenciados em Matemática, isso quando essas disciplinas não ficam a cargo de bacharéis em Estatística, Matemática e Administração.

Caracterizados os cursos, os coordenadores e os professores formadores participantes da pesquisa, a seguir apresento os critérios utilizados para a análise dos dados e teço alguns focos que nortearão esta pesquisa.