Desenho da investigação e natureza da pesquisa

Com o propósito de investigar a formação dos futuros professores de Matemática referente aos conceitos estatísticos e probabilísticos, considerando que saber desencadear o trabalho docente concernente à Educação Estatística implica uma real preparação do professor, o qual necessita discutir questões conceituais, pedagógicas e didáticas a partir da vivência de situações em sua formação inicial, tornou-se objeto de investigação o ensino da Estatística nos cursos de licenciatura em Matemática de universidades do Rio Grande do Sul.

Para a coleta de dados e informações acerca das perspectivas de ensino dos conceitos estatísticos que se configuram na formação inicial, este estudo focalizou exatamente o ambiente em que o fenômeno ocorre, sendo que para isso foram convidadas a participar da pesquisa 17 universidades públicas e privadas existentes no estado e que possuem o referido curso de graduação.

Portanto desenvolveu-se uma pesquisa de cunho qualitativo, à medida que o processo de coleta de informações envolveu “a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada”, enfatizando durante toda a investigação “mais o processo do que o produto” em virtude do interesse estar na manifestação de um fenômeno e como este se apresenta nas atividades e nas interações dentro do contexto do estudo, com a preocupação voltada em retratar a perspectiva dos participantes (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 13).

Em decorrência dessa concepção, entende-se que, mesmo sendo utilizados instrumentos para a coleta de dados no contexto investigado, o principal instrumento da investigação nesse tipo de pesquisa é o próprio pesquisador. Para Lüdke e André (ibidem), o entendimento e a interpretação que o pesquisador tem dos registros efetuados se configuram como instrumento principal das análises. Logo, faz-se necessário que o pesquisador atente

“para o maior número possível de elementos presentes na situação estudada, pois um aspecto supostamente trivial pode ser essencial para uma melhor compreensão do problema que está sendo estudado” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 12).

Este estudo focalizou a interpretação do contexto onde ocorre a abordagem dos conceitos estatísticos e probabilísticos, considerando documentos dos cursos de licenciatura em Matemática, bem como depoimentos de ações, percepções e entendimentos dos coordenadores e professores formadores que ministram as disciplinas de Estatística e Probabilidade nos referidos cursos. Não pretendendo modificar a situação, mas objetivando compreendê-la da forma como ela é, utilizei uma variedade de fontes de informação, a fim de obter uma diversidade de dados, coletados em diferentes momentos e situações, com uma variedade de tipos de informantes (ibidem). Para tanto, no processo de pesquisa foi desenvolvida uma análise documental e uma pesquisa de campo com o propósito de cruzar informações de fontes variadas para elaborar análises, levantar hipóteses, chegar a interpretações e compreensões “através de um mergulho profundo e exaustivo no objeto delimitado” (GOLDENBERG, 2003, p. 34).

A revisão bibliográfica realizada acerca das pesquisas existentes no âmbito da Educação Estatística permitiu observar os focos de investigação, apontar possibilidades para novas pesquisas e delimitar os contornos deste estudo, tornando-o ao mesmo tempo similar e distinto a outros, “pois tem um interesse próprio, singular” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 17). Identificados os elementos-chave e definido o foco de investigação da presente pesquisa, passei a estabelecer os contatos iniciais com os sites das universidades, mais especificamente dos cursos de licenciatura em Matemática e com seus coordenadores, para entrada em campo e localização dos sujeitos e das fontes de dados necessárias para o presente estudo, processo que se caracteriza como sendo a fase exploratória (ibidem).

Após essa fase de delimitação, realizei a análise documental do processo de pesquisa, a qual é descrita por Lüdke e André (ibidem, p. 38) como uma “técnica valiosa de abordagens de dados qualitativos, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema”, sendo os documentos “quaisquer materiais escritos [que] incluem desde leis e regulamentos, normas, pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais, revistas, discursos, roteiros de programas de rádio, televisão até livros, estatísticas e arquivos escolares”.

Para a análise documental, utilizei como fonte de informações os PPC e as matrizes curriculares30 dos cursos, as ementas e os planos de ensino das disciplinas de Estatística e Probabilidade. Esses documentos, por sua vez, possibilitaram identificar o perfil do sujeito que se pretende formar e o que de Estocástica está sendo abordado nos cursos de licenciatura em Matemática. Cabe lembrar que, para a obtenção de tais documentos, estes foram mapeados utilizando as páginas virtuais dos cursos, e os não encontrados desse modo foram obtidos por meio de solicitação aos coordenadores, os quais faziam o envio dos respectivos documentos via e-mail.

Com o intuito de compreender o ensino da Estatística na formação inicial do professor de Matemática, dei continuidade ao meu estudo através do desenvolvimento da pesquisa de campo, ou seja, “aquela modalidade de investigação na qual a coleta de dados é realizada diretamente no local em que o problema ou fenômeno acontece” (FIORENTINI; LORENZATO, 2006, p. 71). Nesse processo de investigação, o instrumento utilizado foi o questionário, aplicado aos coordenadores dos cursos (APÊNDICE C), a fim de ter maior clareza sobre a importância e entendimento da Estocástica no programa e de que forma ela é incluída aos demais campos conceituais dispostos nas matrizes curriculares.

Além disso, foi aplicado um questionário aos professores (APÊNDICE D) que ministram as disciplinas de Estatística e Probabilidade. Esse instrumento teve o objetivo de entender quais eram os conceitos estatísticos e probabilísticos que de fato estavam sendo trabalhados e de que maneira estava acontecendo essa abordagem, considerando-se os tipos de atividades, as temáticas envolvidas, o nível dos conceitos e os saberes mobilizados, levando- se em consideração a especificidade do curso, ou seja, a formação do professor e não do especialista matemático.

Por fim, destaco que, durante todo o desenrolar da pesquisa, o processo de revisão bibliográfica, por meio da identificação de teses e dissertações, bem como dos documentos oficiais – Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN+), Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCNEM), Matriz de referência do Enem, Referencial Curricular, Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), Diretrizes do Enade31 – e fundamentação teórica, ocorreu de forma interligada ao processo de construção de dados sobre o objeto em investigação, possibilitando a delimitação dos focos de análise e compreensões a partir do

30 _{Utilizou-se a denominação “Matriz Curricular” para o documento no qual consta a semestralização do Curso,}

pois assim é denominado pelos cursos de licenciatura em Matemática das universidades pesquisadas.

31 _{Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, parte integrante do Sistema Nacional de Avaliação da}

confronto entre teoria e empiria. Cabe salientar que os documentos oficiais serviram como instrumentos essenciais para a pesquisa, visto que permitiram fazer uma comparação dos conhecimentos conceituais estatísticos e probabilísticos trabalhados na formação inicial com os que são propostos para a atuação do professor de Matemática na Educação Básica.