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2 ESCOLHAS METODOLÓGICAS E TEÓRICAS

2.2 Contexto da pesquisa

2.2.3 Focos de análise: direcionando olhares

Para discorrer sobre os resultados obtidos, adotei como metodologia a análise textual discursiva, em virtude de os instrumentos utilizados para a construção de dados terem concedido um conjunto de textos e/ou documentos como fonte de informação dos dados concernente ao objeto investigado.

Com o propósito de tecer um texto descritivo e interpretativo a partir do conjunto de textos e/ou documentos coletados, ou seja, do corpus da pesquisa, produzi metatextos compostos por descrições e interpretações de “sentidos e significados [...] [construídos ou elaborados] a partir do referido corpus” que se encontra carregado de dados e informações de ordem qualitativa, proporcionando novas compreensões e teorizações dos fenômenos investigados (MORAES; GALIAZZI, 2011, p. 16).

Portanto a explanação dos dados a partir de metatextos dar-se-á através de um processo descritivo, no qual ocorre uma produção textual mais próxima do empírico, a partir de uma leitura imediata das informações extraídas do corpus dos textos, servindo estas como

citações capazes de conceber uma validação aos fenômenos que descreverei, à medida que se

constituem como argumentos ancorados na realidade empírica. Além disso, encontra-se interligado a esse processo o processo interpretativo, no qual ocorre um afastamento da descrição a fim de construir novos sentidos e compreensões mais aprofundadas, não permanecendo apenas numa descrição superficial dos resultados da análise (MORAES, 2003). Logo, inicialmente dissertarei sobre uma realidade sem a preocupação em mudá-la, e posteriormente desenvolverei uma análise e uma interpretação a respeito do assunto.

A análise textual discursiva resulta em um “metatexto que organiza e apresenta as principais interpretações e compreensões construídas a partir do conjunto de textos submetidos à análise” (MORAES; GALIAZZI, 2011, p. 113-114). Todavia, para compreender os fenômenos em investigação, é preciso interpretar os sentidos dos textos à luz de um referencial teórico, estabelecendo pontes entre os dados empíricos com os quais trabalho e as

teorias que me ancoram, pois, como afirma Moraes (2003), a teorização é ampliada através das interlocuções com os autores mais representativos do referencial selecionado.

Cabe ressaltar que, nesta modalidade de análise, busca-se fazer uma integração das manifestações dos diferentes sujeitos e, para conseguir relacionar as diferentes vozes dos sujeitos pesquisados, a análise será constituída por transcrições em tabelas, quadros e gráficos, visto que contribuem para comunicar, registrar e visualizar as informações de forma mais objetiva..

Durante o processo de construção e análise dos dados presentes nos materiais selecionados para esta pesquisa – PPC, matrizes curriculares dos cursos, ementas, planos de ensino e respostas dos questionários –, a atenção esteve totalmente voltada à tentativa de conseguir o maior número possível de informações, a partir de observações mais livres, deixando que focos de análise se manifestassem de maneira natural e progressiva, em busca de traços que revelassem as perspectivas de ensino da Estatística que se desenham na formação inicial do professor de Matemática. Pode-se resumir o foco de estudo desta pesquisa na figura a seguir:

Figura 1 – Rede a ser investigada: a organização das disciplinas estocásticas e o trabalho docente desenvolvido nas respectivas disciplinas em cursos de licenciatura em Matemática do RS

Fonte: a autora (2013)

Sendo assim, investiguei a formação dos futuros professores de Matemática, através da organização/estruturação dos cursos de licenciatura em Matemática e dos depoimentos dos docentes acerca de suas ações, no referido curso, referente à abordagem da Estatística. No entendimento de Tardif (2002), quando o ensino é o foco, os pesquisadores não devem interessar-se exclusivamente no que os professores devem ou não fazer, mas, sim, no que realmente fazem. Para tanto, a análise centrou-se no conteúdo tanto dos documentos dos cursos quanto dos depoimentos escritos de coordenadores e professores formadores obtidos através da aplicação dos questionários.

Dessas produções textuais emergiram alguns focos de análise em consonância com o objetivo da pesquisa de modo reflexivo, visto que os focos de análise foram construídos “com base nas informações contidas no corpus”, mediante um processo “de caminhar do particular para o geral” (MORAES, 2003, p. 197). Ciente de que a partir de um conjunto de textos pode ser explorada uma diversidade de significados, em diferentes perspectivas, no próximo capítulo delimitarei alguns focos de análise que estão estreitamente ligados a pressupostos teóricos – Batanero (2001); Lopes (1998, 2004, 2008, 2010a, 2010b); Bello e Traversini (2011); Campos, Wodewotzki e Jacobini (2011); Tardif (2002), entre outros – escolhidos para nortear esta pesquisa e que permitem interpretar e compreender a problemática em questão.

No capítulo 3, apresento a análise dos documentos dos cursos pesquisados – PPC, matrizes curriculares dos cursos, ementas e planos de ensino das disciplinas de Estatística e Probabilidade, bibliografias –, das respostas do questionário aplicado aos nove coordenadores e do questionário aplicado aos 11 professores formadores, com o intuito de identificar o perfil de formação profissional almejado nos cursos de licenciatura em Matemática, o modo como estes estão estruturados e/ou contemplam as disciplinas de Estatística e Probabilidade e o trabalho docente dos formadores no processo de ensino dos conceitos estocásticos. A partir da análise desses documentos textuais, emergiram os seguintes focos de análise: o perfil de formação do futuro professor; as disciplinas estocásticas nos cursos de licenciatura em Matemática; o ensino de Estatística pelos docentes das universidades para a formação do professor de Matemática.

O primeiro foco busca discutir as influências políticas e sociais nos ambientes escolares e universitários, mais especificamente nos cursos de formação inicial de professores de Matemática, tendo em vista o perfil profissional demandado na sociedade contemporânea, e evidenciar as contribuições do desenvolvimento dos conceitos estatísticos e probabilísticos e, sobretudo, da Educação Estatística e seus modos de pensar, para essa formação. O segundo busca evidenciar como as disciplinas de Estatística e Probabilidade estão sendo contempladas nos cursos de licenciatura em Matemática e o que possibilitam em termos de conhecimento estatístico e formação do professor para atuar na Educação Básica. No terceiro, será direcionado um olhar para as escolhas didáticas e pedagógicas dos formadores no processo de ensino dos conceitos estocásticos, bem como para os processos de avaliação da aprendizagem adotados, evidenciando se o trabalho docente por eles desenvolvido considera e/ou permite o desenvolvimento das competências necessárias – literacia, raciocínio e pensamento estatístico – para a efetivação do letramento estatístico nos futuros professores.