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Custo do crime e das incivilidades 92 

A criminalidade e a prática de atividades delituosas concorrem para acrescentar custos à economia urbana, pela degradação que provocam e pela desvalorização a que levam as áreas urbanas onde ocorreu.

Bowles, Reyes e Garoupa (2009) para medir os custos da criminalidade usam uma economia baseada no custo-benefício em que existe uma estrutura para gerar hipóteses sobre as circunstâncias suscetíveis de ser mais ou menos favoráveis à quantificação do custo do crime. As estruturas de incentivo direcionadas para vítimas da criminalidade, quando estas fazem escolhas sobre se devem relatar o crime, oferecem uma explicação alternativa relatando taxas e modelos amplamente utilizados que dependem das diferenças interpessoais ou características sociodemográficas, tal como enunciado por (Akers & Kaukinen, 2009; Bachman, 1998; Baumer, 2006; Bickman & Rosenbaum, 1977). Mostrando estes estudos que não existe um modelo único que possa avaliar, com rigorosa certeza, o custo social do crime e das incivilidades. Até porque parte desse custo apresenta componentes afetivas não mensuráveis.

As decisões tomadas pelas vítimas provavelmente refletem julgamentos que estas fazem sobre os vários resultados possíveis de comunicação, incluindo custos subjetivos em questão que podem incorrer no depor em tribunal, a possibilidade de

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(com base numa estrutura simples), onde as vítimas podem exigir alguma compensação monetária para fazer face a alguns dos custos (Garoupa, 2001).

Cabe ao cidadão que é vítima, ou testemunha de um crime decidir relatar ou não o evento. Representa isto que os métodos atuais de análise económica do custo do crime podem ser usados para reforçar o argumento de que a denúncia do crime e as decisões a elas associadas representam um problema de escolha racional por parte da vítima. Mostrando que a denúncia corresponde, também, a uma série de custos e benefícios pelo que a decisão da denúncia é em favor da opção mais vantajosa, é uma decisão económica. Esta escolha pessoal nem sempre resulta na decisão que seria socialmente preferível, uma vez que alguns dos custos e benefícios incidem sobre terceiros, bem como sobre a vítima ou a testemunha (Bowles, Reyes & Garoupa, 2009).

Em suma, toda a criminalidade tem um custo associado e este não decorre apenas da prática efetiva do delito ou outro tipo de incivilidade com custos diretos (tangíveis) e indiretos (intangíveis), mas de outros fatores, pessoais, culturais, morais, que não podem deixar de ser considerados nas avaliações que sejam feitas.

Apesar de que, além dos custos diretos, todos os outros custos com o crime e incivilidades são difíceis de calcular. Mesmo quando o crime nem sequer chegou a acontecer e já está a provocar despesa que decorre da implicação do sentimento de medo do crime e respetivas implicações na vida dos cidadãos, porque o medo pelo incómodo e distúrbio que provoca na vida das pessoas já constitui um custo. Outro aspeto que igualmente contribui para a dificuldade de calcular o custo do crime prende-se com o facto de existirem sempre crimes que não são registados pelas autoridades porque não existiu apresentação formal de denúncia.

No entanto, Lourenço (2010, p.50) adianta que: “O crime acarreta danos que

estão muito para além da dimensão psicológica e económica do seu impacte directo. Os resultados dos actos criminosos atingem não apenas as vítimas directas como têm efeitos que se poderão designar por danos indirectos, afectando a vida de indivíduos não envolvidos directamente no acto em causa e afectando a sociedade no seu todo.”

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Para Czabański (2008) o problema dos custos do crime podem ser vistos em duas perspetivas diferentes ex-ante e ex-post. A primeira é a perspetiva ex-ante, que corresponde ao momento em que uma pessoa enfrenta o risco de ser vítima de um crime; ou seja, quando a potencial vítima tenta minimizar esse risco, e toma algumas precauções desde que os benefícios em termos de risco reduzido sejam iguais aos custos marginais dessas medidas cautelares. As pessoas tentam minimizar o risco de vitimização movendo-se para bairros mais seguros, compram dispositivos de segurança, ou evitam lugares potencialmente perigosos. Todos esses gastos são suportados em antecipação de crime.

Contudo, e apesar disso, uma proporção substancial de pessoas tornam-se realmente vítimas de crime num determinado ano e posteriormente ficam a sofrer de dor e de perdas adicionais (Van Kesteren, Mayhew & Nieuwbeerta, 2001).

Nestes casos a perspetiva no que diz respeito aos custos do crime é uma perspetiva ex-post, tendo em conta os custos do processo penal que se sucede à denúncia do crime. Muito frequentemente, assente em danos, perdas de produtividade, cuidados de saúde, stress e penalização da vida humana. No entanto, isto pode levar a resultados paradoxais porque as pessoas reagem emocionalmente de forma diferente a assuntos iguais; numa determinada situação uma vítima pode ficar com dor e angústia e outra, em situação equivalente, não ficar angustiada e consequentemente não necessitar de aconselhamento psicológico para lidar com seu sofrimento. Este aspeto é suficiente para, em situações de igual importância criminal haver custos diferentes, em função das características da vítima alvo. Deste modo, torna-se difícil calcular o valor real dos custos do crime, juntando os valores diretos e tangíveis aos colaterais, na maior parte dos casos intangíveis.

A importância da segurança na vida social e a necessidade de prevenção das práticas criminais leva a que uma parte significativa do orçamento dos estados seja dedicada a esta área de ação política e administrativa. Reduzir o peso e a importância dos custos do crime nos custos públicos e privados é, por isso, uma tarefa que ganha crescente dimensão, especialmente ao nível da sua repercussão

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As primeiras estimativas dos custos do crime tentaram avaliar gastos públicos no controle da criminalidade e incidiram principalmente sobre os custos de polícia, tribunais, juízes, júris, prisões e outras instalações que foram de alguma forma relacionados com crimes, (Smith, 1901; Czabański, 2008).

Stern (2001) deixou-nos registada a memória de como Times Square, em Nova Iorque, passou de zona degradada e pouco apetecível onde o crime era uma constante, a zona paradigma de reabilitação urbana depois da adoção de medidas de prevenção e combate ao crime pelas autoridades locais; por pressão, é certo, dos agentes económicos afetados pelo abandono da área pelos turistas devido à insegurança. Um exemplo de como a criminalidade e a perceção da insegurança que lhe está associada contribuem para a e desvalorização do espaço e da propriedade.

Dada a elevada complexidade e quantidade de fatores que interferem no custo do crime, Lourenço (2010) diz tornar-se fundamental determinar, a montante, qual o objetivo pretendido com o estudo do custo do crime para se ultrapassarem à partida as questões de ordem conceptual e metodológica; isto é, se o objetivo é estimar os custos para o contribuinte com a prevenção e o combate da criminalidade ou se o que se pretende é avaliar os impactes para as vítimas e para a sociedade no seu todo, para termos uma noção da grandeza do custo que o crime representa para a sociedade é fundamental este tipo de indagação que proporciona informação indicativa para a determinação de políticas públicas de segurança.

O custo do crime e a sua avaliação envolve, no entanto, a necessidade de uma distinção cuidadosa entre custos sociais e custos externos porque, embora relacionados, estes conceitos são distintos e conduzem a resultados que podem ser substancialmente distintos. O conceito de custos sociais reporta-se a ações que tenham impactes na sociedade, que podem ser positivos ou negativos. O crime é exemplo de custo proveniente de ações que cooperam para a diminuição do bem- estar e da qualidade de vida de uma determinada sociedade, tem por isso, consequências negativas no balanço social. Os custos externos referem-se a custos impostos por uma pessoa sobre outra que não os adota por espontânea opção são

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uma consequência. A noção de custo total é apenas possível com recurso a estes conceitos, (Lourenço, 2010).

3│ O DESENHO URBANO E A PREVENÇÃO DO CRIME

"O presente é a sombra que se move separando o ontem do amanhã. Nela repousa a esperança."

Frank Lloyd Wright