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Expectativas perante os espaços públicos urbanos 71 

A qualidade de vida das populações urbanas está intimamente relacionada com o ambiente onde habitam, e às suas expectativas em relação à satisfação das suas necessidades e das suas expectativas, face ao que a cidade lhes pode proporcionar.

2 | A CIDADE FACE À (IN)SEGURANÇA

Para Oliver (1997) a importância do nível da satisfação pode ser analisada ao nível do consumidor, não só da empresa e da indústria mas também da sociedade. Numa perspetiva de sociedade, diversas investigações realizadas no âmbito da qualidade de vida, sugerem que os membros da sociedade mais satisfeitos obtêm melhores resultados na vida, sejam eles em termos de saúde, finanças, ajustamento social ou mental. Apesar da importância reconhecida do estudo da satisfação, não existe uma definição consensual, diferindo as várias definições ao nível da abordagem e da especificidade. Segundo Johnson e Matthews (1997), a satisfação tem uma base emocional e é um processo avaliativo entre aquilo que é recebido e o que é esperado.

Desta forma, satisfação e qualidade percebida são conceitos muito próximos, sendo extremamente difícil distinguir os dois conceitos. Com efeito, a qualidade global de um serviço depende do encontro entre as expectativas e as perceções do nível de desempenho e pode ser medida através de cinco dimensões que lhe estão subjacentes: elementos tangíveis, confiança, fiabilidade, empatia e rapidez, (Parasuraman, Zeithaml & Berry, 1985). No entanto, segundo Oliver (1980), também a satisfação do cliente resulta da comparação das expectativas com o desempenho do produto ou serviço.

As expectativas e os desejos, relativamente ao uso e apropriação dos espaços públicos urbanos, tem a ver com o modo como cada um individualmente ou em grupo se relaciona com o território que habita e o modo como as diferentes morfologias condicionam o seu uso.

De acordo com Ngobo (1997) para distinguir a qualidade percebida da satisfação, três ideias chave deverão ficar retidas:

1ª - A satisfação resulta de todas as dimensões, ligadas ou não à qualidade do produto/serviço.

2ª - A satisfação específica de uma transação está parcial ou totalmente relacionada com aspetos emocionais, enquanto que a qualidade percebida é mais cognitiva.

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Daqui fica clara, a importância do conhecimento e compreensão dos fatores que contribuem para a qualidade de vida das pessoas e sobre a sua satisfação relativamente à segurança nos espaços públicos urbanos. Até porque os espaços mais adequados às funções que nelas decorrem acabam, por isso, por ser os mais seguros.

Os atributos que influenciam a qualidade de vida em ambiente urbano e a segurança, preponderantes no conforto ou desconforto físico e/ou psicológico, prendem-se sobretudo com o maior ou menor isolamento social, com o quadro social, e com a morfologia do desenho urbano, podendo esta abordagem ser complementada com as cinco dimensões de avaliação da qualidade propostas por Parasuraman, Zeithaml & Berry (1985).

O espaço público urbano é, no entanto, muitas vezes negligenciado no que respeita aos seus aspetos intrínsecos que decorrem do contexto organizacional e do planeamento das cidades onde se inserem; resultando disso a degradação que gera diferentes tipos de comportamento que conduzem à insegurança. O planeamento urbanístico, em todas as suas fases, deve ter em consideração a funcionalidade do espaço público, a sua eficiência e a sua adequação à satisfação das necessidades e expectativas das populações. Por isso, importa refletir sobre as seguintes questões:

a. O ambiente físico, em geral, proporciona um “bom” comportamento dos seus utilizadores?

b. Como adequar necessidades de personalização e territorialidade no ambiente urbano?

c. De que forma o layout do desenho urbano pode influenciar na vivência coletiva?

d. Qual o nível de satisfação dos cidadãos com a cidade?

e. Como está o ambiente social no espaço público? E as relações entre os membros da comunidade? E entre comunidades?

f. As características do desenho urbano têm causado conforto/desconforto aos seus utilizadores?

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Estas são apenas algumas das questões sobre o modo como o ambiente físico e social pode interferir na qualidade de vida e na segurança em ambiente urbano. A promoção de qualidade de vida e da segurança geralmente envolve a elaboração de projetos específicos para prevenir ou sanar problemas, envolvendo, sempre que possível, a participação pública, daqueles que vivem permanente ou sazonalmente nas áreas em causa.

No que concerne à vivência dos espaços públicos urbanos e à forma como este é apropriado perante o dualismo homem-ambiente, é possível estabelecer o paralelismo ao que diversos epistemólogos teóricos do final do séc. XIX aos nossos dias, desde Vygotsky20 (1978), Piaget21 (2002) e Wallon22 (1986) até Popper23 (2003), Morin24 (1996), entre outros, têm estudado relativamente ao processo de desenvolvimento humano enfatizando, cada qual, determinadas características da relação homem-ambiente, o que para nós se traduz na analogia com a dialética cidadão-espaço publico urbano.

De forma implícita ou explícita, estes autores atribuem importância à interação de fatores cognitivos-afetivos, relacionais e sociais para o pleno desenvolvimento do indivíduo. Considerando esse aspeto, cabe salientar que a interação desses fatores ocorre num espaço físico e temporal que exerce fundamental importância no comportamento e expectativas das pessoas que nele convivem.

Assim, admitindo-se que as cidades são a expressão das sociedades complexas, em que os cidadãos têm pensamentos e atos complexos podemos questionar:

a. Como se pode ajudar a avaliar a funcionalidade, adequação e preservação de ambientes urbanos, desde o seu planeamento até à sua ocupação?

b. Como atuar sobre os ambientes urbanos e garantir a qualidade de vida e segurança?

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c. Como é que as características ambientais das cidades têm influenciado no comportamento e segurança das pessoas, no trânsito, no lazer, nas relações de vizinhança, etc.?

d. Como se caracterizam e qual o uso dos espaços públicos existentes nos centros urbanos? A utilização destes espaços tem favorecido a circulação, o transporte, segurança, entre outros?

e. A opinião dos cidadãos/utentes tem sido considerada no planeamento dos ambientes das cidades? Até que ponto ela é importante?

f. Porquê desenvolver programas de educação ambiental, segurança e lazer com a participação da comunidade urbana?

Eliminar, ou pelo menos minimizar, a insegurança é o grande objetivo, deixemos de falar pela negativa, cujo estigma já é suficientemente redutor. Pretendemos aumentar a segurança urbana promovendo um uso seguro dos espaços públicos que incondicionalmente levará ao aumento de nível de conforto urbano e posteriormente à melhoria da qualidade de vida, através de boas práticas que promovam elevados padrões de qualidade. Tal como representa a figura abaixo a qual já tinha sido supra apresentada.

Figura 8 | Ações que contribuem para uma segurança urbana efetiva. Segurança Urbana Boas Práticas CPTED Elevados padrões de qualidade Promoção da continuidade e qualidade Gestão urbanística/ manutenção

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Perante o exposto e de acordo com Cidrais (1998), o contexto de globalização e a crescente competitividade, dos territórios à semelhança das empresas, a que assistimos, têm necessidade de desenvolver estratégias ativas de afirmação, com recurso à mobilização de todos os recursos disponíveis para atrair e fixar fatores do desenvolvimento. Esta estratégia, assente na identidade urbana por via da participação no espaço público, estabelece uma conjuntura suscetível de ocorrer num território herdado, porque equaciona as distintas possibilidades de intervenção, sendo o seu resultado incitador de competitividade qualitativa e excelência territorial.

A segurança é, assim, um fator importante na aplicação das cidades como espaços atrativos para o investimento, a criação de riqueza e para a promoção da qualidade de vida urbana e, como tal, está presente em todas as estratégias de marketing urbano e territorial.