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Qualidade de vida e segurança nos espaços públicos urbanos 61 

A cidade é o palco em que ocorre todas as mudanças sociopolíticas e socioculturais, de conflitos étnicos e religiosos, dos fluxos migratórios

Segurança Urbana Boas Práticas CPTED Elevados padrões de qualidade Promoção da continuidade e qualidade Gestão urbanística/ manutenção

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transnacionais e comunicacionais, de imensas reformas geopolíticas, e de atividades transgressoras.

Contudo a cidade em geral e os espaços públicos em particular têm de oferecer a todos os cidadãos a oportunidade de acesso a modelos de vida sustentáveis, com adequada resposta à frenética vida citadina dos dias que correm, onde o peão coabita com o automóvel. Isto obriga a uma abordagem ecossistémica e holística da cidade que passa inevitavelmente pela análise da gestão do espaço público urbano, para que esta seja efetiva e consequentemente se traduza em mais conforto, bem- estar, qualidade de vida e segurança na cidade, nunca alienando a relação per si que determinadas morfologias urbanas estabelecem com o quadro social que lhe está associado.

A avaliação e monitorização dos atributos da qualidade de vida e segurança no ambiente urbano é um procedimento fundamental na gestão político-administrativa dos países e dos respetivos municípios, que se afigura cada vez mais como uma prioridade: bem-estar, qualidade de vida e segurança são condições que se encontram na base dos direitos do cidadão, consagrados em Portugal na Constituição da República Portuguesa (CRP), no artigo 9.º, alínea d)18 e artigo 27.º.

Ora a qualidade de vida urbana e a capacidade de atração das cidades de investimentos e de ativos qualificados estão muito relacionadas e pelo mundo fora assiste-se ao processo de crescimento das cidades que em boa parte decorre da caracterização da verticalização concentrada de forma paulatina, principalmente nas suas áreas centrais, acarretando uma elevada concentração populacional e uma sensível modificação na qualidade de vida.

O desenvolvimento das cidades é vulnerável e influencia a respetiva segurança urbana e qualidade de vida e quando o incremento é desestruturado estas ficam inevitavelmente comprometidas, gerando-se, deste modo, potenciais pólos

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vulneráveis quer à concentração de infratores quer à prática de comportamentos desviantes.

Nas cidades, a qualidade de vida e segurança tornou-se o paradigma das administrações municipais no mundo inteiro. A criação de critérios que possam avaliar a qualidade e a segurança do ambiente urbano tornou-se necessária e as medidas objetivas baseadas em dados mensuráveis para a sua gestão ainda estão em desenvolvimento em diversos países do mundo.

Todavia, o assunto não é tema só da atualidade, para Coaffee (2003) desde sempre, o que nos reporta ao início da urbanização civilizacional, a defesa contra os “outros” e contra os elementos da natureza sempre foi um fator que influenciou a estrutura e a paisagem urbana. Face a esta situação a relação do comportamento humano, o ambiente amplamente estudado por Crowe (1991), o crime e a insegurança, tal como supra citado têm sido o fulcro das preocupações de vários especialistas de diferentes áreas interdisciplinares.

Ao longo da história têm surgido diversos exemplos de defesa/segurança como nos lega a arquitetura militar ou “defensiva” refletida nos castelos. Onde os locais privilegiados de cotas elevadas, foram sempre considerados um fator de segurança, por permitirem o controlo do espaço envolvente, aumentando simultaneamente a capacidade de vigilância e desfavorecendo o acesso dos invasores.

A segurança nas cidades surge desde a sua conceção clássica, aonde as cidades foram criadas precisamente para os seus habitantes encontrarem um espaço de proteção onde pudessem ter segurança. Contudo, o passar do tempo fez alterar as condições de vivência na urbe, cujo desenvolvimento dos grandes centros urbanos tornou-se sinónimo de medo e de crime (Davis, 1998).

Desde os anos 50 tem havido um particular interesse pelos assuntos inerentes a soluções arquitetónicas e de utilização do espaço que contribuam para tornar certas zonas mais seguras e simultaneamente reforçar o sentimento de segurança aos transeuntes, introduzindo melhorias físicas, redesenhando os espaços públicos e semipúblicos de modo a terem mais utilização, maior vigilância e sequentemente mais segurança e melhor qualidade de vida (Colquhoun, 2004).

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Mas, só na década de 60 surge o desenvolvimento da escola do estudo da relação entre o comportamento urbano e o ambiente, sendo a partir dessa altura que as principais teorias criminologistas manifestaram indícios de uma determinada incapacidade em minimizar o crime (Gilling, 1997, 1999). Nos últimos anos, retomou-se a tradição da escola de Chicago, onde a dinâmica contextual das comunidades urbanas passa a ser o foco das análises para a compreensão da criminalidade e da violência (Sampson, 2002; Beato, 2000, 2001; Abott, 1997, Johnson, Williams, Dei & Sanabria, 1990; entre outros).

Atualmente decorrendo do avanço das tecnologias surgiram novas abordagens sobre a conceção e gestão dos espaços públicos com vista à qualidade de vida e segurança urbana, que permitem novas técnicas de análise espacial e de capacidade computacional para análise de dados (Campos, 1997; Hillier, 2001; Dalton, 2001; Medeiros, Holanda & Trigueiros, 2003; Trigueiros & Medeiros 2003; Serdoura, 2008).

Para a obtenção de qualidade de vida e segurança no espaço público urge combater o crime, atuando em situações nas quais os cidadãos se encontram perante uma multiplicidade de crimes que prejudicam a sua qualidade de vida, sobretudo, o consumo e o tráfico de droga, os furtos por esticão, os roubos na via pública, os assaltos a residências e estabelecimentos, os furtos de e em veículos, e a violência urbana, (Teixeira, Lourenço, & Piçarra, 2006).

Para Engelstoft e Jensen-Butler (1992), todas as cidades encaram questões de política que pedem importantes resoluções referentes a quatro medidas da sustentabilidade urbana, designadamente:

a. Eficiência económica; b. Equidade social e espacial;

c. Controle das externalidades negativas; e d. Questões orçamentais.

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contudo, conduz a problemas de equidade - bairros pobres, áreas de insegurança; por outro lado, privilegiar os objetivos de equidade - importantes gastos públicos - pode bloquear a atividade económica e restringir os orçamentos das cidades. A administração urbana, ao optar por uma política de eficiência, gera oportunidades de crescimento económico mas, também, externalidades ambientais - congestão de tráfego, poluição ambiental.

Na sociedade o homem, como ser social, interage com outros indivíduos pertencentes ao seu habitat natural. Essas interações sucedem-se nos espaços públicos urbanos, razão pela qual estes se constituem como agentes estruturantes e organizativos da construção urbana, que permitem uma ação equilibrada do sistema urbano e apresentam um papel integrador ao permitir a ligação e continuidade territorial e fortalecem laços sociais ao se criarem “palcos” de diversas manifestações (como as sociais) que cooperam para a qualidade de vida. Individualizam-se como cunhos de identidade da cidade, designam simbolismo (político e cultural), ostentam diversas funções e variados usos específicos e acolhem utilizadores de grupos sociais distintos - e. g. moradores, visitantes, turistas, e outros utilizadores sob forma individual e/ou coletiva - que anunciam diferentes espectativas relativamente ao mesmo espaço público.

O conhecimento e entendimento das características físicas da malha urbana, quer sejam consequentes de opções urbanísticas planeadas, quer do crescimento casuístico constante e não planeado das cidades, revelam-se intransponíveis num debate relativo à criminalidade e ao sentimento de segurança ou medo em ambiente urbano. A segurança dos cidadãos é compreendida numa ótica holística, incluída na promoção da qualidade de vida e do ambiente urbano que se complete em escalas de satisfação das populações com as cidades e que vivem (Machado, 2008).

A oferta do sentimento de segurança e de proteção é uma condição fundamental do espaço público urbano, e a respetiva ausência (ou ameaça) manifesta que a cidade não satisfaz uma das suas funções basilares, i. é a segurança dos que nela habitam ou para ela se movem. Nas cidades o risco de insegurança seja pelo medo do crime, seja pela falta de adesão ao sistema normativo da sociedade, influencia a

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qualidade de vida, trazendo grandes custos para os habitantes, que assim vêm o seu modo de vida a ser involuntariamente alterado, (Heitor, 2007; Machado, 2008)

Para a qualidade de vida e segurança nos espaços públicos urbanos é fundamental atuar na prevenção da criminalidade, sendo a atuação a montante da ocorrência de atividades delituosa e transgressoras essencial para diminuir a criminalidade efetiva e para conferir ao cidadão modos de vida mais seguros, tendo em conta os direitos e as liberdades das pessoas (Gomes, 2007).