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Calcular o custo de uma queixa materializada pela PSP pressupõe definir, identificar e mensurar as despesas diretamente relacionadas com esta função, sendo certo que esta análise terá sempre um inerente grau de subjetividade. Segundo Coelho (1997: 215), a subjetividade deste tipo de processo varia “em função: dos objetivos a atingir; do tipo de actividade e a tecnologia produtiva utilizada; dos métodos e meios utilizados na análise, tratamento e transmissão da informação”. Todavia, o objetivo pretendido é

demonstrar em termos genéricos que existe um custo conectado com este serviço, não se ambicionando um apuramento exaustivo de todos os gastos, mas somente a averiguação de um custo integral percetível que servirá como valor de referência.

Antes de optarmos por qualquer sistema de custeio devemos alertar que não existe um sistema perfeito, pois todos eles possuem características únicas, bem como vantagens e desvantagens consoante o contexto da organização em causa.

Embora o modelo ABC seja um método inovador e rigoroso que permite obter informações detalhadas de apoio à gestão, diversos autores reconhecem que a sua implementação é uma tarefa extremamente árdua, obrigando à constituição de equipas de trabalho, não adstritas unicamente à área financeira e guiando-se por um plano detalhado com várias tarefas específicas.

Considerando que o objetivo não é avaliar medidas de desempenho, mas apurar os custos inerentes às queixas apresentadas por via da PSP, numa perspetiva financeira, descartamos como hipótese a utilização do método ABC, pois não existem na PSP todas as informações necessárias. De nada serve a implementação de um sistema de custeio detalhado e pormenorizado se as informações de que dispomos não legitimam os custos de implementação desse sistema e da falta de informação resulte erros nos valores gerados.

Optámos assim pelos sistemas de custeio tradicionais, que são processos simplificados e exigem menores inputs de informação. Embora se possa alegar que estes últimos não facultam as informações de gestão necessárias à tomada de decisão e que se centram numa realidade desadequada, nomeadamente o predomínio dos fatores matéria- prima e mão-de-obra na produção, a realidade é que também a PSP se confronta com este paradigma. As FS em Portugal, e particularmente a PSP, “têm assentado o seu funcionamento numa lógica de mão-de-obra intensiva”, sendo que as despesas com pessoal representam cerca de 92% da estrutura orçamental da PSP (Torres, 2011: 239), pelo que um sistema de custeio aplicado à PSP tem de apreciar obrigatoriamente esta realidade.

A PSP não se dedica à produção exclusiva de um único produto, como é o caso das queixas-crime, mas a uma panóplia de serviços, como consta do art.º 3.º da LOPSP, sendo extremamente difícil e impreciso repartir os custos indiretos pelas várias atividades asseguradas pela PSP. Encarando esta realidade, de entre os sistemas de custeio tradicionais optamos pelo método de absorção, atendendo ao princípio da eficiência organizativa, contemplando simplesmente custos diretamente associados a este serviço. Aplicando este processo, propomos como forma de aferição do custo padrão de uma queixa-crime formalizada através dos serviços prestados pela PSP, o modelo constante na

Custo Padrão

de Queixa =

Tempo

médio X

Custo efetivo

GS ao minuto + Papel + Impressão + Eletricidade Figura 7. Fórmula de apuramento do custo padrão de uma queixa-crime.

Fonte: Elaboração própria

Figura 7, fruto de uma revisão da literatura e de várias fontes de informação.

A primeira variável – tempo médio – reporta-se ao tempo que em média demora a registar no SEI41 uma queixa-crime, relativa aos crimes considerados, valor que podíamos ter obtido através de uma estimativa. Contudo, o valor estimado estaria sempre imbuído de um caráter extenso de subjetividade, pelo que entendemos apurar um valor mais objetivo e com fundamento científico. Para isso realizámos um estudo42 em três esquadras policiais, tendo sido solicitado aos GS dessas unidades que registassem a hora de início e fim da elaboração de cada uma das ocorrências que recebessem durante o turno de serviço. Poderíamos ter optado por uma amostra de maior dimensão, mas preferimos garantir a fiabilidade da informação ao aplicar apenas nas esquadras onde houvesse um contato constante com os GS e controlo dos relatórios, ou seja, aplicado nos locais de estágio.

Neste sentido foram obtidos e analisados 630 relatórios, onde constam os dados de registo de 391 processos policiais, não incluindo aditamentos, sendo 216 dos crimes apreciados. Obteve-se assim os resultados constantes no Anexo XV, apurando-se como tempo médio de registo de um expediente policial 44’18’’ minutos. Considerando apenas os crimes prezados neste estudo, o tempo padrão é de 47’05’’ minutos, considerando o início quando o cidadão apresenta a situação ao GS e este inicia a elaboração da peça de expediente, e o término quando o denunciante ou lesado confirma os dados constantes no documento original e o assina. Se a este tempo fosse somado o tempo de aditamentos, o tempo médio aumentaria, como é evidente, mas pelo facto de esses aditamentos serem elaborados em outras unidades policiais, muitas das vezes vários dias depois da queixa base, não foram introduzidos neste cálculo.

A segunda variável baseia-se no custo para o Estado da remuneração média de um GS ao minuto, ou seja, dos elementos policiais da classe de Chefes43, pois todos os elementos que desempenham as funções de GS deveriam ser desta classe. Assim, para apurar o custo de um GS ao minuto considerou-se os encargos com a remuneração destes

41 Qualquer peça de expediente policial, que se reporte a um crime ou não, é registada no SEI, que é uma

plataforma tecnológica de registo online de ocorrências, atribuindo-se um NPP.

42 O estudo em questão foi realizado na 2.ª, 6.ª e 77.ª Esquadras da PSP do Comando Metropolitano de

Lisboa da PSP, sitas na Praça do Comércio, Mouraria e Santo António dos Cavaleiros, tendo decorrido entre 21 de janeiro e 31 de março de 2013. Cf. Modelo in Anexo XIV.

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Custo Padrão

de Queixa = 47’05’’ X 0,23 € + 0,0186 € + 0,0187 € + 0,047 € = 10,85€ Figura 8. Valor do custo padrão de uma queixa-crime.

elementos, incluindo remuneração base e suplementos, mas excluindo os valores dos encargos com subsídio de férias e natal e com a segurança social, pois o custo que se pretende é para o Estado e não apenas para a PSP, obtendo-se o valor de 0,23 € ao minuto.

As seguintes variáveis aludem aos custos diretamente relacionados à formalização da queixa, nomeadamente o papel, impressão e eletricidade, havendo vários custos indiretos que também podiam aqui ser associados, mas reforça-se que apenas se pretende um custo integral. À semelhança dos encargos com pessoal, não englobamos aqui o IVA pois é um valor que reverte a favor do Estado, ou seja, que o Estado paga a si próprio, ambicionando-se apenas o custo puro para o Estado. O papel e os toners para as impressões são bens adquiridos através de contrato público, sendo que se apurou com os valores do ano 2012, que o custo médio de uma resma de folhas (500 folhas) é de 1,86 €, logo considerando a média de 5 folhas que é utilizada por queixa-crime, temos um custo de 0,0186 €. Nos toners a média de preço calculou-se apreciando como referência os valores totais dos três toners com a taxa de utilização maior na PSP, alcançando-se o custo médio por 5 páginas de 0,0187 €. Para imputar a eletricidade enquanto custo direto, partiu-se do valor de 9,26 € de eletricidade mensal per capita, i.e., por elemento policial, apurando-se o valor de eletricidade por elemento ao minuto constante no Anexo XVII, sendo que pelo tempo médio da queixa temos um custo de 0,047 €.

Assim, introduzidos estes dados, como valores absolutos e sem arredondamentos antes do valor final, obtemos como custo padrão de uma queixa-crime o valor de 10,85 €, exemplificado pela Figura 8, custo este que não engloba o IVA nem segurança social dos elementos policiais, pelo que é o custo direto para o Estado da prestação deste serviço, detalhadamente demonstrado no Anexo XVII.

Este valor constitui apenas um valor de referência, calculado muito abaixo dos custos reais, pois na prestação deste serviço entram muitos custos indiretos efetivos, que não figuram neste valor. Ainda assim, encarando este valor de referência e os registos da PSP, temos no ano de 2012, para os crimes semipúblicos e particulares, um encargo de 3.318.505,05 €, sendo que, considerando apenas os processos em que não houve desejo de procedimento criminal, o encargo é de 1.129.832,20 €. Considerando que neste ano foram registados na PSP 595.052 NPP, o encargo total é de 6.456.314,20 €, valor expressivo, mas que apenas se reporta ao encargo para o Estado de uma das FS, responsável por cerca de 50% dos processos movimentados para o MP.

Cap. 4 – Admissibilidade da tributação das queixas à Polícia