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Receitas públicas tributárias: impostos, taxas e contribuições

Para que o Estado possa dedicar-se à produção e aquisição de bens públicos que sirvam os interesses dos seus cidadãos e desta forma o bem-estar coletivo, é necessário que existam receitas tributárias, principalmente impostos, taxas e contribuições.

Os primeiros tiveram como percussor, segundo Catarino (2012), o liberalismo, sendo conotados naquela época, com os ideais de igualdade relativa (justiça distributiva - distribuição equitativa de responsabilidades e benefícios), transformando o imposto como a principal fonte de financiamento do Estado, abandonando-se a conceção de igualdade

absoluta. Presentemente, pode-se descrever o imposto “como uma prestação patrimonial,

entidades que exerçam tarefas ou funções públicas e para satisfação de fins públicos, que não constitui sanção pela prática de atos ilícitos” Catarino (2012: 405).

Quanto à taxa define-se como “uma prestação tributária (ou tributo) que pressupõe, ou dá origem a, uma contraprestação específica, resultante de uma relação concreta (que pode ser ou não de benefício) entre o contribuinte e um bem ou um serviço público” (Franco, 1999b: 63-64). A taxa é assim uma prestação patrimonial, que se traduz efetivamente numa receita pública, podendo ser estabelecida por lei ou coativamente, de modo bilateral, geralmente segundo uma lógica de utilidade. Estas taxas podem ser estabelecidas com diferentes fundamentos, nomeadamente como contrapartida do usufruto de um bem público, prestação de um serviço público, ou pela remoção de uma interdição jurídica ao exercício de atividades particulares (Catarino, 2012). A utilização de um bem de domínio público, não se traduz num serviço, mas sim num ato de utilização que origina a obrigação de pagar, pelo que corresponde a uma taxa nominal, pelo uso comum do bem nominal (Franco, 1999b). Segundo Ribeiro (2011: 253) “só podem ser cobradas taxas pela utilização de bens semipúblicos, i.e., de bens públicos que – além de satisfazerem, como todos, necessidades colectivas – satisfazem necessidades individuais”. A prestação de um serviço público ocorre, por exemplo, “nas custas judiciais, motivadas pelo facto de ambas as partes se poderem socorrer do tribunal” (Franco, 1999b: 64). Todavia, o facto de se estabelecer esta relação com o sistema judicial, não implica necessariamente, que o contribuinte aufira de um benefício, pois o resultado desta ligação pode originar benefícios ou prejuízos para o requerente, sendo que quem é condenado pelo tribunal deve pagar as custas processuais.

Por fim, existe a modalidade de remoção, através de atos administrativos, de oposições jurídicas a determinados atos particulares, através de licenças, que justifica pela sua utilidade o embolso de uma quantia monetária (Franco, 1999b).

Relativamente à lógica de aplicação das taxas, acreditamos que possam ser empregues através das seguintes lógicas: (1) moderação do consumo; (2) copagamento; (3) cobertura integral dos custos (“utilizador-pagador”); (4) lucrativa (taxa “parafiscal”).

Como possível receita tributária, existe também a modalidade das contribuições, que, segundo Catarino (2012: 406), “são impostos ou, mais rigorosamente, são impostos especiais, devidas pelos maiores encargos ou despesas que a atividade económica privada dos particulares provoca na atividade dos entes públicos”. Esta figura não é muito lavrada na doutrina, nem muito empregue em Portugal, sendo uma situação geral, individualizável e anormal, que justifica a aplicação de uma prestação tributária (Franco, 1999b).

1.5.1. Custas processuais

Em Portugal existe o entendimento de que vigora a regra da onerosidade do exercício do direito e acesso à justiça através dos tribunais, tal como comprovámos, pela existência do RCP14, que prevê as custas processuais enquanto despesas da tramitação do processo. As custas processuais são o somatório de todas as despesas que as partes interessadas têm de efetuar para que o processo seja conduzido a tribunal, compreendendo a taxa de justiça, os encargos e as custas de parte. Estas custas vão sendo liquidadas ao longo do processo, e não apenas no início do mesmo, constituindo uma antecipação das custas finais, aplicando-se nos tribunais judiciais, administrativos e fiscais.

Como tipos de custos abrangidos pelas custas processuais temos então:

a) Taxa de justiça – é o valor que cada parte deve fornecer, por cada processo, como contrapartida da prestação do serviço público de justiça, proporcionado pelos tribunais (é fixado em função do valor e complexidade do processo); b) Encargos – pagamentos efetuados ao Estado, como reembolso de diversos tipos

de despesa resultantes da condução do processo (concessão de apoio judiciário, diligências efetuadas pelas FS, compensações devidas a testemunhas, etc.); c) Custas de parte – despesas que cada interveniente efetua no âmbito do impulso e

respetivo progresso do processo, e pelas quais tem direito a ser compensado, englobando impreterivelmente os custos anteriores.

O fundamento de existência deste tipo de custas não é dificultar, ou mesmo impedir, o direito de ação ou de defesa com recurso aos serviços prestados pelos tribunais, até porque subsistem mecanismos de apoio judiciário15 para situações de debilidade económica ou em razão de outras condições sociais e culturais. As custas judiciais aplicam-se à semelhança das taxas moderadoras da saúde, que visam completar as medidas reguladoras do uso dos serviços de saúde, dificultando o seu benefício por quem deles não necessita. No mesmo âmbito, as custas processuais têm o mesmo propósito, não sendo seu objetivo suportar as necessidades financeiras do sistema judicial português.

Assim, as custas processuais são receitas, aplicadas nos moldes de taxa, nunca de impostos, empregues na ótica de moderação do consumo, i.e., visando dificultar e demover o recurso aos serviços prestados pelos tribunais aos cidadãos que não necessitam destes serviços, garantindo qualidade de serviço a quem deles necessite efetivamente.

14 Aprovado pelo DL n.º 34/2008 de 26 de fevereiro, atualizada pela Lei n.º 7/2012, de 26 de março e pela

Retificação n.º 16/2012, de 26 de março.

15 Previsto no art.º 4 do RCP e no ADT, aprovado pela Lei n.º 34/2004 de 29 de julho, com a redação da Lei

Figura 5. A missão da PSP

Fonte: Elaboração própria segundo o art.º 272.º n.º 1 da CRP

Cap. 2 – A PSP e o fenómeno criminal em Portugal