• Nenhum resultado encontrado

Década de 1970: a consolidação do Design Instrucional

CAPÍTULO 1 DISCUTINDO CONCEITOS PERTINENTES À PESQUISA

1.3 Uma história do Design em Tecnologia Educacional

1.3.5 Década de 1970: a consolidação do Design Instrucional

Durante os anos 1970, cursos de pós-graduação oferecendo especializações em Design Instrucional proliferam vertiginosamente nas universidades estadunidenses (ROMISZOWSKI; ROMISZOWSKI, 2004). É importante destacar que tais cursos não tinham relação com as já citadas capacitações de professores para a Educação Audiovisual. As especializações em Design Instrucional eram destinadas a formar outro tipo de profissional, o designer instrucional, não o docente de sala de aula. De fato, é nesta década que o Design em Tecnologia Educacional, sob o conhecido nome de Design Instrucional, constitui-se formalmente como disciplina, articulando teorias e práticas (antes dispersas) em um campo de estudos e experimentações mais bem delimitado, organizado e com respaldo acadêmico. De acordo com Reiser (2001a), houve certo ―rebuliço‖ terminológico durante os primeiros anos daquela década e os termos tecnologia educacional e tecnologia instrucional começaram a suplantar o uso de velhos termos como Instrução Audiovisual e Educação Audiovisual, embora os antigos cursos de capacitação docente para o uso das mídias audiovisuais no ensino continuassem a seguir seu caminho, muitas vezes bebendo nas teorias que prevaleciam nas especializações em Design Instrucional como o Enfoque Sistêmico.

Provavelmente, o acontecimento mais marcante da década de 1970, para o campo, tenha sido o início do funcionamento da Open University. Embora planejada e implementada nos anos anteriores, as primeiras turmas a ―ingressar‖ na instituição o fizeram no ano de 1970. O sucesso da proposta da Open University foi tamanho que, a partir da experiência britânica,

várias outras instituições de formato semelhante foram fundadas em outros países. E mesmo o material didático da Open University passou a ser adotado massivamente por outras instituições. De acordo com Romiszowski e Romiszowski (2004), já em 1975, a quantidade de kits de materiais didáticos vendidos pela universidade através de livrarias era sete vezes maior que o número de alunos matriculados, atestando a popularidade do Design Instrucional da instituição.

Segundo Azevedo (2012), no final daquela década tentou-se implementar um sistema semelhante ao da Open University no Brasil em parceria com a Universidade de Brasília - UnB, entretanto, devido, em grande medida, ao preconceito em relação à EaD, entendida por alguns como um supletivo de smoking, a iniciativa naufragou. De toda forma, no seio dessa experiência malsucedida surgiu o antigo Telecurso de 1º Grau (atual Telecurso 2000), desenvolvido em parceria com a Fundação Roberto Marinho, iniciativa de EaD apoiada em televisão/vídeo e material impresso que é levada adiante nos dias de hoje pela mesma fundação em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e o sistema S32.

A década de 1970 foi marcada pela divulgação crescente do Enfoque Sistêmico, inclusive através de respeitadas publicações da Unesco. Mas nem só desta abordagem vivia o Design Instrucional, de acordo com Romiszowski e Romiszowski (2004), muitas abordagens, não necessariamente novas, proliferaram, sendo que em cada país a recepção às propostas variava. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mais comum era o surgimento de grupos rivais (paróquias) que trabalhavam de acordo com uma metodologia específica sem intercambiar princípios com as demais; já na Inglaterra, as inovações tendiam a ser incorporadas por behavioristas, cognitivistas e outros grupos, sem o espírito de rivalidade que existia em muitos grupos de estudiosos estadunidenses. De acordo com Reiser (2001b), ao final da década de 1970 já existiam mais de 40 modelos de Design Instrucional.

Pelo que se apreende no relato de Romiszowski e Romiszowski (2004), a década de 1970 foi marcada também por certa estabilidade no sentido de que muitas das propostas que haviam sido desenvolvidas nas décadas anteriores puderam ser joeiradas, difundidas e muito experimentadas, ou seja, a inovação teórico-metodológica, embora tenha existido, serviu-se, em grande medida dos trabalhos anteriores de referências como Skinner, Bloom, Gagné, e

32 O sistema S engloba um conjunto de instituições voltadas à formação de profissionais para o trabalho na

indústria e no comércio como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Social do Comércio (Sesc).

mesmo de outros autores e grupos menos conhecidos que desenvolveram propostas interessantes na década de 1960, mas só encontraram terreno fértil para divulgá-las de forma mais abrangente na década de 1970. Para esse cenário de relativa estabilidade no Design em Tecnologia Educacional também devem ter contribuído as tímidas inovações no campo das Tecnologias de Informação e Comunicação. De fato, se nas décadas anteriores (1940, 1950 e 1960) difundiram-se muitas tecnologias audiovisuais com forte apelo instrucional como a televisão e o rádio, um novo rebuliço não aconteceria nos anos 1970, mas em meados dos anos 1980 com a difusão da computação pessoal. Assim, durante a década de 1970 o Design Instrucional ocupou-se em afirmar sua identidade como disciplina e espaço de formação profissional.

Entre as ideias propostas nos anos 1960 que tiveram ampla divulgação nos anos 1970 é digna de citação a tradução para a língua portuguesa de ―The Conditions of Learning‖ de Gagné. Como já foi dito, a obra procurou conciliar o que havia de útil em diferentes abordagens como o Behaviorismo, as propostas cognitivistas e tendências da Psicologia Humanista. No Brasil, o livro chamou-se ―Como se Realiza a Aprendizagem‖. Romiszowski e Romiszowski (2004) ainda consideram relevantes as contribuições de Thomas Gilbert, cujas obras popularizaram os princípios instrucionais behavioristas considerados mais eficientes, deixando de lado os princípios equivocados que, muitas vezes, tinham sido divulgados pelo próprio Skinner. Também ganhou popularidade o trabalho de Robert Horn, cuja equipe criou a Metodologia de Mapeamento da Informação, uma proposta que elencou os princípios fundamentais para a organização de informações em mídia textual com intenção pedagógica. Por fim, cabe citar a equipe de Anthony Hodgson, desenvolvedora da Metodologia da Comunicação Estrutural, proposta orientada à produção de recursos didáticos que favorecem reflexão profunda sobre temas em disciplinas cujos conteúdos são, por natureza, mal estruturados e/ou suportam múltiplas interpretações como a Literatura e a Filosofia. Todos esses trabalhos foram gerados na década de 1960, mas obtiveram ampla divulgação nos anos 1970.

Na informática educativa, os sistemas EAC evoluem para sistemas de Aprendizagem Inteligente Assistida por Computador – AIAC (Intelligent Computer Assisted Learning – ICAL). Incorporando recursos de inteligência artificial, tais sistemas são capazes de adequar o grau de dificuldade das situações de aprendizagem segundo o nível de maior ou menor maestria de cada estudante no conteúdo a ser aprendido. De fato, mesmo as estratégias didáticas podem ser modificadas pelo sistema segundo as necessidades diagnosticadas durante

o percurso de aprendizagem de cada estudante. Segundo Baranauskas et al (1999, p. 50), ―[...] o programa pode tomar decisões sobre o quê ensinar, a quem ensinar e como fazê-lo‖. Atualmente, tais sistemas são conhecidos como Sistemas Tutoriais Inteligentes – STI (Intelligent Tutoring Systems - ITS), e continuam a ser objeto de pesquisa acadêmica e desenvolvimento (BARANAUSKAS et al, 1999).