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PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO (PPC): CONCEPÇÃO E FUNÇÃO

O Projeto Pedagógico de Curso – PPC de cada licenciatura em Pedagogia a distância oferecida pelas universidades federais da região Nordeste será objeto de nossa análise, como especificado em nossa metodologia. Diante disso, consideramos pertinente realizarmos uma breve discussão sobre as relações ente o PPC e outros documentos como o Projeto de Desenvolvimento Institucional – PDI e o Projeto Pedagógico Institucional – PPI. Não menos importante é compreendermos quais as principais atribuições do PPC enquanto documentação norteadora do desenvolvimento e execução de cursos superiores.

3.1 PDI, PPI e PPC – inter-relações esperadas

O desenvolvimento de uma Instituição de Ensino Superior – IES é um processo que, obviamente, requer cuidadoso planejamento e estipulação de objetivos e metas. O documento no qual devem estar descritos os processos que conduzirão a instituição rumo àquilo que for estabelecido para um período de aproximadamente cinco anos é o Projeto de Desenvolvimento Institucional – PDI. Segundo Silva (2011), o PDI deve estar em plena sinergia com outro documento, o Projeto Pedagógico Institucional – PPI, que delineia o compromisso pedagógico da instituição em termos filosóficos e ideológicos, ou seja, os valores que orientam a formação profissional oferecida.

A importância do PDI e do PPI é tamanha que a análise dessa documentação é um dos requisitos para o credenciamento e recredenciamento de IES. Espera-se que o PDI descreva, além dos objetivos e metas da instituição, qual a sua missão na área em que atua ou pretende atuar, sua política de qualificação para o corpo docente, sua estrutura e dinâmica de organização administrativa, seu histórico de implementação de projetos de desenvolvimento anteriores (quando for o caso) e o esquema de sustentabilidade da instituição (SILVA, 2011).

Se o PDI tem um caráter mais administrativo e/ou gerencial, o PPI deve ser fruto de uma discussão entre representantes das categorias docente e discente sobre o conceito de educação que a instituição pretende sustentar (SANCHES, 2009; SIMÕES, 2012). É preciso considerar o tipo de sujeito que se pretende formar e a proposta de sociedade que se busca desenvolver. Este tipo de reflexão permeia todo o PDI, mas é no PPI que ela se manifesta de maneira mais contundente, na medida em que todas as finalidades estatutárias, todos os

objetivos previstos no regimento, todos os princípios e valores da instituição são traduzidos em intenções e propostas eminentemente pedagógicas que a instituição pretende manter ou implantar. Tal ―carta de intenções‖ deve estar consistentemente fundamentada em propostas de inserção regional e em dados que justifiquem os cursos oferecidos e revelem conhecimento e alta consideração às demandas da região e seu mercado de trabalho. (SILVA, 2011; SANCHES, 2009; SIMÕES, 2012). Cabe ao PPI expressar a concepção de ensino defendida pela instituição, bem como as diretrizes curriculares de seus diferentes cursos, programas, projetos e planos de ação. Segundo Simões (2012), as políticas de capacitação docente e atenção aos discentes também devem estar delineadas no PPI, com metas e respectivas estratégias claramente descritas.

Sendo uma instituição social, toda IES relaciona-se de alguma maneira com o seu entorno e mesmo com espaços sociais mais distantes por meio das TICs. Toda IES é afetada pelas dinâmicas sociais nas quais está implicada, hora modificando-as, hora sendo por elas modificada. Sanches (2009) considera que os papéis privilegiados de uma IES são os de produzir e divulgar o saber científico, e levando a cabo essas tarefas ela interfere nos sistemas sociais em que se insere. Logo, na visão da autora, é neste processo que o PPI ganha vida e realiza-se, uma vez que todas as ações pedagógicas da instituição estão previstas no documento e expressam (ou devem expressar) as intenções políticas e pedagógicas de seus proponentes, além da visão de gestão que a instituição pretende sustentar perante a comunidade acadêmica e o público mais amplo (SIMÕES, 2012). É o PPI que significativamente dá o tom da interação entre a IES e os demais segmentos sociais, especialmente no que diz respeito à organização do trabalho pedagógico conduzido na e pela instituição.

O Projeto Pedagógico Institucional se constitui, então, no documento que apresenta proposta pedagógica mais ampla e duradoura, tais como a missão, a vocação e sua visão de mundo mediada pelo papel da Educação Superior. Assim, é um instrumento político, filosófico e teórico-metodológico que subsidiará as ações acadêmicas da instituição, seja por meio do ensino, da pesquisa e da extensão. (SANCHES, 2009, p. 136)

O PPI é o grande farol que deve iluminar a concepção do PPC. Se o PPI tem um caráter pedagógico mais geral, o projeto pedagógico de cada curso tem caráter bem mais específico, dando um direcionamento mais objetivo às grandes linhas previstas no PPI. Em poucas palavras, o PPC orienta a formação profissional oferecida pelo curso ao qual se refere,

considerando o arcabouço teórico-filosófico e metodológico existente no PPI e a realidade social na qual os formadores e formandos se inserem.

3.2 Projeto Pedagógico de Curso: o que é?

O PPC, como dito, precisa estar em total sinergia com o PPI e o PDI da instituição, contudo, é preciso considerar ainda as Diretrizes Curriculares Nacionais estabelecidas pelo Ministério da Educação – MEC para cada um dos cursos que a IES oferece ou pretende oferecer. Desta forma, espera-se que o PPC apresente as metas e orientações (tanto organizacionais quanto operacionais) que devem nortear a prática pedagógica do referido curso, a grade curricular, as ementas e bibliografias das disciplinas, o perfil profissiográfico do concluinte, ou seja, todas as habilidades cognitivas, técnicas e atitudinais que se desejam ver desenvolvidas nos egressos, bem como tudo o que estiver relacionado ao desenvolvimento do curso (SIMÔES, 2012).

É necessário que o PPC apresente, de forma detalhada, as condições de oferta do curso, considerando sua vocação à luz das condições políticas, geográficas e sociais implicadas. Toda a carga horária de cada uma das atividades didáticas e da integralização do curso deve ser expressa, assim como as formas de avaliação das práticas de ensino e dos retornos de aprendizagem. Também é tarefa do PPC explicitar de quais maneiras a interdisciplinaridade será operacionalizada, além da integração entre teoria e prática. Nos casos pertinentes, o documento deve ainda fazer menção às formas de integração entre a graduação e a pós-graduação, e entre a graduação e a iniciação à pesquisa. Cabe ao PPC, ainda, deixar claras a concepção e a composição das atividades complementares e de estágio. (SIMÕES, 2012). O quadro abaixo sintetiza a estrutura de um PPC:

Tópico Descrição

Apresentação Resume as finalidades, estrutura e dinâmica do PPC.

Justificativa De forma sucinta, esclarece as condições de oferta do curso, justificando-o do ponto de vista técnico e político.

Objetivos À luz do PPI, indica como alguns dos princípios

e diretrizes institucionais materializam-se na proposta do curso considerando a área de conhecimento em questão, a legislação

profissional e educacional.

Perfil profissiográfico Descreve o perfil ou os perfis profissionais dos concluintes e as respectivas habilidades, competências e capacidades de ordem científica, humanística e cidadã que devem ser desenvolvidas pelos cursistas ao longo de sua formação naquela área de conhecimento, considerando-se em particular as demandas sociais implicadas.

Áreas de atuação Descreve os campos nos quais o profissional formado no curso deverá atuar.

Papel dos docentes Compromissos a serem abraçados pelos docentes, em termos comportamentais e atitudinais, no âmbito de sua atuação no curso tendo em vista a concretização do que está estabelecido no PPC.

Estratégias pedagógicas Considerando os objetivos de

ensino/aprendizagem do curso, este item oferece o planejamento das atividades de cunho pedagógico que envolvem docentes, discentes e funcionários técnicos e administrativos.

Currículo Elenca as disciplinas acadêmicas e temas

relevantes à formação profissional na área de conhecimento em questão, considerando a legislação educacional, profissional, o PPI e as questões de ordem social e política relacionadas ao curso e ao profissional que se pretende formar. O currículo considera, ainda, os imperativos da flexibilidade (para garantir a atualização paradigmática) e da interdisciplinaridade. O item também apresenta os objetivos do currículo, que devem contemplar as dimensões formativas intelectual, afetiva, psicomotora e ético/cidadã.

Todo componente curricular (disciplina ou atividade) deve estar devidamente identificado com seu respectivo código, nome do departamento ofertante, natureza (se obrigatória ou eletiva), objetivos, conteúdo programático, bibliografia (básica e complementar), carga horária, participação docente, quantidade de créditos, atividades previstas e se são necessárias matrículas sucessivas para a integralização do componente. O currículo ainda estabelece a formação específica (núcleo

fixo de disciplinas e atividades), a formação complementar (disciplinas e atividades eletivas) e a formação livre (atividades acadêmicas de interesse individual do estudante e que não fazem parte da formação específica nem complementar).

Recursos humanos Identifica o corpo docente, sua qualificação, regime de trabalho e envolvimento em atividades de ensino (na graduação e pós- graduação), pesquisa e extensão. O quantitativo de funcionários técnicos e administrativos que dão suporte às atividades do curso também é parte integrante deste item.

Recursos materiais ou infraestrutura São descritos os recursos materiais (salas de aula, bibliotecas, recursos midiáticos etc.) disponíveis e/ou necessários ao funcionamento do curso. É preciso indicar os recursos que pertencem à instituição, à faculdade/unidade/instituto/centro acadêmico e ao curso. A relação entre tais recursos, o currículo e as práticas de ensino/aprendizagem deve estar clara neste item, bem como a relação ideal entre o quantitativo de discentes e o uso dos recursos.

Procedimentos de avaliação Processos, instrumentos e instâncias de avaliação do ensino, da aprendizagem e do curso são descritos neste item, de forma a explicitar a coerência entre a concepção do curso e suas práticas avaliativas. A autoavaliação do curso por parte do colegiado, do corpo docente e do corpo discente deve ter, neste espaço, sua dinâmica explicitada. No caso da EaD, também devem ser previstas as avaliações dos materiais didáticos, dos recursos comunicacionais e de todo o sistema que permite o acompanhamento dos estudantes. Instrumentos normativos de apoio Este item aponta quais os documentos que

balizam os instrumentos e instâncias de gestão acadêmica e administrativa do curso. Geralmente o curso conta com Regulamento próprio e observa as Normas Gerais da Graduação, o Regimento Geral e o Estatuto da instituição.

Quadro 7 – Estrutura básica de Projeto Pedagógico de Curso com base em Simões (2012). Fonte: Própria autora