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D OCENTES QUALIFICADOS

No documento Educação e formação em turismo (páginas 76-82)

2 Ver Tabela n.º

D OCENTES QUALIFICADOS

Dificilmente se consegue por em prática um sistema de educação e formação sem um dos pilares principais de sustentação do mesmo: os professores.

Da “tenra” idade do turismo é possível depreender que o sector carece de educadores/formadores qualificados, sobretudo com experiência e qualificações académicas. Apenas recentemente começaram a surgir os primeiros profissionais de educação com formação específica em turismo, e com aptidões reconhecidas para formar técnicos qualificados.

Apesar de não constituírem os beneficiários directos dos planos curriculares, são uma das peças chave para o incremento de um processo educativo de qualidade. O contributo destes profissionais de educação para a definição dos planos curriculares e para a introdução da inovação é, igualmente, relevante.

Existe um conjunto de áreas formativas que começam a revelar-se fundamentais no processo de formação dos profissionais de turismo, desde as tecnologias de informação e comunicação, à gestão da qualidade, passando pelo marketing e

contínua ao longo da sua carreira profissional, encarada como investimento e factor de desenvolvimento.

INVESTIGAÇÃO

A qualidade dos conhecimentos transmitidos aos alunos depende do grau de conhecimento assimilado pelo professor. Obviamente que sem investigação este conhecimento pára no tempo e fica desactualizado, prejudicando os alunos a quem é transmitido. Sem uma cultura de investigação consolidada e sem pesquisa é impossível inovar e como tal, ensinar com qualidade.

Os conhecimentos existentes nas mais diversas áreas são o resultado de décadas de investigação. Contrastando com a maioria das áreas do conhecimento em que educar e investigar estão directamente relacionadas, a educação em turismo e a investigação em turismo cresceram de forma independente. Esta situação levanta alguns problemas, nomeadamente, em função da distância que existe entre os educadores e os investigadores. Estes últimos tendem a ver a investigação em turismo como uma extensão da sua própria formação, em vez de a encararem como parte integrante do campo de estudo que é o turismo. (Jafari 1981)

O interesse pela investigação em turismo é pois relativamente recente, justificando o atraso considerável em termos de trabalhos publicados quando comparado com as restantes áreas de conhecimento. Sendo um sector tão fragmentado e multifacetado, as possibilidades de investigação são bastante amplas.

A universidade constitui um bom exemplo da ligação estreita e profícua que existe entre a investigação e a educação, e dos resultados que produz. As questões que vão surgindo durante o processo de ensino constituem o mote para novas investigações, que por sua vez contribuem para enriquecer os conteúdos dos programas educativos.

RESUMO

Esta abordagem à educação e formação em turismo permitiu detectar um conjunto de factores que influenciam o futuro da educação e formação em turismo. (Chuck Y Gee em OMT 1995, 1996)

− Crescimento espontâneo e intensivo – sinónimo de falta de planeamento e de crescimento desorganizado, influenciando negativamente a imagem do sector. O crescimento quantitativo deve ser acompanhado por um crescimento qualitativo e sustentado, de forma a não inviabilizar o usufruto dos recursos turísticos pelas gerações futuras.

− Existência de pequenas empresas, de carácter familiar – o turismo, enquanto sector de actividade, apresenta-se bastante fragmentado e dominado por pequenas e médias empresas, na sua maioria geridas por indivíduos com pouca ou nenhuma formação em turismo.

− Sazonalidade – o turismo é afectado pela tendência generalizada dos fluxos turísticos em se concentrarem em períodos mais ou menos curtos do ano. O carácter sazonal e temporário da actividade turística, fruto de um conjunto de condicionantes económicas, climáticas e sociais, está na origem da instabilidade e falta de motivação dos profissionais do sector, que rapidamente se acomodam e, salvo algumas excepções, não procuram alargar os seus conhecimentos.

− Reconhecimento de acordo com o grau de formação – o reconhecimento financeiro e a exigência de um determinado nível formativo por parte das empresas de turismo, para além de constituir uma mais valia para a empresa em termos de eficiência e produtividade, seria uma forma de contribuir para o reconhecimento social da profissão.

− Variedade de serviços e actividades – a polivalência e flexibilidade que se exige aos profissionais de turismo, dificulta a especialização numa determinada actividade.

determinou que fosse considerada uma prioridade menor no contexto educativo geral.

− Estandardização – a crescente globalização do mercado turístico determina a necessidade de estabelecer standards universais de qualidade e prestação de serviços, que os turistas esperam encontrar em qualquer local que visitem. − Formação contínua – a aprendizagem não deve ser encarada apenas como

um processo inicial de preparação dos recursos humanos para o mundo do trabalho, mas também como um processo contínuo ao longo da vida dos profissionais, que lhes permita progredir através de diversas oportunidades de emprego nas diferentes áreas de actividade do turismo. O sistema de ensino deve reestruturar-se de forma a possibilitar esta aprendizagem. Educar e formar em turismo não significa apenas preparar indivíduos para integrar o sector, mas também criar oportunidades de aperfeiçoamento das suas capacidades ao longo da vida, através de especializações e pós graduações. Trata-se ainda de criar mecanismos que permitam chegar aos profissionais no activo que não tiveram acesso à educação ou formação em turismo, mas que demonstrem vontade e reconhecem a necessidade de o fazer.

− Cooperação – o desenho do sistema educativo em turismo, para ser eficiente, pressupõe a cooperação entre os diversos intervenientes no sector, sejam eles de índole pública ou privada, nomeadamente, entidades governativas, instituições de ensino, alunos e tecido empresarial.

− Qualidade – a aposta assumida na educação e formação em turismo poderá contribuir para o incremento do sector, respondendo às necessidades reais de recursos humanos manifestadas pela indústria. A qualidade da educação e formação em turismo deve constituir um meio privilegiado para atingir esse fim: educar e formar para ser competitivo, sendo competitivo na educação e formação dos recursos humanos.

− Investigação – o turismo é um sector carenciado de reflectir acerca de si mesmo. Os profissionais do sector não podem conformar-se com os factos que lhes são transmitidos, mas procurar entender as razões por detrás dos mesmos. Trata-se de criar uma cultura de reflexão crítica e analítica através da investigação. A investigação está ligada à necessidade constante de actualização de conhecimentos. Da mesma forma que não é possível planear sem estratégia, não é possível formar sem conhecimento.

Face a estes problemas inerentes ao turismo português e ao sistema de educação e formação, impõem-se um conjunto de desafios futuros, susceptíveis de melhorar a situação actual.

− Articulação entre a oferta formativa e as necessidades da procura empresarial; − Acompanhamento e avaliação contínua do processo educativo;

− Definição de padrões de qualidade;

− Adaptação dos conteúdos e métodos de ensino às necessidades de um sector heterogéneo, complexo, inconstante e exigente;

− Formação contínua do pessoal docente;

− Definição de sistemas de certificação e reconhecimento internacional;

− Aposta em áreas estratégicas: gestão da qualidade, planeamento estratégico, marketing turístico, tecnologias de informação, gestão de espaços turísticos, gestão ambiental, criação de novos produtos.

3.5.CONCLUSÃO

Conforme ficou demonstrado, o sucesso da actividade turística está intimamente ligado à qualidade do serviço prestado pelos profissionais que operam no sector. Por seu lado, a qualificação dos profissionais depende da existência de um sistema de educação e formação em turismo devidamente estruturado, adequado à realidade turística actual.

Por todas as razões apontadas nos capítulos anteriores, investir na formação dos recursos humanos poderá condicionar o futuro do turismo, pese embora a versatilidade do sector e o facto dos benefícios serem visíveis apenas a médio/longo prazo.

Os empresários que encaram a formação como um custo, que contratam pessoal indiferenciado sem qualificações e optam por não investir na formação dos mesmos, apenas se iludem ao acreditar que estão a cortar nos custos e que desta forma é possível manter os clientes satisfeitos. Na maioria dos casos, apesar dos benefícios da educação e formação não serem imediatos, revelam-se bastante compensatórios pelo valor que é acrescentado ao serviço, pela forma como eleva o nível de profissionalismo e melhora a performance e a produtividade.

Na verdade trata-se de uma reacção em cadeia: um sistema de educação e formação em turismo bem definido e enquadrado com a realidade turística produz profissionais qualificados, que por sua vez prestam serviços de qualidade superior, ajudam a fidelizar os clientes e a aumentar a produtividade das empresas. O valor que é acrescentado à indústria no seu todo traduz maior riqueza para o país, beneficiando simultaneamente os turistas e os residentes. Quanto maior for o grau de satisfação dos turistas e residentes, maiores serão as probabilidades de recomendarem o destino ou o serviço, prolongando assim os benefícios da reacção em cadeia.

Porém, basta analisar o actual sistema de educação e formação para facilmente constatarmos que este ainda se rege pelos princípios característicos dos sistemas rígidos de educação herdados do passado, e não pela necessária adaptação à satisfação das necessidades do sector, tanto actuais como futuras. Tendo em consideração a procura crescente de recursos humanos qualificados, mais tarde ou mais cedo, a educação e formação em turismo terá necessariamente de ocupar o seu lugar no sistema português de ensino.

Apesar de se afirmar cada vez mais como uma via estratégica para alcançar competitividade, e de se multiplicarem as investigações e esforços no âmbito da educação e formação em turismo, continua a ser preocupante a falta de acções concretas.

No documento Educação e formação em turismo (páginas 76-82)