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I NQUÉRITO P RELIMINAR

No documento Educação e formação em turismo (páginas 103-108)

2 Ver Tabela n.º

Especialização 25 Itinerários de formação de longa duração, que

4.2.4. I NQUÉRITO P RELIMINAR

Um dos primeiros passos realizados no âmbito da elaboração da presente dissertação, consistiu na aplicação de um inquérito, de resposta simples e breve, a instituições de ensino públicas e privadas que ministram cursos na área do turismo.

Este inquérito constituiu o primeiro contacto estabelecido com as entidades que assumem a responsabilidade de formar os futuros profissionais do sector, e por conseguinte com a realidade da educação e formação em turismo em Portugal.

A opção por aplicar o inquérito na fase inicial de elaboração da presente dissertação não constituiu uma decisão precipitada, antes pelo contrário. As respostas obtidas permitiram adquirir uma melhor percepção do actual sistema de educação e formação em turismo, ao mesmo tempo que facilitou o processo subsequente de pesquisa, ao permitir orientar e optimizar a procura de informação, evitando desvios de tempo e de recursos.

Das instituições de ensino existentes a leccionar no âmbito do turismo, foram seleccionadas 20, aleatoriamente, entre estabelecimentos de natureza privada e pública. O processo de devolução dos inquéritos foi relativamente breve e a taxa de respostas obtidas foi de 80 %.

O inquérito constou de 14 perguntas abertas acerca dos seguintes itens, cada um deles correspondendo a temas de investigação pertinentes no âmbito da presente dissertação:

a) Designação e data de criação do curso; b) Identificação do coordenador;

c) Duração dos cursos e condições de acesso; d) Reestruturações efectuadas até à data; e) Vagas disponíveis e alunos matriculados; f) Docentes com formação específica em turismo; g) Área de formação do restante quadro docente; h) Estágio curricular;

i) Articulação com o sector empresarial; j) Realização de um projecto de investigação; k) Saídas profissionais.

Apesar da questão relativa à designação do curso poder ser confundida com uma mera questão introdutória, a sua inclusão no inquérito foi propositada. Das 16 respostas obtidas, 6 instituições indicaram “Turismo” como sendo a designação do curso; 4 enquadram-se na área da gestão, planeamento e desenvolvimento; 2 no âmbito da recreação e lazer e os restantes em áreas diversas, tais como, ecoturismo, turismo e mar, hotelaria e termalismo. Esta diversificação de designações evidencia uma tendência para a especialização dentro do universo do turismo, como resposta à heterogeneidade que caracteriza o sector e à multiplicidade de necessidades implícitas que é necessário satisfazer.

De referir a aposta crescente e positiva na formação em gestão e planeamento, uma vez que diversos estudos demonstram que o sector carece de profissionais habilitados para actuar a um nível mais estratégico.

A questão referente à duração do curso e ao grau académico correspondente, evidenciou uma clara predominância de licenciaturas e licenciaturas bietápicas, sinónimo de uma aposta progressiva na qualificação.

Por outro lado, o facto dos conteúdos, estrutura e duração dos cursos oferecidos serem decididos pelas instituições individualmente, indicia uma visão muito restrita do sector e das suas necessidades práticas. Neste sentido, torna-se difícil garantir a qualidade dos programas curriculares, os quais devem ser desenvolvidos com base nas necessidades sector, do consumidor e do mercado em geral.

A questão referente à formação dos docentes revelou duas realidades quase extremas: por um lado, instituições sem nenhum docente com formação específica em turismo, ou apresentando valores muito residuais entre 1 e 3; por outro, exemplos claros da valorização do conhecimento de base em turismo, com instituições a funcionar com 8/9 docentes com formação específica nesta área.

Os restantes elementos do corpo docente são geralmente profissionais cuja formação de base possui afinidades com o turismo, situação nada anómala se considerarmos a quantidade de disciplinas com que o turismo se interrelaciona.

geralmente empresas e organizações privadas do sector; administração pública central, regional e local; organismos nacionais e internacionais.

Uma outra forma de testar a aplicação dos conhecimentos adquiridos consiste na realização de um projecto de investigação, de um modo geral realizado no último ano do curso, no âmbito de disciplinas como Seminário ou Projecto. Das instituições inquiridas, apenas duas afirmaram não incluir a realização de um projecto no plano curricular. Factor que se revela igualmente positivo na persecução de um ensino equilibrado em termos de conhecimento teórico e aplicação prática do mesmo. A interacção entre investigação e educação deve ser fomentada de forma contínua. Na realidade, os conteúdos programáticos dos cursos de turismo são demasiado teóricos e para além de estágios demasiado curtos e um trabalho de investigação final, pouco mais é feito para aumentar o conhecimento prático dos alunos, influenciando o tempo real que os mesmos demoram a tornarem-se totalmente operacionais dentro da organização onde trabalham.

A questão da articulação com o sector empresarial foi introduzida no inquérito, não só na perspectiva de celebração de protocolos para realização estágios, mas também em termos de realização de seminários, colóquios, workshops, fóruns e visitas organizadas, através dos quais os futuros profissionais possam beneficiar da experiência adquirida das empresas do sector. Por outro lado, procurou-se saber se existem protocolos entre as instituições e empresas do sector para a realização de investigação e projectos conjuntos.

Relativamente a esta questão, todas as instituições declararam estar de alguma forma em contacto com o sector empresarial, tendo em consideração os benefícios decorrentes em termos de criação de sinergias e parcerias estratégicas.

A questão referente às saídas profissionais encerrou o inquérito. Apesar da tendência verificada para especialização dos cursos em determinadas áreas, nenhum curso apontou apenas para uma carreira dentro do sector do turismo. As saídas profissionais indicadas foram praticamente as mesmas, deixando subentender uma preocupação das instituições em praticar um ensino flexível que permita aos futuros profissionais adaptar-se a diversas funções e actividades dentro do sector.

4.3.5.SÍNTESE

Os dados recolhidos e apresentados no âmbito da presente dissertação, permitem tecer algumas considerações acerca da educação e formação em Portugal, com especial destaque para o ensino do Turismo.

No início do capítulo constata-se que todo o individuo tem direito à educação e à formação e, como tal, compete ao Estado desenvolver acções no sentido de permitir a concretização do acesso às mesmas. A criação da Lei de Bases Sistema Educativo constitui uma dessas acções, tratando-se do documento que orienta toda a política educativa do país, onde se inclui o ensino do turismo.

O processo de desenvolvimento turístico e o consequente aumento da oferta de serviços e da necessidade de profissionais qualificados para assegurar essa mesma oferta, determinaram o aparecimento, na década de 50, do primeiro estabelecimento de ensino de turismo na área da formação turística e hoteleira.

O boom verificado na década de 60 instigou o Estado a criar um instituto de formação específico na área do turismo, o INFTUR, entidade que continua a dar provas da prossecução da qualidade no ensino do turismo.

Os primeiros passos em matéria de ensino superior foram dados no final da década de 80, curiosamente por instituições de ensino privado. Desde então assistimos a um aumento progressivo de cursos, com as mais variadas designações, num sinal claro do valor que o sector assume no processo de desenvolvimento do país.

Não obstante este aumento, o ensino em turismo permanece conotado com um ensino menor quando comparado com as restantes áreas do conhecimento. A titulo de exemplo, durante anos o turismo constituiu uma disciplina subsidiária de cursos de economia, geografia e sociologia, sem força suficiente para se afirmar como disciplina independente.

O desprestígio é claramente visível no rosto das pessoas quando questionam os profissionais de turismo acerca da sua formação, chegando mesmo a afirmar que desconheciam a existência de cursos superiores na área do turismo.

de cursos ministrados tem evoluído de forma contínua, com especial destaque para a diferença exígua que existe entre o número de cursos do ensino superior público e do privado, evidenciando um interesse crescente do último no sector.

Ainda a nível superior, o número crescente de pós-graduações e a criação de cursos de mestrado em turismo, demonstram a necessidade de qualificação e especialização sentida actualmente pelo sector.

A educação e a formação em turismo no nosso país melhoraram, significativamente, nos últimos anos, reflectindo o peso do sector para a economia portuguesa. Assistimos a uma proliferação de estabelecimentos de ensino público e privado que oferecem cursos na área do turismo. Porém, esta proliferação ainda peca pela falta de planeamento.

Atingir a qualidade desejada, quer ao nível de quem tem por missão transmitir conhecimentos, quer ao nível dos profissionais de turismo, actuais e futuros, pressupõe uma redefinição do sector, no qual se inclui, obviamente, a oferta educativa e formativa em turismo.

A principal conclusão a tirar desta análise é a de que a educação e formação dos profissionais do sector constitui a chave do desenvolvimento sustentável do turismo no novo século/milénio. O turismo contemporâneo pressupõe a existência de uma força de trabalho educada, inteligente, empreendedora e com espírito de iniciativa, sensível às questões ambientais, adaptável às exigências dos consumidores e capaz de acompanhar os avanços tecnológicos.

A qualificação dos recursos humanos deverá permitir às empresas ganhar vantagens competitivas face aos seus concorrentes e adicionar valor acrescentado ao serviço prestado, porque na realidade em turismo são as pessoas que fazem a diferença.

No documento Educação e formação em turismo (páginas 103-108)