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da ausência de erro ou falha na prestação do serviço

No documento rdj102 (páginas 192-196)

Alegam os autores, L.F.T.B. e L.T. de M., que: 1) a prestação do serviço do réu foi defeituosa; 2) existem dois tipos de exames Beta-HCG para detecção do hormô- nio Gonodotrofina Coriônica: o B-HCG quantitativo, e B-HCG qualitativo; 3) o B- -HCG quantitativo serve para excluir o resultado de uma gravidez ectópica (fora da cavidade uterina), no seguimento de uma mulher após situação de aborto, ou quando há suspeita de doença trofoblástica (tumor no lugar de gravidez); 4) o B- -HCG qualitativo tem como resultado uma gravidez positiva ou negativa, sem a especificação de quantidades ou taxas relativas à presença do hormônio, servindo somente para determinar a existência de uma gravidez; 5) o resultado do exame fornecido pelo réu não se trata do corriqueiro exame para gravidez, mas sim de exame para acompanhamento de sequelas pós-aborto ou presença de evolução de tumores relacionados ao aparelho reprodutivo; 6) foi fornecido o resultado do exame sem a especificação de que tipo de exame se tratava; 7) o serviço oferecido foi incompleto, defeituoso e inadequado, tendo induzido a autora em erro quanto ao resultado, que não apontou ser positivo para gravidez.

Sem razão os autores/apelantes.

A sentença está bem fundamentada e rebate por si só, pontualmente, os argumen- tos do apelo. Com o objetivo de atender aos princípios constitucionais da celeri- dade e efetividade da justiça, acolho como meus seus judiciosos fundamentos.

O feito está suficientemente instruído e apto a receber sentença. Não há questões preliminares a serem decididas, por isso examino diretamente o mérito.

Trata-se de pedido de indenização em que os autores alegam defeito na prestação do serviço pelo réu, que emitiu laudo de exame em que, segun- do alegam, foi negado o estado de gravidez da segunda autora. Em razão desta negativa, a segunda autora submeteu-se a uma cirurgia de correção do esôfago.

Contudo, embora o resultado exame tenha negado o estado gravídico, a autora encontrava-se grávida e a submissão a tal cirurgia, bem como a in- gestão de remédios muito fortes resultou em parto prematuro, tendo o pri- meiro autor nascido com problemas sérios de saúde e comprometimento de seu desenvolvimento físico.

O resultado do exame que gerou a presente lide foi acostado à fl. 49. A con- trovérsia reside na falta de especificação no corpo do laudo se a segunda autora estava ou não gestante, constando apenas valores de referência. Verifico constar o seguinte no laudo juntado à fl. 49:

“Resultado: 3.254,00 mUI/mL VALORES DE REFERÊNCIA: Masculino: abaixo de 5 mUI/mL

Feminino – não gestantes: Abaixo de 5 mUI/mL”

Numa análise entre o resultado emitido e os valores de referência, verifica-se que em caso de mulheres, resultados abaixo de 5 mUI/mL significam negativo para gravidez, ou seja “feminino – não gestantes”. O resultado do exame feito pela segunda autora apontou para um valor de 3.254,00 mUI/mL.

Infere-se, portanto, que o réu emitiu um laudo com resultado positivo para gravidez. E segundo as alegações feitas pela parte autora, a interpretação é que foi equivocada, pois em todas as manifestações feitas nos autos, a parte autora argumenta que o resultado do exame foi de 3 mUI/mL e, sendo

assim, apontava um resultado negativo. Mas, na verdade, consta o valor de 3.254,00 mUI/mL, ou seja, bem acima de 5 mUI/mL.

Constata-se que se havia alguma dúvida quanto ao estado da segunda au- tora, se grávida ou não, este fato não foi informado ao médico que realizou a cirurgia, pois este, ouvido em audiência, declarou não ter tido ciência de tal resultado, conforme se verifica nos trechos a seguir transcritos (fl. 308): “Que tratava-se de uma paciente jovem e uma cirurgia pouco comum e em face do tempo não se recorda se efetivamente solicitou o exame para fins de confirmação de gravidez. Que fez a cirurgia não sabendo que a paciente estava grávida. Que somente após um ano da cirurgia ou por ocasião da retirada dos pontos é que ficou sabendo pela própria mãe da operada que na época da cirurgia ela estava grávida. Que a cirurgia foi de acalasia do esôfago. Que a acalasia do esôfago pode ser tratada após o parto e que não recomenda a feitura durante a gravidez, mas não lhe foi dado ciência sequer do atraso menstrual. Acrescentou que a internação inicial da paciente era por pneumonia, sendo esse o ponto em que iniciou a acompanhar a pacien- te. Que a cirurgia mencionada, além de outras pode ser causa de um parto prematuro. (...) Que se tal exame de fl. 49 lhe fosse apresentado não teria feito a cirurgia. Que mesmo em casos extremos a melhor conduta é deixar transcorrer a gravidez e não intervir cirurgicamente, que a intervenção so- mente dar-se-ia em caso de gestação excepcionalmente.”

Verifico, portanto, que se a autora submeteu-se a cirurgia a que não poderia ter-se submetido por estar grávida, este fato não pode ser imputado ao réu. Conforme já salientado, o resultado de fl. 49 aponta para existência de gra- videz ainda que não esteja especificado com a palavra “POSITIVO”. Se havia alguma dúvida da segunda autora quanto à possibilidade de gravi- dez, ou se queria ter certeza de que não estava grávida, deveria ter apresen- tado o laudo ao médico assistente. Contudo, não o fez, e sequer relatou que encontrava-se com atraso menstrual, conforme foi relatado pelo próprio médico em audiência. Neste caso, se o médico tivesse dúvida na interpreta- ção do laudo, poderia ter solicitado outro exame.

Como se infere na petição inicial, a pretensão da autora fundamenta-se na existência de defeito na prestação do serviço por parte do laboratório que figura no polo passivo. Entretanto, não houve erro ou defeito na prestação do serviço, o que afasta a responsabilidade civil, não subsistindo o dever de indenizar.

Acrescento os fundamentos do parecer do Ministério Público de primeiro grau:

(...) A despeito disso, entende este órgão ministerial que também não hou- ve erro no fornecimento de informações pela empresa ré, de forma a com- prometer a correta fruição do serviço por ela prestado. A testemunha, ao analisar o exame em audiência, explicou que aqueles dados fornecem para um médico fortes indícios de estado gravídico – o que já era suficiente para inibir a realização da cirurgia (fl. 308). Por outro lado, ao falar em “fortes indícios” e “para um médico”, a testemunha indica que ela própria, sendo médico, não atestaria a gravidez só olhando para o exame. Sendo assim, não poderia o laboratório também fazê-lo.

Justamente por não poderem fazer esse tipo de assertiva que os laborató- rios limitam-se a instruir os exames que realizam com valores de referência, que servem apenas para mostrar o resultado obtido para aquele indivíduo insere-se ou não em um determinado padrão. A falta de identificação com a referência pode ter causas variadas, que o exame, por si só, não revela. Quanto à falta de advertência de que o exame deveria ser submetido à analise médica, tal fato não implica informação defeituosa. Assim como o exame não trouxe expressamente grafado “resultado positivo para gravi- dez”, como alegam os autores, também não está ali consignado “resultado negativo para gravidez”. O exame traz apenas a quantidade do hormônio gonadotrofina cariônica no sangue da autora, acompanhado dos valores de referência. É evidente que o entendimento de tais informações exige co- nhecimento técnico, de forma que ao interpretá-lo por conta própria, não tendo o conhecimento necessário para tanto, a autora assumiu o risco de fazê-lo erroneamente.

Por outro lado, a realização deste exame era pré-requisito para a realização do procedimento cirúrgico, e por esta razão foi exigido. A (sic) laboratório

não tem ingerência sobre a decisão do paciente de apresentá-lo ou não ao seu médico, ou deste em exigir ou não a apresentação. (fls. 730/731)

Assim, nego provimento ao apelo da autora, no ponto.

No documento rdj102 (páginas 192-196)