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Recursos providos.

No documento rdj102 (páginas 120-136)

da preliminar de inépcia da inicial

M. de F.V da S propôs esta “ação de ressarcimento de despesa hospitalares c/c danos morais” em face do DISTRITO FEDERAL, alegando que, devido à inexistên-

4. Recursos providos.

acórdão

Acordam os Senhores Desembargadores da 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Cruz Macedo – Relator, Fernando Habibe – Revisor, Arnoldo Camanho de Assis – Vogal, sob a presidência do Senhor Desem- bargador Fernando Habibe, em proferir a seguinte decisão: rejeitar a preliminar e, no mérito, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator, unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 10 de julho de 2013.

relatório

APC 2004 01 1 096539-8

Na origem, o PARTIDO TRABALHISTA NACIONAL – PTN ajuizou, em 6/10/2004, ação ordinária contra J.S.E., O.S.S., M.D. e T.T.R., alegando, em suma, que os réus simula- ram a realização de assembleia-geral extraordinária da agremiação em 10/7/2003, a fim de alterar o programa, estatuto e a organização interna, o que teria sido comprovado por declaração do Diretor-Geral da Câmara dos Deputados, em cujo auditório se teria realizado a solenidade – o que, ainda, redundou em inquérito policial que indiciou o réu O. pela prática do crime de uso de documento falso (art. 304, Código Penal).

Prossegue afirmando que o grupo integrado pelos réus simulou mais reuniões da Comissão Executiva Nacional do Partido: em 4/7/2004, em que se decidiu anular a convenção de 1/11/2003, afastar J.M. de A., então 1º Vice-Presidente, e decretar a intervenção no diretório municipal de São Paulo, nomeando-se comissão inter- ventora; na mesma data, decidiu reorganizar a Comissão Executiva Nacional (CEN), elegendo novos membros, expulsando J.M. de A., destituindo o então Presidente, D.M. de A., e elegendo o ora réu J.S.E. para esse posto.

Ocorre que em 11/9/2004 o Diretório Nacional (DN) do PTN reuniu-se, com a pre- sença dos réus, e deliberou pelo afastamento dos “membros omissos” da CEN, a fim de completar o mandato até 9/5/2005, quando deveria haver eleição dos novos membros, bem como pela anulação da Convenção Nacional de 10/7/2003

e todos os atos praticados com fundamento no estatuto ali aprovado, e ainda das reuniões realizadas em 4/7/2004, com o mesmo fundamento.

Enfatiza que o único Estatuto que rege o funcionamento partidário é o apro- vado pelos membros da Comissão Diretora Nacional Provisória registrado em 29/11/1995, contendo exigências para eventuais alterações estatutárias (ampla divulgação e convocação prévia, comissões especiais, entre outras), cuja inobser- vância, na espécie, agravada com a falsificação da ata de reunião não realizada na Câmara dos Deputados, torna sem efeito as alterações perpetradas e os atos vinculados posteriores.

Pede então a declaração de nulidade das pretensas atas das reuniões irregulares, ou seja, as ocorridas em 10/7/2003 (reforma do Estatuto), 4/7/2004 e 18/7/2004, anulando-se os registros correspondentes no Cartório de Títulos e Documentos, bem como danos morais em favor da agremiação.

Em contestação (fls. 221/230), os réus J., O. e M. (T. não apresentou resposta, fl. 383) sustentam, em suma, que J.M. de A. não é Presidente Nacional da legenda nem compõe mais os quadros do PTN, eis que afastado pela CEN – expulsão ra- tificada pelo DN em convenção realizada em 19/2/2005, daí a sua ilegitimidade para representar o partido no feito, além do que é válida a alteração estatutária firmada na assembleia-geral extraordinária de 10/7/2003, assinada também por J.M. de A., em reunião efetivada na residência do então presidente, D.M. de A., sen- do aprovada e registrada no Tribunal Superior Eleitoral, realçando que o primeiro teria reconhecido como sua a assinatura posta na ata que se pretende anular, em depoimento prestado no inquérito aberto pela Polícia Federal.

Em réplica, o autor consigna que o Ministério Público denunciou os réus e C.H.G.M. por crime eleitoral e por falsificação de documento referente à ata da convenção nacional que deu azo a todas as ações judiciais em curso. Também assevera que o partido realizou convenção nacional em 20/8/2005, oportunidade em que J.M. de A. foi reconduzido ao cargo de Presidente da sigla, tendo sido eleito para um man- dato de 4 (quatro) anos, além de ser novamente eleito para o posto em 2009, com mandato até 2013, aqui implicando a perda superveniente do objeto dos feitos. A sentença de fls. 1.173/1.212 veio a lume com o seguinte dispositivo:

Posto isso, afasto a preliminar de perda do objeto quanto a E.B.D.N., a preli- minar de nulidade do estatuto do PTN gerado em 10/07/03, a preliminar de expulsão de E.C.N., a preliminar de invalidade das gestões presidenciais de J.S.E. e de E.B.D.N. (assistentes litisconsorciais passivos) até a sua desfiliação deste último, restando válida a assunção de E.C.N. (assistente litisconsorcial passivo) para o cargo de presidente do PTN – Partido Trabalhista Nacional, pois não prevalece contra ele a expulsão nulamente perpetrada, tudo em face da inequívoca ilegitimidade ativa de J.M. de A. para representar o PTN – Partido Trabalhista Nacional no presente processo, pois foi validamente expulso do partido político o Sr. J.M. de A., não podendo este ter presidido e ter praticado atos, todos eivados de nulidade absoluta, no período em que esteve ilegalmente no exercício da presidência do PTN – Partido Trabalhista Nacional após a alteração estatutária de 10/07/03. Aplica-se em desfavor de J.M. de A. a má-fé, na forma do art. 17, II, III, V, VI e VII c/c art. 18, §2º, do CPC, aplicando-lhe multa de 1% sobre o valor da causa, devidamente corri- gido e fixando-se indenização para o polo passivo e assistentes litisconsor- ciais, por solidariedade, em 20% sobre o valor da causa devidamente atu- alizado. Fixo os honorários advocatícios de sucumbência em 20% sobre o valor da causa atualizado, conforme art. 20, §3º, do CPC, restando extinto o feito sem avanço no mérito. Mantido resta o dispositivo no julgamento das preliminares postas, pois não há que se falar em julgamento extra ou ultra petita, por força da incidência de ilegitimidade ativa que, inequivocamente, recai sobre J.M. de A., por consequência, dos atos e negócios absolutamen- te nulos praticados por J.M. de A. e que invalidam-se com efeito ex tunc. Caso não haja o cumprimento voluntário da presente sentença, aplica-se, desde já, o art. 475-J do CPC quanto à multa de 10% lá estabelecida, tudo a contar da publicação do julgado e com base no valor da causa atualizado. Destaque-se que em consequência da ilegitimidade ativa de J.M. de A. faz- -se necessária a expedição de ofício ao Cartório do 1º Ofício de Pessoas Jurídicas de Brasília/DF e ao Tribunal Superior Eleitoral, cancelando-se o registro de presidência do PTN – Partido Trabalhista Nacional, exercido por J.M. de A., com efeito ex tunc, pois foi nulo de pleno direito. No mesmo ato, faz-se necessária a anotação e o registro de plena validade do estatuto do PTN gerado em 10/07/03, bem como a gestão de J.S.E. pelo mandato que já

cumpriu e de E.B.D.N. na presidência do PTN – Partido Trabalhista Nacional, até o dia de sua desfiliação, bem como a atual presidência por E.C.N. pelo mandato iniciado a partir do dia de desfiliação/renúncia de E.B.D.N. até o dia 06/06/13.

Inconformado, apela o autor e, em suas razões recursais (fls. 1.163/1.204), de iní- cio, ataca a forma de julgamento adotada pelo decisório, que teria apreciado ações ajuizadas posteriormente à ora intentada, quando deveria, no seu entender, as ter julgado simultaneamente, dada a conexão havida entre os feitos. Afirma, então, que tal proceder dirigiu-se a impedir o recebimento das apelações em efeito suspensivo, em contraponto a decisões exaradas no Tribunal de Justiça, isso tudo a despeito dos documentos havidos como falsos pelo Tribunal Regional Eleitoral do DF, “ignorando os 5 (cinco) anos de manutenção de tutela antecipada deferida em 01/06/2005, sem fundamentar ou fazer anotar um único dispositivo legal” (fl. 1.169).

Diz que a presunção de inocência relativa à condenação dos réus no âmbito da Justiça Eleitoral há de ser temperada pelo fato de que não há efeito suspensivo no Recurso Especial Eleitoral, além do que o disposto na Súmula 279 do STF impediria o revolvimento de discussão sobre fatos e provas atreladas ao processo criminal eleitoral. Reafirma, assim, a necessidade de recebimento do apelo no duplo efeito. Tece considerações sobre a valoração da prova produzida, dizendo que a simples anotação pelo TSE de ata declarada posteriormente nula pelo TRE-DF não invalida a perícia realizada na corte eleitoral regional e que levou à condenação dos réus. Reitera os fatos articulados na inicial, afirmando ter sido eleito pelo DN em 11/9/2004, reeleito em Convenção Nacional em 2005 e uma vez mais em 2009. Por outro lado, J.S.E., E.C.N. e E.B.D.N. utilizaram documentos falsos para tentar le- gitimar a sua presença no comando da agremiação partidária.

Ressalta que o crime de falsificação de documento “ata e estatuto de 10/7/2003” foi apurado e confirmado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Eleitoral do DF e pelo Juízo da 1ª Zona Eleitoral de Brasília, pois condenou os indigitados por crime de falsidade e uso de documento falso, tendo sido confirmada no Tribunal Regional Eleitoral do DF.

De outro lado, aduz que não poderia o Juízo a quo julgar extinto o feito por reco- nhecer a ilegitimidade ativa do representante do Partido autor e, ao mesmo tem- po, apreciar pedidos de tutela antecipada e impor multa por litigância de má-fé. Cita ainda reclamação que ajuizara nesta Corte, quando este Relator determinou a suspensão da eficácia da antecipação de tutela deferida no bojo das sentenças pro- latadas pelo Juízo a quo nos processos 2005.01.1.042250-8, 2005.01.1.078588- 0, 2005.01.1.098462-7, 2007.01.1.117716-0, 2009.01.1.153832-0, todas em trâ- mite na 4ª Vara Cível de Brasília.

Em decisão de fls. 1.351/1.352v, o Juízo a quo recebeu apenas a apelação pro- ferida nos autos da ação ordinária 2004.01.1.096539-8, porquanto interposta peça recursal única, mas dizendo respeito também às ações cautelares incidentais 2007.01.1.117716-0, 2007.01.1.118262-2 e 2009.01.1.153832-0.

Contrarrazões às fls. 1.371/1.377, nas quais os apelados J.S.E. e E.C.N., em prelimi- nar, aduzem o trânsito em julgado das sentenças proferidas nas ações cautelares, inclusive ante o não conhecimento da reclamação que suspendia as respectivas eficácias, podendo ocorrer vulneração à coisa julgada.

apc 2005 01 1 078588-0

Nesses autos, J.S.E. propôs, em 8/8/2005, ação anulatória em face do PARTIDO TRABALHISTA NACIONAL e J.M. de A., visando a desconstituir a ata da reunião do DN realizada em 11/9/2004, eis que o segundo réu já havia sido afastado do par- tido, daí a invalidade da reunião, que veio a dissolver a CEN. Alega ainda irregula- ridades na convocação para a dita reunião, no quórum mínimo para deliberação, ressaltando a ilegitimidade de J.M. de A. para presidir a reunião do DN, pedindo, então, a anulação da referida reunião e seus “atos, efeitos e desdobramentos”. Inicialmente distribuída à 1ª Vara Cível de Brasília, posteriormente foi encaminha- da à 4ª Vara Cível, ante o julgamento de Conflito de Competência pelo egrégio Tribunal de Justiça.

Em contestação (fls. 248/256 e 258/266), os réus alegam a perda do objeto da ação, porque reuniões subsequentes confirmaram o novo comando partidário, li-

derado por J.M. de A.. Além disso, o autor não poderia impugnar ato do DN, porque foi expulso do partido em processo disciplinar, aduzindo ainda litispendência em relação à ação ordinária 2005.01.1.042250-8, em que se questiona a legitimidade de J.M. de A. como presidente nacional da legenda.

A sentença (fls. 520/538) rejeitou as preliminares postas e, no mérito, declarou “nula de pleno direito a reunião do Diretório Nacional do PTN realizada em 11/09/2004, presidida pelo 2º réu, J.M. de A., atingindo todos os atos lá praticados, subsequentes e decorrentes, tudo em face dos vícios atribuídos ao réu J.M. de A. e que constam da fundamentação da presente sentença. Nesse mesmo ato, antecipo a tutela requerida para que os efeitos da nulidade absoluta sejam plenos desde já, oficiando-se ao Tribu- nal Superior Eleitoral e ao Cartório de Registro de Documentos e Pessoas Jurídicas do 1º Ofício de Brasília/DF, independentemente de recurso, tendo em vista que a anteci- pação de tutela perpetrada impede a concessão de efeito suspensivo, caso em que o recurso eventualmente interposto só subirá no efeito devolutivo. Condeno J.M. de A. por má fé em face da presença do dolo, conforme demonstrado nos fundamentos da sentença e aplico-lhe os arts. 17, I, II, III, IV, V, VI e VIII, c/c art. 18, §2º do CPC e multa de 1% sobre o valor da causa devidamente corrigida e fixo indenização de 20% sobre o valor da causa devidamente corrigida, em favor do polo ativo. Custas e honorários advocatícios pelo polo passivo, estes fixados em 20% do valor da causa devidamente atualizados, acrescidos de juros de mora de 1% a.m., conforme art. 20, §3º, do CPC. Resta extinto o feito quanto ao mérito, na forma do art. 269, I do CPC.”

Em seu recurso (fls. 552/583), os réus, inicialmente, informam que, em sede de re- clamação, este Relator suspendeu as antecipações de tutela concedidas nas senten- ças pelo Juízo de origem. No mais, citam a existência de procedimentos em curso no Tribunal Regional Eleitoral que consideraram fraudulenta a reunião de 10/7/2003, imputando prática criminosa aos ex-dirigentes J.S.E., O.S.S., M.D., T.T.R. e C.H.G.M.. Faz histórico das reuniões comandadas pelo grupo adverso, e, portanto, sem efeitos le- gais, bem como traz acórdão lavrado pelo TRE/DF confirmando por unanimidade sentença condenatória das pessoas citadas, pelos crimes de falsificação de docu- mento e uso de documento falso, previstos nos artigos 350 e 354 do Código Eleito- ral. Alegam ainda a ausência de objeto da ação, pois sequencialmente o presidente do partido, J.M. DE A., foi reconduzido no comando da legenda, sendo eleito em 2005 e reeleito em 2009, em convenções nacionais regularmente realizadas.

O Juízo a quo, em decisão de fls. 711/713, igualmente recebeu somente o apelo da ação principal, sem considerar a insurgência contra as sentenças cautelares. Contrarrazões de J.S.E. e E.C.N. às fls. 752/750, dirigidas à confirmação da sentença.

APC 2005 01 1 042250-8

Finalmente, neste último feito, J.M. DE A. e J.S.C. ajuizaram, em 27/4/2005, ação ordinária contra o PARTIDO TRABALHISTA NACIONAL – PTN, J.S.E. e O.S.S., basean- do-se em inquérito policial que teria detectado fraude na realização da reunião partidária ocorrida em 10/7/2003, e consequente falsificação do estatuto, pedin- do, ao fim, a restauração a composição da CEN eleita pelo DN em 11/9/2004, em solenidade presidida pelo primeiro autor, afastando-se o réu J.S.E. da presidência da sigla, com vistas a retomar a normalidade das atividades partidárias.

Após regular processamento, sobreveio sentença (fls. 1.280/1.304) julgan- do improcedente o pedido “em face da nulidade absoluta decretada no feito 2005.01.1.078588-0 sobre a Convenção do PTN realizada por J.M. de A. no dia 11/09/2004”, imputando aos autores multa por litigância de má-fé e os encargos da sucumbência.

Nas razões de recorrer (fls. 1.311/1.355), são repetidos os argumentos do recurso que formularam na primeira das ações ora relatadas (processo 2004.01.1.096539- 8), pedindo, ao final, a anulação das reuniões consideradas irregulares, ocorridas em 10/7/2003, 4/7/2004 e 18/7/2004, anulando-se os registros nos cartórios competentes.

Contrarrazões de J.S.E. e E.C.N. às fls. 1.517/1.523, pela manutenção da sentença guerreada.

Em todos os feitos, a douta Procuradoria de Justiça manifestou-se no sentido de não vislumbrar interesse público que justificasse a sua intervenção no caso. Preparos regulares.

É o relatório.

votos

Des. Cruz Macedo (Relator) – Presentes os pressupostos de admissibilidade, co-

nheço dos recursos.

Antes de mais nada, esclareço que a opção pelo julgamento simultâneo dos recur- sos decorre do fato de se tratar dos mesmos apelantes, quais sejam, o PARTIDO TRABALHISTA NACIONAL e seu representante J.M. de A., em cuja legitimidade para presidir a agremiação repousa o cerne das controvérsias espelhadas nos três pro- cessos, bem como da circunstância de que as matérias em discussão em tais feitos gravitam em torno dos mesmos acontecimentos, isto é, as atas representativas de reuniões do Diretório Nacional, da Comissão Executiva Nacional e da Convenção Nacional do partido político, ainda que ocorridas em momentos diversos, mas que tem como ponto de interseção a legitimidade (ou não) das decisões tomadas nes- ses encontros partidários, a partir do que se poderá definir o provimento jurisdi- cional adequado às pretensões dos recorrentes ou, contrariamente, a manutenção das sentenças que lhes foram, unissonamente, desfavoráveis, conforme visto no relatório supra.

preliminar

Em preliminar, alegam o PTN e J.M. de A. que os processos estariam maculados pela perda de seu objeto, uma vez que em ocasiões posteriores foi confirmada, por meio de convenções nacionais e reuniões regulares do partido, a titularidade de J.M. de A. como presidente da agremiação, daí por que requerem a extinção dos feitos, sem resolução do mérito, com fundamento no art. 267, inciso VI, do CPC. Tenho, no ponto, que razão não assiste aos recorrentes.

Consoante relatado, a insurgência dos apelantes, nos três casos, volta-se contra sentenças que, considerando a invalidade dos atos praticados pela direção par- tidária conduzida pelo segundo insurgente, convalidou aqueles levados a efeito pelo grupo adverso, liderado por J.S.E. e outros, firmando o dispositivo dos decisó- rios de acordo com essa convicção.

Ocorre que, embora referidos pronunciamentos, se confirmados, não tenham o condão de interferir em eleições futuras realizadas em encontros nacionais da agremiação que, por já duas vezes subsequentes, conferiram o mandato de pre- sidente a J.M. de A., em 2005 e 2009, sendo que o último dos mandatos expira apenas em 2013, o certo é que os pedidos formulados nos autos dizem respeito, precipuamente, à anulação de atas de reuniões partidárias, daí por que remanes- ce, em princípio, o interesse processual em todos os casos.

REJEITO a preliminar.

mérito

Prossigo no exame dos recursos.

Com a devida vênia do prolator das sentenças ora recorridas, entendo que Sua Excelência partiu de premissas equivocadas para legitimar os atos partidários ca- pitaneados por J.S.E. e seu grupo e, assim, demover do comando da agremiação seu ainda presidente J.M. de A.

É que, compulsando com vagar os elementos de convicção carreados aos muitos volumes destes autos, entendo que a primeira ata de reunião partidária objeto de controvérsia entre as partes, qual seja, aquela realizada em 10/7/2003, contém vício insanável, data venia, a contaminar os demais atos produzidos por parte do grupo que dela se valeu para, em sequência, exercer ou tentar exercer o poder sobre o partido político.

Com efeito, tramitou no âmbito da Justiça Eleitoral do Distrito Federal ação penal contra os senhores J.S.E., O.S.S., T.T.R. e C.H.G.M., pela imputação dos cri- mes eleitorais de falsificação de documento e utilização de documento falso, capitulados nos artigos 350 e 353 do Código Eleitoral, respectivamente, sobre- vindo sentença condenatória prolatada pelo Dr. Aiston Henrique de Souza (fls. 1.029/1.034 – 2004.01.1.096539-8), julgando “procedente a pretensão punitiva estatal deduzida na denúncia para condenar os réus M.D., O. dos S.S. e J.S.E., devidamente qualificados nos autos, como incursos nas penas dos artigos 350 e 353 do Código Eleitoral”, com pena de 2 (dois) anos de prisão para cada um dos réus, com cumprimento no regime semiaberto, sendo substituída por prestação

de serviços à comunidade, nas condições estabelecidas quando da execução da sentença condenatória.

No acórdão produzido sequencialmente, foi mantido o decisum, sendo redigida a seguinte ementa:

RECURSO CRIMINAL. ARTS. 350 E 353 DO CÓDIGO ELEITORAL. FALSIFICA- ÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR. USO PARA FINS ELEITORAIS. MATERIALI- DADE E AUTORIA COMPROVADOS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL DE 1º GRAU. RECURSO DESPROVIDO. 1. Inserir declaração falsa em documento particular, simulando a realização de assembleia, caracteriza o crime des- crito no art. 350 do Código Eleitoral. O uso desse documento falsificado, convocando reuniões para ratificação da suposta assembleia, caracteriza o crime descrito no art. 353 do Código Eleitoral. 2. Recurso desprovido.

Relevante a transcrição aos eminentes pares dos fundamentos do voto do Rela- tor do acórdão, então Juiz ANTONINHO LOPES, hoje Desembargador desta egrégia Corte, verbis:

Alegaram os réus a incompetência da Justiça Eleitoral, uma vez que os atos praticados tiveram como resultado alteração de estatuto partidário, matéria interna corporis, sem relação alguma com o processo eleitoral; se acaso a competência fosse eleitoral, o julgamento do fato dos autos caberia ao Tri- bunal Superior Eleitoral.

Porém, como ficou registrado na r. sentença recorrida, “as convenções parti- dárias têm a finalidade de compor candidaturas aos cargos eletivos. No caso presente, havia o propósito não oculto de elevar a candidatura da ré T.T.R. à Prefeitura do Município de São Paulo. Assim, não se pode negar a finalidade eleitoral, direta e indireta, na manipulação da estrutura partidária”.

Observe-se que a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral deixou fixa- do que “conquanto as questões envolvendo órgãos partidários constituam matéria interna corporis das agremiações, a Justiça Eleitoral tem competên- cia para examinar os feitos daí decorrentes que se relacionam aos proces- sos de registro de candidatura”. (cf. Resp 22.792, relator Ministro Caputo Bastos, de 18.9.2004)

No documento rdj102 (páginas 120-136)