• Nenhum resultado encontrado

RELATÓRIO

No documento rdj102 (páginas 82-89)

Adoto o relatório da R. Sentença, o qual transcrevo:

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS ajuizou ação de improbidade em face de F. de A.B.C.

A petição inicial reporta a diversas condutas ilícitas praticadas pelo réu, relacionadas a três ações penais em curso, quando distribuído o feito. Primeiramente, o autor narra que no dia 28 de dezembro de 2000 o réu atuou com excesso e desvio de poder, ao violar o domicílio e lesar o pa-

trimônio de C.A.N. Diz que na mencionada data, o réu – acompanhado do advogado M.B.P., agentes policiais e outros quinze indivíduos não identi- ficados – ordenou a derrubada da cerca da Chácara xx do Núcleo Rural do Córrego do Torto, Trecho II, Lago Norte – DF. Além disso, o réu expulsou os moradores da aludida chácara, recusando-se a tomar conhecimento da tutela cautelar concedida pelo juízo da 7ª Vara da Fazenda Pública, em ação de manutenção de posse. Ressalta que a operação policial foi reali- zada sem apoio em decisão judicial. Acrescenta que em procedimento de escuta telefônica, nos dias 26, 27 e 28 de dezembro de 2000, constatou- -se que o réu atuava na defesa dos interesses do Condomínio Privê. Nas conversas interceptadas, o réu, por intermédio do advogado, teria solici- tado, para si, em razão da sua função, vantagem indevida e promessa de vantagem, consistente no recebimento de lotes do referido condomínio, em troca de proteção a este.

Esses fatos teriam originado a ação penal distribuída à 3ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária Especial de Brasília, Processo 2002.01.1.046984-0. Aludindo aos fatos de outra ação penal, Processo 2002.03.1.012233-5, em curso na 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judiciária de Ceilândia, diz que o réu, no dia 18 de dezembro de 2001, exercendo sua função de delegado de polícia, atentou contra a fé pública, inserindo declara- ção falsa em documento dirigido à justiça, no caso, o Ofício 746, da 24ª Delegacia de Polícia, endereçado ao juízo do 3º Juizado Especial Crimi- nal, com a finalidade de prejudicar direito e alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, qual seja: que um veículo objeto de roubo se encontrava sob sua custódia.

Reporta, ainda, a uma terceira ação penal, Processo 2001.03.001412-5, da 1ª Vara Criminal de Ceilândia, cuja denúncia acusa o réu de valer-se da qualidade de delegado-chefe da 19ª Delegacia de Polícia naquela cidade satélite, no ano 1999, para ceder uma arma de fogo (escopeta) de uso res- trito a pessoa não autorizada para portá-la. Também consta da referida de- núncia que o réu teria deixado de praticar atos de ofício para satisfação de interesse pessoal, ao permitir o consumo de substâncias entorpecentes na carceragem da delegacia mencionada.

Entende que o agente público praticou atos de improbidade administrativa, descritos no artigo 9º, inciso I e no artigo 11, incisos I e II, ambos da Lei 8.429/1992. Salienta, no que diz respeito às condutas capituladas no artigo 11 do referido diploma legal, ser desnecessário que o ato tenha sido come- tido em serviço ou que tenha qualquer relação com ele.

Requer a notificação e posterior citação do réu. Em antecipação da tutela, pede que o réu seja imediatamente afastado das funções públicas exerci- das. Como provimento definitivo, pede a condenação do réu nas sanções do artigo 12 da Lei 8.429/1992, mediante: a perda da função pública; a perda de bens ou valores acrescidos ilicitamente ao seu patrimônio; suspensão dos direitos políticos por 10 (dez) anos; o pagamento da multa civil de até 3 (três) vezes o valor do acréscimo patrimonial; a proibição de contratar com o Poder Público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, por 10 (dez) anos. Com a petição inicial, o autor apresentou documentos, que foram juntados por linha, formando cinco vo- lumes, em apenso – certidão de apensamento à fl. 17.

Quando despachada a petição inicial, foi determinada a citação – fl. 18. Em atendimento a essa decisão, o réu foi citado (fls. 21/22). O réu apresentou defesa preliminar às fls. 24/60, com documentos, juntados às fls. 61/77. Refuta a competência do Ministério Público para, no âmbito penal e tam- bém no administrativo, conduzir a investigação dos fatos, apoiado em pre- cedentes do Supremo Tribunal Federal versando sobre o controle externo da atividade policial.

Aponta irregularidades no inquérito, afirmando que não poderia ser alvo das escutas telefônicas, uma vez que a ordem judicial se referia apenas a M.B.P. Discorre sobre a nulidade da prova obtida por meio da escuta tele- fônica, enfatizando se tratar de encontro fortuito. Além disso, se insurge porque foi obstado o acesso aos autos do aludido procedimento investiga- tivo, de modo que sofreu cerceamento de defesa. Quanto aos fatos, nega contrariedade à lei, em todas as situações narradas na exordial.

Sobre o suposto abuso de autoridade exercido na residência de C.A.N., rela- ciona o evento ao atendimento da Ocorrência 1618/2000-0, de 21/12/2000,

da 9ª Delegacia de Polícia do Lago Norte, registrada por L.F.B. contra A.A. de S., versando sobre ameaça mediante uso de arma.

Destaca que o mesmo fato já tinha sido objeto do Inquérito 7/2001, arquivado a requerimento do Ministério Público, em 19/3/2002, de modo que não é lícito o prosseguimento das investigações sem provas novas. Salienta que trabalhou na 9ª Delegacia de Polícia apenas no período de 27/10/2000 a 4/1/2001, na condição de delegado plantonista, sendo que nunca presidiu inquérito ou qualquer investigação envolvendo o Condomínio Privê, logo, não poderia beneficiá-lo. Acrescenta que não possuiu imóvel no mencionado loteamento. Ademais, menciona que, equivocadamente, a denúncia da ação penal refere à data da derrubada da cerca no dia 28/12/2000, quando, na verdade, o fato aconteceu no dia 21/12/2000.

Acerca do veículo roubado, assegura que não se encontrava na delegacia, no momento em que E.B. de P. compareceu ao local, pois já havia sido retira- do por A.U.G.B., mediante apresentação dos documentos pertinentes. O fato teria sido confirmado pelo delegado de polícia F.B.F., em juízo, bem como pelo próprio A.U. Menciona que, nas alegações finais, o Ministério Público requereu a sua absolvição, na ação penal.

No que diz respeito à acusação de prevaricação (relacionada ao uso de drogas por detentos e arma por pessoa não autorizada na delegacia), argu- menta que a prova testemunhal produzida no juízo criminal demonstrou a inconsistência da denúncia.

O réu juntou documentos às fls. 80/84.

Manifestação do Ministério Público às fls. 86/90.

Tendo sido admitido o curso da ação de improbidade (fl. 91), foi determina- da a citação da parte ré.

Citado pessoalmente (fl. 95), o réu ratificou os termos da defesa preliminar (fls. 97/8) e juntou documento (fl. 99).

Réplica às fls. 101/102.

O Distrito Federal foi citado (fl. 283) e adotou posição de neutralidade no feito (fl. 298).

As partes foram intimadas para indicar outras provas (fl. 103)

Novos documentos foram juntados por ambas as partes. O autor acrescen- tou documentos às fls. 108/160, fls. 227/252, fls. 309/368; fls. 376/494, fls. 510/512, fls. 535/601 e fls. 995/1007. O réu, por sua vez, também trouxe novos documentos, às fls. 162/225, fls. 254/274, fls. 285/298 e fls. 628/636. Decisão proferida à fl. 679, determinando o desentranhamento de petição e documento relacionado a endereço de testemunha, para serem mantidos sob segredo de justiça.

Por determinação do juízo, foram juntados documentos às fls. 692/695, referen- tes ao Processo 12.575-3/2000, ação de manutenção de posse movida por C.A.N.. Em resposta à solicitação do juízo, a 1ª Vara Criminal da Circunscrição Judi- ciária de Ceilândia enviou os documentos juntados às fls. 860/968. Autor e réu manifestaram interesse na produção de prova oral (fls. 104/105; fl. 254). Proferida decisão deferindo a produção da prova testemunhal (fls. 496/497). Em razão do número de testemunhas arroladas, a audiência de instrução foi iniciada em 12/7/2007 (fls. 607/613), prosseguiu aos 13/11/2007 (fls. 715/724), 6/11/2008 (fls. 786/796), 26/9/2011 (fls. 1079/1083) e foi en- cerrada em 27/12/2012 (fls. 1135/1137).

Indeferidos requerimentos do réu, com vistas à prática de atos cartorários para localização de algumas das testemunhas arroladas (fls. 1025/1028; fl. 1099). O réu interpôs agravo contra as decisões, na forma retida (fls. 1031/1036; fls. 1103/1108). Apresentadas contrarrazões (fls. 1040/1043; fls. 1114/1117). Não houve retratação (fl. 1044; fl. 1118)

As partes ofertaram alegações finais, na forma de memoriais, às fls. 1145/1182 e fls. 1187/1193.

Atendendo requisição do juízo, a Polícia Civil do Distrito Federal informou que o delegado de polícia F. de A.B.C. “foi aposentado em 6/7/2006 (fl. 1095).” (fls. 1195/1198)

Acrescento que a R. Sentença julgou procedente o pedido, com o seguinte dispositivo:

Assim, diante dos argumentos expostos, julgo PROCEDENTE o pedido, com fulcro no artigo 12, inciso III, da Lei de Improbidade Administrativa, para: 1) SUSPENDER OS DIREITOS POLÍTICOS do réu pelo prazo de quatro anos; 2) CONDENAR o réu ao pagamento de MULTA CIVIL, no valor de 10 (dez) vezes o valor da remuneração atualmente percebida;

3) PROIBIR o réu de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por inter- médio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. Declaro resolvido o mérito da demanda, na forma do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil.

Condeno o réu ao pagamento das custas processuais. Sem honorários ad- vocatícios.

Em atenção à manifestação de fls. 86/87, e observando o disposto no art. 17, §2º da Lei 8.429/92, fica o Distrito Federal intimado quanto ao teor da presente sentença, na pessoa do Procurador subscritor da referida petição, mediante a publicação.

Oficie-se ao Tribunal Superior Eleitoral, enviando cópia da presente sentença. Após o trânsito em julgado, caso não haja outros requerimentos, dê-se baixa e arquivem-se os autos.” (fl.1217/1218)

Recorreram o réu e o autor.

Em seu recurso, o réu objetiva a reforma da sentença. Inicialmente, requer a análise do agravo retido interposto às fls. 1031/1036. Ainda em preliminar, suscita a inépcia da inicial, porquanto a ação civil pública foi proposta baseada em fatos que estão sendo objeto de ações penais sem trânsito em julgado. No mérito, o réu sustenta que não ficou demonstrada prática de atos de improbidade administrativa. Aduz que a ação penal em que se discutia o recebimento de vantagem indevida, não hou- ve comprovação de que tenha praticado qualquer ato na condição de delegado com o objetivo de beneficiar terceiro, tampouco que tenha recebido vantagem indevida.

Por sua vez, quanto ao fato de conferir a terceiro, atribuição típica de policial, afirma que foi absolvido na instância criminal por não ter sido comprovada a existência dos fatos. Assevera, também, que não houve menção dessa conduta na petição inicial e que a condenação por fato que não faz parte da causa de pedir se mostra incabível, porquanto ausente o contraditório. (fls. 1222/1237)

Preparo à fl. 1239.

Por sua vez, o Ministério Público, em sua apelação, requer, tão somente, a reforma da sentença no se refere à penalidade imposta ao réu. Pleiteia a condenação do réu a perda do cargo público de Delegado da Polícia Civil do DF e como efeito se- cundário a cassação da aposentadoria que somente se efetivou após a propositura da presente ação de improbidade administrativa. (fls. 1259/1269)

Sem preparo, em razão da isenção legal.

Em complemento ao relatório de fls. 1306/1310, acrescento que às fls. 1312/1326, o réu juntou petição informando sobre a decretação da extinção da punibilidade em razão do reconhecimento da prescrição da pretensão executória em relação à pena fixada no processo 20020110469840.

É o relatório.

votos

Des. Getúlio de Moraes Oliveira (Relator) – Presentes os pressupostos de admis-

sibilidade, conheço dos recursos.

Cuida-se de recurso de apelação interposto tanto pelo réu, F. DE A.B.C., quanto pelo autor, MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL, contra r. sentença profe- rida pelo MM. Juízo 01ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal que, em ação de improbidade administrativa, julgou procedente o pedido inicial com fulcro no artigo 12, inciso III, da Lei de Improbidade Administrativa, para: 1) suspender os di- reitos políticos do réu pelo prazo de quatro anos; 2) condenar o réu ao pagamento de multa civil, no valor de 10 (dez) vezes o valor da remuneração atualmente per- cebida, e; 3) proibir o réu de contratar com o Poder Público ou receber benefícios

ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por inter- médio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. Passo a analisar o recurso do réu.

No documento rdj102 (páginas 82-89)