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O valor pago pelo candidato a título de taxa de inscrição lhe dá o direito de,

No documento rdj102 (páginas 59-64)

relatório

3. O valor pago pelo candidato a título de taxa de inscrição lhe dá o direito de,

aprovado nas etapas anteriores, participar de todas as fases do certame, não me- recendo acolhimento o argumento do organizador do concurso no sentido de que sua matrícula em curso de formação implicaria aumento de despesas.

acórdão

Acordam os Desembargadores da Quinta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Dis- trito Federal e dos Territórios, Sebastião Coelho – Relator, Gislene Pinheiro – 1ª Vogal e Luciano Moreira Vasconcellos – 2º Vogal e presidente, conhecer. Dar provimento, maioria, vencido o 2º Vogal, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas. Brasília (DF), 29 de Julho de 2013.

relatório

Cuida-se de Agravo de Instrumento interposto por V.M. de L.N. contra decisão (fl. 154) do Juízo da 7ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal nos autos da Ação sob Rito Ordinário 2013.01.1.079558-5, em que é requerido o Distrito Federal. Na ação originária, o agravante alega ter sido eliminado do concurso para o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) por contar mais de 28 anos de vida, idade limite de acordo com o edital para a matrícula no Curso de Formação. O Juízo recorrido indeferiu (fl. 154) o pedido de antecipação dos efeitos da tutela.

Em suas razões (fls. 2/34), o agravante alega que: a) o indeferimento da antecipa- ção de tutela acarretará lesão grave e de difícil reparação, vez que o impedirá de participar do Curso de Formação, último previsto para o atual certame; b) no ato da inscrição no concurso, tinha 27 anos, tendo adquirido o direito de participar do processo seletivo até o final; c) a demora do concurso não é culpa do candidato; d) a eliminação não observou o devido processo legal, nem foi fundamentada; e) a idade de 28 não é razoável; f) está apto para as funções do cargo, tanto que foi aprovado em todos os exames físicos, médicos e psicotécnicos. Ao final, pede, inclusive em caráter liminar, a suspensão dos efeitos da eliminação com a conse- quente matrícula no Curso de Formação e, na hipótese de aprovação, nomeação. Pede, ainda, a fixação de multa para o caso de descumprimento da decisão por parte do agravado.

Às fls. 160/162, antecipei parcialmente os efeitos da tutela recursal para determi- nar ao agravado/requerido a matrícula do agravante/autor no Curso de formação de Praças e dispensei as informações.

Em contrarrazões (fls. 167/171), o Distrito Federal alega que a legislação de refe- rência veda a concessão de tutela antecipada para fins de atribuição ou concessão de vencimentos e demais vantagens pecuniárias aos servidores públicos e que o limite de idade para a matrícula no Curso de Formação está previsto em lei. Ao final, pede o desprovimento do recurso.

É o relatório.

votos

Des. Sebastião Coelho (Relator) – Conheço do recurso, porque presentes os pres-

supostos de admissibilidade.

No mérito, a decisão recorrida deve ser reformada.

Ainda que reconheça a divergência jurisprudencial acerca deste assunto, penso que a razoabilidade deve permear o julgamento do magistrado e, por isso, merece provimento o recurso do agravante/autor.

A idade é um fato da natureza e independe da vontade. Negar a alguém o acesso a um cargo público apenas porque ultrapassou um pouco a idade limite prevista em lei para matrícula em Curso de Formação não parece razoável.

Na hipótese dos autos, o agravante/autor conta atualmente com 29 anos de idade (fl. 70). Quando se inscreveu para concurso público, tinha 27 anos. Durante a re- alização de alguns cursos de formação anteriores ao atual, que alega ser o último deste certame, também contava ainda com 28 anos. Ademais, e talvez mais impor- tante, ele foi efetivamente aprovado nos exames físicos exigidos para o cargo que pretende ocupar.

Não se trata de negar vigência a dispositivo legal, mas de proceder à sua exegese de forma sistemática e atenta ao fim social a que se destina.

Não é razoável que um ou até dois anos além do limite de 28 anos previsto em lei para a matrícula no Curso de Formação sejam suficientes para afastar de alguém que se inscreveu no certame quando ainda contava menos de 28 anos e foi apro- vado em todos os exames médicos e físicos a possibilidade de assumir o cargo pretendido.

Ressalte-se, mais uma vez, que não se está a defender o fim do limite etário. Ele deve ser observado e respeitado, mas sem o rigor defendido pelo Distrito Federal, especialmente se a demora na realização dos sucessivos cursos de formação não pode ser atribuída aos candidatos.

Noutro ponto, não procede a alegação do Distrito Federal de que a antecipação de tutela na hipótese em apreço estaria vedada legalmente. Em primeiro lugar, quan-

do o candidato paga a taxa de inscrição em um concurso público ele tem o direito de participar de todas as etapas do certamente, desde que logre aprovação nas etapas anteriores. De acordo com o que consta dos autos, o Curso de Formação de Praças é a última etapa do Concurso Público, e a sua realização deve ser custe- ada com os recursos provenientes das taxas de inscrição. Se por algum motivo o Distrito Federal cobrou taxa de inscrição em valor insuficiente para o custeio dos sucessivos cursos de formação, isso não pode ser usado como argumento para pleitear a não concessão de uma medida judicial antecipatória da tutela.

Em segundo lugar, não se pretende com esta ação qualquer reclassificação, equi- paração, concessão ou extensão de aumentos ou qualquer outra espécie de au- mento de remuneração, não ocorrendo, portanto, o óbice legal alegado pelo Dis- trito Federal.

A respeito do assunto, confira-se a ementa transcrita a seguir:

CONCURSO PÚBLICO DE ADMISSÃO AO CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADO DO QUADRO DE PRAÇAS BOMBEIRO MILITAR DO DF. ESTIPULAÇÃO DE IDADE MÁXIMA PARA INGRESSO NA CORPORAÇÃO. AFERIÇÃO NA DATA DE CONVO- CAÇÃO PARA O CURSO DE FORMAÇÃO. ATRASO NA FINALIZAÇÃO DO CER- TAME. EXISTÊNCIA DE DIVERSAS CONVOCAÇÕES. TRATAMENTO DESIGUAL ENTRE OS CANDIDATOS. 1. É possível a fixação no edital de concurso pú- blico idade máxima para que o candidato integre a corporação. Entretanto, havendo previsão de que a idade será aferida na data da convocação para o curso de formação, é razoável que se considere a primeira convocação, quando ocorridas diversas, sob pena de haver tratamento desigual entre os candidatos, sobretudo se demonstrado atraso na finalização do certame. 2. Presentes os requisitos legais, concede-se a antecipação da tutela jurisdi- cional. (TJDFT, 2ª Turma Cível, AGI 2012002005411-3, Rel. Des. J. J. Costa Carvalho, julgado em 27/06/2012)

Pelo exposto, não vislumbro qualquer impedimento à continuidade do agravante/ autor no certame, razão por que dou provimento ao recurso para, afastado o óbice etário para que ele participe do Curso de Formação de Praças e, havendo aprova- ção, seja o agravante/autor nomeado pelo Distrito Federal. A nomeação deverá obedecer à estrita ordem de classificação e ao interesse da Administração Pública.

É como voto.

Desa. Gislene Pinheiro (Vogal) – Senhor Presidente, tive a oportunidade de exa-

minar agravo nesta mesma situação, na qual concedi liminar e também naquela hipótese, houve duas convocações anteriores, quando o candidato ainda pos- suía a idade.

Por essa razão e estando de acordo com as razões apresentadas, acompanho o eminente Relator.

Des. Luciano Vasconcellos (Presidente e Vogal) – Peço a V. Ex.as as mais respeito-

sas vênias para divergir.

Entendo que essa questão da formação do curso é uma questão de conveniência da Administração no momento em que a ela interessa, tendo de prevalecer os interesses públicos sobre os individuais. Considero que, se alguém faz concurso cuja idade limite é vinte e oito, é um risco que se corre.

Por isso, peço a V. Ex.as as mais respeitosas vênias para negar provimento aos dois recursos.

decisão

Deu-se provimento ao recurso. Maioria.

No documento rdj102 (páginas 59-64)