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DA CAPELA AO SANTUÁRIO: SÍMBOLOS E ATRATIVOS

O Santuário da Santa Cruz, como é conhecido não possui muitos registros escritos, o mais antigo de que se tem conhecimento encontra-se no 2º livro do Tombo da Paróquia de Valença, sendo nomeado em 20 de junho de 1888 o Sr. Joaquim Manoel Pereira de Sousa como Procurador da Capela de Santa Cruz dos Milagres, em terras da Fazenda Jatobá, que posteriormente ficaria conhecida como Fazenda da Santa Cruz. Em 1893, foi construída uma capela de pedra e telha substituindo uma capela de palha que havia no local, e, em 14 de setembro do mesmo ano, foi celebrada uma missa na nova capela, ainda em construção.

Segundo Mendes ([n/d]), o livro do Tombo revela que foi construída uma nova Igreja, no terreno ao lado da Capela, sendo entregue ao povo, ainda incompleta, em 1929. Já em 1969, foi realizada uma nova reforma que se estendeu até 1983, feita com recursos da própria Igreja, ela foi entregue aos fiéis em 1983. “Esta remodelação financiada exclusivamente pelo cofre das ofertas, foi iniciada em 16 de junho de 1969, chegando ao final somente em 14 de setembro de 1983, Ano Santo da Redenção” (Mendes, [n.d], p. 12).

Figura 05. Construção histórica de Santa Cruz dos Milagres

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Durante os períodos de construções, a Igreja de Santa Cruz dos Milagres ainda não possuía autonomia eclesial e administrativa, pois até o ano de 1968 pertenceu a paróquia de Nossa Senhora do Ó e Conceição na cidade de Valença, em seguida foi criada a freguesia de São Félix que passou a reunir as Igrejas de Santa Cruz dos Milagres, São Félix de Cantalice, Aroazes e Prata. Somente em 1992, Santa Cruz dos Milagres adquiriu autonomia administrativa como Cidade após ser desmembrada de São Félix.

CAPELA •1888- No 2º livro do Tombo da Paróquia de Valença:Foi construída a Capela de Santa Cruz dos Milagres. IGREJA •A construção da Igreja foi concluída em 1983, Ano Santo da Redenção. CIDADE

•Santa Cruz dos Milagres é desmembrada do município de Aroazes em 1992. SANTUÁRIO •Em 22/08/1998 é instituído o Santuário de Santa Cruz dos Milagres.

Embora a devoção já estivesse consolidada no imaginário dos devotos de Santa Cruz, o Santuário só veio a ser instituído de direito, em 22 de agosto de 1998, com ajuda de um Decreto assinado pelo o então Arcebispo de Teresina, Dom Miguel Fenelon Câmara Filho, este destacou o grande fluxo de fiéis e o crescimento das atividades religiosas (sacramentos de confissão, comunhão), que atendiam ao estabelecido pelo Código 1230 do Direito Canônico que estabelece que: “Sob a denominação de santuário, entende-se a igreja ou outro lugar sagrado, aonde os fiéis em grande número, por algum motivo especial de piedade, fazem peregrinações com a aprovação do Ordinário local.” (1983, capítulo III, p. 240).

Menezes (2004) destaca que a definição canônica promulgada por meio do Código de Direito Canônico que entrou em vigor desde os anos 1980, representava uma tentativa de concentrar nas mãos da hierarquia religiosa o poder de discriminar os elementos que devem fazer parte desse conjunto, isto é, de transformar em um conceito preciso, ou em um objeto de legislação um termo já usado pelo senso comum religioso.

Figura 06. Imagem da Igreja Matriz de Santa Cruz dos Milagres

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

O reconhecimento oficial do Santuário veio legitimar a prática religiosa já desenvolvida na Cidade, a Igreja Matriz (Figura 06), está localizada na parte mais elevada da cidade, nela acontecia toda a tríade festiva e demais celebrações. Com isso, dentro da Igreja a

capacidade é somente para 200 pessoas sentadas, no entanto, nos períodos das festas e de maior fluxo, os rituais eram realizados no pátio da Igreja, como o ritual da Invenção, que necessitava de maior espaço.

Também é na Igreja Matriz que fica a cruz de madeira, símbolo de devoção, que atualmente se encontra protegida por uma estrutura de madeira e com a frente de vidro, essa proteção foi colocada para preservar a cruz, dos devotos que acreditavam na cura através da retirada de “lascas” de madeira da cruz para produção de chás e outras bebidas curativas.

Ainda na parte superior, por trás da Igreja Matriz encontramos a sala dos Milagres, um pequeno quarto em são depositados os ex-votos13, e ao lado da Igreja é possível observar o “buraco” que de acordo com o mito foi extraída pelo Beato para fincar a Santa Cruz. Também neste entorno da Igreja matriz, encontramos o poço dos milagres, a loja de artigos religiosos comercializados pela Igreja, a casa e o salão paroquial, e a residência das irmãs vicentinas.

De acordo com Oliveira (2004), desde o Concílio do Vaticano II os santuários cristãos são reconhecidos como centros privilegiados de evangelização e dotados paulatinamente de infraestrutura cada vez mais compatível com a demanda e as necessidades gerais do peregrino.

Seguindo essa tendência da atividade turística, a Igreja também busca dotar esses espaços de maior infraestrutura e modernidade tornando-os tão turísticos como sagrados. “Nesse sentido, o modelo de desenvolvimento turístico dos santuários vem sendo atualizado por uma convergência de fatores técnicos que incluem a própria perspectiva pastoral das lideranças das Igrejas Cristãs (principalmente de hierarquia católica)” (Oliveira, 2004, p. 25).

Em 2009, surge em Santa Cruz dos Milagres o projeto arquitetônico para a construção do novo Santuário, planejado pelo o Reitor da época o Padre Francimilson Holanda, a nova construção foi justificada pela necessidade de melhorar o acolhimento dos devotos, que visitam a cidade. O novo templo foi construído com doações dos fiéis, e após 07 anos o novo Santuário denominado de Paróquia-Santuário Arquidiocesano de Santa Cruz dos Milagres foi inaugurado em 2016.

O Santuário ampliou a capacidade para receber 3.500 fiéis sentados durante as solenidades, além de possuir salas de apoio, reitoria, banheiros, quarto de descanso para os

13 O ex-voto (do latim: por força de uma promessa, de um voto) é o presente dado pelo fiel ao seu santo de

devoção em consagração, renovação ou agradecimento de uma promessa. As expressões votivas são tradicionalmente reconhecidas sob as formas de pinturas ou desenhos, figuras esculpidas em madeira, modeladas em argila ou moldadas em cera, muitas vezes representando partes do corpo que estavam adoecidas e foram curadas.

padres, sala de imprensa, cabine de som, sacristia, sala de confissões, capela de batismo e do Santíssimo Sacramento e hall de informações.

O novo templo também investe em divulgação por meio das mídias digitais, como: página nas redes sociais, um website, com informações e atualizadas sobre o Santuário, informativos que são produzidos a cada bimestre tratando de notícias da Igreja Católica, divulgando as festas e sua programação, e tudo isso com a logomarca do Santuário. Com o novo Santuário muitos problemas foram solucionados, em benefícios dos devotos, como destacou o vice-reitor do Santuário14 (2018):

Tinha algumas dificuldades que as pessoas tinham bastante que a gente está superando aos poucos. A grande dificuldade que o povo reclamava, que antigamente a Invenção era no patamar de cima, os romeiros reclamavam que não tinham sombra, não tinha espaço acolhedor para que eles pudessem ficar à vontade né, quando o sol era quente eles ficavam vulneráveis, e quando chovia eles também ficavam vulneráveis.

A construção em forma de cruz destaca, pois, o símbolo maior de devoção na cidade, além da imponente construção, na parte interior, vitrais com mosaicos multicoloridos reproduzem o mito de origem, destacando: o diálogo do beato e o vaqueiro (Figura 07), a cura da criança, a fonte de água e no centro do altar o vitral da Santa Ceia.

Figura 07. Imagem dos Mosaicos “diálogo do Beato e o Vaqueiro”

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

No Santuário de Santa Cruz dos Milagres se verifica uma tentativa de se inserir nesta dinâmica da atividade turística, promovendo seus espaços internos e símbolos religiosos do seu interior, pois durante as celebrações, os padres divulgam e convidam todos a conhecerem o Santuário. Com isso, durante a Festa da Invenção, pôde-se observar que ao final das celebrações, os padres realizavam uma visita guiada pelo templo com os devotos e curiosos que estavam presentes.

Além dos imponentes vitrais, é possível encontrar uma exposição permanente do Santo Sudário de Terim15, que narra um pouco da história em telas e painéis, também,

espalhados nas naves laterais do Santuário encontram-se telas de santos e no altar há uma relíquia da pedra do Monte calvário.

Figura 08. Imagem da Exposição do Santo Sudário

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Além da Igreja Matriz e do novo Santuário, outro símbolo que está relacionado ao mito de origem de Santa Cruz é o Olho d’ Água, conforme a narrativa o primeiro milagre foi a cura da filha do vaqueiro com a água da fonte. O olho D’ Água fica localizado na parte central da Cidade, próximo ao centro comercial, atualmente o local é administrado pela Igreja e conta

15 O "Sudário de Turim" ou "Santo Sudário" é um manto retangular de 4,36 m de comprimento por 1,10 m de

largura. A palavra sudário provém do latim sudarium, e na sua origem aludia tanto ao lenço que se usava para enxugar o suor do rosto quanto o pano com que se cobria a face dos mortos. Embora haja divergências nas pesquisas científicas, para os cristãos o Sudário é o pano em que Nosso Senhor Jesus Cristo teria sido envolto, após a deposição da cruz, e sepultado.

com 1 funcionário, que faz todo o serviço de retirar água, encher os baldes e organizar toda a distribuição nos períodos de maior fluxo.

Ao visitar o local, o ritual consiste em molhar a cabeça, e levar um pouco de água para seus familiares e amigos, no período de pouco fluxo é possível até tomar banho com a água da fonte, ela não passa por nenhum tratamento, pois se trata de uma nascente e está sempre a emergir por entre as pedras. Como John Eade (1991) também observou em Lourdes na França, o banho assume uma qualidade instrumental e não puramente simbólica, os devotos que chegam realmente esperam que a imersão nas águas possa lhe trazer a cura de suas enfermidades.

Com a última reforma realizada pela Igreja em 2016, o local passou a ter 07 banheiros, uma cobertura na fonte e todo o local murado e com grades, pois uma das grandes dificuldades é a falta de banheiros públicos para os devotos que ficam “arranchados” nas proximidades do santuário.

Figura 09. Imagem da Olho d’Água após a reforma

Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

Diante dos símbolos e lugares religiosos presentes na cidade, podemos sintetizar a rota dos romeiros de Santa Cruz. Atualmente, a primeira parada ocorre no novo Santuário, que fica bem próximo à entrada da Cidade, em seguida os devotos sobem o morro, para a Igreja

Matriz, suas primeiras preces são realizadas no cruzeiro, velas são acesas e ex-votos depositados aos pés da cruz, ao adentrar a Igreja, seguem as devoções a Santa Cruz, madeira rústica símbolo maior de devoção, em seguida são realizadas as ofertas e doações nos cofres da Igreja. Por fim, os devotos descem pela escadaria e seguem para Olho d’Água no centro da Cidade.

Figura 10 – Rota dos romeiros em Santa Cruz dos Milagres -PI

Fonte: Elaborado pela autora, 2018.

As escadarias da Igreja que dão acesso ao Olho d’Água durante as festas é tomada pelos feirantes que montam um grande comércio informal, em que são comercializados os mais diversos produtos, e o comércio também faz parte do ritual, como Steil (1996, p. 83) também identificou em Bom Jesus da Lapa: “Para os romeiros, o comércio parece se integrar na festa, incorporando-se ao sistema de trocas simbólicas que se estabelece no culto da peregrinação”.

Por fim, o rio Nicolau também é um atrativo natural que concentra na sua margem direita as principais atividades de lazer, como bares, restaurantes, clubes e bordéis, durante as festas a orla do rio reúnem um grande número de devotos, que logo após o cumprimento de suas obrigações espirituais se dirigem para a margem do rio em busca de diversão e socialização com os amigos.