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Olhar dos representantes eclesiais responsáveis pelo Santuário

4 POLÍTICAS PÚBLICAS COMO ESTRATÉGIAS PROMOCIONAIS

5.1 A IGREJA CATÓLICA E A PROMOÇÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA

5.2.1 Olhar dos representantes eclesiais responsáveis pelo Santuário

Diante da realidade e potencialidades apresentadas no curso da presente pesquisa, para o entendimento da percepção que a Igreja em Santa Cruz dos Milagres compreende e avalia o turismo religioso na Cidade, acompanhou-se os discursos realizados durante as missas, análise do Estatuto do Santuário Arquidiocesano (2016) sendo confrontados com as entrevistas semiestruturadas realizadas com os dirigentes do Santuário (DS1 e DS2) e uma entrevista não estruturada com o Arcebispo de Teresina (DS3). No Quadro 03. são elencados a função desempenhada, o tempo e o endereço oficial dos entrevistados.

Ações

eclesias

AMPLIAÇÃO Tríade Festiva CONSTRUÇÃO Santuário INVESTIMENTO Marketing religioso PROMOÇÃO Novos monumentos

Quadro 03. Dirigentes do Santuário Nome Ocupação no Santuário Tempo na função Endereço Atual DS1 38 anos

Reitor do Santuário 2 anos e 8 meses Paróquia Santuário Santa Cruz dos Milagres

DS2 35 anos

Vice-reitor 2 anos e 8 meses Paróquia Santuário Santa Cruz dos Milagres

DS3 71 anos

Arcebispo de Teresina

7 anos Arquidiocese de Teresina

Centro Pastoral Paulo VI Av. Frei Serafim, 3200

Teresina – PI Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Com relação ao papel do Santuário na promoção das festas e de todo os aspectos sagrados, o reitor do Santuário aponta a acolhida como ponto central: “O papel de acolhida primeiramente, esse povo que vem muitas vezes debilitado, por uma enfermidade que faz a promessa para receber a graça, a cura, a libertação, então nós nos preocupamos com a programação de acolhida.” (Reitor do Santuário, 2018). Para a Pastoral do Turismo (2009) os devotos precisam se sentir acolhidos tanto nas questões espirituais, quanto técnicas.

No discurso do clero também se observou uma preocupação em acolher as manifestações do sagrado dos devotos,

[...] neste Santuário de Santa Cruz dos Milagres, vem pessoas que vem pedir cura, que vem também para agradecer, são coisas que de fato pela razão humana a gente não consegue explicar, tem coisas que só a fé de fato é capaz de explicar, muitas pessoas vem aqui e contam seus testemunhos, é uma coisa que nós fazemos é deixar as pessoas a vontade, nós não tiramos a esperança de ninguém, nós sabemos que a fé ultrapassa qualquer limite da ciência, aqui no nosso Santuário nós não prometemos milagre a ninguém, mas também não tiramos a esperança das pessoas [...]. (Vice-reitor, 2018).

A história e o mito de Santa Cruz representam um processo dialético que aproxima e afasta as versões entre a Igreja e os devotos, numa tentativa de acolher as manifestações de fé dos devotos, conforme também observou Fernandes (1982, p. 50) em Bom Jesus do Pirapora:

Perde e recupera a categoria “milagre”, submetendo-a a um curioso tratamento, que aliás é canônico: o reconhecimento do milagre depende de uma pesquisa feita nos moldes científicos que demonstre não ser a ciência capaz de dar contas dos “fatos” observados.

Ainda sobre a função do Santuário, o vice-reitor também destacou: “O papel do Santuário vai ser primeiramente de divulgação, de ampliação, de conscientização e de

evangelização da piedade popular.” Essa evangelização é baseada na tentativa de uma racionalidade que centralize as ações no Santuário. O vice-reitor, ainda destaca:

Olha bem na verdade as pessoas ao virem para cá às vezes tem muitos exageros que as pessoas fazem, mas nós como pastores do Povo de Deus, nos demos essa missão de estar sempre educando o povo religiosamente, para que possamos redirecionar o povo de fato para aquilo que é essencial, que no caso é Jesus a centralidade está em Jesus, então nós promovemos e aceitamos a devoção popular que faz parte da nossa história, mas nós temos uma hierarquia de prioridades, que no caso o que é em primeiro lugar é Jesus, as outras devoções ficam em segundo lugar, então Jesus Cristo sempre em primeiro lugar. (Vice-reitor, 2018).

Os exageros descritos, se aproximam das crenças supersticiosas observadas por Steil (1996) em Bom Jesus da Lapa, que segundo os dirigentes podiam ser eliminados do espaço sagrado através da instauração de confiança na educação. John Eade (1991), também destacou que a centralidade em Jesus Cristo, representa uma ação do clero muito comum desde o Concílio do Vaticano II, em que os sacramentos da Igreja devem ser centrais diante da religiosidade centrada no milagre.

Com relação as dificuldades enfrentadas, o principal entrave diagnosticado pelo Reitor é a falta de parceria com os órgãos públicos competentes, que não desempenham o seu papel de oferecer a infraestrutura básica e turística para aqueles que chegam em Santa Cruz dos Milagres, para o Reitor os parceiros das festas, são exclusivamente os “Romeiros de Santa Cruz”. Por outro lado durante a realização das festas, o Vice-reitor destacou a importância das parcerias com instituições públicas e privadas que atuam na segurança, organização do trânsito, no atendimento da saúde pública, e divulgação dos eventos na Cidade.

O vice-reitor ressaltou que com a construção do novo Santuário, muitos problemas foram sanados: a questão da vulnerabilidade ao sol e a chuva, diminuição de furtos por se tratar de um espaço mais amplo, redução das pessoas que passavam mal, sobretudo idosos nos períodos mais quentes do ano. Com isso facilitou a localização geográfica do devoto na Cidade.

Entretanto, surgiram novas demandas relacionadas ao comércio, no qual foi possível identificar princípios de conflitos, entre a Igreja e os comerciantes locais localizados nas proximidades da Igreja Matriz, que passaram a se sentir desfavorecidos com a construção do novo Santuário, que alterou a rota de visitação na Cidade.

[...] agora o problema que surgiu os que tem as barracas aqui em cima, dizem que estão perdendo clientes, então na verdade pessoas estão pensando só na dimensão econômica, alguns chegaram até criticar que a gente não deveria fazer as celebrações

lá, estão dizendo aqui que a gente deveria fazer tudo aqui em cima, mas sinceramente se tem uma igreja enorme, que é justamente para solucionar um determinado problema, e algumas pessoas querem dizer que é melhor fazer tudo aqui em cima. Tem uns que ainda dizem que a gente está quebrando a tradição, mas se foi construído essa igreja é para ser usada e a forma de valorizar o templo é usando, então infelizmente a gente tem tido muitos problemas. (Vice-reitor, 2018).

Sobre essas questões conflitivas já apontamos anteriormente, reflete a importância que o comércio local impacta na economia e nas relações estabelecidas entre a Igreja e a comunidade local. Sobre o olhar dos dirigentes sobre a promoção de Santa Cruz dos Milagres enquanto destino turístico religioso, destacamos os principais trechos no Quadro 06.

Quadro 04. Discursos dos Dirigentes sobre o Turismo religioso Discurso dos dirigentes do Santuário

DS1 – [...] existe até pastoral do Turismo, em algum Santuário já existe isso, mas quando se dá alguma infraestrutura. O Governador até colocou a rota do Turismo do Piauí, mas quando a pessoa chega aqui se depara e ver precariedade, na rede hoteleira ainda é frágil, os próprios restaurantes, deveria ter essa capacitação para quem trabalha com comida, a comida caseira, é uma coisa muito rústica ainda, não basta só a mídia tem que de fato acontecer [...]

DS2 – [...] o turismo já faz parte o ser humano de estar se deslocando de algum lugar, como Santa Cruz é um dos destinos dessa parte do turismo religioso, então as pessoas vêm procurar algo, e automaticamente tem que oferecer algo para eles, já que o turismo vai ajudar a movimentar a economia da Cidade, vai nos ajudar para que a Cidade se desenvolva em todas as dimensões, ao entrar no turismo religioso além de desenvolver a economia, esse ajuda também a propagar a parte essencial que é a religiosidade e é bem verdade que tanto turismo quanto à religião também podem promover a questão do crescimento econômico de um determinado lugar, então aqui no turismo religioso nós estamos desenvolvendo essas duas partes, tanto na parte econômica, como a parte espiritual [...]

DS3 - Agora como tudo na vida humana, nós temos uma espécie de moldura, a fé também se emoldura na vida familiar, na vida cultural, então é natural que esses lugares aqui como Santa Cruz vá passo a passo também se revestindo dessa dimensão cultural onde as pessoas querem conhecer querem não só ver o Santuário querem saber o que tem dentro, o que significa essas pinturas, as pedras que estão no altar vindas de Jerusalém, então tudo isso vai agregando curiosidade e se tornando informação preciosa para quem deseja conhecer uma região. Eu acredito que nós estamos à beira de uma descoberta desse lado turístico.

Embora os discursos estejam separados eles intercalam na fala dos dirigentes, é possível perceber o interesse da Igreja em buscar se aproximar deste discurso político de promover Santa Cruz dos Milagres enquanto destino turístico religioso. E com isso, busca considerar a importância de aspectos secundários como o desenvolvimento da dimensão econômica e cultural, ao lado da dimensão espiritual.

A busca pelo desenvolvimento turístico converge em muitos aspectos com os interesses da Igreja Católica, pois envolve sobretudo, a promoção do sagrado. Por se tratar de

destino turístico que se encontra em desenvolvimento, é claro o interesse da Igreja em promover ações conjuntas, que forneçam benefícios para os devotos e contribua para legitimar a centralidade da Igreja.