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Da (in) definição do termo interesse geral

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3.3. Das competências municipais

3.3.2.2. Da (in) definição do termo interesse geral

De igual modo, ou seja, a patente dificuldade para se definir o “interesse local”, como expressado anteriormente, se apresenta também no que tange ao “interesse geral”. Poucas doutrinas que tratam verticalmente sobre o tema e o Supremo Tribunal Federal nas oportunidades despontadas não apresentou soluções que conseguissem sanar as dúvidas e indagações deste importante tema.

Carlos Mário da Silva Velloso sustenta que interesse geral deve possuir as características de abstratividade e igual aplicabilidade no território brasileiro, pois enuncia que:

Normas gerais são princípios que incidem uniformemente no território nacional, cabendo aos Estados, Distrito Federal e Municípios complementá-las, mediante a elaboração de normas específicas, as quais objetivam adaptar os princípios às necessidades e particularidades regionais e locais.183

O Supremo Tribunal Federal, quando da abordagem do tema “interesse geral”, fez uso de digressões e eloqüências que se mostraram abertas e de conceito indeterminado, não contribuindo assim para a conceituação da questão.

Nos termos do Supremo Tribunal Federal, “interesse geral” é aquele que deve ter aplicabilidade uniforme184 em todo território nacional, dotado de generalidade ou abstração185,

182

SANTANA, op.cit., p. 103.

183 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Estado Federal e Estados Federados na Constituição Brasileira. O

equilíbrio Federativo in Temas de Direito Público. Belo Horizonte: Del Rey, 1994, p. 368-369.

184 ADI 1.007-7/PE 185

semelhante aos princípios e que sua matéria seja de relevância, ao produzir conseqüências diárias no comércio interestadual e internacional.186

Todavia, como dito, todos estes argumentos são desprovidos de métodos e técnicas que os tornem metodologicamente claros, pois, quando se diz que determinado tema, de maior relevância, deva obrigatoriamente pertencer à União, por conseqüência conclui-se que as demais questões são irrelevantes e assim as matérias de competência dos Estados- membros e Municípios seriam de importância inferior.

De igual modo criticam-se os conceitos generalidade e abstração, vez que o normal é o instrumento normativo encontrar-se envolvido de abstração, assim complicado se apresenta em mensuração da abstração.

Por fim, e não com menor crítica, aborda o ponto interestadual e internacional, sugerido pelo Ministro Ricardo Lewandowski do Supremo Tribunal Federal, para descrever o que vem a ser interesse geral. Entende-se que a imprecisão continua, ao ocorrer apenas a mudança de expressão, pois “novamente a subjetividade excessiva do critério interfere em sua “lisura””.187

Sapiente da dificuldade em definir os termos “interesse local” e “interesse geral”, para melhor delimitar o espectro de competência das entidades políticas que compõem o Federalismo brasileiro, são buscados instrumentos que têm por objetivo auxiliar este desiderato.

Como visto, a definição dos conceitos interesse local e geral se mostra extremamente complexa, uma vez que em muitas oportunidades os interesses se entrelaçam provocando conseqüências a todos os entes federativos. É importante a concepção de Bulos sobre esta realidade:

Acontece, porém, que certos assuntos não dizem respeito, apenas, à União, sendo de interesse também dos Estados. Noutros casos, temas de interesse local, repercutem no País inteiro, como é a problemática da devastação da Floresta Amazônica, da transposição do Rio São Francisco, da seca do Nordeste, e assim por diante. 188

186

ADI 3645-9/PR

187 TAVARES, André Ramos. Aporias acerca do “condomínio legislativo” no Brasil: uma análise a partir do

STF. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais – RBEC. Belo Horizonte: Editora Fórum, ano 2, n. 6,

abril/junho 2008, pg. 169. 188

Então, como levantado, a definição dos conceitos interesse geral e interesse local deve ser analisada sob o foco da predominância do interesse público à luz da distribuição de competências promovida pela Constituição Federal caso a caso, pois as competências não são independentes, mas sim interligadas.

Tem-se, assim, que o princípio da predominância do interesse público tem o interesse geral e local como sub-princípios e destes emergem os instrumentos legais que regulam concretamente a sociedade.

A interpretação destes sub-princípios se mostrar extremamente complexa, posto existir uma mutação constante dos interesses da sociedade, assim a conseqüência lógica, advinda desta complexidade, é um natural embaraço do real alcance dos instrumentos legais no caso concreto.

Juliano Taveira Bernardes contribui com este debate e orienta a melhor forma de promover uma adequação concreta e real dos instrumentos normativos, quando versa sobre a relação princípio x regra jurídica, veja:

Já os princípios não exigem indicação das condições necessárias à própria incidência, pois não configuram decisão concreta a ser obrigatoriamente adotada. São normas que ordenam que algo seja realizado, na maior medida possível, porém, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes. Não contém mandamentos definitivos, mas somente mandamentos prima facie, porquanto carecem da determinação relativa aos princípios contrapostos e às respectivas possibilidades reais de aplicação, senão também das possibilidades jurídicas decorrentes dos princípios e regras opostos. Logo, qualificam-se como mandamentos de otimização, acenando vontade normativa inclinada a certa direção.189

Surge então outra diferença dos princípios ante as regras jurídicas. As regras operam sob lógica disjuntiva, à maneira de um tudo ou nada. Se os fatos que pressupõem se materializarem, as regras serão aplicáveis por completo, ou não se aplicarão de modo absoluto. Assim, como somente uma regra pode incidir em face de determinada situação, se duas ou mais regras estão em conflito entre si, a resolução da antinomia jurídica daí decorrente deverá dizer qual será a única regra válida. Ao revés não há antinomia jurídica entre princípios, pois mais de um princípio pode regular uma mesma situação. É que princípios diversos comportam juízo de ponderação relativa, cujo resultado será a prevalência total ou parcial de um em detrimento da incidência do outro.190 Grifo nosso.

189 BERNARDES, Juliano Taveira. Controle abstrato de constitucionalidade: elementos materiais e princípios

processuais. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 318.

190

Então, o aparente conflito entre o interesse local e geral deve ser solucionado, tendo em pauta o interesse predominante. Num primeiro momento esta situação pode até se mostrar simples, mas o que se vê, no caso concreto, é exatamente o inverso, pois a dificuldade repousa na intenção de se definir qual sub-princípio prepondera numa dada situação real.

A despeito da dificuldade suscitada, passa-se a alinhavar discussões acerca do presente tema, tendo como principal desiderato encontrar soluções para esta intrincada situação, e, por consequência, definir o que essencialmente pertence aos Municípios em razão da predominância do interesse local.

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