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CAPÍTULO I: ELEMENTOS REPRESENTATIVOS DA HISTÓRIA DA

1.4. Da instituição das Diretrizes Curriculares Nacionais aos tempos atuais:

Seguido de inúmeros debates, conforme indicado no Parecer CNE/CP n. 05/ 2005 (BRASIL, 2005), o Conselho Nacional de Educação aprova a Resolução n. 01, de 15 de maio de 2006, a qual, por meio dos 15 artigos que a constituem, estabelece as DCN’s – Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, Licenciatura (BRASIL, MEC/CNE, 2006). Tais diretrizes definem “princípios, condições de ensino e aprendizagem e procedimentos a serem observados tanto nos projetos pedagógicos, quanto nos processos de avaliação, pelos órgãos dos sistemas de ensino e pelas instituições de ensino superior no país” (DURLI, 2007, p. 191).

As DCN’s de 2006 introduziram mudanças profundas na estrutura do curso de Pedagogia, de tal modo que outorga a este curso e ao Normal Superior, “autorizados e em funcionamento, adaptarem-se a essas diretrizes, para os que deverão propor novo projeto pedagógico” (GATTI, 2009, p. 49).

Penin (2011) indica três aspectos que alteraram significativamente os rumos do curso de Pedagogia a partir da promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais: 1º) definição pela área da licenciatura; 2º) a docência voltada às crianças de 0 a 10 anos e não mais aos jovens do Ensino Médio; 3º) o campo de atuação se expande para a Educação Infantil e Ensino Fundamental (primeiras séries). Para a autora, as DCN’s “deslocam as atribuições do curso normal para o de Pedagogia, definindo-o como Licenciatura, mas mantendo as atribuições relacionadas ao antigo bacharelado” (p. 63).

Buscando entender com mais clareza as proposições e alterações definidas por esta Resolução, segue a transcrição de dois artigos (2º e 3º), extraídos na íntegra do texto legal:

Art. 2º As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

§ 1º Compreende-se a docência como ação educativa e processo pedagógico metódico e intencional, construído em relações sociais, étnico-raciais e produtivas, as quais influenciam conceitos, princípios e objetivos da Pedagogia, desenvolvendo-se na articulação entre conhecimentos científicos e

72 culturais, valores éticos e estéticos inerentes a processos de aprendizagem, de socialização e de construção do conhecimento, no âmbito do diálogo entre diferentes visões de mundo.

Art. 3º O estudante de Pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética (Brasil, 2006).

Especificamente, em relação ao parágrafo 1º do artigo 2º, segundo Durli (2007), a concepção de docência expressa não traduz a posição da ANFOPE, tampouco o entendimento previsto no Projeto de Resolução da CB – Comissão Bicameral do CNE de 2005.

No que tange aos artigos 2º e 3º, com a pretensão de provocar um debate e instigar a inquietação acerca do conteúdo legal desta Resolução, dois pontos merecem especial destaque: a amplitude de atribuições conferida ao pedagogo (docência na Educação Infantil, Anos Inicias do Ensino Fundamental, Ensino Médio na modalidade Normal, Educação de Jovens e Adultos, além da formação de gestores), com um tempo e carga-horária visivelmente insuficientes ao que pretende e propõe a este profissional, mesmo estabelecendo como eixo central de formação a docência; e defesa pela formação continuada como espaço formalmente instituído para suprir as fragilidades da formação inicial, uma vez que, indica, textualmente, que “a consolidação dos conhecimentos necessários se dará no exercício da profissão”.

Chama atenção o segundo aspecto destacado, a ponto de causar preocupação, pois reconhece as fragilidades da formação inicial, mas as deixa escamoteadas sob o discurso em prol da formação continuada, sustentada pela defesa a uma formação profissional que se constrói na prática cotidiana.

Há que se realçar que essas amplas atribuições dadas ao pedagogo requerem uma complexa matriz curricular. A partir dessa observação, a questão temporal novamente se coloca em debate: Como um currículo organizado em três anos13, tempo no qual a maioria dos cursos de Pedagogia se estrutura, conseguirá atender a todas as demandas e atribuições previstas pela Resolução n. 01/ 200614?

13Vale ressaltar que as DCN’s estabelecem aumento da carga-horária mínima para o curso de Pedagogia, de

2.800 para 3.200 horas, entretanto não foi considerado, como tempo mínimo, quatro anos para a integralização curricular. Desse modo, boa parte das IES reorganizou o currículo do curso, atendendo ao preceito legal das 3.200 horas, mas mantendo a estrutura de três anos.

14 As atribuições postas pela Resolução n. 01/2006 serão melhor explicitadas nos capítulos seguintes, no cotejo

com os dados empíricos, referentes aos sujeitos da pesquisa, no caso os alunos concluintes do curso de Pedagogia.

73 Além das atribuições, têm-se ainda os saberes indicados (diversas áreas de conhecimento) a serem contemplados nos currículos dos cursos de Pedagogia, dentre eles: filosófico, histórico, antropológico, ambiental-ecológico, psicológico, linguístico, sociológico, político, econômico, cultural e pedagógico, em ambientes escolares e não escolares, conforme previsto no artigo 4º, parágrafo único, da Resolução em questão.

Shiroma (2011), por sua vez, sinaliza que as DCN’s foram alvo de críticas de associações, universidades e sindicatos, tanto pela forma como foram definidas quanto pelo seu conteúdo, uma vez que se ampliou o leque de funções docentes com ênfase nas atividades de gestão. De acordo com a autora, as DCN’s, por meio dos seus variados percursos formativos, busca formar um “profissional adaptável” a novas e inesperadas situações.

Assim, a partir das DCN’s de 2006, o curso de Pedagogia foi, aos poucos, se constituindo como o principal locus de formação para os professores dos níveis da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, além de agregar o desenvolvimento das funções relativas ao planejamento, gestão, avaliação de sistemas educativos escolares e de profusão e difusão de conhecimentos em diversas áreas da educação. Isso sem falar na extensão do campo profissional aos espaços não escolares, ampliando o espectro de atuação do pedagogo para além dos espaços educativos formais, ou seja, para além das escolas.