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A lei 7.210 de 1984, adotou o “sistema de progressão” na execução da pena. Isto é, o encarcerado poderá progredir do regime fechado ao semiaberto e do regime semiaberto ao aberto, cumprindo certas exigências.

Assim estabelece a lei

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão (BRASIL. Lei 7210/84).

Este benefício tem como requisito objetivo o cumprimento de 1/6 da pena anterior para progredir ao regime mais brando. E assim sucessivamente, para outra progressão. De outro modo, se o indivíduo está preso no regime fechado, para progredir para o regime semiaberto, deverá cumprir 1/6 da pena que lhe foi imposta. Entretanto, este mesmo indivíduo

poderá progredir do regime semiaberto para o aberto, desde que cumprido 1/6 da pena, mas não aquela aplicada no início, mas sim, o que restou.

Nessa perspectiva, afirma Capez (2017, p.583) “A cada nova progressão exige-se o requisito temporal. O novo cumprimento de 1/6 da pena, porém, refere-se ao restante da pena e não pena inicialmente fixada na sentença. ”

Confirma Roig (2017, p.361) “[...] a data-base (termo inicial) da progressão do regime semiaberto para o aberto nesse caso é o dia em que a pessoa condenada completou o requisito objetivo para a progressão do regime fechado para o semiaberto. ”

É necessário ficar atento a Lei, visto que a Lei de Execução Penal exige outros requisitos, também, quando se trata de progressão para regime aberto. Vejamos:

Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo Juiz.

Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o condenado que: I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente; II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime.

Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pessoas referidas no artigo 117 desta Lei.

Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições gerais e obrigatórias:

I - permanecer no local que for designado, durante o repouso e nos dias de folga; II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;

III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização judicial;

IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas atividades, quando for determinado. (Lei 7.210/84).

Em casos específicos quando a delinquente for mãe ou responsável por criança portadora de necessidades especiais, deverá ser observado, o parágrafo 3°, do artigo 112, da Lei de Execução Penal, em razão da lei estabelecer outros requisitos cumulativos para a concessão da progressão.

Outra peculiaridade, é em caso de crimes hediondos e equiparados, depois de longas discussões, a lei trouxe o requisito objetivo um pouco mais severo, tendo que ser atingido 2/5 da pena, para réus primários, e 3/5 da pena, para réus reincidentes.

Estabelece a Lei dos Crimes Hediondos:

§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for

primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3 º e 4 º do artigo 112 da Lei n º 7.210/84 (Redação dada pela Lei 13.769/2018) (BRASIL. Lei 8072/90)

Além do requisito objetivo para a obtenção da progressão, a lei também exige o requisito subjetivo, que nada mais é que ostentar bom comportamento carcerário, tendo que ser comprovado pelo diretor do estabelecimento penal.

Houve diversas discussões em razão da modificação que a Lei 10.792/2003 trouxe, quando passou a exigir apenas o parecer do diretor dizendo que o preso possui um bom comportamento carcerário. Está mudança não implica na execução da pena, pois o juízo da execução, por força do artigo 182 do Código de Processo Penal, não está vinculado a laudos, então se achar necessário, poderá requerer outras documentações, pareceres ou exames para que seja confirmado a sua posição em relação a progressão ou não.

Os requisitos objetivo e subjetivo são cumulativos. Ou seja, para obter a progressão da pena, o agente deve ter cumprido a pena equivalente, e ainda, ter um bom comportamento carcerário, que possa indicar que está apto para uma possível inclusão na sociedade.

Tendo em vista a transferência de regimes de pena há necessidade de prévia oitiva do Ministério Público, pois este tem o dever de fiscalização da execução da pena do indivíduo, já que é um integrante dos rgãos da execução penal. Sendo está exigência expressa em Lei “A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor” (artigo 112, § 1°, Lei 7.210/84).

Argumenta Roig (2017, p.355):

[...] em uma execução penal que preza pela tutela dos direitos humanos e maior efetividade jurisdicional, não deve haver óbice ao reconhecimento dos direitos da execução penal de ofício pelo juiz da execução. A denegação, por outro lado, não deve ocorrer de ofício, sob pena de nulidade, haja vista a necessidade de se assegurar ampla defesa ao condenado.

Não é admitido a progressão por salto. Quer dizer que a progressão apenas pode ser por exemplo do regime fechado para o regime semiaberto, e não do regime fechado progredir para o regime aberto.

Como mencionado acima, a cada progressão (regime fechado para o semiaberto e do regime semiaberto para o aberto) deverá ser observado os requisitos objetivo e subjetivo.

O condenado que cumpre pena no regime fechado não pode progredir diretamente para o regime aberto. Para obter a progressão, deverá, antes, cumprir um sexto de sua pena no regime semiaberto, e demonstrar a satisfação de seu mérito, preenchendo assim os requisitos objetivo e subjetivo

Reforça a súmula 491, do Superior Tribunal de Justiça “É inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional. ”

É relevante enfatizar, ainda, que a súmula 716 do Supremo Tribunal Federal aborda que “Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. ”

Neste mesmo sentido exemplifica Mirabete e Fabbrini (2018, p.415)

Tratando-se de condenação não transitada em julgado, é indispensável para o deferimento da progressão a expedição de guia de recolhimento provisória, ou, ao menos, comunicação formal do juiz da condenação ao encarregado da execução se for este o competente para decidir a respeito.

Em vista disso, é possível concluir que mesmo que a sentença não esteja transitada em julgado, poderá ser feito a progressão da pena para regime menos rigoroso. No entanto, deve ser obedecido regras para que seja eficiente.

Também é aplicado a progressão a indivíduos estrangeiros presos no Brasil, pois a Lei de Migração em conformidade com a Constituição Federal acentua que:

Artigo 54 [caput]

§ 3° O processamento da expulsão em caso de crime comum não prejudicará a progressão de regime, o cumprimento da pena, a suspensão condicional do processo, a comutação da pena ou a concessão de pena alternativa, de indulto coletivo ou individual, de anistia ou de quaisquer benefícios concedidos em igualdade de condições ao nacional brasileiro. (BRASIL. Lei de Migração de 2017)

O Supremo Tribunal Federal através da Ministra Ellen Gracie e Ministro Cezar Peluso proferiu o acórdão que favorece o condenado estrangeiro preso na obtenção da progressão. Notemos:

EMENTA: EXECUÇÃO PENAL. Pena privativa de liberdade. Progressão de regime. Admissibilidade. Condenação por tráfico de drogas. Estrangeira sem domicílio no país e objeto de processo de expulsão. Irrelevância. HC concedido. Voto vencido. O fato de o condenado por tráfico de droga ser estrangeiro, estar preso, não ter domicílio no país e ser objeto de processo de expulsão, não constitui óbice à progressão de regime de cumprimento da pena. (HC 97147, Relator (a): Min. ELLEN GRACIE, Relator (a) p/ Acórdão: Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma,

julgado em 04/08/2009, DJe-027 DIVULG 11-02-2010 PUBLIC 12-02-2010 EMENT VOL-02389-02 PP-00291 RTJ VOL-00213-01 PP-00561)

O benefício da progressão da pena será automaticamente revogado quando o condenado praticar fato definido como crime doloso ou for punido por falta grave, desobedecer às condições impostas na autorização ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso, é o que está expressamente no artigo 125 da Lei de Execução Penal. Entretanto, o que nos é imposto em lei não tem entendimento consolidado em jurisprudências.

Em conclusão, é possível verificar que o legislador teve uma visão para uma melhor inserção do preso na sociedade. De outro modo, com a Lei de Execução Penal, quando legislou sobre a progressão teve o intuito de abrir um leque de oportunidades para o encarcerado tentar sua reabilitação.

Com a progressão, o preso pode se sentir motivado a melhorar, ter um bom comportamento, para enfim passar a um regime mais brando e ao final ir para casa.