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Trata-se de remir a pena, desde que alcançados certos propósitos. Ou melhor, há o desconto na pena efetivamente cumprida, desde que cumprido requisitos estabelecidos em lei.

Este benefício vem regulamentado pelo artigo 126, caput, da LEP “O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena. ”.

Além da remição, por trabalho e estudo, o Conselho Nacional de Justiça, declarou uma nova espécie de remição, agora, pela leitura, em sua recomendação 44/13.

Como estipulada em lei, a remição será aplicada aos indivíduos presos em regime fechado e semiaberto. Além disso, por fulcro no artigo 126, § 7°, da LEP, será aplicado essas hipóteses também ao preso cautelar.

É significativo lembrar que a competência para decidir sobre a aplicação da remição é do juízo das execuções, bem como devem ser ouvidos previamente o Ministério Público e a Defesa (artigos 66, III, “c” e 126, § 8°, ambos da LEP).

Existe a possibilidade de cumulação das espécies de remição “§ 3° Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibili arem. ” (Artigo 126, § 3°, LEP) (BRASIL. Lei 7.210/84).

Por analogia, se aplica também a remição por leitura, pois “ [...] como a remição é um direito conducente (vetorialmente apontado) ao estado de liberdade, sua interpretação deve ser ampliativa, jamais restritiva. ” (ROIG, 2017, p.418). Para mais, a lei não faz restrições.

A lei ainda possui um dispositivo que prevê que “Artigo 126, § 4° O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição. ” (BRAIL. Lei 7.210/84).

E ainda, no mesmo artigo “§ 6° condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova...” (BRAIL. Lei 7.210/84).

O legislador pensando no descumprimento de alguns fatores, preceituou, também, sobre a revogação da remição, assim dispõe a lei no artigo 127, da LEP “Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. ”

Com efeito, o Superior Tribunal de Justiça em um recente acórdão decidiu:

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. REMIÇÃO PELO TRABALHO. PENA EFETIVAMENTE CUMPRIDA.

PRÁTICA DE FALTAS GRAVES. PERDA DE ATÉ 1/3 DOS DIAS REMIDOS PARA CADA FALTA. ILEGALIDADE. CÁLCULO EM RAZÃO DAS HORAS TRABALHADAS.

IMPOSSIBILIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado pela Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no sentido de não admitir habeas corpus em substituição ao recurso adequado, situação que implica o não conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem de ofício.

II - Nos termos do art. 128 da Lei de Execuções Penais, e da jurisprudência deste Tribunal Superior "os dias remidos pelo apenado por estudo ou por trabalho devem ser considerados como pena efetivamente cumprida." (HC n. 194.838/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe de 1º/08/2012), devendo ser somados ao tempo de pena para verificação do preenchimento dos requisitos necessários para a concessão de eventuais benefícios executórios.

III - A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça exige, para a remição da pena pelo trabalho, nos termos do art. 33 c/c 126, § 1º, da LEP, jornada não inferior a seis nem superior a oito horas diárias, de forma que o cálculo se dá pela quantidade de dias efetivamente trabalhados e não pelas horas. IV - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e deste Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que o cometimento de falta grave durante a execução da pena poderá ensejar a perda dos dias remidos, que, a partir da Lei 12.433/2011, ficou limitada à fração de 1/3 (um terço).

V - O v. acórdão que determinou a perda de 1/3 (um terço) dos dias remidos para cada uma das faltas disciplinares praticadas, não se ajusta à orientação jurisprudencial desta Corte Superior de Justiça. (HC 462.464/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe 28/09/2018)

Prevê o artigo 128, da LEP “O tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos. ”

Portanto, “ [...] se o tempo remido é computado como pena cumprida para todos os efeitos, dentre tais efeitos certamente está o de somar o tempo de remição ao tempo de pena cumprido, para fins de extinção da pena daqueles que atingirem o limite de 30 anos...” (ROIG, 2017, p.417).

A Lei de Execução Penal, ainda expõe:

Art. 129. A autoridade administrativa encaminhará mensalmente ao juízo da execução cópia do registro de todos os condenados que estejam trabalhando ou estudando, com informação dos dias de trabalho ou das horas de frequência escolar ou de atividades de ensino de cada um deles. (Redação dada pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 1° O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimento penal deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração da respectiva unidade de ensino, a frequência e o aproveitamento escolar. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

§ 2° Ao condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos. (Incluído pela Lei nº 12.433, de 2011)

Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de instruir pedido de remição.

Por isso, é considerada a LEP, uma lei que regula várias situações. Porém, não basta apenas a regulamentação, é necessário o empenho de todos, para que seja alcançado o objetivo de integrar novamente os condenados na vida social. Se cada uma exercer a parte que lhe cabe de maneira correta, será atingida a finalidade esperada.

3.4.1 Remição pelo estudo

Essa espécie de remição vem descrita no artigo 126, § 1°, inciso I, da LEP “1 dia de pena a cada 12 horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 dias. ”

Nessa perspectiva [...] não raras vezes o estudo acarretará melhores e mais sensíveis efeitos no presente e no futuro do preso, vale dizer, durante o período de encarceramento e no momento de reinserção social, do que no trabalho propriamente dito ...” (MARCÃO, 2018, p.211)

Outra particularidade que se pode observar é nos parágrafos 2° e 5°, do artigo 126, da LEP:

Artigo 126 [caput]

§ 2° As atividades de estudo a que se refere o § 1° deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados.

§ 5° O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação. (BRASIL. Lei 7.210/84).

Então, a remição pelo estudo, auxilia no aperfeiçoamento do preso, onde estudando, terá o direito de remir sua pena. Desta forma, ainda saíra do estabelecimento penal, com mais

conhecimento, em consequência, terá uma melhor adaptação social, e ainda, há grande possibilidade de menor reincidência.

3.4.2 Remição pelo trabalho

Nos termos do artigo 126, § 1°, inciso II, da LEP, é expresso a forma que será remido a pena pelo trabalho, ou seja, 1 dia de pena a cada 3 dias de trabalho.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é majoritária quando se trata das horas excedidas de trabalho.

Afirmam que:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. REMIÇÃO DA PENA PELO TRABALHO. CRITÉRIO DE CÁLCULO DO DIA TRABALHADO. JORNADA NÃO INFERIOR A 6 NEM SUPERIOR A 8 HORAS. CÔMPUTO DA REMIÇÃO EM HORAS. IMPOSSIBILIDADE, SALVO AS HORAS EXTRAS EXCEDENTES À OITAVA HORA DIÁRIA.

1. A remição da pena pelo trabalho, nos termos do art. 33 c/c 126, § 1º, da LEP, é realizada à razão de um dia de pena a cada três dias de trabalho, cuja jornada diária não seja inferior a 6 nem superior a 8 horas, o que impõe, para fins de cálculo, a consideração dos dias efetivamente trabalhados e não a soma das horas. Precedentes do STJ e do STF.

2. Eventuais horas extras merecem cômputo apenas quando excedentes à oitava hora diária, hipótese em que se admite o cálculo de dezoito horas para remição de um dia de pena. Precedentes do STJ.

3. A pretensão do recorrente de que seja efetuado o cálculo da remição de pena em horas, e não em dias de trabalho - remir 01 (um) dia de pena, a cada período de 18 (dezoito) horas de trabalho -, não encontra respaldo na legislação pátria, uma vez que, no presente caso, tiveram dias que o horário de trabalho foi inferior a 6 horas. 4. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 1549426/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 02/02/2016, DJe 10/02/2016)

Melhor dizendo, apenas será computado as horas que excederem as oito horas diárias, e ainda, somente irá computar dia remido quando completar dezoito horas.

Enfim, é permitido ao preso, exercer atividade laborativa tanto externa quanto interna, de forma que possa descontar um dia de pena a cada três dias trabalhados, conforme a lei deixa expressa.

3.4.3 Remição pela leitura

A Lei 12.433/2011 trouxe a remição pelo estudo. Pensando em uma melhor integração do indivíduo na sociedade, o Departamento Penitenciário Nacional, criou uma portaria conjunta que regulamentou a remição pela leitura nas penitenciárias federais.

Foi estabelecido então, conforme a Portaria Conjunta de n° 276/2012, a remição pela leitura, o qual visou uma nova forma de assistência ao indivíduo preso. Assim a participação do preso será de forma voluntária, será disponibilizado um exemplar de obra literária, clássica ou filosófica, dentre outras, de acordo com as obras disponíveis na Unidade (art. 3°).

O parágrafo único, deste mesmo artigo, declara que “é necessário que haja nos acervos das Bibliotecas das Penitenciárias Federais, no mínimo, 20 (vinte) exemplares de cada obra a serem trabalhadas no projeto. ” (BRASIL. Portaria Conjunta n° 276/2012).

Para a obtenção desse benefício é fundamental preencher os requisitos objetivo e subjetivo. Expostos a seguir:

Requisito Objetivo: “o preso terá o prazo de 21 a 30 dias para leitura de uma obra

literária, apresentando ao final do período uma resenha a respeito do assunto. ” (BRASIL. Portaria Conjunta n° 276/2012).

Dessa maneira, será possibilitado a remição de 04 dias de pena e ao final de até 12 obras lidas e avaliadas, terá a possibilidade de remir 48 dias, no prazo de 12 meses, de acordo com a capacidade gerencial da Unidade. (BRASIL. Portaria Conjunta n° 276/2012).

Requisito Subjetivo: com no artigo 126 da Lei nº 7210/84, equiparando-se ao trabalho

intelectual, e considerando a exatidão e a clareza da resenha, sendo desconsideradas aquelas que não atenderem a esse pressuposto. (BRASIL. Portaria Conjunta n° 276/2012)

Com efeito, o Conselho Nacional de Justiça, considerando a matéria da Portaria Conjunta n° 246/2012, e também, a assistência educacional ao preso, emitiu a Recomendação n° 44/2013, para que os Tribunais estimulem a remição pela leitura, no âmbito dos estabelecimentos penais estaduais.

Assim sendo:

Possuidor de diferentes visões e análises as quais a leitura o proporciona, o ex-encarcerado estará preparado para situações às quais antigamente não estaria, nem sabia como agir. Desta forma, terá maior facilidade para adaptação e tomada de decisões, por exemplo, devido ao conhecimento de mundo que a leitura proporciona. Quanto mais houver praticado o hábito da leitura, maior facilidade encontrará em combater as dificuldades que vierem a aparecer. (CARDOSO et al. 2013, p.7).

Nesse contexto, é relevante frisar a importância que a remição pela leitura tem no âmbito penal. Além de remir a pena, tem o intuito de levar ao indivíduo um melhor aprendizado literário. E ainda, tem o propósito de levar ao preso a oportunidade de uma mudança de comportamento.

Por ser um novo benefício, ainda não está em lei, porém há grandes motivos para ser inserido. Já que a leitura proporciona um melhor conhecimento, seja técnico, filosófico ou científico. Enfim, levando ao indivíduo uma nova oportunidade, lhe mostrando ideias de como ser diferente, e ainda, lhe proporcionando uma melhor ressocialização, pois terá assuntos que o interessam quando sair da unidade prisional, e consequentemente, assim sendo afastado da reincidência.