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De acordo com Nucci (2018, p.226):

Trata-se de um instituto de política criminal, destinado a permitir a redução do tempo de prisão com a concessão antecipada e provisória da liberdade do condenado, quando é cumprida pena privativa de liberdade, mediante o preenchimento de determinados requisitos e a aceitação de certas condições.

O autor ainda esclarece “É medida penal restritiva da liberdade de locomoção, que se constitui num benefício ao condenado e, portanto, consiste em um direito subjetivo de sua titularidade, integrando um estágio do cumprimento da pena ” (NUCCI, 2018, p.226).

Agrega Avena (2018, p.327):

Diz-se que a liberdade é antecipada porque o indivíduo retorna ao convívio social antes do cumprimento integral da pena privativa de liberdade; é condicional porque fica ele sujeito, durante o período restante da pena (período de prova ou período de experiência), ao cumprimento das condições fixadas na decisão que concedeu o benefício;

Este instituto poderá ser concedido pelo juiz da execução, quando presentes os requisitos estabelecidos no artigo 83, do Código Penal, desde que ouvidos o Ministério Público e o Conselho Penitenciário. (Artigo 131, LEP) (BRASIL. Lei 7.210/84).

O livramento condicional será aplicado também ao presidiário estrangeiro, com fundamento na Lei de Migração, que o iguala com os cidadãos brasileiros.

Além disso, pode ser autorizado a obtenção do benefício sem a necessidade de passar por todos os regimes prisionais (fechado, semiaberto e aberto). Qualquer que seja o regime prisional, quando preenchidos os requisitos, será permitido o livramento condicional.

Os requisitos listados no artigo 83, do Código Penal, são divididos em objetivos e subjetivos. Olhemos:

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)

Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)(BRASIL. Lei 7.210/84).

Como visto, é possível dividir os requisitos em objetivos e subjetivos. Nesse caso, os requisitos de caráter objetivo devem ser cumpridos rigorosamente pelo apenado, pois se cumpridos, juntamente com os de caráter subjetivo, será concedido o livramento condicional. Já os requisitos de caráter subjetivo serão analisados pelo Juiz da execução.

Enfatiza Marcão (2018, p.219) “Atendidos os pressupostos objetivos e subjetivos, o liberado condicionalmente deverá cumprir o restante de sua pena em liberdade, submetendo-se a certas e determinadas condições, sob pena de revogação do benefício e imediato retorno ao convívio carcerário. ”

As condições citadas acima pelo autor, vêm descritas no dispositivo da Lei de Execução Penal - artigo 132. Serão impostas ao liberado condicionalmente, as seguintes condições:

a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;

c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste. (BRASIL. Lei 7.210/84).

Poderá, ainda, serem impostas outras condições, a critério do Juiz da execução:

a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção;

b) recolher-se à habitação em hora fixada;

c) não frequentar determinados lugares. (BRASIL. Lei 8.210/84).

Poderá o Juiz modificar as condições especificadas na sentença, devendo o respectivo ato decisório ser lido ao liberado por uma das autoridades ou funcionários indicados, desde que a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou mediante representação do Conselho Penitenciário, e ouvido o liberado (BRASIL. Lei 7.210/84).

As condições impostas para a concessão do benefício serão especificadas na sentença, conforme estabelecido em lei.

O legislador, pensando na hipótese de o beneficiário residir fora da comarca do juízo da execução, estipulou regras para que seja autorizado o benefício, deverá, assim, ser remetido a cópia da sentença do livramento ao juízo do lugar para onde ele se houver transferido e à autoridade responsável da observação cautelar e de proteção. O liberado, também, será advertido da obrigação de se apresentar às autoridades citadas acima (BRASIL. Lei 7.210/84)

A Lei de Execução Penal se preocupou em redigir quatro artigos para regulamentar a cerimônia da concessão do livramento condicional, que serão apresentados neste trabalho superficialmente.

Art. 136. Concedido o benefício, será expedida a carta de livramento com a cópia integral da sentença em 2 (duas) vias, remetendo-se uma à autoridade administrativa incumbida da execução e outra ao Conselho Penitenciário.

Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realizada solenemente no dia marcado pelo Presidente do Conselho Penitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena, observando-se o seguinte:

I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais condenados, pelo Presidente do Conselho Penitenciário ou membro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz;

II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberando para as condições impostas na sentença de livramento;

III - o liberando declarará se aceita as condições.

§ 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito por quem presidir a cerimônia e pelo liberando, ou alguém a seu rogo, se não souber ou não puder escrever.

Art. 138. Ao sair o liberado do estabelecimento penal, ser-lhe-á entregue, além do saldo de seu pecúlio e do que lhe pertencer, uma caderneta, que exibirá à autoridade judiciária ou administrativa, sempre que lhe for exigida.

§ 1º A caderneta conterá: a) a identificação do liberado;

b) o texto impresso do presente Capítulo; c) as condições impostas.

§ 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um salvo-conduto, em que constem as condições do livramento, podendo substituir-se a ficha de identificação ou o seu retrato pela descrição dos sinais que possam identificá-lo.

§ 3º Na caderneta e no salvo-conduto deverá haver espaço para consignar-se o cumprimento das condições referidas no artigo 132 desta Lei.

Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por serviço social penitenciário, Patronato ou Conselho da Comunidade terão a finalidade de:

I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas na sentença concessiva do benefício;

II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas obrigações e auxiliando-o na obtenção de atividade laborativa.

Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cautelar e da proteção do liberado apresentará relatório ao Conselho Penitenciário, para efeito da representação prevista nos artigos 143 e 144 desta Lei.

É relevante destacar que em relação ao artigo 139, da LEP o papel do Patronato e do Conselho da Comunidade é, proteger e observar as atitudes do liberado, e cuidar para que ele não faça o que está impedido nas condições que lhe foram impostas pelo juízo, bem como contribuindo para que encontre uma atividade laborativa. Dessa forma, evitando uma possível revogação do benefício, bem como diminuindo o índice de reincidência.

Convém mencionar, também, que “ extremamente importante a assistência aos egressos, em continuidade ao apoio recebido quando recolhidos ao estabelecimento penal e até que sejam perfeitamente integrados socialmente. ” (MIRABETE, FABBRINI, 2018, p.660).

Os autores ainda afirmam “[...] uma atuação assistencial eficiente levará a cabo a finalidade principal da pena que é a de preparar o melhor possível o indivíduo a reinserção social. ” (MIRABETE, FABBRINI, 2018, p.660).

Por outro lado, há possibilidade que para a obtenção do livramento condicional deva ocorrer a soma das penas, como estabelece o Código Penal, no artigo 84 “As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento. ”

Concluí Nucci (2017, p.634):

É possível que o condenado possua penas fracionadas, nenhuma igual ou superior a dois anos, de modo que lhe seria impossível obter o livramento condicional [...]. Entretanto, pode-se realizar a soma das penas, o que é medida salutar de política criminal, para que o sentenciado possa atingir a liberdade antes do término de sua

pena. Por outro lado, é fundamental somar-se as penas para atingir o quantum total e cabível no âmbito do cômputo dos prazos para a concessão do benefício.

Em virtude de o livramento condicional deixar o preso cumprir o restante da pena em contato com a sociedade, foi estabelecido a possibilidade de revogação do benefício.

A Lei 7.210/84 ao redigir sobre a revogação, a remeteu ao Código Penal, onde está prevista nos artigos 86 e 87. Aliás, a revogação do livramento condicional, é fracionada em dois tipos: obrigatória e facultativa.

Pois então, a revogação obrigatória se dá pelo artigo 86, do Código Penal, qual a redação foi dada pela Lei 7.209/84. Será revogado o benefício:

a) se o liberado for condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível;

b) caso cometa crime durante a vigência do benefício;

c) ou, ainda, por crime anterior, observado a soma das penas no artigo 84, do Código Penal (BRASIL. Lei 7.210/84).

Já a revogação facultativa, fica a critério do juiz, sobre decidir se é adequado ou não a revogação. Por isso, o artigo 87, do Código Penal, dispõe que poderá ser revogado, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade. (BRASIL. Lei 7.210/84).

O parágrafo único do artigo 140, da LEP, ainda sistemati a “Mantido o livramento condicional, na hipótese da revogação facultativa, o Juiz deverá advertir o liberado ou agravar as condições. ” (BRASIL. Lei 7.210/84)

Ainda sobre a revogação, a LEP trouxe outras particularidades:

Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal anterior à vigência do livramento, computar-se-á como tempo de cumprimento da pena o período de prova, sendo permitida, para a concessão de novo livramento, a soma do tempo das 2 penas.

Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se computará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.(BRASIL. Lei 7.210/84)

Ademais, só será decretada a revogação a requerimento do Ministério Público, com a representação do Conselho Penitenciário, ou, de ofício, pelo Juiz, sendo ouvido o liberado (BRASIL. Lei 7.210/84).

Se revogado o livramento condicional, este não poderá ser novamente concedido. A não ser que a revogação resulte de uma condenação por outro crime anterior ao benefício, assim, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o agente, com fundamento no artigo 88, do Código Penal.

Além da revogação, o Juiz da execução, poderá ordenar a prisão do liberado, caso ele cometa outra infração penal, desde que ouvido o Conselho Penitenciário e o Ministério Público. Diante disso, será suspenso o livramento condicional, cuja a revogação, ficará sujeita a decisão final. (BRASIL. Lei 7.210/84).

Isto é, quando o é dado conhecimento que o liberado cometeu outra infração penal, o Juiz da execução, com base nos acontecimentos e para a proteção da sociedade poderá suspender o benefício. Já que estando em convívio social, gerará uma insegurança a população, pode, também, o juiz decretar imediatamente a sua prisão, até uma decisão definitiva.

O Superior Tribunal de Justiça em seu acórdão decidiu:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. LIVRAMENTO CONDICIONAL.

PRÁTICA DE NOVO DELITO. SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO.

POSSIBILIDADE. CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA EM RELAÇÃO AO NOVO CRIME. IRRELEVÂNCIA.

INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA.

1. Não há ilegalidade na decisão que, dentro do prazo do período de provas, suspende o benefício do livramento condicional, em razão da notícia da prática de novo delito pelo Apenado. Precedentes.

2. "[O] fato de ter sido concedida liberdade provisória ao paciente, em relação ao crime cometido no curso do livramento condicional, não implica em ilegalidade da suspensão cautelar do benefício" (HC 398.352/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 20/09/2017).

3. Ordem de habeas corpus denegada.(HC 443.805/RS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 06/11/2018, DJe 22/11/2018)

Será julgada extinta a pena privativa de liberdade, se expirar o prazo do livramento condicional sem a revogação. Sendo decretada pelo Juiz, a requerimento do interessado, do Ministério Público ou mediante representação do Conselho Penitenciário (BRASIL. Lei 7.210/84).

Além disso, o juiz apenas declarará extinta a pena, quando o processo que o liberado responde por crime cometido na vigência do livramento, transitar em julgado (artigo 89, CP).

O livramento condicional é considerado como a última etapa do sistema penitenciário. O que pretende é que ao conceder o livramento, o liberado fique em convívio com a sociedade até extinta a sua pena privativa de liberdade. Permitindo a ele a integração total na sociedade,

de modo que ele conviva de forma normal como todos, estudando, trabalhando e experimentando novamente as relações afetivas.

O intuito é proporcional ao liberado, com o auxílio do Conselho Penitenciário e do Patronato uma “vida normal”, provocando assim, uma melhor ressocialização e o mais importante, diminuindo o índice de reincidência.