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Desta análise histórica realizada entre os capítulos 3 e 4, sobre o surgimento das seguradoras, obtivemos dois resultados mais significativos de categorias que exemplificam a construção social deste mercado, a relevância dada aos valores morais vinculados aos seguros e dentre eles, a ascensão da ideia de sustentabilidade.

O primeiro resultado versa sobre os valores das condutas morais apresentadas como marketing que mostram sintonia com a moral vigente do mundo dos negócios também presentes no mercado segurador e que envolvem uma gama

de padrões que não tem uma relação direta com a atividade do mercado, mas que passa a agregar valor a ele e construir posições de distinção também com relação à reputação das empresas.

Assim verificamos, como no caso de suas participações em programas de avaliação ética ou de sustentabilidade ou no caso das que recebem prêmios e são reconhecidas por iniciativas consideradas de trabalho social, as virtudes morais tornam-se atributos passíveis de métrica de avaliações e ranqueamento e permite a legitimação da compra e venda da apólice, isto é da concretização do Seguro Ambiental, que na verdade é um seguro do risco do desastre.

No segundo resultado da análise histórica se observa a introdução da sustentabilidade como um valor das empresas seguradoras que não está necessariamente atrelada à venda de um portfolio significativo de Seguros Ambientais. Mas demonstra a sintonia com a lógica dos mercados financeiros e dos princípios de busca por sustentabilidade no mercado de seguros.

Verificamos que as empresas Seguradoras aqui estudadas desempenham papeis sociais ao longo de suas trajetórias de modo que a suas atividades econômicas estão inseridas em diferentes contextos sociais, culturais e históricos que legitimaram suas posições no mercado. ―The discourse of the market is increasingly articulated in moral and civilizational terms, rather than simply in the traditional terms of self-interest and efficiency‖. (FOURCADE, 2007, p. 21) 165

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A prática de avaliações faz parte do mercado de Seguros Ambientais, neste caso com relação à avaliação dos riscos ambientais pelas seguradoras. No entanto, as próprias seguradoras podem ser avaliadas conforme seus desempenhos, como por exemplo, com relação à sustentabilidade.

Na análise dos questionários que avaliam o risco das empresas candidatas a contratação de Seguros Ambientais reconhecemos dez categorias que criam dispositivos a serem utilizados pelas seguradoras para a determinação dos riscos ambientais. Estes dispositivos representam diferentes campos sociais e dimensões de valores simbólicos que ao final do processo de avaliação de riscos transformam- se no preço das apólices.

165 ―O discurso do mercado é cada vez mais articulado em termos morais e civilizacionais, ao invés de simplesmente nos termos tradicionais de auto interesse e eficiência‖. (FOURCADE, 2007, p. 21). Tradução nossa.

São eles: Monetários, Normativo-Legais, Normativo-Técnicos Científicos, Programas de avaliações, auditorias e certificações, Judicial, Responsabilidade Social/ Sustentabilidade, Geolocalização e condições naturais do local, Natureza da atividade, Segurança e Histórico/ Reputação. A origem e o conteúdo destes dispositivos serão tratados no capítulo cinco, conforme detalhamos os itens dos questionários de riscos.

Lamont, (2013) em Sociologia da valoração e da avaliação (SVA), trata dos efeitos estruturantes sociais que surgem pela adoção de ferramentas de gestão pública de quantificação, desempenho e benchmarking seguindo por preceitos neoliberais de expansão do fundamentalismo de mercado (SOMERS E BLOCK, 2005 apud LAMONT, 2013). As práticas de valoração e avaliação podem ser moldadas por expertises, pela lei, pelo corpo ou noções de justiça, mas tem limitações ao tentar transformar valores em números.

Estes sistemas de valorações e avaliações levam também a determinação da reputação das empresas no cenário segurador e acusam a empresa que está apta a comprar ou não o Seguro Ambiental166. Isto é, aqui tal mercado não é efeito do encontro da oferta e procura, mas depende da avaliação da empresa que quer adquirir o seguro para depois determinar se ela pode comprar a apólice de seguro e determinar o valor desta.

Ao mesmo tempo se conseguíssemos avaliar e medir a eficiência da contratação dos Seguros Ambientais com relação à ampliação de proteção ambiental por parte das empresas contratantes, os seguros poderiam se legitimar como prática de proteção ambiental, como recomenda a Politica Nacional do Meio Ambiente, quando o institui como instrumento econômico de politica ambiental. (Lei n. 11.284/2006). Assim pode se considerar que o fato de possuir seguros já legitimam empresas poluidoras com relação a uma distinção no sentido de adoção de boas praticas ambientais.

Conforme Lamont (2013) tais ferramentas de avaliação ganham relevância social em diversas instituições a partir da publicação de relatórios que criam padronizações e também a internacionalização destes padrões, hierarquias de

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Em entrevista um dos entrevistados dirigente de uma corretora de seguros em Porto alegre, informou que existe um banco de dados que é trocado por algumas seguradoras ou até vendido e que contém histórico de empresas. Neste sentido há uma avaliação da reputação delas dentro do mercado de seguros.

valores ou méritos, Worth. Neste caso, de análise dos Seguros Ambientais, associado a praticas de governança corporativa das empresas.

Dentro destes critérios de avaliação e valoração, buscamos conhecer – quais dispositivos são utilizados pelo mercado de Seguros Ambientais para avaliar e valorar as empresas que contratam o seguro de modo a legitimar o mercado.

Quando falamos em Legitimação do mercado, a partir de Lamont (2013) temos que: ―A legitimação/consagração se refere ao reconhecimento de alguém e de outros sobre o valor de uma entidade (seja uma pessoa, uma ação ou uma situação)”. (LAMONT, 2013, p. 14).

Ao tratar da legitimação do mercado de Seguros Ambientais consideramos os atores representativos no campo que influenciam o funcionamento deste mercado, ainda que este estudo não seja direcionado a análise da dinâmica dos atores no mercado, precisamos identificá-los, conforme tratamos no capítulo 3, para conectá- los com a criação dos dispositivos utilizados nas avaliações de riscos que se refletem na construção de preço das apólices.

Na linha dos estudos de Zelizer (1978), Fourcade e Healy (2007) verificamos que os dispositivos de avaliação do risco ambiental cumprem o papel de naturalizar a avaliação dos riscos e reproduzir uma moral em termos dos valores e formas de valorações que são adotadas criando um valor monetário para o risco de danos á natureza.

5 Da avaliação à precificação dos riscos ambientais pelo mercado de seguros

5.1 Dispositivos de avaliação de risco ambiental pelo mercado de Seguros