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Assim, como o estudo sobre o Seguro de vida de Zelizer (1978), o Seguro Ambiental nos exigiu uma revisão histórica do seu surgimento para se chegar a como se constrói equivalentes monetários para bens que não faziam parte do mercado, como o risco ambiental.

A questão da importância das investigações sobre mercados e valores humanos é colocada assim por Zelizer:

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Relatório da UNEP Finace Initiative de Princípios de sustentabilidade em seguros. Disponível em: <http://www.unepfi.org/psi/wp-content/uploads/2012/05/PSI-document_Portuguese.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2016.

O problema de estabelecer equivalências monetárias para coisas como a morte, vida, órgãos humanos e itens geralmente ritualizados ou comportamento considerado sagrado e, portanto, além da definição monetária é tão intrigante como não está sendo estudado. Talvez a absorção de muitos cientistas sociais com os modelos de "mercado" e a noção de homem econômico os levaram e outros a desconsiderar certas complexidades na interação entre o mercado e Valores humanos (ZELIZER, 1978, p. 592 (Tradução nossa)) 161.

Já esta análise sobre os Seguros Ambientais, parte de um mercado ainda muito recente no Brasil, mas já podemos identificar que a ascensão das causas de proteção ambiental, a ampliação da legislação e dos sistemas de fiscalização ambiental, o incentivo a sistemas de gestão ambiental nas empresas e de avaliação das atividades de risco ambiental ajudaram a criar um cenário para a venda destes seguros.

As avaliações de risco feitas pelas seguradoras hoje, exercem um papel de auditoria quanto à conformidade das empresas, com relação ao respeito às normas e melhores práticas ambientais, funcionando também como intermediadores para o cumprimento destas recomendações. Até então estas avaliações eram responsabilidade das próprias empresas e agora passam a ser terceirizadas e administradas também por outras empresas como as de consultoria ou as próprias seguradoras quando oferecem serviços ambientais.

O mercado de Seguros Ambientais também cria atividades auxiliares e passa a trabalhar com uma rede de empresas de assessoria para remediação de acidentes ambientais que são acionadas imediatamente após a ocorrência do sinistro, acidente ambiental162.

O Seguro Ambiental vende a ideia segurança, pelo controle dos riscos e cobertura financeira do Dano ambiental, eventos e condições de poluição, mas quando cumpre a função de avaliar o risco das empresas, pode recusar a cobertura por identificar que faltam adequações e conformidades normativas. Neste sentido, o seguro cumpre uma função didática que pode contribuir para uma redução de riscos.

161 No original: ―The problem of establishing monetary equivalences for such things as death, life, human organs, and generally ritualized items or behavior considered sacred and, therefore, beyond the pale of monetary definition is as intriguing as it is understudied. Perhaps the absorption of many social scientists with "market" models and the notion of economic man led them and others to disregard certain complexities in the interaction between the market and human values.‖

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Esta informação foi registrada em entrevista junto a um dos diretores de uma das seguradoras em sua sede em Porto Alegre/ RS. Entrevista realizada em 22 de fevereiro de 2018.

Outra observação importante é verificar a terminologia utilizada na descrição destes mercados, no estudo de Zelizer (1978), o seguro foi nomeado como ―de vida‖ e não de morte e os Seguros Ambientais, como tais, e não como seguros por ―danos ambientais‖, no sentido de reforçar a segurança e a capacidade do controle de riscos, sendo que ambas as espécies de seguros, o de vida e o ambiental, surgem inicialmente para serem acionados após os eventos morte ou dano ambiental. Neste sentido, observamos uma mudança atual e um movimento destes seguros na antecipação da prestação de seus serviços.

O de vida hoje inclui alguns benefícios que são oferecidos propriamente, em vida como extensão de seguros aos animais de estimação e cobertura de uma segunda opinião médica internacional163, por exemplo. E o Seguro Ambiental inclui o processo de descontaminação de áreas164 e medidas de contenção do sinistro em geral.

Na história do seguro de vida, este se legitima através de sua função de assistência às famílias dos falecidos e no Seguro Ambiental se legitima na possibilidade de prevenção ou recuperação e remediação dos danos ambientais.

Estes elementos contribuem para a legitimação social do mercado e dos Seguros Ambientais, assim, o que é vendido é a sensação de segurança sobre a cobertura do dano ao Meio Ambiente e uma minimização dos impactos gerados.

Como o seguro de vida, hoje, ―vende‖ a ―boa morte‖ (ZELIZER, 1978), aquela em que o beneficiário tem assegurado monetariamente o futuro de sua família, o Seguro Ambiental vende a qualidade do Meio Ambiente. O de vida resolve a questão da pobreza, como problema social, que afeta terceiros, quando, muitas famílias não têm condições de subsistência pela morte de seus mantenedores. O Seguro Ambiental vende a possibilidade de um Meio Ambiente equilibrado para todos, através da cobertura do risco gerado por empresas poluidoras.

No âmbito internacional também se observa distintas formas de valoração simbólica e diferentes visões sobre a cobertura financeira de desastres ambientais. Conforme narra Fourcade (2011), os acidentes ambientais são valorados de formas

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Disponível em:

<http://www.libertyseguros.com.br/Pages/seguros/Vida/Vida-especial.aspx>. Acesso em: 22 abr. 2018.

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diferentes na França e nos Estados Unidos em razão das diferentes visões das sociedades em que eles ocorrem, havendo diferentes formas de lidar com a monetarização destes custos e com uma dificuldade maior na França em aceitar pagamentos econômicos pelos danos ambientais.

Zelizer (1978) apontou técnicas de marketing e mudanças culturais como responsáveis em parte pela venda de seguros de vida após o século XIX. Entre elas a técnica de venda em que um número maior de corretores é direcionado para um contato pessoal de persuasão do cliente o que não ocorria com outros casos como seguros marítimos e de incêndios em que surgia rapidamente uma demanda pela contratação dos seguros após a ocorrência de acidentes.

Verifica-se quanto aos Seguros Ambientais uma narrativa muito próxima, em entrevista realizada em fevereiro de 2018 com o diretor da Mapfre em Porto Alegre, o colaborador da seguradora menciona a necessidade de serviços de venda direta e apresentação dos produtos ambientais aos clientes, justo por não ser considerado o Seguro Ambiental um produto conhecido, o que leva um público menor de consumidores a recorrerem a ele é geralmente o fato de passarem por acidentes ambientais e processos administrativos ou judiciais pelo cometimento de infrações ambientais além da coerção ao cumprimento da legislação ambiental por algum órgão fiscalizador.

4.5 Da valoração moral à avaliação dos riscos no mercado de seguros e sua