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A sustentabilidade apontou como convergência de todas as empresas analisadas a busca por harmonizar o modelo de desenvolvimento a uma maior proteção ambiental a partir do conceito de desenvolvimento sustentável.

A ideia de desenvolvimento sustentável é assentada pelo Relatório de

Brundtland154, o qual definiu Desenvolvimento sustentável como: “aquele que atende

às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações

futuras atenderem as suas próprias necessidades” 155

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A sustentabilidade surge desta ideia de desenvolvimento sustentável e assume ao longo da história diversas definições e se assenta em três diferentes esferas: uma dimensão ecológica, econômica e social (MARQUES; SKORUPA e FERRAZ, 2003, p. 22).

Sartore, (2012) em estudo sobre a implementação dos Índices de Sustentabilidade na esfera pública no Brasil, na dimensão do mercado financeiro, demonstra como estes índices se tornam significativos nas configurações de poder que vem se disseminando em diferentes esferas da sociedade. E quanto ao

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O Relatório de Brundtland, lançado em 1987, foi produzido a partir da conferência da ONU chamada Nosso futuro comum, presidida pela ex- primeira ministra da Noruega a médica Gro Harlem Brundtland. Este relatório foi um marco mundial e trouxe pela primeira vez a ideia de desenvolvimento sustentável.

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surgimento dos índices de sustentabilidade expõe que a ideia de sustentabilidade empresarial apreendida pelos criadores do Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE, também considera estas três esferas, seja economia, Meio Ambiente e sociedade (SARTORE, 2012).

A autora esclarece a origem da incorporação destes preceitos pelas organizações que ocorre em 1994, através da consultoria Sustainability que criou a ideia de ―Triple bottom line‖ (tripé da sustentabilidade) no qual estão presentes ―people, planet profit‖, (pessoas, planeta e lucro). Esta ideia foi trazida para o Brasil através do Instituto Ethos, de responsabilidade social empresarial (SARTORE, 2010).

Em 2012, foi lançada a indicação de publicação de Relatórios de Sustentabilidade pelas empresas seguradoras participantes do mercado de ações, pela rede de empresas brasileiras que integra o Pacto Global, durante o Fórum de Sustentabilidade Empresarial da Rio+20.

As empresas se comprometeram, a melhorar a eficiência do uso de recursos naturais, gerar empregos dignos, definir metas concretas, relatar seus avanços na busca por maior sustentabilidade e influenciar e apoiar as políticas do governo brasileiro nessa área. A recomendação também se deu no sentido de que o governo através de seus órgãos reguladores obrigasse às empresas de capital aberto a publicação destes relatórios156. Os relatórios de sustentabilidade se tornaram uma recomendação da ONU para que as empresas assim como apresentam seus relatórios financeiros, adotassem programas de sustentabilidade e publicassem relatórios também referentes a estas atividades.

Quando as empresas adotam avaliações de sustentabilidade empresarial e se submetem a avaliações pelo Índice de sustentabilidade empresarial utilizado pelo mercado financeiro no mercado de ações aberto, elas adotam princípios destas três esferas: ecológica, econômica e social. Para avaliação e ingresso no ISE- índice de sustentabilidade empresarial é selecionado pelo Conselho deliberativo da BM&FBOVESPA apenas 40 empresas157. Mesmo não participando do ISE as

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Disponível em:

<http://www.valor.com.br/rio20/2719076/bolsas-vao-exigir-de-empresas-relatorio-de- sustentabilidade#ixzz1zl9x45Zk>. Acesso em: 18 fev. 2018.

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empresas que fazem parte da bolsa são recomendadas a publicação de relatórios de sustentabilidade.

No entanto, mesmo empresas como a Liberty de capital fechado, que não participa do mercado de ações e não são recomendadas a publicar relatórios de sustentabilidade ou de buscar integrar os índices de sustentabilidade, introjetam como cultura organizacional a necessidade de apresentar ações sustentáveis como observamos o programa de boas práticas e preservação e o serviço de descarte responsável para os possuidores de seguro residencial e também produz relatórios de sustentabilidade disponibilizados em seu site158.

Neste sentido observamos que o apelo à incorporação da sustentabilidade como princípio empresarial esta para além da imposição do mercado financeiro de ações.

Conforme verificamos das quatro seguradoras estudadas, apenas a Liberty não tem capital aberto, as outras, Mapfre, Tokio Marine e AIG tem capital aberto e fazendo parte do mercado de ações são recomendadas a publicação de relatórios de sustentabilidade desde 2012159, mas nenhuma possui o relatório publicado no site da BM&FBOVESPA. Seus relatórios são disponibilizados em seus sites e recebem nomenclaturas diferenciadas por vezes chamadas como relatório social e não seguem uma frequência exata de publicação.

Quando tratamos nesta pesquisa, de dispositivos que avaliam a sustentabilidade das empresas que contratam seguros ambientais, tratamos de sua dimensão ecológica primordialmente, vinculada às práticas de gestão ambiental. Nesta dimensão de análise importa referirmos à questão da sustentabilidade porque esta aparece no discurso do mercado de Seguros Ambientais e também como um dos dispositivos de avaliação de risco das empresas que os contratam.

Ressaltamos a importância destes relatórios de sustentabilidade para a reputação das empresas em geral, mas principalmente para aquelas que atuam em

<http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de- sustentabilidade-empresarial-ise.htm>. Acesso em: 22 abr. 2018.

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Disponível em:

<http://www.libertyseguros.pt/pt/www/Home/A-Liberty-Seguros/Informacao-legal/Relatorio-de- Sustentabilidade/Conteudo/tabid/9463>. Acesso em: 20 abr. 2018.

159

Disponível em:

<http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/institucional/sustentabilidade/nas-empresas/relate-ou- explique/>. Acesso em: 22 abr. 2018.

atividades de alto risco e impacto ambiental. Neste sentido, encontramos um estudo que investigou o processo de publicação de relatórios de sustentabilidade por uma das empresas responsáveis pelo desastre de Mariana, ilustrado por nós na introdução deste trabalho.

O estudo de um grupo de pesquisadores da UFBA investigou os relatórios contábil-financeiro e de sustentabilidade da Samarco S.A. e suas controladoras, no período de 2014 e 2015, o estudo verificou o esforço das companhias responsáveis pela tragédia em reportar informações em seus relatórios em termos de ações sociais e ambientais, no entanto após o desastre ocorreu o que chamam ―disclosure

socioambiental‖, o que representa uma ampliação significativa de ações e

informações lançadas nestes relatórios na tentativa de minimizar impactos de suas atuações perante stakeholders (DEEGAN, RANKIN e VOGHT, 2000; BLACCONIERE e PATTEN, 1994; PATTEN, 1992 apud CAMPOS, 2017).

Este estudo demonstra a relevância da reputação referente à sustentabilidade sob o aspecto ecológico do termo, enquanto ações de controle dos riscos ambientais e ampliação da segurança das suas atividades, como um valor no mercado e as estratégias utilizadas através destes relatórios como forma de recuperar um atributo moral atingido pelo desastre.

Portanto, estas três dimensões, ecológica, econômica e social importam para o nosso estudo e para compreender os dispositivos no mercado de Seguros Ambientais com relação à posição das empresas seguradoras que podem ser avaliadas a partir dos índices de sustentabilidade no mercado aberto de ações dos quais fazem parte. Bem como, na avaliação da demanda pela compra de Seguros Ambientais, em que também aparece à dimensão ecológica da sustentabilidade entre os dispositivos que avaliam o risco ambiental.

Além das considerações acima sobre sustentabilidade empresarial, quanto ao setor especifico de seguros, a ONU lançou os princípios de sustentabilidade em seguros, que preconizam tanto a implementação de ações sustentáveis dentro das seguradoras, como a ampliação de produtos sustentáveis em seu portfólio, ao que se referem a Seguros Ambientais e auxiliam no crescimento deste mercado. De acordo com o relatório da United Nations Environment Programme – UNEP - Finance Initiative, os Princípios de sustentabilidade em seguros são:

Princípio 1: Incluiremos em nosso processo de tomada de decisão questões ambientais, sociais e de governança que sejam relevantes para nossa atividade em seguros.

Princípio 2: Trabalharemos em conjunto com nossos clientes e parceiros comerciais para aumento da conscientização sobre questões ambientais, sociais e de governança, gerenciamento de riscos e desenvolvimento de soluções.

Princípio 3: Trabalharemos em conjunto com governos, órgãos reguladores e outros públicos estratégicos para promover ações amplas na sociedade sobre questões ambientais, sociais e de governança.

Princípio 4: Demonstraremos responsabilidade e transparência divulgando com regularidade, publicamente, nossos avanços na implementação dos Princípios160.

Assim verificamos que a sustentabilidade é uma moral vigente no campo empresarial e especificamente no campo das seguradoras, e do mesmo modo quando passamos a observar o processo de contratação de Seguros Ambientais verifica-se que a compra efetiva do seguro só se efetivará se a empresa interessada na compra de seguros após a avaliação de riscos demonstrar também entre suas qualificações como organização a observação de recomendações vinculadas a preceitos de sustentabilidade.

Deste modo, a sustentabilidade é repertório da empresa ofertante do seguro, mas também se torna um repertório exigido da empresa contratante dos seguros, o que demonstra um aspecto performativo do mercado de Seguros Ambientais.