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CAPÍTULO 3 – O CREAS MEDIDAS E A VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE

3.6 DADOS E ANÁLISE QUANTITATIVA

3.6.1 Fluxo da apuração do ato infracional na justiça e observação documental na Vara da Infância e Juventude de Itabuna e nas varas criminais

da Comarca

Conforme já explicitado na parte teórica deste trabalho, ato infracional, segundo a dicção do art. 103 da Lei n.º 8.069/90, é toda “conduta descrita como crime ou contravenção penal”. Logo, o adolescente que for flagrado cometendo um ato infracional será encaminhado à autoridade policial, que deverá, em se tratando de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa, lavrar auto de apreensão e encaminhá-lo ao Ministério Público, para que este, de posse dos elementos investigatórios colhidos, possa deliberar sobre a representação, remissão ou mesmo pelo arquivamento. Nos demais casos de ato praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, principalmente de menor gravidade, a autoridade policial poderá substituir o auto de apreensão por um boletim de ocorrência circunstanciado, entregando o adolescente a seus pais ou responsáveis, mediante termo de entrega. O Ministério Público, nos casos de menor gravidade, poderá se valer ainda da remissão, que pode ser pura ou cumulada com qualquer medida socioeducativa, exceto com as medidas de internação e semiliberdade, nos termos estabelecidos pelo art. 126 do ECA.

O Ministério Público poderá, na fase judicial, nos casos de atos infracional de pequeno ou médio potencial ofensivo, oferecer representação pugnando, em caso de condenação, pela aplicação de alguma medida socioeducativa em meio aberto – liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade -, ou conceder (rectus propor) remissão cumulada com uma ou ambas as medidas socioeducativas em meio aberto, sem embargo de também pedir a cumulação com a medida socioeducativa de advertência e danos. Essas são as formas usuais de aplicação das medidas socioeducativas na Vara da Infância e Juventude de Itabuna, valendo ressaltar que todos os processos investigados (15) sobre as medidas em meio aberto foram aplicadas em sede de remissão cumulada. Também pode ser aplicada através do processo de progressão, quando o juiz de execução da medida socioeducativa de internação ou semiliberdade concede a progressão para que o adolescente venha a cumprir a medida socioeducativa em meio aberto, seja liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade.

Na pesquisa documental empreendida junto à Vara da Infância e Juventude da Comarca de Itabuna, constatou-se que, no período compreendido entre janeiro de 2014 a dezembro de 2014, foram registrados 204 processos de apuração de ato infracional atribuídos a adolescentes. Vale acrescentar que foram registrados 3 processos de homicídios e 1 tentativa de homicídio no referido período pesquisado. Durante o ano de 2014 foram aplicadas 18 medidas socioeducativas de internação; 11 medidas socioeducativas de semiliberdade; também foram aplicadas 77 medidas socioeducativas em meio aberto, sendo 49 de liberdade assistida e 28 de prestação de serviços à comunidade, conforme se constata pela guias de execução expedidas pela Vara da Infância e Juventude de Itabuna, no ano de 2014. Houve apenas 3 evasões, ou seja, o adolescente foi encaminhado ao programa socioeducativo, começou a cumprir a medida, mas depois evadiu, deixando de cumprir a medida socioeducativa. Verificou-se que a maioria das medidas socioeducativas de liberdade assistida e de prestação de serviços à comunidade foram aplicadas mediante remissão cumulada , espécie de transação socioeducativa, que só é possível mediante o consenso das partes, ou seja, do Ministério Público, adolescentes, seus pais ou responsáveis e o defensor do adolescente, e por determinação da autoridade judiciária. São poucos os processos decorrentes de sentença condenatória para a aplicação de medidas em meio aberto, seja LA ou PSC, inclusive, dentre os 15 processos investigados, em nenhum deles foi aplicada a medida em meio aberto através de sentença condenatória. Ademais, durante o ano de 2014 foram distribuídos na Vara da Infância e Juventude de Itabuna, 204 ações socioeducativas envolvendo adolescentes em conflito com a lei, enquanto nas Varas Criminais da Comarca de Itabuna, obtivemos a totalidade de ações penais deflagradas, sendo assim distribuídas: 58, na Vara do Júri e Execuções Penais, 467, na 1ª Vara Criminal, 399, na 2ª Vara Criminal, e 159 nos Juizados Criminais, conforme certidões fornecidas pelos respectivos diretores de secretaria.

Verificou-se, também, que, assim que é celebrada a transação socioeducativa, mediante a remissão cumulada com uma medida socioeducativa em meio aberto, o cartório se encarrega de expedir a guia de execução, que contém os seguintes dados: nome completo do adolescente, filiação, data de nascimento, grau de instrução, modalidade e dados do ato infracional, tempo que ficou apreendido, início do cumprimento da medida socioeducativa, sendo ainda acompanhado dos seguintes documentos: cópia da representação, cópia da decisão interlocutória ou sentença, documento de identidade, histórico escolar, certidão de antecedentes de atos infracionais

e relatório de estudo psicossocial, podendo ser acrescidos outros documentos que o Juiz entender conveniente, atendendo assim as exigências da Lei n.º 12.594/2012 e da Resolução n.º 165 do Sinase.

Restou demonstrado que em todos os processos analisados, o adolescente foi citado formalmente, através de citação cumprida por oficial de justiça, contendo cópia da representação, ou seja, o inteiro teor da acusação. Também restou comprovado nos autos analisados que todos os adolescentes foram interrogados judicialmente por um juiz, numa audiência de apresentação, onde sempre se fizeram presentes o promotor de Justiça, o defensor público ou advogado, além de um dos pais ou responsável pelo adolescente. Apenas em um dos processos, o adolescente não estava acompanhado do seu pai ou responsável. Neste caso, o juiz nomeou curador especial para o adolescente, entretanto, ele estava acompanhado do defensor público estadual.

Em todos os processos analisados, verificou-se a tramitação regular do PIA, com a ouvida do Ministério Público e do Defensor Público ou advogado particular do representado. Observou-se, em quase todos, que o prazo de três dias fixado em lei concedido ao Ministério Público e, principalmente, ao defensor público estadual, não tem sido observado. Todavia, mesmo com os prazos excedidos, o que se observou em 11 processos, o PIA é homologado e encaminhado ao programa de atendimento socioeducativo. Observou-se, também, em todos os processos analisados que o Creas/ Medidas encaminha o PIA para a Vara da Infância e Juventude de Itabuna, dentro do prazo de quinze dias contado do ingresso do adolescente no referido programa socioeducativo, conforme estabelecido no art. 56 da Lei n.º 12.594/2012.

Finalmente restou comprovado que a Vara da Infância e Juventude de Itabuna durante o ano de 2014 não cumpriu satisfatoriamente o disposto no art. 11 da Lei n.º 12.594/2012, que exige que a medida socioeducativa em meio aberto deverá ser processada em autos apartados. No entanto, esta inobservância não chegou a comprometer materialmente a execução da medida, pois todas as peças e documentos que deveriam integrar os autos de execução, inclusive a guia de execução, são expedidas normalmente pela Secretaria da Vara da Infância, só que ficam vinculadas ao processo de conhecimento, onde foi aplicada a medida, quando deveriam ser processadas em autos próprios, como determina a Lei n.º 12.594/2012. Em todos os processos analisados, havia a guia de execução provisória, já que expedida em sede de remissão cumulada com alguma medida em meio aberto, acompanhada dos documentos exigidos pelo art. 7º da Resolução n.º 165 do Conselho Nacional de Justiça.

FIGURA 2 – Fluxograma do procedimento dos atos infracionais na fase judicial

FIGURA 2a – Fluxograma da apuração do ato infracional e aplicação da medida socioeducativa

Fonte: ECA, 1990.

Os dados estatísticos abaixo descrevem com exatidão os atos infracionais apurados judicialmente e as medidas socioeducativas aplicadas pela Vara da Infância e Juventude de Itabuna no ano de 2014.

3.7 FLUXO E DINÂMICA DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO NO CREAS