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CAPÍTULO 3 – O CREAS MEDIDAS E A VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE

3.2 DIMENSÃO JURÍDICA

A dimensão jurídica está fulcrada no princípio da legalidade estabelecido na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei do Sinase – Lei n.º 12.594/2012 –, no sentido de aferir se as regras e os princípios estabelecidos por esses diplomas legais estão sendo observados no processo de execução das medidas socioeducativas em meio aberto na Comarca de Itabuna. A pesquisa empírica abarcará, inevitavelmente, o processo de apuração do ato infracional na fase judicial, no sentido de aferir a observância do princípio do contraditório e da ampla defesa, bem como de outros direitos e garantias assegurados por lei aos adolescentes em conflito com a lei.. Assim, através da técnica da observação documental, foram consultados, na Vara da Infância e Juventude da Comarca de Itabuna, quinze (15) processos de apuração de ato infracional e execução de medidas socioeducativas em meio aberto, relativos ao período de 2014. No âmbito do que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n.º 8.069/90 – e a Lei do Sinase – Lei n.º 12.594/2012 –, procuramos identificar alguns critérios objetivos que fossem capazes de ser aferidos na pesquisa empírica, de modo a representar a dimensão jurídica, sobretudo no que diz respeito ao princípio da legalidade estrita prevista para os procedimentos judiciais, evitando-se, assim, critérios abertos,

com larga margem de subjetivismo, que pudessem comprometer a fidelidade da pesquisa. Desta forma, estabelecemos algumas unidades de observação, que se dão no âmbito do procedimento jurisdicional, no sentido de aferir se o princípio da legalidade foi observado ou não. É bem verdade que poderíamos ampliar o número de unidades, todavia, os restringimos para incluir somente os principais parâmetros verificados na fase judicial da apuração do ato infracional e também na fase do processo de execução da medida socioeducativa e que guardassem pertinência com as medidas socioeducativas em meio aberto. Não obstante a importância dos fatos ocorridos na fase pré-processual, no sentido de aferir a observância do princípio da legalidade na apuração do ato infracional, entendemos que não se apresentam, todavia, como necessários para atender aos objetivos da presente pesquisa, pois os tópicos a serem pesquisados na fase judicial do procedimento apuratório e na fase da execução da medida socioeducativa são suficientes para responder a pergunta da pesquisa. Assim os parâmetros escolhidos na fase judicial representam a espinha dorsal do devido processo legal, no que diz respeito ao direito à ampla defesa e ao contraditório assegurados ao adolescente, como o direito de ser citado e ter ciência prévia da acusação que lhe é imputada, bem como o direito de ser ouvido perante a autoridade judiciária, através de um advogado ou defensor público, que, por sua vez, exercerá o mais amplo direito de defesa do adolescente em conflito com a lei.. Destarte, entre as garantias processuais destinadas aos adolescentes apontados como autores de atos infracionais, estão o “pleno e formal conhecimento da atribuição do ato infracional, mediante citação ou meio equivalente” estabelecido no art. 111, inc. I da Lei n.º 8.069/90, e a “Defesa Técnica por advogado e assistência judiciária gratuita aos necessitados”, prescritos, respectivamente, no art. 111, incisos III e IV da Lei n.º 8.069/90. Com efeito, todo adolescente a quem se atribui a prática de um ato infracional tem o direito, assegurado por lei, de receber cópia da representação oferecida pelo Ministério com o inteiro teor da acusação, mediante citação feita por oficial de justiça. Esse é um corolário do princípio da ampla defesa, indispensável para constituir validamente a relação processual. O adolescente, por sua vez, tem o direito à defesa técnica, ou seja, à assistência jurídica de um advogado, ou, se não tiver condições de constituir advogado, terá o direito de ser defendido por um defensor público. Trata-se de uma garantia processual indispensável. Outro parâmetro jurídico escolhido foi a realização da audiência de apresentação para a ouvida do adolescentes e de seus pais ou responsável, prevista no art. 186 do ECA. Trata-se de uma garantia individual o direito de o adolescente ser ouvido por uma autoridade

judiciária, conforme preceitua o inc. V do art. 111 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Não poderá haver imposição de qualquer medida socioeducativa sem a prévia ouvida do adolescente pela autoridade judiciária competente. Logo, trata-se de um parâmetro importante para aferir o princípio da legalidade na presente pesquisa. No caso específico da execução das medidas socioeducativas em meio aberto, torna-se importante aferir a existência de um processo de execução à parte, como determina o art. 39 da Lei n.º 12.594/2012, ou se, ao revés, a execução da medida é efetivada nos mesmos autos do processo de conhecimento. Nenhuma medida socioeducativa em meio aberto pode ser executada sem a respectiva guia de execução, nos moldes exigidos pelo art. 39 da Lei n.º 12.594/2012 e pelo art. da Resolução n.º 165 do CNJ. Também é um importante parâmetro para aferir o princípio da legalidade nos atos jurisdicionais relativamente aos processos de execução das medidas socioeducativas em meio aberto. A Lei nº 12.594/2012 exige o processamento e a homologação do PIA, estabelecendo o prazo de quinze. (15) dias para que o Programa de Atendimento Socioeducativo elabore o PIA e o encaminhe à Vara da Infância e Juventude, no sentido de que o juiz o homologue, após a ouvida do Ministério Público e do defensor do representado, no prazo sucessivo de três. (3) dias. Esse procedimento é observado na Vara da Infância e Juventude da Comarca de Itabuna? Sem dúvida alguma, trata-se de um importante parâmetro para investigar a observância ou não do princípio da legalidade na referida Vara. Finalmente, será aferido o número de medidas socioeducativas aplicadas em 2014 para aferir se o princípio da excepcionalidade das medidas socioeducativas privativas de liberdade tem sido observado pelo Juízo da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Itabuna e, caso positivo, em que medida ou percentual. A análise desses dados será fundamental para aferirmos a dimensão jurídica na Vara em questão, no período de 2014, no que é pertinente á observância do princípio da legalidade, de sorte a descrever se as práticas desenvolvidas na referida unidade judicial atende aos imperativos da Doutrina da Proteção Integral, insculpidos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei nº 12.594/20012 – Lei do Sinase –, ou se ao revés apresentam práticas e reminiscências características da antiga Doutrina da Situação Irregular que perdurou por longos anos no Brasil.

Em síntese, os sete parâmetros selecionados no âmbito da dimensão jurídica são os seguintes:

I – Pleno e formal conhecimento da acusação mediante citação; II – Defesa técnica por advogado ou Defensoria Pública;

III – Audiência de apresentação perante autoridade judiciária; IV – Existência de um processo de execução em autos apartados; V – Existência de guia de execução de medida socioeducativa; VI – Homologação judicial do PIA;

VII – Priorização da aplicação das medidas em meio aberto.