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3.2 Avaliação dos impactos dos fogos em duas áreas de estudo: ribeira de Nisa e rio

3.2.1 Área ardida da bacia hidrográfica da ribeira de Nisa a montante da estação

3.2.1.2 Dados de base considerados

Como dados de base foram considerados o escoamento superficial e a precipitação. 3.2.1.2.1 Escoamento superficial

A abordagem para avaliar a existência de impactes decorrentes da acção de incêndios sobre os processos do ciclo hidrológico passa pela comparação do escoamento superficial na área ardida com o escoamento que ocorre na área de controlo, e pela análise duma possível identificação de alterações na tendência do comportamento hidrológico em ambos os casos. Deste modo procedeu-se à compilação e tratamento dos dados do nível hidrométrico instantâneo (NIHIDI). Para a bacia de Ponte Panasco, para o período 21/04/2001 até 28/12/2006, calculou-se o escoamento na secção de controlo com base na curva de vazão para a estação 17L/01H (Quadro 13). Para os dados da estação da área de controlo (18L/01H – Couto de Andreiros) aplicou-se o mesmo procedimento aos dados relativos ao período de 12/07/2001 a 30/05/2007, obtendo-se o caudal instantâneo para cada um dos registos.

Dado que em Portugal existe um desfasamento de 15 horas relativamente às medições diárias de precipitação e do escoamento superficial, resultante do facto dos dados de precipitação para um determinado dia reportarem à precipitação ocorrida no período desde as 09h do dia anterior até às 9h do próprio dia, procedeu-se ao cálculo do caudal médio diário, a partir dos valores horários, utilizando os mesmo pressupostos que para a precipitação, ou seja determinou-se o QMD para um determinado dia utilizando os dados das 9 h do dia anterior até

às 9 h do próprio dia.

Quadro 13 – Curvas de vazão utilizadas na determinação do escoamento instantâneo (m3/s) a partir do NIHIDI

(m)

Bacia Estação

hidrométrica Curva de vazão hmin hmáx

Q = 5.92878 × (h -0.01721)2.07976 - 1.257 Ponte Panasco 17L/01H Q = 17.74226 × (h - 0.64)1.34517 1.26 3 Couto de Andreiros 18L/01H Q = 13.7583 × (h - 0.02)2.8397 - 2.5 Fonte: INAG

Nos dados de base relativamente ao escoamento superficial constatou-se a existência de algumas lacunas, designadamente no caso de Ponte Panasco, que impossibilitaram o cálculo do caudal médio diário nos dias 03 a 09 de Fevereiro de 2006, e no caso da estação de Couto de Andreiros nos dias 23 a 26 de Dezembro de 2002. Uma vez que os dados do escoamento diário em falta não eram demasiados, optou-se por preencher as referidas lacunas com base nas rectas de regressão linear resultantes do cruzamento dos dados de escoamento entre ambas as bacias estudadas, para o período entre 2001 e 2007, visto que a correlação entre os dados é razoável (Quadro 14).

Quadro 14 – Rectas de correlação utilizadas no preenchimento das lacunas de escoamento verificadas para

cada uma das estações hidrométricas

Estação com lacunas a

preencher (A) Estação com registos (B) Recta de correlação linear

Coef. de correlação linear (R)

17L/01H – Pte Panasco 18L/01H – Couto de Andreiros EscA = 1,1074.EscB + 0,1403 0,89

18L/01H – Couto de Andreiros

17L/01H – Pte Panasco EscA = 0,7117.EscB - 0,0361 0,89

Para além dos dados de escoamento superficial referidos anteriormente, encontram-se também disponíveis, para as referidas áreas, os valores de escoamento para o período 01/10/1981 a 30/09/1990, decorrente de estudos realizados por Oliveira et al. (1997) e Oliveira et al. (1999) e apresentados na Quadro 15.

Quadro 15 – Valores anuais de escoamento superficial para as bacias de Ponte Panasco e Couto de Andreiros

para o período de 1981 a 1990

Ano hidrológico Ponte Panasco (mm) Couto de Andreiros (mm)

1981/82 203 120 1982/83 80 14 1983/84 324 270 1984/85 479 378 1985/86 194 144 1986/87 164 140 1987/88 425 314 1988/89 86 23 1989/90 291 292 Média 249 188

Fonte: Oliveira et al. (1999)

3.2.1.2.2 Precipitação

A análise da existência de possíveis alterações no escoamento e nos demais processos do ciclo hidrológico decorrente da acção do fogo, através da comparação do escoamento entre uma área ardida e outra não ardida, não pode ser efectuada sem a consideração da precipitação, visto que cada umas das áreas pode estar sob um regime pluviométrico semelhante ou distinto que pode variar, podendo consequentemente induzir alterações no escoamento e posteriormente esta alteração ser atribuída, de um modo erróneo, ao fogo.

A precipitação diária não é extrapolável espacialmente a partir de determinadas distâncias, pelo que a precipitação que se faz sentir num ponto para um determinado tempo pode ser díspar do verificado para um ponto localizado a uma curta distância do primeiro (e.g. 5 km). Por este facto foram seleccionados dois conjuntos de postos udométricos (Quadro 16), cada um deles com a finalidade de caracterizar a precipitação em cada uma das bacias correspondentes, permitindo assim passar de um conjunto de dados pontuais distribuídos no espaço, para um conjunto de valores médios representativos da precipitação média que ocorre em cada uma das bacias. Os postos udométricos foram seleccionados de modo a que a sua localização geográfica fosse próxima às áreas de interesse e cuja distribuição fosse uniforme e representativa da variação da precipitação entre cada par de postos (Fig. 31).

Foi seguida a metodologia indicada em Oliveira et al. (1997) e em Oliveira et al. (1999) no cálculo da precipitação média diária na bacia, considerando a série de dados relativa a cada um dos postos udométricos. Esta consistiu na utilização do programa de computador Precmed_vb2, que utiliza o algoritmo do inverso da distância ao quadrado para calcular o valor da precipitação média em toda a área (cf. Oliveira et al., 1997).

Quadro 16 – Postos udométricos considerados na determinação da precipitação diária média na bacia de Ponte

Panasco e de Couto de Andreiros

Ponte Panasco Couto de Andreiros

17L/02 – Vale do Peso 17L/02 – Vale do Peso 17L/03 – Alpalhão 18L/01 – Alter do Chão 17M/01 – Castelo de Vide 19L/01 – Cabeço de Vide

17M/03 – Beirã 19M/01 – Monforte

- 19N/01 – Arronches

É de salientar que no referido cálculo e no caso da inexistência do valor de precipitação para um determinado dia, para uns ou mais postos udométricos, a precipitação média para a bacia é calculada utilizando somente os postos que possuem essa informação, não se tendo identificado no período de aplicação desta metodologia a sua inexistência em simultâneo para todos os postos.

A aplicação do programa Precmed_vb2 teve como parâmetros de entrada: (1) a precipitação média diária para cada um dos pontos, introduzida através de um ficheiro de texto que contém também o número de estações, suas coordenadas, o número de dias e precipitação correspondente; (2) a área da bacia hidrográfica, definida através de um ficheiro contendo as coordenadas M e P máximas e mínimas (em linhas distintas) e um conjunto de linhas constituídas por 1 e 0, onde 1 se refere à área pertencente à bacia e 0 à área não inserida na mesma, mas abrangida pelas coordenadas definidas inicialmente.

O período considerado no cálculo da precipitação pelo método referido foi coincidente com a série de dados relativamente ao escoamento superficial inerente a cada uma das bacias, ou seja de 21/04/2001 até 28/12/2006 no caso de Ponte Panasco, e de 12/07/2001 a 30/05/2007 no caso de Couto de Andreiros. Os dados de precipitação foram igualmente extraídos do SNIRH. À semelhança da situação que se verifica para o escoamento superficial, encontram-se igualmente disponíveis os dados relativos à precipitação média determinada pelo método indicado para o período de 01/10/1980 a 30/09/1990, tanto numa base diária como para os diferentes anos hidrológicos (Quadro 17).

Quadro 17 – Valores anuais de precipitação para os diferentes anos hidrológicos entre 1981 e 1990 para a bacia

de Ponte Panasco e de Couto de Andreiros

Ano hidrológico Ponte Panasco (mm) Couto de Andreiros (mm)

1981/82 726 668 1982/83 517 426 1983/84 994 899 1984/85 1066 934 1985/86 715 640 1986/87 701 633 1987/88 1020 910 1988/89 594 531 1989/1990 873 832 Média 801 719

Fonte: Oliveira et al. (1999)