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Dados Qualitativos 1 Risco Político

No documento EstudosFebrafarma8 (páginas 43-46)

Econômica do Brasil com os Países da América Latina A ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO (ALADI) atua

IV. As Exportações Brasileiras de Medicamentos para o Chile: Estudo de Caso

3. Dados Qualitativos 1 Risco Político

Segundo a metodologia do presente trabalho, em se considerando o conjunto da América Latina, a variável risco político não apresenta qualquer relevância para o desempenho das exportações brasileiras para o Chile. De acordo com as quatro variáveis analisadas – satisfação com a democracia; existência de tensões militares, deposições, renúncias ou golpes de Estado; eleições livres; e eleições limpas – o Chile sempre esteve acima da média latino-americana, tendo aprofundado o processo de transição democrática iniciado a partir de 1989.

Desde então, a presidência tem sido alternada entre os Partidos Social- Democrata e Socialista, os quais têm mantido as linhas básicas do modelo de crescente integração do país na economia internacional e se empenhado na elevação dos gastos sociais.

3.2 Marco Regulatório

Em 2004, teve início uma reforma no setor de saúde, em meio a um plano de modernização do Estado. Logo, o setor de saúde no Chile pode ser encarado como um sistema misto, composto por um subsistema público – que cobre mais de 68% da população – e outro subsistema privado, dividido, por sua vez, entre os contribuintes atendidos pelas Instituições de Saúde Provisional (Isapres) – 17% – e aqueles atendidos pelas Forças Armadas – 14%.

Quem escolhe o destino dos 7% da renda destinados à saúde é o próprio trabalhador contribuinte, optando entre os subsistemas público ou privado.

No âmbito público, uma nova Lei de Autoridade Sanitária e Gestão foi aprovada em 2004 e instituiu, a partir do início de 2005, uma nova estrutura para o setor, que coloca o Ministério da Saúde como órgão superior, integrado por três Subsecretarias: de Redes Assistenciais, de Saúde Pública e as Ministeriais Regionais.

Dependente da Subsecretaria de Saúde Pública está o Instituto de Saúde Pública, responsável por todas as atividades relativas ao controle de qualidade dos medicamentos, entre elas a autorização da instalação de novos laboratórios e a devida inspeção dos mesmos, a autorização e o registro de produtos e, finalmente, o controle das condições de importação, exportação, fabricação e distribuição dos medicamentos sujeitos a controle. Para o Sistema de Controle de

Produtos Farmacêuticos e Alimentos de Uso Médico, existe um regulamento próprio, que rege a emissão das autorizações de produtos farmacêuticos no país e quaisquer outros aspectos relacionados aos medicamentos, tendo sido colocado em prática a partir de 1997.

Basicamente, deve-se seguir, no Chile, as diretrizes do Good Manufacturing

Practice (OMS) aplicáveis à Indústria Farmacêutica, certificadas pela autoridade

sanitária do país de origem também nos casos de medicamentos importados. O país possui um marco regulatório bem estruturado e seu código próprio de especificações, a Farmacopéia Chilena, oficial no país e, hoje, ainda em sua terceira versão, de 1942. Para fins técnicos, são consideradas também outras farmacopéias reconhecidas, como a norte-americana, a européia, a internacional, a alemã, a britânica e a francesa.

Ainda no marco da Reforma da Saúde do Governo Lagos, foi publicada, em meados de 2004, uma proposta para uma nova Política de Medicamentos, que traz mudanças à política vigente desde 1996 e que reconhece explicitamente a debilidade de controle e fiscalização e a insuficiência de resultados até o presente. Destacam-se as falhas no abastecimento de medicamentos no setor público e os sistemas de compras ineficientes. Em 2002, por exemplo, o gasto público com medicamentos era de apenas 12,7% do total, ainda bastante baixo quando comparado ao gasto privado.

Nessa nova política de medicamentos está prevista, inclusive, a modificação das regulamentações acerca da fabricação e importação dos medicamentos genéricos do Formulário Nacional chileno, listagem que orienta as compras governamentais. No próprio Regulamento de Controle de Produtos Farmacêuticos, por exemplo, não existem, em detalhes, os procedimentos necessários para a garantia de bioequivalência dos medicamentos genéricos. Não existe sequer, no país, a obrigatoriedade do médico prescrever, na receita, a denominação genérica do medicamento. A idéia é que, no futuro, a própria aquisição pública dos remédios seja feita somente através de tal denominação genérica.

Hoje, a Central Nacional de Abastecimento (Cenabast) é um dos órgãos responsáveis pela compra governamental de medicamentos. Além de abastecer a rede pública, essa central atua como intermediadora de compras para outras instituições, gerenciando e programando as suas aquisições com autonomia, inclusive comprando de fornecedores internacionais.

No marco da Reforma de Saúde proposta e ainda em trâmite, espera-se um marco regulatório mais restritivo, o que pode impactar as exportações brasileiras de maneira positiva.

3.3 Decisões Empresariais

Ao analisarmos as NCMs que o Brasil mais exporta de acordo com a classificação de seis dígitos20– o que acentua os problemas de diversidade de produtos existentes

sob uma mesma linha tarifária – verifica-se a importância de se avaliar as decisões empresariais, principalmente quando as decisões relativas às vendas externas dependem de acordos internos entre filiais de um mesmo grupo multinacional.

No caso chileno, a partir da pesquisa realizada junto com empresas do setor21,

observa-se que três das oito empresas de capital estrangeiro de grande porte que exportam a partir do Brasil para o Chile colocam este país como um dos seus quatro principais mercados de exportação para as suas filiais brasileiras. Ainda assim, uma das empresas nacionais da amostra tem neste país o terceiro mercado de exportações regionais.

De acordo com os dados apresentados na Tabela 3 do presente Anexo, observa-se que, no caso da linha tarifária 300420, existe uma tendência a que as vendas estejam concentradas na filial brasileira, ficando o México e a Argentina em segundo plano. Porém, deve-se ressaltar que as exportações desta linha tarifária também são realizadas a partir de duas empresas nacionais.

Já na linha tarifária 300439, o Brasil perde em termos de market share para a Argentina e Venezuela; na linha tarifária 300440 para a Argentina, México, Colômbia e Venezuela, não aparecendo sequer entre os 10 maiores fornecedores para este país. Em ambos os casos, a opção das empresas de capital estrangeiro claramente é de não vender a partir do Brasil, fato comprovado pela predominância de empresas nacionais exportadoras.

Ao considerar-se a linha tarifária 300490, justamente aquele na qual se concentram as exportações em valor e volume, o Brasil aparece atrás de México e Argentina, mas à frente da Colômbia. Nesse caso, a presença de empresas de capital estrangeiro é decisiva – foram apuradas sete empresas de capital estrangeiro exportadoras, contra uma nacional.

Provavelmente, trata-se de filiais exportando produtos diversos a partir de vários países latino-americanos, mas que aparecem sob a mesma linha tarifária. De qualquer forma, vale a pena se perguntar sobre o tímido desempenho exportador do Brasil em relação especialmente a México e Argentina, que não dispunham das vantagens cambiais brasileiras ao longo do período e nem

20Tanto os dados disponibilizados pelo Radar Comercial como aqueles do Comtrade das Nações Unidas

permitem apenas até este nível de desagregação.

21 Pesquisa realizada pela Prospectiva/Febrafarma e que contou com uma amostra de 18 empresas

contavam com vantagens tarifárias muito superiores às obtidas pelo Brasil (o México apenas possuía uma pequena margem entre 1999 e 2003).

Conclui-se, então, que as decisões das empresas de capital estrangeiro são relevantes para explicar as exportações brasileiras para o Chile, mas não num sentido francamente positivo. Boa parte das suas exportações para esse país tende a ser realizada a partir de outros países da região. Por outro lado, as exportações brasileiras, a partir de empresas nacionais, mostram-se relevantes, principalmente em algumas linhas tarifárias.

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