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O Mercosul e a sua Influência nas Exportações Brasileiras de Medicamentos para a Argentina

No documento EstudosFebrafarma8 (páginas 112-120)

Econômica do Brasil com os Países da América Latina A ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO (ALADI) atua

Naladisa 96 Descrição Colômbia Equador Venezuela

1.4 O Mercosul e a sua Influência nas Exportações Brasileiras de Medicamentos para a Argentina

Todas as oito NCMs mais exportadas pelo Brasil para a Argentina gozam de tarifa zero no âmbito do Mercosul. Em seis dessas NCMs a tarifa para terceiros países (TEC) é de 8%, em uma delas de 14% e uma de 0%. Tal fato indica que as tarifas cobradas pela Argentina para as importações de medicamentos de terceiros países ou países extrabloco significam uma importante vantagem preferencial para os exportadores brasileiros.

Pode-se dizer que as exportações brasileiras para a Argentina certamente não seriam tão elevadas se esses dois países não participassem de uma união aduaneira. Paralelamente, verifica-se que as tarifas extrabloco foram zeradas para apenas alguns países como o Chile, em 2004, e serão eliminadas de forma paulatina para os países da Comunidade Andina num horizonte de oito anos.

Em síntese, no período avaliado, esta vantagem preferencial dentro do Mercosul não tem sido erodida por acordos comerciais realizados com países que se destacam por serem exportadores de medicamentos. Contudo, perfurações recentes à TEC da parte argentina, como é o caso da isenção tarifária de terceiros países para importação de produtos destinados ao diagnóstico e ao tratamento da saúde humana (o que inclui produtos farmacêuticos da posição 3004), podem prejudicar o desempenho do Brasil nos próximos anos.

Ainda assim, para uma análise mais consistente deve-se levar em consideração outros fatores, tais como as decisões das empresas de capital estrangeiro e o comportamento macroeconômico, que possuem influência considerável sobre o volume e o valor de medicamentos exportados pelo Brasil, para esse país.

2. Dados Quantitativos

2.1 O Dinamismo das Exportações

As exportações brasileiras de medicamentos para a Argentina experimentaram um crescimento bastante elevado, após 1994, ano da assinatura do Protocolo de Ouro Preto, chegando ao seu pico em 1999. Nesse período de cinco anos, o valor exportado pelo Brasil, para o país vizinho, no âmbito da posição 3004, saltou de pouco menos de US$ 10 milhões para, aproximadamente, US$ 75 milhões, um crescimento superior a sete vezes.

O Mercosul contribuiu de forma relevante para esse crescimento positivo das exportações brasileiras de medicamentos, ainda que outros fatores, como veremos à frente, também contaram ponto a favor, tais como: crescimento da economia argentina e decisão das empresas de capital estrangeiro. No ano de 1999, as exportações para a Argentina representaram, em valor, 46% do total das vendas externas de medicamentos do Brasil.

Em síntese, o Mercosul teve um papel decisivo no aumento das exportações brasileiras para a Argentina. Além disso, o bloco permitiu que as empresas de capital estrangeiro e nacional que até então restringiam suas operações ao mercado interno passassem a incorporar o mercado externo na sua dinâmica produtiva. Mais do que isso, a experiência com o mercado regional facilitou a diversificação dos destinos das exportações dessas empresas mais recentemente.

Entre 1999 e 2002, o valor exportado para a Argentina inicia uma trajetória descendente, chegando, neste último ano, no auge da crise do país vizinho, a um valor de US$ 48 milhões, ainda assim cinco vezes superior ao montante exportado em 1994. A partir de então, inicia-se uma suave elevação das exportações que alcançaram, em 2004, a casa dos US$ 60 milhões, abaixo do valor atingido em 1999, mas o suficiente para fazer deste país o principal destino individual das exportações brasileiras de medicamentos.

Paralelamente, observa-se, no período, uma maior diversificação das exportações brasileiras de medicamentos para a Argentina: enquanto em 1996, as oito maiores NCMs exportadas, no segmento de medicamentos, respondiam por quase 100% das exportações, esta participação em 1999 chegava a 83%, tendo decrescido ligeiramente a partir de então, até chegar ao nível de 76% em 2004 (gráfico 1).

Gráfico 1

Exportações totais e das oito principais NCMs do Brasil para a Argentina – medicamentos, 1994 a 2004

Fonte: Aliceweb/Mdic; Elaboração Prospectiva.

Gráfico 2

Exportações em US$ e em kg de acordo com números índices (1994=100)

Fonte: Aliceweb/Mdic; Elaboração Prospectiva.

Entre 1996 e 2004, houve, portanto, um crescimento de 511% das exportações brasileiras de medicamentos em dólares e de 2130% em volume, o que indica uma queda dos preços por volume exportado entre os extremos do período.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 M ilh õ e s U S $ 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Total exportado da posição 3004 Total exportado das oito linhas tarifárias Percentual exportado das oito linhas tarifárias

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 1994 1995

Índice de exportações (em US$) Índice de exportações (kg)

Entre 1996 e 2004, as exportações, em valor e volume, seguiram por vezes trajetórias diferenciadas. O grande descasamento entre a evolução das exportações em volume e valor se concentra no período 1998-2000 (gráfico 2), em virtude da desvalorização da moeda brasileira, que permitiu reduzir os preços exportados para esse país, aumentando o volume a um nível bem mais rápido que as vendas em valor. Entre 2001 e 2003, percebe-se uma suave elevação dos preços para compensar a sensível queda do volume exportado – em virtude da crise argentina e da desvalorização do peso – ao passo que, no ano de 2004, as exportações brasileiras, em volume, voltam a se incrementar mais rapidamente que o valor das vendas externas, ocasionando uma nova queda dos preços. Quando são analisados individualmente, percebe-se tanto a existência de NCMs cujos preços caíram no pós-1999, como de NCMs, onde os preços por volume se elevaram. Como cada posição tarifária compreende vários produtos que possuem preços diferenciados, essa elevação do preço, mesmo num período de desvalorização do real, pode estar significando a exportação de um novo produto com maior agregação de valor ou matéria-prima mais cara.

Gráfico 3

Evolução das exportações por produto (em porcentagem)*

* O valor “0” referente aos preços expressa que não houve exportação da NCM em questão para o período apontado. Fonte: Aliceweb/Mdic; Elaboração Prospectiva.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 30042099 30044090 30049039 30049059 30049064 30049069 30049078 30049099

As três NCMs mais exportadas pelo Brasil para a Argentina, em 2004, foram as seguintes, em ordem decrescente de participação no valor exportado:

30049069 (outros medicamentos com compostos heterocíclicos exclusivamente de heteroátomos de nitrogênio – azoto – em doses), com 30% do valor das vendas externas;

30049099 (outros medicamentos contendo produtos para fins terapêuticos em doses), com um percentual de 12,8% no valor total exportado; e

30049059 (outros medicamentos com produtos da posição 2930 a 2932 em doses), com 9,1% do faturamento oriundo das exportações para a Argentina. Somadas essas três NCMs, representam metade do valor das vendas externas de medicamentos do Brasil para a Argentina.

Tabela 1

Principais NCMs exportadas pelo Brasil para a Argentina (em valor, volume e preço médio – US$/kg) – 2004

Código Descrição Kg US$/

NCM NCM US$ % Líquido KG

30042099 Medicamentos contendo outros 2.113.126 3,57% 114.769 18,41 antibióticos, em doses

30044090 Outros medicamentos c/ alcalóides, 2.426.248 4,10% 112.691 21,53 s/ hormônios etc. em doses

30049039 Outros medicamentos c/ compostos 2.202.687 3,72% 472.509 4,66 de função amina etc. em doses

30049059 Outros medicamentos c/ prods. 5.373.393 9,07% 128.185 41,92 pos. 2930 a 2932 etc. em doses

30049064 Medicamento contendo triazolam/ 4.868.552 8,22% 41.062 118,57 alprazolam etc. em doses

30049069 Outros medicamentos c/ comp. 18.031.537 30,43% 234.082 77,03 heterocicli. heteroat. nitrog. em doses

30049078 Medicamento cont. topotecan, uracil, 2.507.364 4,23% 6.921 362,28 tegafur etc. em doses

30049099 Outros medicamentos cont. prods. 7.597.906 12,82% 5.256.269 1,45 p/ fins terapêuticos etc. doses

Total Geral 59.247.827 7.392.114 8,02

No primeiro caso, referente à posição tarifária 30049069, a expansão das exportações mostrou-se bastante crescente a partir de 1997, ano em que se iniciaram as exportações desta NCM para aquele país (gráfico 4).

A elevação das vendas externas em valor se dá via elevação dos preços e expansão do volume exportado. Os preços em dólares chegam a se multiplicar por sete vezes. Os ganhos permitidos pela desvalorização do real devem ter permitido às empresas aumentar as exportações de produtos de maior valor agregado do Brasil para este país. Após 2000, os preços caem, mas continua se elevando o volume exportado. Ao longo do período 1997-2004, o valor das exportações se eleva em 1.800%, sofrendo pouco com a crise argentina de 2002.

Gráfico 4

Evolução das exportações brasileiras para a Argentina em volume e valor para a NCM 30049069

Fonte: Aliceweb/Mdic; Elaboração Prospectiva.

Quanto ao caso da NCM 30049099, verifica-se uma tendência inversa de expansão do volume e queda do valor exportado entre 1996 e 2004 (gráfico 5). Nesse caso, a desvalorização de 1999 permite reduzir os preços, que baixam de US$ 5,3 por quilo para US$ 1,3 entre 1998 e 2000. Logra-se vender em quantidade produtos com baixo valor agregado para a Argentina. Tanto isso é verdade que, entre 1996 e 2004, o valor exportado cai 15%, enquanto a quantidade vendida se amplia em 134%.

Ressalte-se, ainda, que essa NCM respondia por quase 83% do volume de exportações em 2004, o que revela uma concentração das exportações brasileiras em produtos de baixo valor agregado.

0 5 10 15 20 1996 1997 1998 1999 20002001 2002 2003 2004 M ilh õ e s U S $ 50 100 150 200 250 M ilh a re s k g

Gráfico 5

Evolução das exportações brasileiras para a Argentina em volume e valor para a NCM 30049099

Fonte: Aliceweb/Mdic; Elaboração Prospectiva.

Verifica-se, ainda, uma elevação das exportações para a NCM 30044090, em valor e volume, ainda que sem chegar ao recorde exportado em 1994; uma expansão nas exportações de uma nova NCM, 30049059, também em valor e volume, a partir de 1997, e uma franca redução das exportações da NCM 30042099, que se destacava como mais importante item, em valor e volume, das exportações brasileiras no ano de 1994.

Pode-se, assim, inferir que o Mercosul teve importância decisiva para a expansão das exportações brasileiras pós-1994, mas que a desvalorização do real, e a estagnação da economia brasileira fizeram com que várias empresas de capital estrangeiro, operando no país, optassem por vender especialmente produtos com baixo valor agregado para a Argentina.

2.2 O Fator Cambial

Como vimos acima, um fator que interfere de forma pronunciada na evolução das exportações é a taxa de câmbio. Considera-se aqui o câmbio real – em vez do câmbio nominal, que não leva em consideração as variações de preços internos – já que se trata da melhor medida sobre o poder de compra de um país em relação aos seus parceiros.

No período analisado, entre 1996 e 2004, o câmbio real brasileiro em relação ao câmbio real da Argentina oscilou de maneira expressiva, chegando a se desvalorizar em 73% no ano de 2001, com relação a 1996, e voltando a se valorizar, após a

5 7 9 11 13 15 17 1996 1997 1998 1999 20002001 2002 2003 2004 1 2 3 4 5 6 7 8 M ilh õ e s U S $ M ilh a re s k g

grande desvalorização argentina de 2002, atingindo, no ano de 2004, um valor em termos reais 17% superior ao verificado em 1996 (gráfico 6).

Ainda que a inflexão positiva das exportações brasileiras de medicamentos para a Argentina tenha se iniciado logo após o Mercosul, percebe-se que as vendas externas, em volume, sofreram uma queda menos pronunciada do que as vendas em valor, entre 1999 e 2002, em grande medida devido à desvalorização do real. Essa mudança dos preços relativos deve ter contribuído inclusive para que algumas empresas de capital estrangeiro priorizassem suas vendas para o mercado argentino a partir do Brasil, e que as de capital argentino fossem incentivadas a ocupar o mercado argentino, contribuindo para se reverter o déficit comercial bilateral na posição 3004, transformando-o em superávit brasileiro.

A partir do ano de 2004, percebe-se que as exportações brasileiras, em volume, passam novamente a crescer mais rapidamente do que em valor, apesar da valorização da moeda brasileira comparativamente ao peso argentino, o que se deve provavelmente a um redirecionamento dos investimentos de muitas empresas de capital estrangeiro para tornar o Brasil plataforma de exportações para a Argentina e para outros países da América Latina em alguns produtos e nichos de mercado.

Gráfico 6

Evolução do índice de exportações (valor), do índice de crescimento da demanda argentina (medido pelas importações) e do índice de câmbio real

Fonte: Comtrade; AliceWeb/Mdic; Ipeadata/IBGE; Elaboração: Prospectiva.

80,0 130,0 180,0 230,0 280,0 1996 1997 1998 1999

Índice de exportações (valor) Câmbio real

Crescimento da demanda (importações)

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