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CAPÍTULO II PELAS VIAS DO CÂNCER

2.2 Dados sobre o câncer da mama

A mama é o principal local atingido por novos casos de câncer entre as mulheres. A American Cancer Society (2007) aponta que uma entre cada 10

mulheres dos Estados Unidos tem a probabilidade de desenvolver um câncer de mama durante sua vida, em sua estimativa de 2007. Um terço dessas mulheres irá sucumbir à doença, resultando em mais de 40 mil mortes por ano. Além disso, a incidência do câncer de mama feminino apresentou um crescimento contínuo na última década, o que pode ser resultado de mudanças sócio-demográficas e acessibilidade aos serviços de saúde.

Desses dados resulta a pertinência de que o câncer de mama venha sendo alvo de grandes campanhas publicitárias. Estudos intensivos sobre sua origem, métodos diagnósticos e tratamentos surgem a todo o momento. Muitos progressos foram alcançados, particularmente no diagnóstico precoce, tanto que, após permanecer estável durante muitas décadas, a taxa de mortalidade por câncer de mama, em mulheres brancas nos Estados Unidos, diminuiu ligeiramente entre 1989 e 1992.

No entanto, o mesmo não pode ser afirmado em relação às mulheres negras, cuja taxa de mortalidade por câncer de mama aumentou nesse mesmo período. Segundo as estatísticas para Afroamericanos da American Cancer Society (2007), as mulheres negras encontram-se num nível 35% acima do de homens e mulheres brancos e negros nos Estados Unidos, do que se pode supor que a taxa de mortalidade por câncer de mama também deve ter subido e, ainda, que talvez isso se aplique a nossa população.

Sendo assim, torna-se irônico, e ao mesmo tempo trágico, que uma neoplasia de um órgão exposto, facilmente acessível ao auto-exame e ao diagnóstico clínico, continue representando um ônus tão pesado, ocupando drasticamente o segundo lugar nas estatísticas (cerca de um milhão de casos novos), perdendo apenas para o câncer de pulmão entre mulheres (WHO, 2006).

Dos vários tipos de cânceres, o de mama é provavelmente aquele que mais causa medo nas mulheres, devido à sua alta freqüência e, principalmente, pelos efeitos psicológicos que afetam a percepção de sua sexualidade e imagem corporal. Antes dos 25 anos de idade é relativamente raro, exceto quando há casos familiares. A partir dessa idade, a incidência aumenta com a idade de 1 em 232 casos na quarta década da vida, até 1 em 29 casos na sétima década. Dados epidemiológicos descrevem que a incidência global do câncer de mama na população aumentou uniformemente até 1988, quando se tornou estável.

Embora as estatísticas apontem para o aumento da incidência de casos tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, mais da metade dos casos novos ocorrem em países desenvolvidos.

Segundo a WHO (2006), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência, ajustadas por idade, nos registros de câncer de base populacional de diversos continentes. Tem-se verificado também o aumento no risco de mulheres migrantes de áreas de baixo risco para as áreas de alto risco.

Ainda de acordo com informações da WHO, em seu informe anual, o câncer tornar-se-á uma verdadeira epidemia mundial devido ao aumento da expectativa de vida no mundo e à difusão de hábitos pouco saudáveis, como tabagismo e má alimentação. No ano de 2020, estima-se que, em mulheres, o câncer de mama tenha a mortalidade e a incidência mais alta entre tumores malignos. Essa tendência é coincidente com a de países desenvolvidos, em que a urbanização levou ao aumento da prevalência de fatores de risco para câncer de mama. De acordo com o mesmo informe, pelo menos 15 milhões de pessoas apresentarão tendências ao câncer, ante os 10 milhões atuais.

O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo e o mais comum entre as mulheres. A cada ano, 22% dos casos novos de câncer em mulheres são de mama. No Brasil, o câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete mulheres. As estimativas mais recentes do INCA (BRASIL, 2008) indicam que o número de casos novos de câncer de mama esperado para o Brasil em 2008 é de 49.400, distribuídos segundo a Tabela 1. (Isso significa um risco estimado de 51 casos a cada 100 mil mulheres).

Tabela 1 – Estimativa 2008 de casos de câncer de mama no Brasil

Localização Primária Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste

Mama Feminina 1.210 7.630 2.630 9.500 28.430

Fonte: Brasil, 2007

Na região Sudeste, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres com um risco estimado de 68 casos novos por 100 mil. Sem considerar os tumores de pele não-melanoma, esse tipo de câncer também é o mais freqüente nas mulheres das regiões Sul, Centro-Oeste) e Nordeste. Na região Norte, é o segundo tumor mais incidente (Tabela 2)

Tabela 2 – Risco estimado de câncer da mama por 100.000 no Brasil Localização Primária Norte Nordeste Centro-Oeste Sul Sudeste

Mama Feminina 16/ 100.000 28/ 100.000 38/ 100.000 67/ 100.000 68/100.000 Fonte: Brasil, 2007

A Tabela 3 ilustra dados de todos os tipos de cânceres por região, onde também se observa a magnitude do câncer de mama.

Tabela 3 – Estimativa para o ano 2008 de casos novos por câncer, em mulheres, segundo localização primária

Centro

Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul

Mama Feminina 38,17 28,38 15,62 68,12 67,09

Colo do Útero 19,44 17,58 22,20 17,83 24,44

Cólon e Reto 10,88 5,78 3,82 21,07 21,89

Traquéia, Brônquio e Pulmão 8,80 5,26 5,02 11,41 16,22

Estômago 6,01 5,45 5,44 9,47 10,44 Leucemias 4,19 3,15 2,93 5,20 5,64 Cavidade Oral 3,27 3,62 1,61 4,64 3,66 Pele Melanoma 1,84 0,89 0,38 3,88 6,58 Esôfago 1,87 1,62 0,61 2,93 5,79 Outras Localizações 45,35 33,43 31,96 82,89 92,49 Fonte: Brasil , 2007.

Um levantamento desalentador conduzido pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) aponta que o número de mulheres vítimas de câncer de mama com menos de 40 anos triplicou nos últimos três anos. Segundo o levantamento, em 2003, 5,6% das mulheres mais jovens com câncer tinham esse tipo de tumor. Em 2006, esse grupo passou a representar 16,8% nos diagnósticos da doença (AGÊNCIA BRASIL, 2007).

Santini, diretor geral do INCA (BRASIL, 2007), afirma que as regiões Sul e Sudeste possuem as maiores taxas de incidência, tanto em homens como em mulheres, sendo uma das possíveis explicações o grau de urbanização e desenvolvimento sócio-econômico, o maior número de pessoas idosas e o maior

acesso à informação. Tal perfil assemelha-se ao de países desenvolvidos(BRASIL, 2007). Segundo a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia - ABRALE (2006), os tipos mais incidentes, à exceção de pele não melanoma, serão os de próstata e pulmão no sexo masculino e mama e colo do útero no sexo feminino. Entre tipos de câncer mais incidentes entre as mulheres, o de mama ocupará o primeiro lugar com 28.640 novos casos, seguido por cólon e reto (8.570) e colo de útero (7.970).

Castilhos (2007), da Agência FAPESP, informa que doença já é a principal causa de morte nos países desenvolvidos. No Brasil, é a segunda, depois das cardiovasculares. O que chama a atenção nas estimativas, no entanto, são as diferenças regionais: o mapa da incidência geral da doença (incluindo todas as neoplasias) mostra que as regiões Sul e Sudeste concentrarão o maior número de casos..

Castilhos ainda cita o epidemiologista Cláudio Noronha, coordenador da Área de Prevenção e Vigilância do INCA:

Quanto mais tempo uma pessoa vive, maior será sua exposição aos fatores de risco. O aumento na expectativa de vida da população brasileira, especialmente no Sul e no Sudeste, explica, em parte, as diferentes incidências entre essas e outras regiões – a taxa de envelhecimento é menor no Norte e Nordeste. Mas é importante lembrar que essas regiões são as mais populosas e recebem pessoas de todo o país, A região Sudeste possui a maior taxa de urbanização e desenvolvimento socioeconômico do país, o maior número de pessoas idosas e o maior acesso à informação. Por conta disto, também é a mais acometida pelo câncer, principalmente aqueles típicos das áreas mais desenvolvidas.

Em sua fala no Seminário sobre Saúde Preventiva 4, a ginecologista e mastologista Sandra Lúcia Cócaro de Souza aponta que de 100 mulheres que tiveram câncer de mama, somente 20% apresentam os fatores de risco conhecidos. Não podemos determinar quais mulheres desenvolverão câncer de mama, já que, em sua maioria, apresentam pelo menos um fator de risco e, muitas, mais de um. Entretanto, mulheres sem os fatores de risco conhecidos atualmente também

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desenvolvem câncer de mama, o que, consequentemente, nos leva a reafirmar que todas as mulheres estão sob risco.

A avaliação do risco tem sido causa de grande preocupação para as autoridades de saúde, e, pela relevância dada, atualmente no Brasil, como já acontecia em vários países do exterior, já tem-se implantada a prática do encaminhamento de mulheres que relatam antecedentes hereditários diretos, como mãe, irmãs, tias que foram detectadas com câncer da mama na pré menopausa, para avaliação e aconselhamento genético. Se a probabilidade se mostra alta, a mulher poder tomar a decisão de realizar mastectomia profilática. Esta é atualmente a única maneira de consolidar-se a prevenção primária.

Sendo a mamografia o procedimento por muitos considerado o mais importante para o rastreamento do câncer de mama, vale nos aprofundarmos um pouco sobre sua natureza. Também denominada senografia ou mastografia, consiste na radiografia simples das mamas. É um exame de alta sensibilidade, apesar de a maioria dos estudos evidenciarem falhas entre 10 a 15% dos casos de câncer com tumor detectável ao exame clínico. Essa sensibilidade, no entanto, está diretamente relacionada à idade da mulher, sendo muito menor nas jovens, que apresentam uma alta densidade de tecido mamário. Devido a esse fator, e ao fato de a radiação (utilizada na mamografia) ser considerada um fator de risco para o câncer de mama, essa não deve ser feita em mulheres muito jovens nem praticada de forma indiscriminada.

Um dos fatores que contribuem para alta mortalidade encontrada em decorrência do câncer de mama é o avançado estadiamento, ou extensão do tumor, no momento em que as mulheres são submetidas ao primeiro tratamento. Em geral, 50% dos casos são diagnosticados em estádios avançados (III e IV).

Petel (2006, p.20), por exemplo, cita pesquisa com estudantes do quinto e sexto anos do curso de graduação em medicina, de faculdades localizadas na cidade do Rio de Janeiro que conclui-se que o conhecimento dos alunos sobre a mamografia e os fatores de risco para o câncer de mama é insuficiente para a prevenção e detecção precoce do câncer de mama. Em relação ao autoexame das mamas (AEM), a autora menciona trabalho de Monteiro et al, que verificou que apesar de os meios de comunicação de massa serem aqueles que atingem o maior número de pessoas (58,9%) quanto à prática do AEM, este foi considerado como um método pouco efetivo uma vez que a freqüência do AEM foi realizada de forma

incorreta. Em contraste, a orientação médica demonstrou ser a mais eficiente ao ensinar, às mulheres, como realizar o autoexame das mamas de modo correto, porém beneficiou apenas 37,5% das pacientes envolvidas neste trabalho (p.30).

Sabe-se que cerca de 80% dos tumores de mama são descobertos pela própria mulher, palpando suas mamas incidentalmente. Quando isso ocorre, eles já apresentam um tamanho grande, o que dificulta o tratamento. O que se pretende é a descoberta desses tumores de tamanho o menor possível (de 1 a 3 cm), de maneira que a doença seja tratada ainda em fase inicial. No início da doença, os recursos terapêuticos são, então, mais eficazes, permitindo tratamentos menos mutiladores e com maiores probabilidades de controle. Entretanto, Ellery (2004, p.130) ressalta, em sua dissertação sobre aspectos psicossociais do auto-exame ser o conhecimento sobre o auto-exame das mamas pouco qualificado, devido ao fato de que persistem muitas desinformações sobre sua técnica, o período para realizá-lo, bem como seu alcance.

Eisenberg e Koifman (2000, resumo) colocam a palpação como o método mais simples para o diagnóstico, posto que o sintoma mais perceptível do câncer de mama para a mulher é o nódulo palpável na mama. Realçam, contudo, que somente cerca de 60% dos cânceres detectados por mamografia são palpáveis, sendo o exame anatomopatológico imprescindível para o diagnóstico do tumor primário e das metástases e para classificação e estadiamento.

Os autores também esclarecem que tumores malignos próprios da mama, isto é, os adenocarcinomas, quando in situ do latim (no seu lugar, no lugar) significa um estado adiantado do carcinoma definido pela ausência da invasão de tecidos circunvizinhos. No entanto, são de alto grau nuclear e podem se transformar em invasores, precocemente.