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CAPÍTULO IV ASPECTOS PSICOSSOCIAIS, FÉ, EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

4.2 Sentimentos mais frequentes

Wanderley (1994, p.95) aponta que as mulheres possuem sentimentos variados a respeito da imagem de sua feminilidade e seu corpo após a mastectomia. Segundo a mesma autora, os efeitos da mastectomia no relacionamento sexual apontam para alterações significativas. As pacientes evitam as relações sexuais, numa tentativa de postergar a rejeição que, segundo elas, é iminente. O tratamento primário para o câncer de mama é a amputação da mesma e, mais recentemente, foi complementado com várias formas de terapias sistematizadas, de acordo com a idade da paciente e o estágio da doença As técnicas cirúrgicas minimizam a mutilação e objetivam o aperfeiçoamento da reconstrução da mama – para as mulheres que conseguem seguir nessa direção.

Conforme o relato das mulheres pesquisadas neste trabalho, elas sentem-se envergonhadas, mutiladas e sexualmente repulsivas, usando as palavras de Wanderley (1994, p.95) em referência às repercussões da cirurgia na vida sexual das pacientes.

Acompanhemos esses relatos:

Primeira mulher entrevistada, 54 anos:

As vezes eu fico triste e falo para a minha filha: arrumar um namorado? Já pensou arrumar um namorado, sem o seio? Será que ele vai gostar?;

Segunda mulher entrevistada, 48 anos:

Nessa idade, a gente é uma mulher, que não é uma mulher aleijada, mas é uma mulher mutilada, não é verdade ? Sei lá o que o marido vai pensar?

Apesar de o maior estresse ser ainda o próprio diagnóstico, vários fatores influenciam a aceitação e adaptabilidade da mulher frente a este.

Rowland e Massie 10 (1998, apud MELO 2002, p.380) citam três fatores que contribuem para a resposta psicológica: o contexto cultural nos quais as opções de tratamento são oferecidas; os fatores psicológicos e psicossociais que cada mulher em seu ambiente traz para esta situação; e, finalmente, fatores relacionados ao próprio diagnóstico do câncer como: estágio da doença, tratamentos, respostas e evolução clínica.

Esses mesmos autores salientam a importância da mulher estar mais ativa em seu tratamento, em razão de todas as circunstâncias acima descritas. O estar mais ativa em seu tratamento tende a trazer benefícios, pois a mulher se sente considerada em suas decisões e, portanto, mais consciente desse processo. Também salientam os mesmos autores ser relevante o fornecimento de informações tanto a respeito da doença quanto de seu tratamento, que pode atuar como elemento importante na diminuição da ansiedade.

Ferreira (1996, p.163) também menciona conseqüências relacionadas ao diagnóstico do câncer, associadas aos aspectos sociais, outras ao psiquismo, como as idéias recorrentes de morte, o medo da mutilação, da perda de algumas pessoas de seu convívio. Considera a manifestação de uma doença como uma demonstração de que outros sintomas estão presentes na vida da pessoa e não estão sendo passíveis de resolução. Enfatiza o autor que existem fatores que estão associados à manifestação do câncer, como por exemplo, vivências de isolamento, histórias de relacionamentos difíceis, vínculos que foram fortemente estabelecidos com pessoas na vida adulta e que são quebrados, incapacidade ou dificuldade de demonstrar sentimentos. No caso do câncer de mama, tem-se que as mulheres que já apresentam uma personalidade depressiva têm mais chances de desenvolver a doença.

Rzeznik (2000, p.85) salienta o conjunto de sentimentos que se encontram diretamente associados, quando pensamos em doença, independente do órgão físico acometido e dos efeitos causados no organismo pela mesma. O momento em que uma pessoa recebe um diagnóstico geralmente é decisivo em sua vida, porque

10

ROWLAND, J.H.; MASSIE, M. J. “Breast Cancer”. In: HOLLAND, J. C. (Ed.). Psycho- oncololgy. New York: Oxford University Press, 1998. p.380-401.

a partir de então, tem a possibilidade de reformular aspectos importantes de sua vida.

Bergamasco e Ângelo (2001, p.279) enfatizam que durante toda a vivência do câncer, os sentimentos mudam muito. Há um aprendizado muito grande no sentido de buscar uma organização de sua vida, para saber o que vai ser feito para não perder o controle da situação. Associam ao câncer sentimentos negativos como depressão, raiva, tristeza, dor, desespero é comum, bem como à sensação de que as outras pessoas não entendem o sofrimento pelo qual o doente está passando, o que aumenta a vivência de solidão.

Já Almeida et. al, (2001, p.65) enfatizam que o câncer de mama desestrutura a mulher no sentido de trazer para sua convivência a incerteza da vida, a possibilidade de recorrência da doença e a incerteza do sucesso do tratamento. Uma mulher com câncer busca nas diferentes etapas da sua doença, atribuir algum tipo de significado àquilo que está acontecendo com ela. Isso porque os sentimentos que são trazidos juntamente com o diagnóstico são de natureza negativa, como a culpa.

Além disso, alguns estudiosos, como Bleiker Ema (2003, P.277) demonstram que, de forma geral, as mulheres que já tinham algum tipo de desordem emocional antes da descoberta da doença, estão mais propensas a desenvolvê-las depois do diagnóstico do que aquelas que nunca tiveram nenhuma ocorrência

As mulheres diagnosticadas que passam por uma mastectomia têm uma experiência diferente daquelas que não se submetem a este processo. O sentimento mais comum após a cirurgia, segundo Camargo e Souza (2003, p.615) é a ambivalência, pois a mulher deposita na cirurgia a possibilidade da cura e espera que, após a realização da mesma, não precise mais se preocupar. Ao mesmo tempo, existe o medo de enfrentar um corpo que já não é o mesmo, a sensação de que a doença vai voltar e as necessidades de se preparar para as novas etapas, como os curativos que devem ser feitos. A realidade da mutilação traz para a mulher uma quantidade grande de sentimentos, com o quais ela se sente perturbada, e muitos sentimentos psicológicos de ordem negativa podem surgir nesta etapa.

A respeito das diferentes fases do enfrentamento durante o primeiro ano após a mastectomia, Gimenes (1997, p.183) chama a atenção para o fato de que, durante muito tempo, acreditou-se que a adaptação psicossocial da mulher após uma mastectomia ocorria como um processo único, indiferenciado e linear. No

entanto, à medida que a pesquisa na área de enfrentamento foi-se ampliando, seus resultados trazem à tona a perspectiva de que o processo de enfrentamento é dinâmico e particular a cada etapa da doença.

Esses estudos aos poucos foram adquirindo lugar central na literatura da Psicologia da Saúde, pois foram introduzindo a relação entre a adaptação psicossocial e o índice de sobrevida após a incidência de doença grave

Makluf et. al. (2005), em revisão da literatura sobre qualidade de vida e câncer de mama enfocando variáveis psicossociais, e reiterando a dificuldade conceitural da expressão qualidade de vida, sugerem que o modelo biomédico da doença não leva em conta todos os fatores envolvidos no câncer e apontam para a necessidade de uma abordagem que inclua os fatores psicossociais.