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CAPÍTULO III BUSCANDO OS RESULTADOS DA PESQUISA

3.1 Conversando com as mulheres a partir dos dados, vistos sob um

3.1.10 O que essas mulheres associam à palavra Deus?

Segundo Gesché (2004, p.5) a palavra Deus existe. Sem dúvida, é a única certeza que consegue obter unanimidade. E existe como uma moeda antiga com a face já quase desfigurada, quase ilegível, talvez por tanto que já tenha circulado pelos mercados humanos.

Esse mesmo autor, citando ainda Kierkgaard em seu Post Scriptum II, diz que Deus é uma idéia suprema que não pode ser explicada por outra coisa. Não podemos explicá-la, a não ser mergulhando nessa própria noção.

Há palavras que vêem em nosso auxílio e nos oferecem confiança, quer para começar, compreender ou dar sentido às nossas buscas e indagações. Elas nos convidam a perguntar e ir mais à frente, ao nos dizerem que nossas dúvidas, angústias, aflições não são em vão, e assim, nos impulsionam a procurar o caminho. Uma dessas palavras, é Deus.

E o que é Deus para essas mulheres ? Como Ele é representado?

Ao serem convidadas a associar a palavra Deus às suas vidas, a maioria das mulheres desse estudo, o associou a algo poderoso, que dá forças, a algo ao qual se pode agarrar e que as ajuda, principalmente nesse momento particular de suas vidas.

Deus dá sentido às histórias e experiências da vida, permitindo construir novos significados evalores positivos, conforme observa-se através da construção dessa cadeia de sentidos positivos, onde essas mulheres puderam sentir-se reforçadas positivamente a enfrentar os sentimentos debilitantes de desamparo, angústia, desespero desencadeados pelo diagnóstico de câncer da mama e os tratamentos decorrentes, o que pode ter detonado uma vivência de espiritualidade, conforme nos descreve Gimenes (2003).

Para Vergote (1998), a representação de Deus é uma experiência humana. Lawrence (1997, p. 65) distingue nessa representação o conceito e a imagem: conceito refere-se a uma definição pessoal de Deus, enquanto que a imagem diz respeito ao modo como, do ponto de vista da pessoa, Deus deve ser.

Jaspard (2004, p.53) vai enfatizar que no campo das relações humanas com o mundo ou com as pessoas, o sujeito humano funda sua crença na existência de realidades com que lida numa convicção nascida da experiência sensível dessas realidades (ver, tocar, sentir, ouvir, palatar). Essa experiência sensível oferece, com efeito, a possibilidade de uma verificação perceptual direta quando a relação é imediata. Quando o objeto dessa relação deixa o campo dessa experiência, ele permanece acessível na memória, cognitiva e afetivamente, graças à representação mental que pode ser feita dele.

Pergunta Jarpard (2004, p. 54): o que se passa quando o objeto da relação humana é um ser transcendente ? O objeto do mundo transcendente, Deus, por exemplo, é “representado” no mundo fenomenal pela contribuição de uma religião particular, que lhe dá uma “aparência” acessível empiricamente, por exemplo, o cristianismo propõe um Deus que é Pai, masculino, bondoso, criador, todo poderoso. Para o crente, essa representação se torna o canal ao mesmo tempo de uma presença de Deus ou de uma interpelação divina e da resposta do homem.

A representação de Deus descrita pelas mulheres desse estudo, foi permeada por atribuições de sentidos positivos: algo que dá forças, algo a que se pode agarrar, poderoso e que ajuda.

Nos relatos dessas mulheres, Deus exerce várias funções, : Ele cuida, colabora, dá forças, é provedor, conforta, dá segurança. É uma presença subentendida em suas vidas à qual sentem poder recorrer em momentos de necessidade, conforme observamos no relato de uma das mulheres pesquisadas: “então eu acho que crer em Deus, nesta força maior, me ajuda a suportar tudo isso” (referindo-se ao diagnóstico e aos tratamentos).

Pargment (1997) enfatiza que há diferentes formas de as pessoas buscarem a ajuda divina. Segundo esse autor, alguns tendem a se relacionar de uma passiva, “deixando tudo na mão de Deus”. Centram-se em Deus acreditando que a última responsabilidade pela vida é dele. Não assumem suas escolhas e atribuem os acontecimentos a fatos e pessoas exteriores e, em última instância, à vontade de Deus. Outras pessoas reagem de forma centrada em si, acreditando que Deus deve

lhes dar respostas e soluções imediatas, exigindo instrumentos, recursos e sinais que os ajudem. Buscam ativamente indicações e acontecimentos que permitam agir de forma a eliminar suas ansiedades e elaborar suas questões. No entanto, outras pessoas ainda, conforme pode-se identificar ocorre com as mulheres participantes dessa pesquisa, procuram trabalhar com Deus em uma forma colaborativa. Pedem e esperam a influência divina, incluindo-a no processo de escolha. Vejamos nessas verbalizações de nossas mulheres essa interação colaborativa com Deus na sua experiência de vida, e particularmente na experiência com o câncer da mama: “Então eu acho que crer em Deus, nesta força, me ajuda, me ajuda bastante a suportar tudo isso”; “sempre acreditei e pedi ajuda pra Ele, sempre. Já tive outros “probremas” e Deus me ajudou”. Para esse autor, essa última forma é mais saudável é sinal de maior competência para lidar com a própria vida.

Apesar dessas considerações, Pargament (1997) chama a atenção para o fato de que, em situações extremas, quando a possibilidade de ação independente é mínima, a atitude de entregar a Deus a resolução dos problemas pode ser uma ótima solução. A responsabilidade nesses casos é delegada a alguém visto como um Ser onipotente e benigno que pode ser chamado e aproximado em situações- limite. Nesse caso, o comportamento de deferir a responsabilidade a Deus pode ser extremamente saudável, mesmo que não seja uma forma genericamente boa para resolver os problemas.

O que essas mulheres nos mostram corrobora com esses dados apresentados por Pargament, bem como demonstram que percebem os limites de seus recursos diante dessa experiência com a doença, reconhecendo sua impotência e abrindo-se a pedir e esperar a ajuda e a interferência de algo que as ultrapassa.

Quadro 12 – O que vem a sua cabeça quando falo a palavra Deus?

SUJEITOS CATEGORIA VERBALIZAÇÃO FREQUÊNCIA

1, 2, 3, 5 Algo que dá força

“... Deus? Algo que dá força.” “Algo que dá coragem.” “... Ele é algo que dá força...” “É poderoso...”

“Deus dá força...”

5

Continuação

SUJEITOS CATEGORIA VERBALIZAÇÃO FREQUÊNCIA

1 Coisa boa “Deus é uma coisa boa...” 1

1, 3, 4, 5 Algo poderoso

“Deus? Ah! é poderoso”. “Deus é tudo.”

“Criador de tudo.”

“Deus? Para mim é algo poderoso.”

4

2, 3, 5 Algo que ajuda

“Deus para mim é algo que ajuda...”

“Algo que coloca pessoas na nossa vida para colaborar, ajudar...”

“Deus? É uma força que ajuda... que ajuda a suportar tudo isso...”

4

2, 3, 5 Algo que ajuda

“Deus para mim é algo que ajuda...

“Algo que coloca pessoas na nossa vida para colaborar, ajudar...”

“Deus? É uma força que ajuda... que ajuda a suportar tudo isso”.

3

1 Algo a que

se agarrar “Deus?... é algo que a gente se agarra...” 1

1 Coisa boa “Deus é uma coisa boa”. 1

1, 3, 4, 5 Algo poderoso

“Deus? Ah! É poderoso”. “Deus é tudo”.

“Criador de tudo”.

“Deus? Para mim é algo poderoso”.

4

2, 4 Cuidador “Algo que atende as nossas necessidades...”

“Deus? Para mim é um pai cuidador.” 2

3.1.11 O que essas mulheres recomendam para outra mulher que esteja