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De 1965 a 1985 O fim de um ciclo de política florestal pública e o declínio dos

PARTE II A POLÍTICA DE PREVENÇÃO E COMBATE AOS INCÊNDIOS

4.3. De 1965 a 1985 O fim de um ciclo de política florestal pública e o declínio dos

Em 1965, existem cerca de 2.969.000 ha arborizados, correspondentes a 33% do território do Continente. Numa sociedade rural muito dependente dos combustíveis e fertilizantes florestais, em que a recolha de caruma e mato é autorizada e vigiada pelos proprietários, os poucos incêndios que vão deflagrando em espaços rurais povoados e com reduzida biomassa são facilmente combatidos pelas populações locais, pelas estruturas dos Serviços Florestais e, pontualmente, pelos corpos de bombeiros municipais e voluntários3. Na década de 50 e 60, ardem em média cerca de 5000 ha/ano (PNDFCI, 2006:4).

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O Decreto-Lei n.º 488/70, de 21 de Outubro, é o primeiro diploma que regulamenta de forma estruturada e sistematizada a Prevenção, Detecção e Combate de Incêndios Florestais. Entende por bombeiro uma pessoa com treinamento e equipamento adequado para apagar ou minimizar incêndios, resgatar pessoas, ajudar e fornecer assistência em desastres naturais e humanos.

Em Portugal, actualmente, há quatro tipos de Corpos de Bombeiros: Bombeiros Profissionais (oficialmente denominados Bombeiros Sapadores), Bombeiros Voluntários, Bombeiros Militares e Bombeiros Privativos (de empresas industriais, florestais, etc.). Coexistem ainda corpos mistos, compostos por Voluntários e Profissionais, denominados Bombeiros Municipais. Os Corpos de Bombeiros Sapadores e Municipais existem nos municípios mais importantes, sendo

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Com a criação do Fundo de Fomento Florestal (1966) os eucaliptais são muito beneficiados, acontecendo as maiores plantações a partir de meados dos anos oitenta (Gráfico 1).

Legenda: (IFN: 1ª Revisão 1974; 2ª Revisão 1984; 3ª Revisão 1995).

Fonte:http://www.dgrf.min-agricultura.pt/ifn (29/12/2006).

Gráfico 1 - Evolução da área dos povoamentos florestais em Portugal Continental.

Contudo, o eucalipto gera grande contestação popular, dadas as características expansionistas que caracterizam o seu crescimento, e a controvérsia que ele desperta sobre os potenciais efeitos negativos no solo, na água e na biodiversidade. Para disciplinar a sua expansão surge a Lei n.º 175/88, procurando impedir a plantação de grandes manchas contínuas de eucalipto, assim como impossibilitar a conversão indistinta de montados em eucaliptal.

Com a publicação do Decreto-Lei n.º 488/70, procura-se responder à intensidade e perigosidade dos incêndios. Propõe-se, também, a necessidade de uma acção conjunta de diversas entidades: bombeiros, GNR e PSP, sendo que a coordenação técnica dos trabalhos de extinção pertence aos Serviços Florestais. A Bombeiros Sapadores são inteiramente constituídos por profissionais, os Municipais englobam tanto profissionais como voluntários a tempo parcial.

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década de setenta surpreende os portugueses com um fenómeno novo: os incêndios rurais em larga escala.

Segundo Luciano LOURENÇO, «Em Portugal, foi essencialmente depois do 25 de Abril de 1974 que os incêndios florestais passaram a constituir um flagelo nacional. As profundas modificações que se vinham introduzindo na estrutura sócio-económica da sociedade portuguesa e que se acentuaram significativamente a partir dessa data, contribuíram, directa e indirectamente, para um substancial aumento, tanto no número, como na dimensão dos incêndios florestais.» (2004:144).

A Revolução de Abril origina grande desorganização em diversas instituições públicas e reduz significativamente as competências dos Serviços Florestais, deixando marcas profundas na floresta. Esta situação tem reflexos muito negativos ao nível da defesa e combate aos incêndios, pois a área de intervenção dos Serviços Florestais é extensa para além da gestão dos espaços florestais públicos e comunitários, fiscaliza as áreas privadas, que representam 80% do território. São promulgadas leis que devolvem os baldios às comunidades locais.

Acresce, ainda, o enfraquecimento da autoridade do Estado que é aproveitado para se cometerem actos incendiários, como protesto de desentendimentos passados, de vinganças e de jogos de interesses sociais. Esta impunidade potencia as queimadas pelos pastores e o uso generalizado do fogo. Segundo PEREIRA et al. «A probabilidade de ocorrência de um incêndio florestal pode ser analisada como o resultado da conjugação de diferentes factores de risco, tais como a topografia, o tipo de combustível, a meteorologia e o comportamento do próprio fogo.» (2006:236). E se a tecnologia pode de algum modo antecipar-se ao risco natural dos incêndios florestais, através da monotorização das temperaturas e zonas de focos de combustão, já nada pode prever os locais escolhidos por intenção criminosa. Como resultado, os fogos aumentam substancialmente, sendo que no ano de 1974 a área ardida é de aproximadamente 30.000 ha, o valor mais elevado de sempre, e no ano de 1975 cerca de 80.000 ha são queimados.

Para responder à onda avassaladora de incêndios, que grassa por todo o país, é publicado o Decreto-Lei n.º 327/80. Mas a aprovação desta Lei ocasiona acesa discussão e perspectivas diferentes entre os responsáveis políticos. Para os seus defensores, ela consagra os princípios para a criação das Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) esteio da Defesa da Floresta Contra Incêndios; outros consideram-na como simples reforço dos meios de combate, esquecendo a resolução dos

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verdadeiros problemas: a gestão preventiva da floresta e o ordenamento do território ajustado à necessidade de evitar os incêndios catastróficos.

Em Setembro de 1980, é criado o Serviço Nacional de Bombeiros e, a partir daí, as corporações de bombeiros voluntários ficam com o exclusivo da extinção dos incêndios. Um mês depois, é instituído o Serviço Nacional de Protecção Civil. Em Dezembro, o Decreto-Regulamentar n.º 55/81 especifica as atribuições das diferentes entidades - «Os Serviços Florestais passam a ser responsáveis apenas pela prevenção e detecção; os municípios assumem a responsabilidade pela protecção civil e pela dinamização das Comissões Especializadas em Fogos Florestais4; e aos corpos de bombeiros passa a competir o rescaldo.» (PNDFCI, 2006:8).

Na década de oitenta, o pinhal sofre brusca desvalorização, resultado sobretudo da superabundância de madeira queimada e da diminuição do preço da resina. Também as populações, providas de electricidade e gás, reduzem a recolha e consumo de lenha para combustível. A floresta deixa de ser uma fonte de rendimento e os proprietários abandonam os territórios, aumentando assim o risco e a frequência de incêndios. Surgem, então, novas indústrias de celulose a oferecerem aos proprietários mais rápida rentabilidade da terra, comprando ou arrendando esses espaços para plantações de eucalipto.

Em 1985 a área florestal corresponde a 35% do território e a área ardida total é 149.000 ha. Nos primeiros anos subsequentes ao 25 de Abril, a média ardida anual aproxima-se dos 50.000 ha.