• Nenhum resultado encontrado

De Novo a Reinterpretação da Dúvida Céptica

No documento Behaviourismo e Cepticismo em Wittgenstein (páginas 77-92)

Outro dos autores que têm afinidades com o pensamento de Stanley Cavell sobre o cepticismo é, também tal como já vimos, Andrea Kern. De acordo com esta, uma verdadeira terapia de combate ao cepticismo filosófico não passaria pela sua dissolução, como pretendem filósofos mais próximos das posições de Wittgenstein, mas por uma operação que seria assumidamente paradoxal: tal operação procuraria ultrapassar a

dúvida céptica, não a dissolvendo mas afirmando-a, como já destacámos anteriormente. Porém, esta posição, para além de reiterar a dúvida céptica, reinterpreta o seu significado. O objetivo desta posição não é mostrar ao céptico que a sua dúvida não tem sentido, mas que esta tem um significado diferente daquele que ele lhe atribui. A dúvida do céptico, para Cavell bem como para Andrea Kern, contém uma verdade incontestável, uma verdade que o próprio céptico, no entanto, não pode compreender já que, como já vimos também, ele levanta questões numa área do pensamento onde elas não podem ser levantadas.

Andrea Kern refere, contra os apoiantes de Wittgenstein, que, se a terapia filosófica for conduzida pelo objectivo de dissolver o problema levantado pelo cepticismo, ela não pode evitar ser remisturada no turbilhão do problema que ela queria eliminar e cair nos preconceitos que ela mesma tinha apontado ao cepticismo. No entanto, Andrea Kern crê que Wittgenstein, apesar de tudo e também na nossa interpretação, não pretende dissolver o problema do cepticismo, mas fornece um tipo de terapia em que os critérios desempenham um papel crucial na rejeição da dúvida céptica.

Os defensores da terapia da dissolução do cepticismo afirmam que o conteúdo da minha experiência de outra pessoa e o conteúdo do meu juízo em relação ao estado interior dessa pessoa são uma e a mesma coisa. Desta forma, critérios comportamentais dizem-nos, de forma claramente plausível, que este ou aquele estado interior existe.

Será uma consequência desta compreensão dos critérios que eu não posso estar mais certo que os critérios de um determinado estado interior são satisfeitos do que eu estou certo que um estado interior correspondente existe. A observação que outra pessoa está a exprimir dor e o juízo que ela está com dores não são logicamente independentes um do outro, poderei estar certo da validade da observação à medida que estou certo da validade do juízo e a situação inversa também é verdadeira. Juízo e comportamento estariam de tal maneira imbricados que isto corresponderia, segundo Kern e lembrando Gadamer, a um círculo hermenêutico. Deste modo, a terapia da dissolução relega o céptico para um estado menor: de observador cósmico para elemento integrante de uma comunidade humana que observa comportamentos e emite juízos.

No entanto, a concepção do terapeuta da dissolução que afirma que a nossa experiência dos estados interiores se manifesta no comportamento, longe de dissolver o cepticismo, apenas reinstala a dúvida céptica. Os critérios para a dor, por exemplo, serão satisfeitos se o comportamento em causa representa de alguma forma a dor e isto

implica uma concepção disjuntiva da experiência, ou seja, a conceção que afirma que, se um juízo sobre a dor, por exemplo, está correcto, então as evidências dadas na experiência consistem no facto que o critério ou os critérios para a dor são cumpridos, por seu lado, se o juízo é incorrecto, tal consiste no facto que os critérios apenas parecem estar a ser cumpridos. Parafraseando Stanley Cavell, esta concepção não nos conduz a resultados palpáveis porque ela pode preservar a certeza da ligação entre um critério e aquilo de que é um critério apenas à custa de nunca sabermos com certeza se o critério é satisfeito e se aquilo a que ele pertence está lá. O critério poderá estar na melhor das hipóteses a ser satisfeito de forma aparente e esta aparência não pode convencer Cavell.

A concepção disjuntiva da experiência parece aos olhos do céptico um fracasso e parece não responder ao seu problema de forma adequada. A concepção disjuntiva da experiência pode explicar por que é que os critérios nos podem fornecer a certeza em relação aos estados interiores de outros sujeitos deixando também por resolver a questão que se resume a como é que nós podemos estar certos que um critério nos é dado na experiência. Não temos uma maneira de saber se a situação é tal que os critérios para a dor são satisfeitos ou se a situação é tal que os critérios apenas parecem estar a ser satisfeitos.

A terapia filosófica não pode consistir numa dissolução da dúvida céptica. Em vez disso, a razão de ser da terapia filosófica terá de consistir em conduzir-nos a uma compreensão adequada dessa dúvida. Enquanto a terapia da dissolução tem como objectivo conduzir o céptico a uma concepção do nosso conhecimento em que a sua dúvida não mais tenha lugar, a terapia da reinterpretação, advogada por Kern apoiada em Cavell, tem como objectivo conduzi-lo a uma concepção do nosso conhecimento que desarma a sua dúvida exactamente através da sua reinterpretação. Ao afirmar isto, o terapeuta da reinterpretação reformula o conteúdo da descoberta do céptico: a insustentabilidade dos nossos juízos sobre os estados interiores dos outros não prova que as nossas faculdades são limitadas, mas revela que a nossa relação essencial com os outros sujeitos (o termo é cavelliano adoptado por Kern) não é epistémica mas sim existencial.

O anti-céptico e o terapeuta da dissolução partilham a ideia de que critérios corporais constituem o conteúdo de juízos sobre os estados interiores de outras pessoas e porque os critérios desempenhariam este papel transcendental, desempenhariam também um papel epistémico. Os critérios atribuem conteúdo aos conceitos sobre

estados interiores e, deste modo, fornecem uma base epistémica aos juízos sobre esses mesmos estados e esta é a essência da premissa partilhada pelo anti-céptico e pelo terapeuta da dissolução identificada pelo terapeuta da reinterpretação: é a premissa que afirma que os nossos juízos sobre os estados interiores de alguém precisam de uma base epistémica e que a satisfação dos critérios fornece essa base.

Ainda de acordo com as traves-mestras da terapia da reinterpretação, a ideia que os critérios são o meio através do qual a existência de alguma coisa é estabelecida com certeza – naquele que é talvez o exemplo mais paradigmático, que os critérios que delimitam a existência da dor são o meio pelo qual podemos saber com certeza se outra pessoa está com dores – constitui a verdadeira raiz da dúvida do céptico e da ansiedade que o perturba porque os critérios nem sempre são fidedignos. A dor pode, por exemplo, estar a ser fingida (como acontece com os actores no palco), mas o facto de nós termos de usar o conceito de dor sempre que a dor está a ser apenas fingida para dizer o que é que alguém está a fingir, mostra em que é que o conteúdo dos critérios deve consistir: os critérios para se dizer que alguém está com dores identificam-se com a aplicação do conceito de dor, quer seja no contexto em que alguém finge estar com dores, quer seja no contexto em que alguém está realmente com dores. Os critérios não nos permitem obter a certeza que alguém não finge meramente a dor e que está realmente com dores. Os critérios só nos permitem identificar o que é que alguém está a fingir ou a experienciar realmente enquanto dor.

Não há nenhuma razão epistémica (saliente-se aqui que o termo epistémica é da exclusiva responsabilidade dos autores em causa) nos nossos juízos sobre a existência da dor porque não há, digamos, nenhum passo a ser dado da identificação da dor para a sua existência. O facto de não haver razões epistémicas para os nossos juízos sobre a existência dos estados interiores dos outros não significa que há alguma coisa que falha em ser justificada, mas que não há nada para ser justificado. Mais uma vez, a nossa relação com os outros não é epistémica mas sim existencial.

Na interpretação de Andrea Kern, Cavell faz o seguinte reparo: o apelo de Wittgenstein para os critérios, embora extraia a sua importância do problema do cepticismo, não pode ser considerado uma refutação do cepticismo, pelo menos segundo a forma que é comum pensar que uma refutação deve ter. Quer dizer, esse apelo não refuta as teses concludentes do cepticismo, nomeadamente as teses que defendem que nós não sabemos a certeza da existência do mundo exterior e, já agora, da existência de outras mentes. Pelo contrário, Wittgenstein reitera essas teses ou toma-as como

inegáveis e altera desta forma a sua importância, passando agora essas teses a significar qualquer coisa como isto: a nossa relação com o mundo ou com os outros não é uma relação de conhecimento onde o conhecimento surge como qualquer coisa certa. No entanto, parafraseando Wittgenstein, também é verdade que nós não falhamos em conhecer tais coisas. Mais acrescentaríamos nós: o nosso conhecimento do mundo e dos outros em geral é um conhecimento instável e pode ser suspenso reflexivamente, mas é um conhecimento que nos permite o estabelecimento das relações com o mundo exterior e também com os outros. Sem este conhecimento instável, mas que não deixa de ser um conhecimento, não nos adiantaria qualquer conhecimento interior, por muito que esse conhecimento se bastasse a si mesmo, porque faltar-nos-ia direcção, como salienta McManus. Este assunto voltará a ser abordado na conclusão desta dissertação mais pormenorizadamente.

No que à relação da filosofia com o cepticismo diz respeito, Cavell salienta que – e isto é inteiramente do nosso agrado – se os filósofos e a filosofia não assumissem a perspectiva de um observador, não teriam realmente nada do que se ocupar e este argumento vai claramente contra as ideias defendidas pelos defensores da terapia da dissolução do cepticismo, entre eles John McDowell, que advogam que o combate ao cepticismo pela filosofia só faz sentido quando os filósofos abandonam o lugar de observadores cósmicos e se integram na comunidade humana à qual pertencem.

O facto de, na postura filosófica adequada, se recuar como observador não significa que a reflexão filosófica termine necessariamente no cepticismo. Segundo Andrea Kern, a filosofia é apenas uma condição necessária para o cepticismo e não uma condição suficiente. Acrescentaríamos ainda, inversamente, que o cepticismo poderá ser uma condição necessária à reflexão filosófica em determinadas situações, mas raramente é uma condição suficiente para a reflexão filosófica e as excepções estarão entre as posições mais arreigadas, claramente anti-filosóficas na sua essência, de alguns tipos de cepticismo e provavelmente entre os existencialistas mais pessimistas.

Ainda quanto à relação da filosofia com o cepticismo, uma nota de alguma assertividade: nenhuma reflexão filosófica propriamente dita sobre o nosso conhecimento dos estados interiores dos outros poderia realmente começar sem reconhecer que os sujeitos usufruem de uma prática de emitir juízos em que em alguns desses juízos, por exemplo, estados interiores são atribuídos a outros sujeitos.

Na sua investigação filosófica, o céptico não somente recusa a nossa prática de emitir juízos de forma a obter uma compreensão reflexiva, mas fá-lo também sem

consciência do que está a fazer. Numa altura destas, ele está cego em relação ao facto que a sua reflexão filosófica sobre a nossa prática começa precisamente com tal retirada da nossa prática. Desta cegueira em relação ao carácter da sua reflexão filosófica resulta que o céptico é obrigado a negar o conhecimento a que ele não pode fugir: o conhecimento que está implícito na sua resposta prática ao mundo e aos outros em geral. Defendemos que esta é uma resposta importante ao céptico, proporcionada por Andrea Kern em termos cavellianos, mas esta resposta é uma resposta prática – tida em conta enquanto nos consideramos agentes no mundo – ao cepticismo e não se pode encará-la como uma tentativa de dissolução dos problemas levantados pelo céptico. No entanto, podemos ter sempre a tentação de responder ao céptico, tentativas que, do ponto de vista epistémico, podem, em certas alturas, sair frustradas.

Por outro lado, interpretar Cavell como aceitando, de alguma maneira, as dúvidas do céptico é vê-lo através de lentes cépticas, é tomar por garantido o que ele pretende recusar, ou seja, o aparato conceptual do céptico que quer fazer crer que as concepções de certeza, evidência, conhecimento, etc., são directamente aplicáveis às nossas relações mais prosaicas com o mundo e com os outros em geral.

No entanto e de acordo com Edward Minar, os pontos de vista cépticos não são pontos de vista de somenos importância: trata-se de uma perspectiva respeitável que nos obriga a saber de onde partimos e com o que devemos contar. Trata-se também de uma perspectiva que também nos obriga a dar como incertos preconceitos arreigados em nós sobre a nossa relação com o mundo e sobre a nossa relação com os outros. Preconceitos equivalentes a certezas sobre o interior dos outros ou sobre o mundo e a sua natureza intrínseca, natureza esta que é sempre polémica, todavia este tema daria uma outra dissertação que iria para lá do estrito domínio filosófico.

Para terminar a abordagem que Stanley Cavell faz dos problemas levantados pelo cepticismo segundo a interpretação de autores que o apoiam, existe uma oposição de princípio entre o cepticismo relativo ao mundo exterior e o cepticismo em relação à existência de outras mentes. Não podemos chegar ao cepticismo sobre as outras mentes da mesma forma que chegamos ao cepticismo em relação ao mundo exterior. No que diz respeito ao mundo exterior, uma abordagem rudimentar permite-nos considerar que não podemos conviver com esse tipo de cepticismo, sob pena de nos imobilizarmos, enquanto uma abordagem reflectida ao problema das outras mentes permite-nos concluir que, na prática, nós podemos conviver com este tipo de cepticismo.

A abordagem ao problema das outras mentes pode ser, portanto, uma abordagem reflexiva: podemos suspender os nossos juízos sobre a sua existência e podemos em consequência duvidar da sua existência com razões que igualam em firmeza a afirmação que nós não falhamos na prática esse tipo de conhecimento, assim como não falhamos na prática o conhecimento do mundo exterior. Podemos conviver, segundo cremos, com algum tipo de cepticismo no que concerne as outras mentes, ainda que essa dificuldade de convivência tenha uma origem eminentemente filosófica, não podemos, segundo Andrea Kern e do nosso ponto de vista, duvidar de forma prolongada da existência de um mundo exterior real, independente e continuado sob pena de nos imobilizarmos ou até sob pena de pormos em causa a nossa existência quotidiana vulgar. No entanto, estes dois tipos de cepticismo, com maior ou menor acuidade, serão sempre motivo de acesa discussão.

A vida quotidiana não se compadece com dúvidas filosóficas em relação à existência do mundo exterior porque a nossa relação com os objectos não é prioritariamente uma relação reflexiva, parece-nos, enquanto em relação à existência das outras mentes o quotidiano não nos impede de reduzir e integrar essas dúvidas na nossa existência, sendo que a nossa relação com os outros pode ser, em determinadas alturas, uma relação reflexiva.

Levar o céptico a sério, apesar da sua prontidão para fazer generalizações, é um sinal de inteligência porque a sua desilusão com o conhecimento permite-nos racionalizar e tornar mais rigoroso o nosso relacionamento – ainda que reflexivo – com os outros e – menos no entanto – com o mundo. Podemos viver o nosso cepticismo, apesar da corrosão do conhecimento que o céptico pretende operar.

Cremos, no entanto, e ao contrário de Cavell, que a nossa relação com os outros pode ser uma relação epistémica porque por trás de um rosto que se me apresenta posso ter a crença, a partir do modelo do meu próprio caso e através da minha imaginação, que há uma outra mente para além da minha. Porém, não acreditamos que Wittgenstein dissolva o problema do cepticismo – e no fundo também não o pretende – como bem salienta Denis McManus, nem em relação à existência do mundo exterior, nem em relação à existência de outras mentes porque o seu discurso, nestes domínios, é contraditório, ora oscilando, no caso do mundo exterior, entre um solipsismo e um quase realismo – realismo patente, por exemplo, no exteriorismo das formas de vida – ora oscilando, no caso das outras mentes, entre um certo internalismo que não recusa a existência de um interior e um quase behaviourismo quando afirma, por exemplo, que o corpo e o seu comportamento são a melhor imagem da alma de uma pessoa.

No âmbito do argumento da linguagem privada, Wittgenstein defende que independentemente de uma prática de resposta a alguém com dores a ideia que alguém está com dores não faz sentido. Do nosso ponto de vista, não é só a prática de resposta a pessoas com dores que nos leva a pensar que alguém estará com dores: a nossa coexistência enquanto seres humanos, o facto de partilharmos alguns dos mesmos sentimentos e sensações obriga-nos a ter compaixão por essa pessoa, é por partilharmos parte desta sensibilidade, de um ponto de vista existencial (Edward Minar) se quisermos, e não só pela prática mecânica da resposta, que nós agimos quando alguém está a sofrer e, em muitos casos, nós sabemos que alguém está a sofrer com dores, apesar dos casos excepcionais de simulação. Os casos de simulação ou de dissimulação não são muito explorados por Wittgenstein talvez porque ele pense que isso o colocaria mais do lado do céptico, mas os casos excepcionais de simulação não põem em causa a certeza da nossa relação com os outros, quer ela seja existencial ou mesmo epistémica.

No entanto, no entender de alguns autores referidos nesta dissertação – e é isso que sobretudo interessa -, a nossa relação com os outros é existencial e não epistémica, mas também é certo que, segundo Wittgenstein, nós não falhamos no conhecimento do mundo, por exemplo, e, no entender de Denis McManus, um Sujeito sem esse conhecimento seria um Sujeito sem direcção.

A leitura solipsista que McManus faz, nomeadamente do Tractatus de Wittgenstein, e o consequente cepticismo em relação a mentes alheias e ao mundo exterior (Eu sou o meu mundo) mostram o tom que perpassa esta dissertação no que toca a Wittgenstein, o que não quer dizer que o consideremos um céptico porque o tom das Investigações – embora perpassado por algum cepticismo e algum behaviourismo – já não é o tom de quem está a escrever para depois, parafraseando Wittgenstein, subir por uma escada, ver o mundo a direito e deitar fora a mesma escada que lhe permitiu subir.

Andrea Kern, na interpretação que faz de Stanley Cavell, faz, como já vimos, uma reinterpretação paradoxal da dúvida céptica porque o céptico coloca questões ininteligíveis à luz daquilo que entendemos, latu sensu, por mentes alheias e mundo exterior. Através da sua reinterpretação, Cavell coloca a dúvida céptica nos termos que ela deve ser colocada, ou seja, reintegra a dúvida céptica dentro do curso normal dos nossos pensamentos. Andrea Kern partilha com Wittgenstein a preocupação com os critérios que justificam a aplicação de conceitos psicológicos como, por exemplo, a dor

e tal preocupação é atenuada com o conceito de uso uma vez que nós somos mestres de

uma técnica (Wittgenstein) sempre que utilizamos este tipo de conceitos.

Edward Minar salienta também, na linha de Stanley Cavell, a relação existencial – e não epistémica – que nos une aos outros e aquilo que é entendido por ele como o problema do outro nada mais é em, última instância, do que a dificuldade que cada um de nós sente em ultrapassar certas barreiras no caminho para o encontro, ou seja, para a relação com os outros. Minar defende a posição do observador cósmico, tal como Cavell, como a melhor maneira de contrariar o cepticismo, através daquilo a que poderíamos chamar uma participação distante na comunidade que constitui a soma de todos os outros.

Voltando ao paradoxo céptico wittgensteiniano, como já afirmámos um dos mais importantes fios condutores desta dissertação, temos a acrescentar que a interpretação kripkeana behaviourista do paradoxo será a mais ajustada porque Wittgenstein, talvez sem o pretender, não consegue afastar o pendor behaviourista de alguns dos seus argumentos, como foi referido ao longo da dissertação. No entanto, em Remarks on the

Foundations of Mathematics, o filósofo deixa a porta aberta à hipótese de um princípio

que resolveria o paradoxo céptico, que não passaria de uma tentação mas que, no entanto, poderia dissolver o cepticismo neste caso que, ao contrário do que muitos autores defendem, Wittgenstein parece-nos não conseguir fazer. Esta ideia está plasmada na secção 21., Parte VI, da obra supramencionada numa frase traduzida por nós do inglês: Porque aqui há uma grande tentação em dizer algo mais quando tudo foi

No documento Behaviourismo e Cepticismo em Wittgenstein (páginas 77-92)