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fundição.

Em setembro de 1837, José da Silva Bitancourt enviou para o Ministério da Guerra um relatório detalhado sobre o estado produtivo da fábrica e seus trabalhadores.5 Através dele,

temos acesso ao trabalho desempenhado em cada oficina, descrevendo os processos e os trabalhadores necessários para operá-las e suas hierarquias. Segundo as anotações de Bitancourt, sabemos que na 1ª oficina, a de refinação e carbonização, preparava-se o salitre, retirando dele as impurezas que poderiam comprometer a qualidade e durabilidade da pólvora, além da fabricação do carvão que era consumido na sua composição. O processo de refinação consistia em submeter o material a lavagens sucessivas e dessecamento e, para isso, seus operários utilizavam caldeiras6 na forma de grandes vasos, de forma que produzissem o grau de

calor necessário para o dessecamento. Trabalhavam no processo de refinação do salitre um mestre, um contra-mestre, um porteiro, e o número de serventes, que variava entre seis e doze

4 Casa destinada à fabricação de barris que armazenavam a pólvora para o seu comércio.

5 “Relatório do estado da Fábrica de Pólvora da Estrela com declarações sobre o pessoal, matéria prima e o

fabrico da pólvora. De José Maria da Silva Bitancourt, para o Ministro da Guerra, Sebastião do Rego Barros, em 30/09/1837.” AN- IG5 2 – Série Guerra – Fundo Fábricas.

indivíduos, determinado “por necessidade de matéria, ou má qualidade da demanda”.7 Havia

ainda um guarda, na época caracterizado mais como um supervisor do que propriamente como um empregado de vigilância, que respondia pela carbonização vegetal para a pólvora. Ele era auxiliado por mais dois serventes.

A segunda oficina fazia a polvorização, ou fragmentação do salitre, do carvão e do enxofre para prepará-los para a mistura posterior. A oficina utilizava cilindros movidos por uma grande roda hidráulica, de modo a fragmentar, separadamente, os três materiais. Próximos desta oficina ficavam os tendais de dessecação de salitre refinado e um outro edifício no qual se achavam tachas, utilizadas para o mesmo processo. A oficina demandava o emprego de um mestre, um contra-mestre, um porteiro, um guarda e seis serventes.

A oficina de número três, a de “mistão” ou mistura dos componentes, foi estabelecida somente após a posse de Bitancourt, em 1835. A mistura era feita à propulsão de uma roda hidráulica capaz de fazer trabalhar oito cilindros. Além da mistura dos materiais, fazia-se nesta oficina também o alisamento da pólvora, visando igualar os mistos, nos intervalos da mistura. O regulamento de 1832 estabelecia que nesta oficina trabalhariam um mestre, um contra-mestre, um guarda e quatro serventes.

A etapa posterior, a de trituração, era feita na quarta oficina utilizando-se duas baterias de pilões frontais que homogeneizam a pólvora bruta. Após esta etapa manual, a pólvora era então levada a uma prensa hidráulica (máquina integrante da 5ª oficina), para

consolidar-se, visando um fortalecimento do composto.8 Seus trabalhadores eram um mestre,

um contra-mestre, dois guardas e sete serventes.

Na quinta e última oficina, a de granulação, fazia-se a transformação da pólvora bruta em pólvora redonda através de diferentes processos de beneficiamento. Como nos explica com mais acuidade o seu diretor: “O serviço nesta oficina era, por assim dizer, todo manual (nem outro conviria estabelecer sobre montões de milhares de arrobas de pólvora), é reduzir o misto a pequenos corpos, desempoeirá-los, peneirá-los em diferentes peneiras,

7 “Relatório do estado da Fábrica de Pólvora...” Idem.

8 A prensa hidráulica havia sido inaugurada no ano anterior, em 1836, e criou muita expectativa interna no

sentido de substituí-la pelos pilões manuais. Sua construção seguiu as descrições do Barão Charles Dupin em suas observações sobre os processos adotados na Inglaterra. As expectativas de incremento da produção, aumento de lucros e maior segurança para os trabalhadores, entretanto, não se realizaram e a fábrica continuou a produzir abaixo da meta anual de produção, fixada em 8.000 arrobas de pólvora e que, por isso, não pôde prescindir do uso dos pilões, utilizados até a década de 1860.

assoalhá-los, lustrá-los e embarricá-los.”9 Seu pessoal variava muito conforme a produção e era

composto por um mestre, um contra-mestre, dois guardas e de vinte a cinqüenta serventes. O mestre desta oficina dirigia também os trabalhos com a prensa hidráulica e neste serviço era auxiliado por um contra-mestre, dois guardas e quatro serventes.

Os relatos de Bitancourt e de outros diretores deixam claro que eram nestas três últimas oficinas que se localizavam os maiores riscos do trabalho com a pólvora. Elas ficavam muito próximas umas das outras, como é possível observar em um mapa da fábrica do ano de 1845, que se encontra no anexo 1. Notamos que as reformas para o aperfeiçoamento do fabrico privilegiaram a adoção de máquinas, ritmos e intensidade de seus maquinismos e sistemas de trabalho.

Embora seus diretores sempre mencionassem uma preocupação constante com a segurança dos prédios e dos seus trabalhadores, a própria organização das etapas e aproximação dos prédios expunha o estabelecimento a riscos constantes, negligenciados em função do abastecimento bélico do Estado e mesmo do estágio das técnicas disponíveis naquele contexto.10 A exposição a perigos freqüentes afastava trabalhadores livres que

poderiam se voluntariar para incorporação à fábrica, além dos péssimos salários e a distância da Corte, fatores admitidos em vários ofícios da fábrica.

Durante a leitura dos documentos no período que vai de 1830 a 1870, percebemos a menção a cinco grandes explosões envolvendo estas oficinas, acarretando mortes e ferimentos graves em seus operários, perdas de prédios e maquinários e paralisação temporária da produção. Uma delas, como vimos no primeiro capítulo, ocorrida em setembro de 1849, motivou a reavaliação global do sistema de trabalho de toda a fábrica, cujas implicações nas transformações no processo de trabalho analisaremos no próximo tópico.11

9 “Relatório do Estado da Fábrica de Pólvora da Estrela, em 30/09/1837”. Op cit.

10 O próprio diretor Bitancourt afirmava a incapacidade de uma produção segura da pólvora: “De fato, é nesta

oficina [trituração] e na de mistão onde convém levar as cautelas a maior ponto, e onde mesmo não são todas que se possam ser bastantes. O melhor é não dar atenção aos perigos, por então difícil seria fabricar a pólvora.” Idem.

11 José Maria da Silva Bitancourt informou para o Ministro os estragos produzidos na oficina de granulação,

onde havia duas arrobas de pólvora, que destruiu, além da própria oficina onde ocorreu a explosão, a de mistão, pilões e casa da prensa hidráulica. Maiores ainda foram as perdas de trabalhadores, como ele diz: “pereceram o mestre João Gonçalves, o contra-mestre Francisco Barbosa dos Santos, vinte e uma escravas da nação e oito africanas livres, só escapando o guarda que estava fora do portão e dois pretos tanoeiros que trabalhavam próximo a ele. Há alguns leves ferimentos nos operários de outras oficinas, ocasionadas pelos estilhaços das janelas.” “Ofício de José Maria da Silva Bitancourt que narra a explosão ocorrida no dia 02 de agosto de 1849, na oficina de granulação, para o Ministro da Guerra Manoel Felizardo de Souza e Mello, em 03 de agosto de 1849.” AN-IG5 4 – Série Guerra/Fundo Fábricas.

As constantes obras de manutenção ou reconstrução dos prédios, maquinários, utensílios e sistemas hidráulicos, motivadas pela ocorrência de sinistros ou inovações tecnológicas, demandavam um quadro fixo de trabalhadores e investimentos no setor de apoio às oficinas de pólvora. Poderíamos afirmar que a existência destas oficinas garantiu a sobrevivência da Fábrica de Pólvora da Estrela em todos estes anos.

A 6ª oficina, de Carpintaria, tanoaria e pedreiros, era a mais requisitada da fábrica e por isso empregava em torno de 64 trabalhadores, que se dividiam entre jornaleiros (livres e escravos externos), escravos da Nação e africanos livres.12 Em 1837, seu quadro profissional

era composto de um mestre, que comandava as atividades da 6a. e 7a. oficinas, e dois contra-

mestres, um de carpintaria e outro de tanoaria e um número de oficiais e aprendizes que variava muito conforme a demanda pelos seus serviços. Nesta oficina, além da manutenção dos prédios e maquinários em toda a fábrica, fazia-se a construção ou adaptação de barris, para acondicionar a pólvora fabricada.

Na última, de número 7, era montado um complexo de Ferraria, Serralheria e

Fundição, responsável pelas peças dos maquinários e sistema hidráulico utilizados. No ano de

1837 esta oficina contava com sete trabalhadores, que se dividiam no trabalho de um mestre (mesmo que a anterior), um contra-mestre de fundição e cinco oficiais sendo um livre e quatro escravos da Nação.13

Como vimos no capítulo anterior, na fábrica vigorava um sistema ruro-fabril, ou misto, como chamavam seus contemporâneos, num esquema de trabalho que congregava, além das atividades essencialmente fabris e manufatureiras, uma parte agrícola, representada por uma pequena produção de gêneros para o consumo interno e algum comércio; este último servia para pagar os custos com os salários dos supervisores e demais trabalhadores agregados. Sobre a roça da fábrica, não temos tantos detalhes que nos permitam saber seu sistema de trabalho, o que pode revelar que, embora ela existisse e tornasse o todo diferente de uma estrutura típica de fábricas, não contava com a mesma importância delegada às atividades essencialmente fabris e artesanais. De acordo com um relatório de 1851 do sucessor de Bitancourt, o diretor José Joaquim Rodrigues Lopes, sabemos que neste ano ela empregava vinte trabalhadores, que produziam mandioca, araruta, frutas, café e capim (para alimentação

12

“Relatório do estado da fábrica de Pólvora... 1837.”

dos animais que faziam os transportes na fábrica), mas, ao que parecia, não ia muito bem.14

Através deste mesmo documento, porém, observamos que a manutenção da roça acontecia, entre outras razões, para ocupar e tirar proveito econômico dos escravos e africanos livres com força física insuficiente para os trabalhos fabris, como os velhos e algumas mulheres.15 Este

fato já havia sido observado num estudo de caso sobre os africanos livres na Fábrica de Pólvora da Estrela, feito por Jorge Prata de Souza.16

Os constantes gastos com gêneros alimentícios que se verificam na contabilidade do estabelecimento, informada anualmente aos ministros, demonstram que a produção agrícola da fábrica nunca foi bastante para a alimentação do seu numeroso quadro de escravos e africanos livres. Estas foram as razões que motivaram o abandono da prática agrícola, a partir desta mesma década, durante as reformas naquela organização fabril de 1850.

Somava-se aos serviços rurais uma abegoaria, ou casa agrícola, que se ocupava dos utensílios da roça e dos animais que faziam o transporte terrestre da pólvora para o porto da Estrela, atividades em que se empregavam um abegão e um número de tropeiros, carregadores e serventes que variavam conforme a quantidade de pólvora produzida. Do porto, o transporte de pólvora era feito por uma falua e um barco pelos rios que cortavam a fábrica e desembocavam no Rio Inhomirim. No transporte fluvial da pólvora empregavam-se dois patrões17 e de seis a oito serventes e remadores, quase sempre escravos e africanos livres.

Existia na fábrica ainda um setor de serviços, que incluía uma enfermaria administrada por um facultativo do exército e dois enfermeiros; a partir de 1841, teve uma pequena escola situada na capela, sob responsabilidade do próprio capelão da fábrica, para os filhos homens dos funcionários de mais destaque na pólvora, como os da administração e os

14 Como dizia o diretor Bitancourt: “Este ramo de serviço da fábrica o mais precário de todos porque o produto

dela mal chegava para pagar os vencimentos do respectivo feitor (...) acha-se hoje melhorada com a plantação de capim, que fornecido as equipagens da Casa Imperial, terá de produzir este ano cerca de 1.500$000 réis porque até hoje já se tem vendido perto de 8.000 réis dele”. “Relatório da Fábrica de Pólvora da Estrela referente ao que ocorreu no ano de 1850 para o Ministério da Guerra”. De José Joaquim Rodrigues Lopes, em 15 de fevereiro de 1851. AN – IG5 4 - Série Guerra /Fundo Fábricas.

15 Complementava o diretor, sobre a situação da roça da fábrica: “He certo que os 20 indivíduos que diariamente

para a roça se detalhavam, eram dos mais inúteis, como velhos e mulheres, mas a acepção da abundância de frutas (assim mesmo prejudiciais por serem solapadamente colhidas ainda verdes) nenhuma outra vantagem desses 20 braços se lucrava: além disto tenho feito apurar em hasta pública a araruta, o polvilho e o café produzidos pela roça, que ainda em pequena importância ajudam a fazer face às despesas com as plantações: assim se a roça como meio de entreter os velhos e as mulheres não dá ainda este ramo para pagar o serviço de seus trabalhadores, dará ao menos para o sustento deles.” Idem.

16 Jorge L. Prata de Sousa. Africano livre ficando livre: trabalho, cotidiano e luta. São Paulo, 1999. Tese de

doutorado apresentado ao Departamento de História da Universidade de São Paulo. P.101.

mestres das oficinas de pólvora.18 Fora das dependências da fábrica, situado na Corte, havia um

laboratório pirotécnico sob administração da fábrica, que fabricava sinalizadores e outros produtos similares. Nesta atividade empregavam-se quatro artífices de fogo, um guarda e um servente.

Como podemos ver a partir das descrições de Bitancourt, era grande o quadro de trabalhadores necessários para operar as atividades da Fábrica de Pólvora. Tanto as principais como as anexas. Observamos que nas oficinas de pólvora existiam, entre mestres, contra- mestres, guardas porteiros e serventes, um número de trabalhadores que variava entre 62 e 120 indivíduos.19 Os números de mestres (5) e contra-mestres (6), entretanto, não variaram neste

período; os acréscimos se deram no número de serventes existentes em cada oficina, como previa o seu diretor.

Nas oficinas auxiliares notamos as mesmas tendências existentes nas principais. Conservavam, durante os anos de 1835 e 1855, um número fixo de mestres (1) e contra- mestres (4), e um número extremamente variável de oficiais, aprendizes e serventes, que se alterava, para mais ou para menos, segundo as necessidades de manutenção da fábrica, mas sabemos que no ano de 1837 existiam 70 trabalhadores envolvidos, e seu diretor apontava que este número tendia a crescer. Os mapas de trabalhadores existentes para os anos posteriores, tanto nos relatórios ministeriais quanto nos dos diretores, omitem o número de escravos e africanos livres nos arrolamentos profissionais, referindo-se a eles somente em seus números gerais.

Este número, entretanto, variou conforme a demanda por pólvora ou a necessidade de reconstrução após explosões, mas podemos ponderar que, em média, até o ano de 1855, quando sua estrutura diminuiu, a fábrica funcionava regularmente com um número em torno de 400 trabalhadores, de todas as classes e condições, como é possível observar no gráfico 1, que se encontra mais adiante no texto.

A grande explosão na oficina de granulação, descrita no capítulo anterior, e as avaliações sobre a organização da fábrica no momento de sua reconstrução transformaram o esquema de trabalho, o espaço fabril e os trabalhadores da fábrica, sobretudo no ano de 1855,

18 “Relatório de fevereiro de 1851...”

19 Estes dados referem-se às estimativas de Bitancourt, no documento de setembro de 1837, mas confirma-se

nos anos posteriores até 1855, quando a fábrica passa por mudanças. Ele mesmo não fecha o número de serventes necessários para as oficinas e faz uma média dos necessários para operá-las. “Relatório geral do estado da fábrica.1837.”

quando foi aprovado um novo regulamento para a instituição. Acompanhemos as implicações desta reforma no seu esquema de trabalho e quadro profissional.

2.2- Reorientações no sistema de trabalho: impactos tecnológicos da explosão de 1849

Como vimos no primeiro capítulo, a explosão na oficina de granizo, no dia 02 de agosto de 1849, foi o grande estopim para a reorientação do esquema de trabalho empregado na Fábrica de Pólvora da Estrela, iniciado na década de 1850 e que prosseguiu até a década posterior. Sua ocorrência teve o efeito de sistematizar as críticas, internas e externas, sobre as técnicas utilizadas para o preparo da fábrica e o sistema de trabalho em geral, denominado ruro-fabril.

Para diminuir as despesas com a produção – tornando-a técnica e financeiramente mais eficaz – as atividades agrícolas deveriam ser eliminadas, restringindo-se somente à manutenção das matas e replantio de árvores que serviam como combustível das máquinas de carvão que entrava na composição da pólvora. Os escravos da nação e africanos livres existentes na fábrica foram tomados mais como fomentadores de despesa do que como trabalhadores lucrativos. Assim, todos aqueles que não fossem necessários para as obras de reconstrução da fábrica, destacando aqueles de menor força física, deveriam ser dali retirados e remanejados para outras instituições imperiais. Aqueles que permanecessem deveriam, tão logo fosse possível, seguir os caminhos dos primeiros.20

Um novo regulamento foi escrito para formalizar as mudanças que estavam em curso, e, em 29 de dezembro de 1855, ele era aprovado pela Assembléia Geral Legislativa.21 O seu

exame revela que a intenção dos reformadores de eliminar a parte agrícola da fábrica cumprira- se, passando a fábrica a resumir-se unicamente à produção de pólvora.

20 Em 1854, o diretor José Mariano de Mattos afirmava que com “a retirada desde já de pretos inválidos ou

decrépitos escravos ou africanos e crianças que são outras tantas bocas inúteis, que só consomem e nada produzem, e que são elementos heterogêneos a uma fábrica de pólvora”. Os produtivos, complementava o diretor, deveriam ser retirados, quando não fossem “mais precisos na coadjuvação das obras das novas oficinas, reservando-se somente para os futuros trabalhos da manipulação e custeio da nova fábrica o número que se julgar indispensável, se é que não seja preferível o emprego exclusivo do trabalho livre.” In: “Relatório do ano de 1854, de José Mariano de Mattos para o Ministro da Guerra, Pedro de Alcântara Bellegarde, em 31 de janeiro de 1855.” AN-IG5 5 – Série Guerra/Fundo Fábricas.

21 Decreto n. 1.709 de 29 de dezembro de 1855- Aprova o regulamento para administração geral da Fábrica de

Pólvora da Estrela. In: BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Geral legislativa na quarta sessão

da nona legislatura, pelo Ministro e Secretário dos Negócios da Guerra Marquês de Caxias. Rio de

O esquema de oficinas foi totalmente reformulado para que, com base em maquinários mais aperfeiçoados, elas pudessem ser operadas por um número reduzido de trabalhadores e, com isso, reduzir os custos de produção. Contamos com uma descrição bem detalhada sobre a nova configuração de oficinas de pólvora e parte de seus processos após as reformas da década de 1850.

Existem na Fábrica as seguintes oficinas: a casa da balança ou da dosagem; duas casas de carbonizar, uma movida por vapor e outra pelo sistema de ritortas (sic) por destilação; uma casa de pulverizar o carvão; uma de refinar o salitre; uma de mistão; duas de compressão por grandes galgas e outra por meio da prensa hidráulica; uma casa de granular a alisar; uma para dessecar por estufa e outra finalmente de desempoeirar e embarrilar.

Estas oficinas formam o grupo denominado oficinas novas para diferi-las das dos antigos aparelhos e mecanismos que foram postos de lado e inutilizados.

A este grupo de oficinas novas se uniu nos fins do ano de 1857 uma casa de pilões com o fim de aumentar a quantidade de produtos. Esta oficina conquanto pertença ao sistema abandonado não está construída exatamente como eram as antigas casas de pilões, acha-se montada com alguns aperfeiçoamentos admitidos atualmente em outros países. (...)

A comunicação das oficinas é feita através de trilhos de ferro. As oficinas estão montadas em mecanismos movidas por água: grandes e bem construídos reservatórios, canais de cantaria lavrada (sic) tomado a cimento hidráulico; conduzidos por meio de tubos de ferro fundido, colocados sobre os varões do mesmo metal firmados em dados de rijo granito, eclusas de suaves e fáceis movimentos, regulando a maior ou menor quantidade de água para os motores completam o plano sobre o qual repousa o estabelecimento de oficinas novas.22

Notamos que as oficinas obedeciam a etapas mais definidas, de preparação dos materiais utilizados e do beneficiamento da pólvora bruta até o seu produto final. Agora o esquema de trabalho não era mais organizado segundo a antiga conformação, de cinco