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a sessão da 5 a Legislatura, pelo respectivo Ministro e Secretário de Estado Jerônimo Francisco Coelho Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1844 p, 22.

Nos anos seguintes, esta realidade se manteve: baixa produção, dificuldade de venda nas províncias e a continuidade do contrabando de pólvora inglesa. Outros fatores, como uma explosão numa das oficinas em maio de 1844, resultou na perda de 3.000 contos de réis em matérias primas, além dos estragos em alguns prédios da fábrica, o que acarretou a paralisação temporária da produção. Neste ano a fábrica só pôde produzir 5.836 arrobas de pólvora, número insuficiente para atender as necessidades do “consumo nacional” que se orçava “em 3 a 4.000 arrobas, e para o consumo particular, que se calcula subir de 8 a 9.000 arrobas, o que dá uma quantidade de 13 a 14 mil.”58

Diante deste quadro de estagnação e incapacidade de atender a demanda interna, era necessário cortar os custos da fábrica. Seus administradores paralisaram o recebimento de mais trabalhadores compulsórios e também não acrescentaram mais operários livres no seu quadro produtivo, o que poderemos analisar com mais detalhes no capítulo segundo desta dissertação. Apesar da lucratividade do trabalho compulsório, nesta época os administradores já responsabilizavam escravos e africanos livres pelos altos gastos com seu sustento. Este debate se intensificou na década de 1850 e determinou uma mudança na composição dos trabalhadores da instituição, como veremos a seguir.

Uma outra saída para o aumento da receita foi a concessão de terrenos ociosos da fábrica. Em 1847, o Ministério da Guerra autorizou o arrendamento de terrenos que ficavam próximos à nova Estrada da Serra da Estrela e também alguns nas imediações da Fazenda do Velasco, que ficava no caminho da localidade de Córrego Seco, atual Petrópolis. A forma como se conduziriam os arrendamentos, entretanto, só foi instituída em agosto de 1849, quando o Ministério elaborou um regulamento específico para gerir as concessões.59 Segundo o

regulamento, os terrenos que seriam disponibilizados eram aqueles que não oferecessem riscos à fábrica, e também que não perturbassem “seu andamento e manejo interno”. Ele não deixa

58 BRASIL. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra, apresentado à Assembléa Geral Legislativa

na 1a. Sessão da 6a. legislatura, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Guerra,

Jerônimo Francisco Coelho. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1845, p. 9. A fábrica só conseguiu

alcançar novamente a meta mínima anual no ano de 1847, quando produziu 8.400 arrobas de pólvora, gerando um lucro de 29.049$300 réis para o estabelecimento. BRASIL. Relatório da Repartição dos

Negócios da Guerra apresentado à Assembléia Geral Legislativa, na 1a. sessão da 7a. Legislatura, pelo respectivo Ministro e Secretário de Estado interino Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro:

Typographia Universal de Laemmert, 1848. p. 21

59 “Regulamento contendo as condições sobre as quais se devem fazer arrendamentos dos terrenos da Fábrica de

Pólvora por onde passa a nova estrada da Serra da Estrela.” Sem autor, nem data. Ele acompanha um pedido de esclarecimentos sobre como deveriam ser conduzidos os arrendamentos, de José Maria da Silva Bitancourt, que data de 03/08/1849. AN – IG5 4 – Série Guerra /Fundo Fábricas.

claro para quem se poderia conceder este benefício, mas supomos que eles tenham sido conferidos a pessoas das relações dos ministros e do diretor, ou seja, aquelas de alguma forma ligadas a funcionários públicos com certo poder decisório.

Cada pessoa poderia arrendar somente um terreno de 20.000 braças quadradas, o que equivale atualmente a 44 mil metros quadrados.60 O arrendatário deveria pagar, anualmente,

25$000 réis e não poderia derrubar e plantar, senão dentro do seu terreno, nem atear fogo, sob pena de perder o seu direito. Ele também era obrigado a cercar e a edificar “dentro de dois anos” para manter a concessão. Havia também um artigo que determinava que os edifícios deveriam seguir o alinhamento designado pelo engenheiro provincial encarregado da construção da nova estrada, de modo a ficar dentro dos parâmetros que se queriam adotar. Eles também estariam sujeitos à disciplina interna da fábrica, em tudo o que se relacionava “a segurança da Fábrica, regime de seu pessoal, e conservação de seus gados.”61

A medida, apesar de não ter representado um aumento significativo na receita, representou uma transformação sensível no espaço físico e social da fábrica, favorecendo o desenvolvimento populacional e produtivo da região da serra e um maior contato dos trabalhadores da fábrica com a população de fora.

Podemos concluir que durante a gestão de Bitancourt, a Fábrica de Pólvora da Estrela viveu momentos de muita esperança na conformação de um estabelecimento que, além de garantir o abastecimento bélico interno do Estado, poderia obter lucros com as vendas para consumidores privados do Império e quiçá, para outros países. Especialmente na década de 30, o otimismo proliferou com um aumento considerável da produção face ao verificado na Fábrica da Lagoa. As dificuldades de produção, da venda da pólvora e dos infortúnios do contrabando crescente de pólvora inglesa soaram como “freio” para as expectativas imperiais sobre o estabelecimento, o que provocou uma retração ainda maior no desenvolvimento da fábrica na década de 1840. Este quadro estacionário, somado à grande explosão de uma oficina no segundo semestre de 1849, deu motivo a uma profunda reavaliação daquele sistema produtivo na década de 1850, como veremos neste próximo tópico.

60 Cada braça, segundo Schwartz, corresponde a 2,20 m2. Stuart B. Schwartz. Segredos internos: engenhos e

escravos na sociedade colonial, 1550-1835. São Paulo: Cia. das Letras; Brasília: CNPq, 1999., p. 16.

61 “Regulamento contendo as condições sobre as quais se devem fazer arrendamentos dos terrenos da Fábrica de

Pólvora por onde passa a nova estrada da Serra da Estrela.” Sem autor, nem data. Ele acompanha um pedido de esclarecimentos sobre como deveriam ser conduzidos os arrendamentos, de José Maria da Silva Bitancourt, que data de 03/08/1849. AN – IG5 4 – Série Guerra /Fundo Fábricas.

1.5 – Novos direcionamentos para a Fábrica de Pólvora da Estrela: impactos da explosão de 1849.

Como vimos, a fábrica passava por um grande período de estagnação econômica e produtiva na década de 1840 e algumas medidas foram tomadas para que ela retomasse o crescimento. Algumas das medidas foram incentivos à produção e à venda, adoção de novos processos de trabalho, estratégias para a venda da pólvora e repressão ao contrabando do explosivo inglês. Estas providências, entretanto, não foram suficientes para que a fábrica atendesse às expectativas do Estado com relação à sua autonomia produtiva e lucratividade.

Todos estes fatores de depressão foram potencializados quando no dia 3 de agosto de 1849 a oficina de granizo explodiu, fato que se constituiu como marco para uma reavaliação total do sistema vigente naquele organismo. Houve outras explosões anteriormente, mas nenhuma tomou aquelas proporções. Além das dependências da própria oficina, onde havia cerca de 2.000 arrobas de pólvora, a explosão arruinou também parte dos edifícios onde ficavam as oficinas de pilões e de trituração da pólvora, além da casa da prensa hidráulica. O prejuízo foi calculado em cerca de 83.000$000 réis, de acordo com o Ministro Manoel Felizardo de Souza e Mello.62

Segundo José Maria da Silva Bitancourt, maiores ainda foram as perdas de trabalhadores, como ele diz: “pereceram o mestre João Gonçalves, o contra-mestre Francisco Barbosa dos Santos, vinte e uma escravas da nação e oito africanas livres, só escapando o guarda que estava fora do portão e dois pretos tanoeiros que trabalhavam próximo a ele. Há alguns leves ferimentos nos operários de outras oficinas, ocasionados pelos estilhaços das janelas.” 63 A produção foi paralisada por alguns meses e seus operários livres foram licenciados

com metade dos vencimentos, até que os edifícios fossem parcialmente reconstruídos ou readaptados para produzir ao menos a pólvora de consumo militar.64 Em janeiro de 1850,

foram retomados os trabalhos no mesmo passo em que eram elaborados os novos patamares de produção.

62 BRASIL. Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado à Assembléia Geral Legislativa

na 1a. sessão da 8a. legislatura, pelo respectivo Ministro e Secretário de Estado Manoel Felizardo de