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2.2 Competências organizacionais: a evolução do conceito

2.2.3 De recursos para capacidades dinâmicas e competências essenciais

Posteriormente, o conceito de recursos foi expandido para o de “capacidades dinâmicas”. Buscou-se, com essa ampliação, explicar como combinações de competências e recursos podem ser desenvolvidas, desdobradas e protegidas, explorando competências internas e externas específicas da empresa, no sentido de construir vantagens competitivas em regimes de rápidas mudanças ambientais (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997).

A observação crítica feita por Teece, Pisano e Shuen (1977) centra-se no fato de que a perspectiva da teoria de recursos chama a atenção para a necessidade de que a empresa estabeleça estratégias gerenciais para desenvolver novas capacidades, conforme Wernerfelt (1984), tornando-se necessária a aquisição e o controle de determinados recursos, tais como conhecimento e know-how. Dessa forma, torna-se imprescindível o processo de aprendizagem e acumulação de ativos organizacionais intangíveis ou invisíveis. Na verdade, a posição destes autores não é exatamente crítica, mas, sim, intentam estender esses conceitos para além

de uma visão estática de recursos.

Para eles, o termo “dinâmico” refere-se à capacidade de renovar competências, assim como atingir congruência com a mudança no ambiente de negócios. Certas respostas são requeridas quando o tempo-ao-mercado é crítico, a taxa de mudança tecnológica é rápida e a natureza da futura competição e dos mercados é difícil de se determinar. Por sua vez, o termo “capacidade” enfatiza o papel chave da gestão estratégica na adaptação, integração e reconfiguração das habilidades organizacionais internas e externas, dos recursos e das competências funcionais para capturar os requisitos das mudanças ambientais.

Dando continuidade a essa busca, Prahalad e Hamel (1990) ampliaram o conceito de recursos, denominando-os de competências essenciais (core competences). Para eles, as competências essenciais de uma empresa, que significam as raízes da vantagem competitiva, são os processos de aprendizagem coletiva, especialmente aqueles que envolvem a coordenação de diversas habilidades de produção e a integração de múltiplas correntes de tecnologias.

Para os autores, a fonte real de vantagem competitiva da empresa reside na habilidade da gestão em consolidar tecnologias e habilidades produtivas dispersas pela corporação, em competências que confiram poder às unidades individuais de se adaptarem rapidamente às oportunidades geradas pela mudança. Entretanto, competência essencial não é apenas harmonizar correntes de tecnologias, mas também organizar o trabalho e a entrega de valor. É comunicação, envolvimento, e um profundo comprometimento de trabalho, além das fronteiras organizacionais. Não são os ativos físicos, pois esses se deterioram. É conhecimento, que precisa ser alimentado e protegido.

Eisenhardt e Martin (2000, p.1107) voltam ao conceito de capacidades dinâmicas e afirmam que elas são claramente identificáveis e buscam reconceituá-las como

os processos da empresa que usam recursos - especificamente os processos de integrar, reconfigurar e ganhar recursos - para adaptar-se e até mesmo criar mudanças no mercado. Capacidades dinâmicas, desta forma, são rotinas organizacionais e estratégicas pelas quais as empresas atingem novas configurações de recursos à medida que os mercados emergem, colidem, partem-se, evoluem ou morrem.

As capacidades dinâmicas podem, dessa forma, evoluir a partir de práticas repetidas, pois, a codificação desta experiência em tecnologias e processos formais pode facilitar a sua aplicação e acelerar a construção de novas rotinas.

Schulze (2000), ao sumariar a teoria dos recursos, identificou duas escolas de pensamento, com diferenças quanto aos pressupostos teóricos, sociais e econômicos.

A primeira foi chamada por ele de escola estrutural. Os autores dessa escola defendem que a vantagem competitiva sustentável é viável somente se os recursos utilizados para alcançá-la forem raros, tiverem mobilidade imperfeita entre as empresas e forem não-substituíveis. Tais qualidades são fundamentais, pois possibilitam defesa contra a imitação e a apropriação por outras empresas, cujos efeitos acabariam com a posição de vantagem.

A segunda escola foi denominada processual. A grande diferença em relação à escola estrutural é quanto às considerações sobre o tipo de mercado no qual a competiç ão se desenvolve. Enquanto na escola estrutural as empresas tentam proteger os seus recursos essenciais da imitação, substituição e transferência para que o estado de equilíbrio permaneça, na escola processual, o mercado é visto como um ciclo de equilíbrio e desequilíbrio. Nesse caso, as fontes de mudança não são somente exógenas, mas, também, endógenas, visto que o comportamento do sistema econômico é influenciado pela ação de empresas inovadoras. A escola processual não se atém exclusivamente à identificação e a proteção dos recursos essenciais, mas se focaliza nas condições e processos, através dos quais os recursos essenciais ou competências são criados e desenvolvidos, para gerarem as vantagens competitivas. Particularmente, preocupa-se com os seguintes processos, conforme Grant apud Schulze (2000): a) aprendizagem de novas formas de gerenciar os recursos atuais; b) desenvolvimento de novos recursos e capacidades; e, c) busca de congruência entre as condições do mercado e os recursos organizacionais utilizados pela empresa.

Na escola processual, o foco passa a estar nos processos de construção do conhecimento e aprendizagem e nos processos de criação de know-how, habilidades e capacidades organizacionais para a utilização dos recursos da empresa (SCHULZE, 2000). Tais processos são os verdadeiros recursos essenciais, fontes de vantagem competitiva.

De uma maneira geral, a teoria dos recursos mostra que, para se alcançar uma vantagem competitiva, a empresa deverá ter a posse de recursos que sejam, ao mesmo tempo, valiosos, raros, inimitáveis e não-substituíveis (BARNEY, 1991). Além disso, a empresa deve ter a capacidade de renovar permanentemente tais recursos, buscando congruência com a mudança no ambiente de negócios, através de processos de aprendizagem coletiva. A teoria busca ainda explicar questões fundamentais sobre as fontes e a manutenção da vantagem competitiva das

empresas, especificamente sobre o que mantém a heterogeneidade quanto a recursos e performance entre os competidores, apesar das tentativas de competição e imitação.