Quando se trabalha com escalas multidimensionais, uma das qualidades das medições cuja verificação é de fundamental importância é a unidimensionalidade dos itens, o que significa que esses devem estar fortemente associados entre si e representar um mesmo conceito (HAIR JR. et al., 1998).
Um dos métodos de análise multivariada que se utiliza para a verificação da unidimensionalidade dos itens é a análise fatorial, técnica através da qual se determinam o número de fatores e as cargas fatoriais de cada variável no fator. Utiliza-se a análise fatorial para identificar dimensões latentes ou fatores que expliquem as correlações entre um conjunto de variáveis. Assim, a análise fatorial reduz os itens ao agrupá-los em fatores. Haverá unidimensionalidade quando os itens da escala multi-itens somatória tiverem cargas fatoriais elevadas. Em termos teóricos ideais, a unidimensionalidade perfeita de um item ocorre quando sua carga fatorial é igual a 1 para um dado fator e nula para todos os demais fatores. O quadrado do valor da carga fatorial indica qual percentagem da variância de uma variável (item) é explicada por um fator (HAIR JR. et al., 1998).
Neste trabalho, a forma utilizada para verificar a unidimensionalidade de cada sub-escala foi a análise fatorial confirmatória, com o intuito de provar o cumprimento de tal exigência. Um dos objetivos da análise fatorial é verificar se todos os indicadores constantes das medições são realmente relevantes para a pesquisa.
Entretanto, a conveniência de se aplicar a análise fatorial é testada preliminarmente por meio de técnicas estatísticas: i) Teste de esfericidade de Bartlett ; e ii) Medida da adequacidade da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO). A análise fatorial não será apropriada quando ocorrerem coeficientes altos no Teste de Esfericidade ou coeficientes baixos no Teste KMO. O objetivo do teste de Esfericidade de Bartlett é testar a hipótese nula de que as variáveis não sejam correlacionadas na população. Um fator elevado da estatística de teste favorece a rejeição da hipótese nula.
Por sua vez, o objetivo do teste de Kaiser-Meier-Olkin (KMO) é o de verificar a medida de adequação da amostra. Contido no intervalo [0, 1], quanto mais próximo de 1 for o va lor obtido, melhor a adequação da amostra. Um valor do KMO superior a 0,5 é suficiente para afirmar que a correlação entre os pares de variáveis pode ser explicado por outras variáveis (MALHOTRA, 2001). Para Morgan e Griego (1998), o KMO ideal deve ser maior que 0,70 para justificar o emprego da análise multivariada. HAIR et al. especificam os valores para interpretar os resultados do KMO conforme apresentado na Tabela 5.
Tabela 5 - Medidas de KMO
Valores de KMO Classificação
KMO ? 0,90 Excelente
0,80 ? KMO ? 0,90 Meritória
0,70 ? KMO ? 0,80 Média
0,60 ? KMO ? 0,70 Medíocre
0,50 ? KMO ? 0,60 Muito ruim
KMO ? 0,50 Inaceitável
Fonte: HAIR et al., 1998, p.99.
A seguir, a Tabela 6 apresenta os resultados das etapas das análises em relação ao teste KMO e ao teste de esfericidade.
Tabela 6 - Teste de adequação da amostra para análises fatoriais
KMO Esfericidade de Bartlett
Competências 0,772 0,000
Atributos de Rede 0,804 0,000
Atributos do PAEX 0,774 0,000
Fonte: Dados da pesquisa
Em relação à esfericidade, a Tabela 6 indica que a significância encontrada no teste de Bartlett rejeitou a hipótese nula de que existiriam na amostra correlações iguais a 0 (zero). Como o valor p encontrado é inferior a 0,05, existe correlação significativa entre as variáveis.
Já com relação ao teste KMO, valores baixos da estatística indicariam que a correlação entre os pares de variáveis não pode ser explicada por outras variáveis e que o emprego da análise fatorial não é recomendável. Contudo, os valores de KMO encontrados apresentaram valores de adequação da amostra elevados (superiores a 0,70).
Os valores dos KMO encontrados em conjunto com o resultado do teste de Bartlett (0,000<0,05) indicam a possibilidade de uso da análise fatorial.
O passo seguinte foi realizar a análise fatorial para os dois primeiros blocos do questionário que utilizaram escala somatória, dada pela carga do fator e pela variância total explicada pelo fator. Os resultados são apresentados nas Tabelas 7 e 8.
Tabela 7 - Fatores extraídos da sub-escala - competência organizacional
Questões Carga Variância Total Explicada Pelo
Fator (%)
Q1.1 Formulação e implementação de definições institucionais básicas da empresa (visão, missão, valores).
0.654 Q1.2 Formulação e implementação das diretrizes e estratégias da empresa, de
forma a direcionar suas ações, determinar seu posicionamento no mercado e maximizar seu desempenho.
0.889
60,7 Q1.3 Diagnóstico estratégico permanente, relativo ao cenário externo e interno da
empresa, para formulação e implementação das estratégias.
0.866 Q1.4 Desdobramento das estratégias da empresa em planos de ação e indicadores
de performance.
0.678 Q1.5 Comprometimento das lideranças da empresa com as definições
institucionais básicas, estratégias, planos e metas da empresa.
0.857
Q1.6 Disseminação das definições institucionais básicas por toda a empresa. 0.868 72,3 Q1.7 Prática de avaliação crítica pelas lideranças do desempenho global da
empresa.
0.825 Q1.8 Identificação, compreensão e monitoramento das necessidades dos clientes e
dos mercados, atuais e potenciais (conhecimento de mercado).
0.877 Q1.9 Gestão do relacionamento com clientes, no sentido de satisfazê-los e fidelizá -
los (relacionamento e satisfação).
0.898
68,7 Q1.10 Grau de adequação do portifólio de produtos e serviços às demandas dos
clientes.
0.818 Q1.11 Identificação, compreensão e monitoramento das necessidades das
comunidades (responsabilidade social).
0.708 Q1.12 Sistema de informações de apoio aos principais processos da empresa. 0.839 Q1.13 Sistema de informações comparativas (mercado e concorrentes) para análise
e tomada de decisão.
0.824
69,8 Q1.14 Gestão do capital intelectual (identificação e compartilhamento de
conhecimento).
0.843 Q1.15 Capacidades e competências individuais através da educação, capacitação e
desenvolvimento das pessoas.
0.871 Q1.16 Ambiente de trabalho e clima organizacional favorável à excelência no
desempenho e ao crescimento pessoal e organizacional.
0.893
77,9 Q1.17 Sistema de trabalho (métodos de seleção e contratação de pessoas, práticas de
avaliação de desempenho, remuneração, reconhecimento e incentivos).
0.883 Q1.18 Gestão dos processos relativos ao produto/serviço (projeto/concepção,
execução e entrega do produto ou serviço).
0.898
80,2 Q1.19 Gestão dos processos de apoio (administrativo, financeiro e logístico). 0.917
Q1.20 Sistema de inovação de produtos/serviços e processos de gestão. 0.872 Q1.21 Resultados relativos aos clientes (satisfação de clientes, performance do
produto/serviço). 0.776
Q1.22 Resultados relativos ao mercado (fatia de mercado, crescimento de negócios, novos mercados).
0.884 Q1.23 Resultados financeiros (faturamento, lucratividade, rentabilidade, liquidez,
geração de caixa).
0.804
68,4 Q1.24 Resultados relativos à eficiência organizacional (processos de apoio,
produtividade, fornecedores, processos ligados ao desenho, execução e entrega de produtos/serviços).
0.801
Q1.25 Resultados na perspectiva dos sócios/acionistas (valor econômico agregado (EVA), retorno sobre investimento).
0.865 Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 8 - Fatores extraídos da sub-escala - atributos de alianças, parcerias e redes
Questões Carga Variância Total Explicada Pelo Fator (%)
Q2.1 Cada empresa possui algo de valor para contribuir com os demais parceiros. 0.879 Q2.2 Os parceiros possuem, em quantidades iguais, recursos, capacidades e
conhecimentos a serem compartilhados.
0.879 77.3
Q2.3 Os parceiros consideram a parceria relevante para o sucesso da empresa. 0.872 Q2.4 Os objetivos da parceria estão alinhados com as expectativas de melhoria das
empresas.
0.946 Q2.5 Os objetivos das empresas de participação na parceria são positivos e bem
intencionados. 0.803
76.7
Q2.6 Os parceiros possuem conhecimentos e habilidades complementares. 0.877 Q2.7 Os parceiros precisam uns dos outros para desenvolverem as competências
organizacionais.
0.805 Q2.8 Os parceiros estão dispostos a compartilhar recursos, capacidades e
conhecimentos.
0.805
88.9
Q2.9 Os parceiros investem recursos na parceria (ex: tempo pessoal, dinheiro, pessoas).
0.948 Q2.10 Os parceiros demonstram sinais visíveis de interesse e permanência na
parceria, no médio e longo prazo.
0.948 89.9 Q2.11 Os parceiros comp artilham abertamente informações sobre o que está sendo
desenvolvido na sua empresa, decorrente da parceria.
0.935 Q2.12 Os parceiros compartilham abertamente informações sobre outros assuntos
da sua empresa, não vinculados à parceria. 0.935
87.3
Q2.13 Os parceiros desenvolvem relacionamentos e ligações pessoais dentro das
atividades da parceria. 0.928
Q2.14 Os parceiros continuam com os relacionamentos e ligações pessoais fora das atividades da parceria.
0.901 Q2.15 Os parceiros conseguem superar as diferenças culturais e desconfianças
naturais e criar um ambiente de aprendizagem e colaboração.
0.798
77.0
Q2.16 A parceria possui regras, procedimentos, responsabilidades e processos de decisão claros e compartilhados entre todas as empresas.
0.958 Q2.17 Dentro de cada empresa, a parceria é formalizada e conhecida amplamente. 0.958
91.8
Q2.18 Os parceiros comportam-se de forma ética. 0.928 Q2.19 Os parceiros mantêm sigilo de informações confidenciais obtidas dentro da
parceria.
0.882
82.8
Q2.20 Os parceiros defendem a imagem da parceria e dos demais parceiros
externamente. 0.919
Fonte: Dados da pesquisa
Nas sub-escalas, Desenvolvimento de Competências Organizacionais e Atributos de Alianças, Parcerias e Redes, nas quais foram utilizados mais de um item para medir uma mesma variável, observou-se a existência de uma única dimensão, tendo em vista que as variáveis possuem uma alta carga (próxima de 1) para apenas um e o mesmo fator, atestando a dimensionalidade do construto.
Deve-se destacar, portanto, que não foi necessário realizar nenhum corte de itens para satisfazer o critério de unidimensionalidade, mantendo-se intacta, portanto, a validade de conteúdo.