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De Santa Rita do Turvo à Viçosa dos tempos atuais.

A B Figura 32 Localização do município de Viçosa-MG, na Zona da Mata Mineira

3.3. De Santa Rita do Turvo à Viçosa dos tempos atuais.

Viçosa tem sua origem datada no final do século XVIII, durante o declínio do ciclo do ouro, que se desenvolveu na região de Ouro Preto e Mariana. Os pioneiros que se assentaram na área de Viçosa vinham em busca de terras férteis para a agricultura e a pecuária, dada a crescente escassez de alimentos na região das minas.

O assentamento original foi instalado nos arredores da Capela dos Passos, localizada na atual Rua dos Passos, em 8 de março de 1800. Naquela data, foi concedido ao padre São Francisco José da Silva licença para a construção de uma capela, sob a evocação de Santa Rita (MELLO, 2002, p. 43).

O vilarejo foi crescendo e a necessidade de ocupação de novas áreas se tornou cada vez mais iminente. Em razão disso, no ano de 1813, ergueu-se uma ermida no local onde hoje se situa a Praça Silviano Brandão, localizado no centro da cidade (op. cit. 2002, p. 38).

A partir deste marco histórico, o povoado se desenvolveu ao longo dos vales mais planos de uma região preponderantemente montanhosa. Este modelo de desenvolvimento de núcleos urbanos guiados pela orientação do relevo é conhecido como Strassendor (agrupamento linear ao longo de uma rua), que perdurou mesmo com a chegada da ferrovia Leopoldina em 1885, resultado da atividade cafeeira, durante a República velha.

Este novo acesso melhorou o sistema de comunicação, propiciando mudanças, a começar pela maior integração da produção agrícola, ao mesmo tempo esta desenvolvia a expansão das atividades urbanas.

Na década de 1920, o vice-presidente em exercício, Dr. Eduardo Carlos Vilhena do Amaral, de acordo com a Lei nº 761 de 06 de setembro de 1920, criou a Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Estado de Minas Gerais (ESAV), por meio do pelo decreto nº 6.053 de 30 de março de 1922 (PANIAGO apud MELLO, 2002, p, 52).

Por influência do então presidente Arthur da Silva Bernardes a Escola foi construída em Viçosa. A partir de então, a ESAV, atual UFV, viria a ser o principal elemento a impulsionar o desenvolvimento econômico não só da cidade, mas de toda a micro–região.

Entre os anos de 1920 e 1930, Viçosa possuía cerca de 800 edificações concluídas e algumas em construção, a maior parte na Praça da Matriz e nas ruas Arthur Bernardes, Benjamin Araújo e Bueno Brandão.

Em 1948 foi aprovado o Código de Postura do Município e 8 anos mais tarde, no dia 18 de maio, criou-se a primeira Lei de parcelamento do solo (Lei nº 280/56), que vigorou até 1979 (MELLO, 2002, p. 54). Segundo Ribeiro Filho (apud MELLO, 2002, p. 54), “havia inúmeras lacunas nessa lei, de modo que permitia ao construtor, muitas vezes, infringir determinadas exigências do documento”.

Na década de 1960, o processo de urbanização se consolidou ainda mais. Os fundos de vale foram ocupados, como pode se verificado nas Figuras 38 e 39, que retratam dois momentos bem distintos para Viçosa.

O desenvolvimento da cidade se processava em razão das oportunidades de emprego oferecidas pela universidade, fundada em 1926, enquanto ESAV, e federalizada a partir do ano de 1969.

Ao contrário de várias cidades brasileiras, em que a indústria dinamizou a economia, em Viçosa, a UFV é a grande responsável por desempenhar tal função. Até 1960, a população rural era maior que a população urbana, 11.625 habitantes residindo no campo e 9.221 habitantes na cidade. Na década de 1970 houve a inversão desse quadro, passando a população urbana para 16.997 habitantes e a rural para 8.780 habitantes.

Pode-se observar também na Tabela 10, que de 1950 a 2000 a população urbana de Viçosa quadruplicou. Porém cabe salientar que a população de Viçosa em 1950, desconsidera os antigos distritos, hoje municípios: Cajuri, Canaã, e São Miguel do Anta, que se emanciparam posteriormente a 1950 (Figura 40) do até então município de Viçosa que registrava 736km2 de extensão territorial e hoje ficou restrito a 300km2.

Tabela 10: Evolução da população urbana e urbana de Viçosa de 1950 à 2000

População Rural População Urbana Ano

População Total Absoluta Relativa (%) Absoluta Relativa (%)

1950 18.325 11.901 64,9 6.424 35,0 1960 21.120 11.778 55,7 9.342 44,2 1970 25.777 8.780 34,0 16.997 65,9 1980 38.686 7.507 19,4 31.179 80,6 1991 51.658 5.202 10,1 46.456 89,9 2000 64.854 5.062 8,0 59.792 92,0 2007 70.704

Fonte: Censos demográficos do IBGE de 1970, 1980, 1991 e 2000. Organizado por Edson Soares Fialho (2008).

Figura 38. Núcleo inicial, vendo-se a antiga Igreja Matriz, à direita, 1898.

Fonte: RAMOS, Antônio de Pádua C. e MELLO, Tony. Viçosa em fotos. Viçosa, UFV, 1973. Disponível em: http://www.vicosa.mg.gov.br/?area=galeriadefotos

Figura 39. Localização do antigo núcleo inicial, agora no ano de 2007. Foto: Santos (2007).

O crescimento foi bastante acelerado e concentrado em uma área de relevo bastante dissecado no vale do pequeno afluente do rio Turvo, o rio ou ribeirão São Bartolomeu, área que dificulta o crescimento horizontal da cidade. Apesar disso, a densidade demográfica do município é relativamente baixa, não atingindo 235 habitantes por km2.

Cabe ressaltar que a estrutura urbana característica de Viçosa não se encontrava preparada para absorver o crescimento populacional. Outro fator que influenciou o crescimento da cidade, segundo Mello (2002, p. 56), “foi à distância entre as demais áreas ocupadas e o núcleo urbano”. As regiões onde estão centralizadas as atividades comerciais e administrativas, os serviços e o lazer, condicionam a escolha do local de moradia do cidadão. Nesse sentido, Viçosa possui como pólos de atração o seu centro e o campus universitário (Figura 41).

Figura 41. Vista de parcial do município de Viçosa, privilegiando a área urbana e o entorno imediato, com base no Modelo Digital de Elevação (MDE).

Muitas das áreas ocupadas próximas a esses pólos, nas expansões anteriores, eram, e ainda são consideradas impróprias do ponto de vista ambiental ao processo de urbanização, como as encostas, os topos de morros e ao longo dos cursos hídricos. Partindo das principais vias de acesso ao centro da cidade e ao campus foram registrados loteamentos de ocupação dessas áreas desde a década de 1970 (MELLO, 2002, p. 56).

O campus ocupa uma porção a montante do rio São Bartolomeu, que é plana, tornando-se de tal maneira, uma “barreira” à expansão urbana, obrigando-a a seguir em outras direções (Figura 42 e Figura 43). Ribeiro Filho (1997) corrobora esta idéia de que a universidade se constituiu em um impedimento a expansão da cidade, devido esta ter ocupado uma área privilegiada, obrigando a mesma a buscar outras direções.

Figura 42. Visão parcial da área urbana e a demonstração do limite a UFV e a cidade. Foto: Jaime Augusto Alves dos Santos, obtida em 4 de junho de 2007.

A cidade real e a cidade universitária são interdependentes, mas suas administrações são independentes. Isto causa sérios transtornos à cidade real, que vive e se reproduz a partir da demanda da cidade universitária. Esta incapacidade de diálogo é tão flagrante que o poder público quase sempre espera as decisões da primeira, não sendo possível mais afirmar que a cidade real seja o lugar da dignidade, da plena emancipação humana; espaço da liberdade e criatividade.

Pode-se dizer que a universidade não sabe conviver com os problemas que ela mesma gera através da sua visão de ciência. E a cidade real é um testemunho deste processo, com os inúmeros campos de tensões que ocorrem na paisagem urbana, onde o próprio desencadear do processo de urbanização sem planejamento das cidades contribuiu para a emergência dos impactos ambientais urbanos como: desmatamento, destruição das áreas de preservação permanente, intensificação dos processos erosivos e contaminação generalizada dos recursos hídricos14 (SANTOS, et. al., 2002), problemas que se relacionam com localização, distância, topografia, características geológicas e geomorfológicas, crescimento populacional, formas de apropriação do espaço e segregação sócio–espacial.

Em suma, nas últimas décadas, a cidade vem apresentando um crescimento populacional urbano até certo ponto carente de um planejamento adequado, pautado no desenvolvimento vertical na área central e numa expansão horizontal indiscriminada das moradias no centro e em direção à periferia e a zona rural.

Tal fato pode ser considerado como fruto da intensa especulação imobiliária, que se faz presente na cidade, em virtude, sobretudo, da UFV e das faculdades particulares que se instalaram na região, como a Universidade de Viçosa (UNIVIÇOSA), Ensino Superior Viçosa (ESUV) e Faculdade de Viçosa (FDV). Ademais, o fato da universidade ser um agente indutor de migração para cidade, contribui para o aumento da especulação imobiliária do centro de Viçosa, que se localiza ao lado do campus universitário.

A conseqüência disso é a verticalização da cidade, a fim de atender a demanda de moradia por parte dos acadêmicos e a expansão da malha urbana, que inicialmente estava restrita ao vale do rio São Bartolomeu.

Ao vislumbrar a Figura 44 identifica-se que há 2 núcleos de alta densidade de prédios, enquanto uma terceira localidade se caracteriza pela presença de sobrados e casas antigas.

A primeira área próxima a UFV se encontra em processo de consolidação da verticalização. Hoje, as poucas áreas disponíveis para construção já estão ocupadas e em processo de construção desde o início do ano de 2009, tanto assim, que a Avenida P. H. Rolfs está sendo escavada para a instalação de rede de fornecimento de água tratada. Para os novos 7 prédios em construção.

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O segundo núcleo de verticalização é mais antigo, consolidado na década de 1980. É hoje visto como longe da universidade (cabe ressaltar que o referencial de distância é baseado no tempo percorrido a pé pelos estudantes), apesar de conter uma boa infra-estrutura de serviços (bares, academias e hospitais).

A terceira área que se apresenta com menor densidade de prédios é uma área de especulação muito forte, pois as residências que lá existem já foram esvaziadas e as edificações restantes, apresentam placas de vende-se.

Como este local é um prolongamento da Av. P. H. Rolfs acredita-se que num prazo de 15 anos esta via de circulação tão importante da cidade estará repleta de prédios de mais de 10 andares em toda a sua extensão, modificando substancialmente as condições de sombreamento, contaminação atmosférica e ruído. Tais condições embora prejudiciais para a qualidade de vida urbana não será empecilho para o aumento da densidade demográfica composta, principalmente, de estudantes universitários.

Figura 44. Localização dos núcleos de verticalização em Viçosa-MG. Foto: Jaime Augusto Alves dos Santos, obtida em 4 de junho de 2007.

O processo de verticalização volta a ganhar força na década de 1990, mais precisamente, no ano de 1997, com a construção dos edifícios Prof. Rolfs (Rainha

construído em cima do leito do rio São Bartolomeu (Figura 44a), mais precisamente ao lado das 4 pilastras, porta de entrada da UFV. Ao longo desse trecho, segue uma vale mais plano (paralelo a Av. P. H. Rolfs), até o Hospital São Sebastião, onde se verifica uma revitalização do processo de verticalização, a partir do ano 2000, quando se criou novos cursos universitários (História, Dança, Comunicação Social e Geografia).

Figura 44a. Visão do Edifício Burle Marx

Observação da Foto: No primeiro plano com os seus dois blocos. Também conhecido como Carandiru, apresenta 12 andares com 120 apartamentos, no formato de quitinetes e 7 salas comerciais. O represamento da UFV, inaugurado em 1982, faz parte do processo de retificação do curso do rio São Bartolomeu dentro da área urbana, o que favoreceu a construção do edifício, que se deu ao “luxo” de permitir a passagem do rio entre os dois blocos, local designado pelo projeto para ser a área de convivência dos moradores, ou seja, em cima do rio, uma vez que o seu leito foi tamponado. Após estas ilegalidades ambientais, liberadas, a partir da flexibilização da legislação ao nível municipal, mesmo contra a Constituição federal, a obra de implementação da área de convivência hoje está embargada.

A expansão da universidade produz repercussões sobre o espaço geográfico da cidade, agora repleto de edifícios prontos e ainda em construção (Figura 45) e residências, que, visam atender os estudantes, que almejam residir próximo ao campus universitário.

A conseqüência desse processo é o aumento dos preços dos imóveis, que é corroborado com os estudos realizados pelo Departamento de Economia, que divulgou os dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC–Viçosa) no Jornal Tribuna Livre (15/08/2008), com o encarecimento do preço médio do aluguel, que hoje representa 23,1% da renda do estudante.

Figura 45. Visão parcial da área central da cidade de Viçosa, a partir do Morro do Cruzeiro, identifica-se alguns prédios em construção e o alinhamento das edificações ao longo da AV. P. H. Rolfs que termina na Praça Silviano Brandão, onde se localiza a Igreja matriz de Santa Rita de Cássia.

Foto: Edson Soares Fialho, obtida em 2 de outubro de 2008.

Atualmente, a mancha urbana se espraiou em direção ao vale do rio Turvo Sujo, na altura da antiga estação de Silvestre, antigo núcleo de ocupação do século XIX, conforme registro de Tabuteau (1960) que ainda não se ligava ao núcleo urbano central do município de Viçosa, que distava 4km a NNE.

Agora integrado ao meio urbano, em razão da expansão da área urbana a partir da década de 1970, com a federalização da UFV, que induziu no surgimento de novos bairros na década de 1980, tanto na porção sudoeste, com Nova Viçosa, como na porção nordeste, com os bairros de Santo Antônio e João Braz, conforme pode ser acompanhado na Figura 46.

Porém algumas áreas dentro da mancha urbana, ainda não são consideradas como tais, criando terrenos baldios vazios especulativos, que por força de lei são considerados como rurais, com características rurais. Além da própria área da UFV, que apesar de não ser toda ocupada, tem sua parte próxima a cidade toda urbanizada, mas não é considerada por se tratar de uma instituição federal.

Apesar destas incongruências, o aumento da população universitária (professores, funcionários e estudantes) cria o surgimento de novas oportunidades, acarretando o aumento do número de migrantes, constituídos em sua maioria por pessoas de baixa renda. Estes, devido a sua condição socioeconômica, ao chegarem a Viçosa são impedidos de residirem nas áreas centrais em função do preço dos aluguéis, de imóveis e dos terrenos, ainda vazios, o que acaba direcionando-os a ocupação para locais mais afastados da área de maior oferta de serviços, como é o caso dos bairros de Nova Viçosa, Santo Antônio, Barrinha, Vau-Açu e Romão dos Reis.

Esta mobilidade deu margem para a atuação mais expressiva de pequenos e médios agentes do setor imobiliário, além de pequenos proprietários. Estes, vislumbrando o aumento da demanda de aluguéis e residências, passaram a atuar cada vez mais de forma especulativa, o que contribuiu ainda mais para elevar o preço dos imóveis na cidade.

A elevação de preço dos imóveis, especialmente no centro, e a crescente dificuldade de acesso às terras no mesmo, impulsionaram a formação de áreas periféricas constituídas por população de baixa renda na cidade de Viçosa.

Agora uma nova dinâmica intra–municipal começa a se constituir, com a implantação dos cursos da área da saúde (Medicina e Enfermagem), além dos demais cursos de Licenciatura. No município de Teixeiras, distante cerca de 15km do centro de Viçosa está sofrendo uma valorização dos seus terrenos, porque alguns pequenos investidores começam a movimentar para criar casas e prédios para serem alugados por alunos da UFV, o que configura um processo de conurbação em curso.