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de voo responsabilidade solidÁria das companHias aÉreas

No documento Revista V. 110 n. 2 (páginas 158-161)

As empresas de transporte aéreo de passageiros respondem soli- dariamente pelos danos decorrentes de falhas na prestação do serviço quando uma ou algumas das associadas não cumprem a contento o contrato celebrado com o consumidor. As companhias que utilizam o

codeshare – compartilhamento de voos operados por pessoas jurídicas

diversas que visam ampliar suas atividades, mediante acordo de coope- ração – são consideradas fornecedoras e têm responsabilidade inerente ao próprio risco de seus negócios.

Nesse contexto, os Julgadores dos colegiados cíveis do TJDFT sustentam que todos os participantes se obrigam a reparar os prejuízos dos clientes porque integram a cadeia de fornecimento, conclusão que afasta a questão preliminar de ilegitimidade passiva, comumente suscitada pelas fornecedoras nos processos em que se discute tal temática, além da tese recursal atinente à culpa exclusiva de terceiro.

Em tais casos, os danos materiais têm sido compensados mediante prova da aquisição de passagens adicionais, gastos com a permanência em aeroportos e pernoites imprevistos. O ressarcimento patrimonial fica restrito aos limites constantes da Convenção de Varsóvia quando o vício ocorrer em viagens internacionais, pois, na hipótese, este prevalece sobre o Código de Defesa do Consumidor, em conformidade com o Tema 210 da Repercussão Geral reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal.

Quanto à reparação dos danos morais, as Turmas entendem que decorre dos transtornos advindos de informações ausentes ou inadequadas referentes ao cancelamento de voos, falta de suporte nos aeroportos e trata- mento desidioso e desrespeitoso aos passageiros que, somados, ultrapassam meros dissabores. Neste particular, as convenções internacionais são silentes. Os Julgadores suprem tal lacuna mediante adoção prática da “Teoria do Diálogo das Fontes”, a qual viabiliza a aplicação conjugada do princípio da reparação integral, constante do CDC, com a Constituição de 1988, no capítulo em que trata da proteção do consumidor contra práticas comerciais abusivas.

Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 54. B R asíl ia. 110 (2). Ju R isp R udência / J an -J un 2019

Acórdãos representativos do tema:

Des. César Loyola

No momento em que a Smiles colocou a venda as passagens aéreas internacionais e emi- tiu os bilhetes das companhias parceiras em nome dos autores, por meio do programa de milhas, ela se tornou responsável solidária, juntamente com as demais companhias, pela reparação de eventuais danos decorrentes da falha na prestação de serviços. Tan- to o Código de Defesa do Consumidor quanto a Convenção de Montreal dispõem sobre a responsabilidade solidária de quem participou da cadeia de fornecimento de serviço. (...)A multiplicidade de fatos ocorridos em decorrência do descaso das rés em transmi- tir aos autores as informações necessárias à fruição dos serviços, bem como a falta de amparo durante as falhas, causaram aos autores intenso sofrimento, angustia e dor, além lhes ferir as legítimas expectativas geradas pela contratação do serviço de trans- porte, dando azo ao dever de indenizar. (TJDFT, 2ª Turma Cível, Acórdão n. 1165087, APC 00355624220168070001, Relator Des. César Loyola, DJe de 23/4/2019.)

Des. Gilberto Pereira de Oliveira

Portanto, uma vez que as empresas aéreas trabalhavam pelo regime codeshare, integrando a mesma cadeia de consumo, entendo que devem responder solidariamente pelos danos causados aos passageiros, à luz do art. 25 do CDC, independentemente do trecho em que cada uma operaria, pouco importando se a falha na prestação se deu por culpa apenas de uma das empresas, segundo a inteligência do parágrafo único do art. 7º/CDC (...) Mesmo que se considere que a apelada Copa não tenha responsabilidade sobre o evento que afetou os recorrentes, outro fator que justifica a sua manutenção na lide é o de se tratar de relação de consumo. Assim, dentro dessa sistemática, se considera como solidária a responsabili- dade entre todos os participantes da cadeia de produção do serviço, pouco importando que deu causa à má prestação ou inexecução do contrato/serviço. Assim, a meu aviso, aquela empresa responde de forma solidária pelos danos sofridos pelos autores apelantes, de- vendo participar do pólo passivo da ação. (TJDFT, 3ª Turma Cível, Acórdão n. 1100119, APC 07113351020178070001, Relator Des. Gilberto Pereira de Oliveira, DJe de 6/6/2018.)

Des. Luís Gustavo B. de Oliveira

O artigo 7º, par. único, art. 18 e §1º do art. 25 CDC estabelecem a responsabilidade solidária de todos os fornecedores da cadeia de consumo pelos prejuízos causados ao consumidor. As empresas aéreas, que operam em parceria compartilhando vôos e com o intuito de am- pliar suas participações no mercado, respondem solidariamente pelos danos causados aos consumidores (...) Nas relações de consumo, a responsabilidade do fornecedor do produto ou do serviço é objetiva, assentada no risco da atividade econômica ou comercial, abraçada pelo Código de Defesa do Consumidor. Neste caso, e pela própria natureza da responsabili- dade civil, o fornecedor somente se exonera do dever de reparar no caso de culpa exclusiva do consumidor, de terceiro, caso fortuito ou força maior (...) Os fatos experimentados pe- los consumidores, com a remarcação do voo para quatro dias após a data contratada, são suficientes para gerar frustração, angústia e desconforto caracterizadores do dano moral. (TJDFT, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Acórdão n. 917328, 20140710296698ACJ, Relator Des. Luís Gustavo B. de Oliveira, DJe de 5/2/2016.)

No mesmo sentido, recentes julgados das Turmas Recursais dos Juizados Especiais deste Tribunal:

Juiz Almir Andrade de Freitas

Trata-se da figura denominada na aviação de “codeshare”, onde as empresas aéreas firmam acordo empresarial entre si para disponibilizar aos interessados passagens até outros destinos que são operados pela empresa “parceira” (no caso, a Westjet), dividin- do a comercialização dos assentos, sendo que no caso concreto a venda dos bilhetes foi efetuada pela requerida. Em consequência, ao lucrar com a sua atividade e participar da cadeia de prestação de serviço face ao consumidor, a requerida responde solidária e ob- jetivamente pelos eventuais danos causados por seus parceiros comerciais, em atenção a teoria do risco do proveito econômico (art. 7º, parágrafo único do CDC), razão pela qual o cancelamento do voo da empresa Westjet não se enquadra na hipótese de culpa exclusiva de terceiro prevista no artigo 14, §3º, II, do Código de Defesa do Consumidor. (...) Desse modo, a conduta do prestador de serviço retirou a tranquilidade dos autores, colocan-

do-os em situação de extrema desvantagem e deixando sob risco a agenda inadiável do postulante, o que extrapola o mero aborrecimento, sendo causa suficiente a jus- tificar a condenação a título de danos morais. (TJDFT, 2ª Turma Recursal dos Juizados

Especiais do Distrito Federal, Acórdão n. 1149174, 07392721320188070016 PJe, Relator Juiz Almir Andrade de Freitas, DJe de 13/2/2019, grifo nosso.)

Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 54. B R asíl ia. 110 (2). Ju R isp R udência / J an -J un 2019

Juíza Soníria Rocha Campos D’Assunção

Companhias aéreas que utilizam o compartilhamento de voo na modalidade codeshare para ampliar seus serviços, mediante voos operados por companhias diversas, em acor- do de cooperação, figuram-se no conceito de fornecedores, conforme dispõe o art. 3º do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que integrantes da cadeia de consumo. A res- ponsabilidade decorre do próprio risco da atividade desenvolvida pelas empresas assim atuantes. (...) Diante da responsabilidade objetiva da companhia aérea, resta configurado o dever de reparação integral do dano material suportado, na quantia de R$ 13.605,10, referente ao ressarcimento das passagens aéreas canceladas, bem como a quantia de R$ 10.275,17, relativa à diferença entre as passagens canceladas e às adquiridas para o prosseguimento da viagem. As frustrações decorrentes do cancelamento indevido dos bilhetes eletrônicos sem a prestação de suporte devido e de informações adequadas, ge- rando incertezas e inseguranças, superam o mero dissabor da vida em cotidiano a que todos estão sujeitos. Desse modo, considerando os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade afigura-se adequado o valor fixado. (TJDFT, 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Acórdão n. 1156323, 07140911020188070016 PJe, Relatora Juíza Soníria Rocha Campos D’Assunção, DJe de 15/3/2019.)

Juiz Carlos Alberto Martins Filho

Nesse contexto, a prestação dos serviços postos à disposição do consumidor, via sistema de compartilhamento de voo na modalidade codeshare, restou evidenciada, pelo que as empresas parceiras são solidariamente responsáveis pelos danos decorrentes da inexe- cução ou execução irregular do contrato de prestação de serviços firmado (art. 7º, pará- grafo único c/c art. 25 § 1º, do CDC). Configura falha na prestação do serviço se o atraso decorrente da conduta da ré/recorrente (impedimento do embarque) ocasiona a perda da conexão, devendo a companhia aérea compor os eventuais prejuízos experimenta- dos pelo consumidor, diante da responsabilidade objetiva oriunda do fato do serviço, nos termos do artigo 14, CDC. (...) Provoca angústia e frustração a impossibilidade de seguir para o destino esperado na data e no horário previamente estipulados. Ademais, do des- cumprimento do contrato de transporte aéreo (falha na prestação do serviço), advieram situações as quais ocasionaram constrangimento, transtorno e desconforto à parte auto- ra que ultrapassam o mero aborrecimento do cotidiano, de sorte a configurar dano moral. (TJDFT, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Acórdão n. 1122989, 07159782920188070016 PJe, Relator Juiz Carlos Alberto Martins Filho, DJe de 20/9/2018.)

Revist a de d out R ina e Ju R isp R udência. 54. B R asíl ia. 110 (2). Ju R isp R udência / J an -J un 2019

teoria do desvio produtivo do

No documento Revista V. 110 n. 2 (páginas 158-161)