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Deambulação e transferência na idade avançada

1.2. Envelhecimento e capacidade funcional

1.2.2. Deambulação e transferência na idade avançada

A capacidade de mobilização de um idoso está diretamente relacionada com a sua habilidade para desempenhar as AVD. Segundo Novo e cols. (2011), as atividades e a participação retratam o modo como o indivíduo exerce as suas atividades diárias e se envolve na vida social. O conteúdo desses dois componentes inclui desde simples tarefas e ações até áreas mais complexas da vida como, por exemplo, a aprendizagem e aplicação do conhecimento, a comunicação, a mobilidade, os cuidados pessoais, as atividades da vida doméstica, as relações e interações interpessoais, o trabalho e a vida social.

Neste contexto, capacidade descreve a aptidão de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma ação. Este construto visa indicar o nível máximo provável de funcionalidade que a pessoa pode atingir num dado domínio num dado momento.

Para Fleg e cols. (2005), a capacidade das pessoas idosas para serem independentes e executarem as suas AVD depende largamente da manutenção da capacidade aeróbia e da força, assumindo também que a diminuição da capacidade aeróbia acelera drasticamente a cada década de vida, independentemente dos hábitos de atividade física.

Analisando a Tabela 4, através de dados fornecidos pelo censos de 2011 (INE, 2012), verifica-se que 50,11% da população com 65 ou mais anos, da zona norte, apresenta dificuldades em desenvolver as atividades diárias, comparativamente com os 49,51% de Portugal. Pode também observar-se que o sexo mais afetado por este problema é o feminino, que apresenta uma taxa de 55,73%, comparando com os 42,27% dos homens da mesma região, sendo estes dados bastante semelhantes aos de Portugal.

A dependência nos autocuidados (deambular e transferir-se) na população idosa

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Tabela 4.

Grau de dificuldade na realização das atividades diárias

Taxa de Prevalência na população residente com 65 ou mais anos

2011

Total H M

Norte 50,11 42,27 55,73

Portugal 49,51 41,71 55,14

Fonte: INE, 2012

A mobilidade e o equilíbrio são os principais fatores que limitam a vida do idoso, uma vez que sofrem declínios decorrentes do próprio envelhecimento. Estas alterações têm um grande impacto para os idosos, podendo levá-los à redução da sua autonomia social (Ruwer, Rossi & Simon, 2005).

Segundo a CIPE, a mobilidade é a “Capacidade com as características específicas: Movimento voluntário e psicomotor do corpo, incluindo a coordenação dos movimentos musculares e articulares, bem como o desempenho do equilíbrio, o posicionamento corporal e o deslocamento” (CIE, 2005, p.93).

Já para Oliveira, Goretti e Pereira (2006), a mobilidade é a capacidade da pessoa se mover num dado ambiente, função básica para a realização de tarefas, como andar, estar de pé, realizar AVD e, assim, manter-se independente.

Apesar de fundamental em qualquer idade, o equilíbrio ganha uma importância acrescida na 3ª idade, visto que a perda de equilíbrio é um dos principais fatores que leva às quedas e às fraturas daí decorrentes (facilitadas pela desmineralização óssea que se verifica nos idosos), que, em última análise, conduzem a longos períodos de imobilização que aceleram os processos degenerativos que acompanham o envelhecimento (Appel & Motta, 1991, cit. por Neves, 2009).

A CIPE concetualiza equilíbrio como:

Status com as características específicas: Segurança do corpo e coordenação dos músculos, ossos e articulações para estabilizar o corpo como um todo ou partes para permitir o movimento, manter a cabeça levantada, manter-se em pé, sentar-se em posição correcta; a capacidade para manter o equilíbrio é, em certa medida, dependente da idade. (CIE, 2005, p.94)

A dependência nos autocuidados (deambular e transferir-se) na população idosa

Manter o equilíbrio é fundamental para que se poder executar uma transferência sem riscos físicos para o idoso. Segundo a CIPE, transferir é a “Acção de Posicionar com as características específicas: Mover alguém ou alguma coisa de um local para outro” (CIE, 2005, p.145).

Os problemas encontrados no equilíbrio e na marcha resultam frequentemente num risco acrescido para se desenvolver uma queda, principal causa de morbilidade e mortalidade nos idosos.

A marcha é a atividade mais comum que o ser humano realiza, sendo uma habilidade motora fundamental para a locomoção, automatizada aproximadamente aos sete anos de idade e permanecendo relativamente estável por quase toda a vida. Contudo, o processo do envelhecimento é caracterizado pela redução gradativa da eficiência do aparelho locomotor, que ocorre pela diminuição da força e da massa muscular, assim como pela diminuição na flexibilidade (Cristopoliski, Sarraf, Dezan, Provensi & Rodacki, 2008).

A CIPE define a atividade andar como:

Actividade Executada pelo Próprio com as características específicas: Movimento do corpo de um lugar para outro, movendo as pernas passo a passo, capacidade de sustentar o peso do corpo e andar com uma marcha eficaz, com velocidades que vão do lento ao moderado ou rápido, subir e descer escadas e rampas. (CIE, 2005, p.48)

Na Figura 3 pode observar-se o tipo de dificuldades na realização de atividades que os idosos mais mencionaram, no último censos. Os dados indicam que o maior grupo de idosos revela sentir dificuldade a andar (27%), seguido pelo grupo que apresenta défice visual (19%), (INE, 2012).

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Figura 3. Tipo de dificuldade na realização das atividades na população com 65 ou mais anos, 2011

(INE, 2012)

O declínio da capacidade funcional, nomeadamente, ao nível da aptidão física que envolve a redução dos níveis de força muscular, alterações da marcha e alterações do equilíbrio estático estão amplamente assinaladas na literatura como fatores de risco major para a ocorrência de quedas na população idosa.

As quedas constituem um grave problema de saúde pública. A epidemiologia refere-nos que 32% das pessoas acima dos 65 anos tem pelo menos uma queda por ano; que a frequência é maior em mulheres que em homens, que 5% das quedas resulta em fraturas, e que a maioria dos idosos, que tiveram uma queda, cairá novamente nos seis meses subsequentes. A par dos fatores intrínsecos ao próprio declínio da capacidade funcional e comorbilidade, os fatores extrínsecos, relacionados com o ambiente, desempenham um papel crucial na ocorrência de quedas e nas suas consequências. Por outro lado, a perceção pelo próprio de uma menor capacidade para usar as respostas de proteção durante a queda (velocidade de reação para agarrar-se, colocar as mãos à frente, por exemplo) e da capacidade para se levantar depois de ter caído, pode desencadear o medo de cair que, por si só, agravará o declínio funcional pela via da autolimitação da atividade e autorrestrição da participação (Novo et al., 2011).

Segundo Levy (2001), o medo de cair novamente gera no idoso uma restrição nas suas atividades que deve ser considerada uma das suas consequências crónicas.

Compreender/faz er-se entender 10% Tomar banho/vesti-se 15% Ver 19% Ouvir 14% Andar 27% Memória 15%

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Para que os problemas da mobilidade e do equilíbrio sejam minimizados, o idoso deve adotar estilos de vida saudáveis, como por exemplo, praticar atividade física regularmente, a fim de evitar a deterioração da sua capacidade física e estar capacitado para desempenhar as suas AVD sem dificuldades. Segundo Deley e Warwick (2007), cit. por Barreto e Rodrigues (2012), a prática de atividade física é um importante fator para a mobilidade e independência dos idosos, sobretudo na realização de tarefas de forma autónoma e sem fadiga. O exercício pode evitar ou diminuir a progressão da perda funcional, logo a atividade física regular pode aumentar a longevidade em homens e mulheres idosos e de meia-idade (Busby-Whitehead, 2001).

Após compreendermos a importância da mobilidade, do equilíbrio e da marcha para as pessoas idosas, conducente à sua independência, importa agora fazer referência à metodologia adotada neste relatório.